31 de agosto de 2016

FÉ NA SABEDORIA CÓSMICA

A visão do mundo atual que temos é pautada pelas bebidas instantâneas, alimentos instantâneos, cidades instantâneas, quase tudo instantâneo. Lamento não poder oferecer uma confiança ou cresça instantânea. A confiança ou a fé é algo que deve ser aprendido e alimentado por todos nós. Mas, espero já ter plantado algumas sementes de fé e confiança em pessoas que me conhecem de perto e que certamente irão cultivá-las. Alguns filósofos afirmam que o “querer” segue ao “entender” com a força da razão, no plano do universo cósmico. A natureza na sua imensa sabedoria cósmica, aceita e conhece essas razões. 

Três sementes de fé e confiança que considero de vital importância para formarmos o triângulo do sucesso. A fé na nossa espantosa riqueza interior com a qual podemos criar qualquer modalidade de sucesso que se deseja. A fé e confiança em nós como mentes conscientes que somos, pois é essa consciência que nos torna senhor do presente e do futuro. E por ultimo a fé na existência de uma “sabedoria cósmica” que da ordem ao universo e que nos proporciona ajuda e orientação em todos os empreendimentos, desde que lutemos tenazmente, com entusiasmo e decisão inabalável, removendo as barreiras que o condicionamento passado, colocou entre nós. Somos fruto do meio em que vivemos.

Somos seres conscientes, essa é a nossa identidade. A parte de nós que chamamos de “Eu” é a mente consciente. Embora ela seja espiritual, impossível de ser localizada e vista com olhos físicos, estamos absolutamente cientes de nossa existência e do que ela é capaz de realizar, através da força, do poder e da inteligência que extraímos da sabedoria cósmica. Entretanto, a nossa verdadeira vida é mais do que um corpo físico. A verdadeira vida é o nosso ser espiritual e a nossa mente consciente. Viver significa o espírito estar satisfeito consigo mesmo. O espírito pode ser sua fala, que está de acordo com o que o vosso coração está sentindo. Todavia, o espírito que nos anima não nos pertence, antes pertencemos a ele.

Entretanto, nós temos o poder de atrair ou repelir toda e qualquer coisa. Temos o poder de subir grandes alturas na escada da realização pessoal e prosseguir em ascensão. Porque temos esse poder dentro de nós, está sempre trabalhando a nosso favor como também contra nós. Infelizmente, muitas vezes damos aos outros os nossos poderes, por exemplo: Quando alguém nos diz que não somos inteligentes para isso ou aquilo, passamos a considerar como tal. Quando dizem que somos indecisos, aceitamos este fato como verdadeiro e passamos a agir inseguramente. Quando alguém nos diz que não merecemos a sua confiança, passamos a duvidar de nós mesmos. Assim, como também de quem nos aproxima.

Portanto, quando conseguirmos modificar a nossa maneira de pensar, começaremos a experimentar novos sentimentos. Sofro não pelo o que os outros pensam de mim, mas, sim por aquilo que imagino que eles estejam pensando ao meu respeito. Contudo, a fé é a certeza das coisas que se esperam e a convicção de fatos que a gente não vê mais confia. Firme na fé e na confiança, como quem vê aquilo que é invisível. É um olhar da alma com o coração. Confiança inabalável e sem o menor vestígio de duvida. É nessa atmosfera que o amor surge e se cristaliza. Fui educado para um mundo que hoje não existe mais. Mesmo assim procuro dar sentido a tudo que faço na vida e valorizo o tempo que ainda me resta para viver. De modo que, a sabedoria está na dignidade do homem que busca através da fé a harmonia com o universo cósmico.    

28 de agosto de 2016

DA FANTASIA BROTA O DESEJO

Dizem os sábios orientais que a única maneira de não ficar louco é mergulhar de uma vez na loucura. Fugir dos fantasmas não é o melhor remédio. Espantá-los também não ajuda, pode até ser pior. De modo que a fantasia é a porta de entrada, para esse universo simbólico. No entanto, o que nos difere de um animal irracional é a nossa capacidade de fantasiar. Então, por que nos reprimimos? O menino começa a ter curiosidade e a imaginar como é a menina e vai formando uma imagem na sua cabeça, vai idealizando um modelo de mulher. A partir daí formará um ideal de amor que vai surgir na idade adulta, todo o processo do apaixonar-se um pelo outro e ambos passam a enamorar através da fantasia, que cada um faz da outra pessoa. É aqui que começa o primeiro movimento do adolescente cercado de conflitos. Surge o interesse pelo outro, mas ao mesmo tempo é de negação do próprio desejo, quanto ao fato da outra pessoa ser interessante. Isto ocorre em função da primeira marca que fica da dor de amor.

Entretanto, quanto maior a expectativa, maior a frustração, assim como os cuidados que devemos ter para não exagerar nas cobranças. Tendo como parâmetro o sentimento inicial das trocas prazenteiras que estão surgindo. De modo que o momento pode ser assustador, desdenhar faz parte do processo normal do encantamento principalmente na adolescência. É não assumir o outro como objeto do nosso desejo, com medo de nos frustrarmos e sofrermos de novo. Evitamos esse desejo, até percebermos que temos alguma chance. Todavia, neste ponto inicia-se o processo de conquista e descoberta do amor.

No processo de conquista muitas coisas vão acontecendo. Há um interesse intelectual um pelo outro, o jeito da pessoa, o tom da voz, o sorriso, o encantamento vai se desenrolando bem devagar. O chamado amor à primeira vista, que pode acabar no instante seguinte dependendo da expectativa criada por ambos. Os dois são responsáveis diretos para a continuação ou não desse vínculo. No momento da conquista, o desejo é transferir aquilo que sente pelo outro para dentro de um vínculo. O primeiro grande erro estratégico é querer transformar logo o que sente em namoro, antes de entender o significado dessa relação. O namoro é uma instituição onde existe um contrato tácito, ou seja, um compromisso moral. Como todo compromisso vira obrigação, ao mesmo tempo você está matando a fantasia e o desejo que sentem um pelo outro. É nesse momento que começam as cobranças. Vida de obrigação ninguém aguenta.

Entretanto, o namoro neste contexto só serve para matar a fantasia, o carinho, o desejo e a magia que existe entre os amantes. A relação fica um vazio, um buraco. Por essa razão que a grande maioria das pessoas vive insatisfeita na sua subjetividade. Brigam o tempo todo para conquistar um ao outro e, quando conseguem aquilo que queriam, agora não querem mais, talvez quisessem outra coisa que o outro não pode oferecer. O processo de desejar é um contínuo sim para muitas pessoas. Quando consegue, não sabe o que fazer, então descarta toda a possibilidade desse amor vingar. Certamente vai sair à procura para preencher esse vazio, é o momento do “ficar”. Na verdade, é um momento de muita ansiedade, o ficar é uma relação rápida de percepção curta em que, via de regra, existe uma paixão fugaz, pouco duradoura. Muitas pessoas só entram nessa por medo de ficarem sozinhas.

O que assusta no amor é que há uma identificação, aquele amor paixão, o amor dos iguais, no qual um olha para o outro e vê algo igualzinho a si próprio. Pensam exatamente as mesmas coisas. Antes de um proferir alguma frase o outro já fala a frase. Existe uma sincronicidade nessa relação, usando uma linguagem junguiana. As chamadas coincidências. Gostam das mesmas coisas. São capazes de ficarem horas conversando e não conseguem esgotar o assunto. A complementação desse amor são as diferenças, mas juntos formam um casal perfeito. Muitos amantes não conseguem se separar porque não sentem capazes de enfrentar o mundo sem aquilo que o outro tem e me completa. Significa amar no outro tudo aquilo que falta em mim, então eu fantasio e desejo o que me falta.

Portanto, quando perdemos alguém que amamos, achamos que nunca mais vamos conseguir nos apaixonar. Junto morre a fantasia e o desejo. Na verdade, o que outro fez por nós, foi nos mostrar que temos condições de amar e de nos apaixonar. Ninguém leva embora a nossa capacidade de amar. Amar é um dom da essência humana. O que fazemos é aguardar que um dia as fantasias e os desejos ressuscitem novamente com a chegada de outra pessoa que venha e consiga despertar esse sentimento nobre outra vez. Tendo em vista que a lembrança permanece, pois cada um é único na sua essência. Jamais o esqueceremos.  

24 de agosto de 2016

ESCAPAR DA LOUCURA É VENCER O ISOLAMENTO

Ao tomarmos conhecimento de nós como seres capazes de consciência crítica, liberdade e justiça, compreendemos as diferenças com o restante da natureza. Com o despertar dessa consciência, experimentamos a dor da solidão que vai nos acompanhar pelo resto da vida. Seguramente em algum momento ela irá se manifestar. Ser único, ter que tomar decisões e responder pela vida, são fatos que provocam um sentimento doloroso de abandono e desamparo, que só será superado na relação interpessoal. Para o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), o amor é parte de um prazer negativo, porque ele funciona como um remédio para sensações desagradáveis de desamparo. Ou seja, é um prazer que deriva com o fim da dor do desamparo. Por isso o amor é uma relação interpessoal, preciso do outro para senti-lo. Ele é paz e prazer negativo. Ao contrário do sexo que não preciso do outro para senti-lo, por isso ele é pessoal, excitação e prazer positivo. Porque não depende da existência de um desconforto ou sensação ruim para que eu sinta prazer.

Segundo o psicanalista, filósofo e sociólogo alemão Erich Fromm (1900-1980), argumenta em seu livro: “Psicanálise da Sociedade Contemporânea”, sobre esse estado cruel de abandono e desamparo que os seres humanos vivem. O homem é dotado de razão, é a vida consciente de si mesmo, tem consciência de seu semelhante, sobretudo, do seu passado e das possibilidades de seu futuro. Fromm compreendia que essa consciência de si mesmo como entidade separada, essa consciência do seu próprio e curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter que morrer contra sua vontade, de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua impotência antes as forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e desunida uma prisão insuportável. O homem ficaria louco se não pudesse libertar-se de tal prisão e alcançar os outros humanos, unir-se de uma forma ou de outra com eles, com o mundo exterior, como complemento e extensão da sua existência.

Portanto, dessa necessidade de união nasce o amor. De modo que, o amor é o meio procurado e desenvolvido pelo ser humano para escapar da loucura e do isolamento. O amor é fundamental para o ser humano e principalmente para a saúde da sociedade diluída de sentimentos. Sem amor o ser humano torna-se árido, incapaz de encantar-se com a vida e de envolver-se com o outro. Não se sensibiliza com o abandono dos velhos, com a morte das crianças vitima da crueldade dos adultos, a miséria de um povo, com a poluição dos rios e a destruição do planeta, o roubo da cidadania e a morte dos nossos ideais. Contudo, sem amor não há encontro, não há respeito pelas diferenças de raça, etnias, cor e religião. A única saída que nos resta é a escuridão do individualismo, com pessoas cada vez mais incapazes de relações duradouras e profundas. Como dizia o grande escritor brasileiro Guimarães Rosa (1908-1967): “Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.       

21 de agosto de 2016

A HUMANIDADE ESTÁ CEGA

O que quer dizer cegueira da humanidade? Na verdade, as pessoas não enxergam porque vivem falando. Muitos acham que falando estão dizendo tudo. No entanto, examine um pouco as palavras, como elas foram feitas e para que finalidade a usamos. A palavra falada é muito mais do que ela expressa, ou seja, a linguagem decompõe o mundo em pedacinhos, sendo que cada pedacinho é uma palavra. O olhar é muito mais abrangente porque num instante você vê o mundo. Por exemplo, a primeira cidade que se tem notícia foi Jericó, a mais antiga existente com mais de dez mil anos. Para proteger a cidade naquele tempo, usava uma grande muralha. Para esse povo que habitava Jerico, o mundo ficou ainda menor. Sendo assim, aos poucos a palavra começa a substituir a visão escondida por trás daquelas muralhas. Utilizavam da palavra para descrever o mundo que não viam.

Lendo o livro: “O Ensaio Sobre a Cegueira” de José Saramago (1922-2010), o autor pega uma premissa fantástica e absurda ao mesmo tempo. De repente todas as pessoas num determinado momento num lugar começam a ficar cegas. De modo que não é uma cegueira comum, que a ciência não consegue diagnosticar e muito menos encontrar uma cura. É uma cegueira coletiva. A partir desta premissa tão estranha e insólita, o livro vai descrevendo de maneira super realista o que acontece com a humanidade depois que as pessoas começam a ficar cegas, ou seja, no que se transforma o mundo por conta dessa cegueira. Por outro lado, a ciência que nasceu para compreender a alma humana, ela não consegue ver o ser humano como corpo-alma e sim como um problema. A psicologia é totalmente cega, a pessoa num processo psicoterapêutico vira um simples relatório que o psicólogo anota. Será que o ser humano é só um relatório?

Nenhum texto reproduz o tom de voz e o gesto facial, portanto, ele é cego e limitado. Cada um interpreta como quiser. Agora se eu estiver olhando para a pessoa e prestando atenção nos gestos e tom de voz, não tem como interpretar o que quiser. De modo que fico muito mais preso ao que ele está dizendo. O que Saramago quer mostrar é a cegueira de todos, inclusive da psicologia que nasceu para enxergar o homem e não o faz.  Perante esta eminente cegueira desaparece o ser humano. Estão todos presos as palavras e não presta atenção no outro. Todo mundo falando como papagaio e dispensa o essencial. As pessoas vivem falando sem saber muito bem o que e não tem nenhuma noção da cegueira que é de todos nós. Vivemos de palavras bonitas e não pensamos no principal. Enxergar o outro como ele é. O ser humano é de um egoísmo espantoso, cada um defendendo o seu.

Entretanto, no rastro deste livro, aparentemente exótico ele nada tem de ficção científica. Tanto o livro como o filme mostra um terrível retrato da humanidade. Existem montanhas de livros falando sobre a individualidade humana, e ainda tem pessoas que se espanta com esse mistério de cada um. Basta colocar três ou mais pessoas juntas e olhar para elas, são completamente diferentes. Onde está o mistério? Está na cegueira de quem olha e não vê ou daquele que fica achando que são iguais. Contudo, as pessoas não têm a mínima atenção consigo mesma, vão soltando, destrambelhando palavras sem saber o que estão falando. Ninguém se recolhe um pouco para perceber o que está acontecendo ao seu redor. Como argumenta o filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005): “através da palavra torna-se presente o que está ausente”. Só ouvimos a palavra e não prestamos atenção no conteúdo que ela traz. Somos todos cegos, até para as coisas do nosso coração. Vivemos culpando as pessoas ou a família, pela vida errada que estamos vivendo. As pessoas vivem pensando no pior, na desgraça, que tudo vai mal e ficamos julgando os outros. Não é assim que vai melhorar! Ninguém é culpado pelo mal que estou vivendo. Pare de culpar o passado e comece a reconstruir a sua vida daqui para frente.

Portanto, não experimentamos milagre fora se não gestarmos o milagre dentro de nós. Esta cegueira já tomou conta das famílias que vivem fechadas dentro de uma gaiola. Ter um apartamento enorme ou morar numa mansão só aumenta a sua angústia. Hoje vivemos a síndrome da casa vazia. Não vale a pena esse êxodo social, não compensa o fracasso de uma família. Quantas pessoas moram em mansões, no luxo e não tem com quem conversar. A sociedade vive na hipocrisia, as pessoas não se respeitam não se amam mais. As pessoas amam a imagem que elas fazem da gente. Elas amam a imagem que ela acha que tem de mim. Não pense que as pessoas te ama. Elas se amam em você enquanto serve ao ego delas. Até parece que precisamos de um espelho para enxergar os nossos valores. Vivemos na sociedade do espelho. Quantas famílias hoje vivem atrás desse espelho? Buscando como subterfúgio nas cirurgias plásticas, clinicas de estéticas e nunca estão satisfeitas. Olha para uma pessoa deprimida, sempre repetindo a mesma queixa. Contudo, até pode ser que aquele carro do ano lhe de status, mas não preenche o vazio do seu coração. 

19 de agosto de 2016

O CONVIVIO HUMANO SE FUNDAMENTA NA RECIPROCIDADE

Se as relações humanas não forem recíprocas, certamente serão de opressão ou de exploração. Se eu faço a minha parte, cabe ao outro fazer também. Se eu trato bem, cabe ao outro me tratar bem. Se vamos cooperar num trabalho, cada um faz a sua parte. Na família esta situação é muito evidente. De um lado as mães fazem demais, sem exigir nada dos filhos, e quando exige é sempre o mesmo absurdo, nos conselhos intermináveis que não se realizam nunca. Elas fazem cobrança falsa que não funciona. Contudo, não estão educando e sim criando filhos egoístas, que não conhecem limites, não respeitam os mais velhos, tratam os demais membros da família com grosseria e indiferença. As mães cobram, nós sabemos, mas cobra errado.

Para fundamentar a importância do respeito e da reciprocidade vou usar um tema descrito pelo saudoso padre Léo Tarcísio Gonçalves Pereira, SCJ (1961-2007), da TV Canção Nova. Título: “Jesus está disfarçado em sua casa”. Esta conferência mostra um exemplo de fabricação autêntica da loucura em família. Só Jesus Cristo para dar um jeito nessa família, isto se houver cooperação entre seus próprios membros. Nesta família encontramos a maior escola de irresponsabilidade do mundo das relações. Nela você pode fazer o que quiser, pois ela é o retrato do inferno em família. Não há melhor maneira de criar irresponsáveis no mundo do que essa tolerância ilimitada que existe na maioria das famílias. É uma história tão real que me comoveu de tal forma que resolvi compartilhar com os meus leitores.

Imagina uma família que vivia um verdadeiro inferno aqui mesmo na terra. Tudo ia mal naquela casa. Até que um dia o patriarca dessa família foi procurar aquele santo homem, o monge que tinha o dom das visões e da cura, numa capela próxima. Essa capela era muito frequentada pela fé daquele monge. Um dia à tarde depois de sair do trabalho, esse homem passou no bar, tomou umas cachaças, criou coragem e foi falar com o santo monge. Quando chegou a vez dele o monge perguntou: “está com algum problema meu filho”? Sob o efeito da pinga protestou esse pai: “claro que estou, senão não estaria aqui passando por essa vergonha. Continuou ele: “o meu maior problema é a minha família. Vivemos num inferno, lá em casa tudo da errado. Nós só temos dividas, minha mulher só vive doente, meu filho mais velho fuma maconha, minha filha já teve não sei quantos namorados, o meu menino mais novo já foi expulso de três colégios. E hoje está fazendo seis meses e nove dias e três horas, que minha sogra veio morar em casa. Não aguento mais viver nesse inferno e para esquecer os problemas, acabo tomando umas cachaças”.

O monge na sua santa bondade colocou as mãos na cabeça desse pai e começou a orar a Deus. De repente o monge para e diz: “Filho estou tendo uma visão. Dentro da sua casa vocês estão cometendo o maior de todos os pecados deste mundo. Vocês não estão reconhecendo Jesus Cristo que vive lá. Meu filho, Deus é amor, mandou seu filho para salvar a humanidade e mesmo assim mataram Jesus. Mas, Deus na sua infinita bondade mandou Jesus Cristo de volta a terra. Porém, para não ser eliminado outra vez, ele voltou disfarçado. Está disfarçado entre os membros de sua família na sua casa”. Indignado argumenta: “na minha casa, naquele inferno? Não pode ser! Insiste o monge: “filho um de vocês é o próprio Jesus Cristo disfarçado. Vocês vão ter que descobrir. Como vocês não descobriram ainda, estão tratando mal um ao outro, logo estão tratando mal Jesus Cristo, por isso que tudo vai mal na sua casa”.

Este pai voltou para casa reuniu a família e disse: “nós temos aqui um problema muito sério para resolver. Tive com o santo monge hoje à tarde e ele falou que Jesus Cristo vive aqui em casa disfarçado. Ele disse que um nós é o próprio Cristo disfarçado. Quero saber quem aqui é o Cristo. Quem for que se apresente agora. Pode falar estou preparado para o pior”. O filho caçula em tom de brincadeira disse: “gente, o pai bebeu outra vez ou fumou maconha”! Na dúvida o pai ligou para o monge e disse que havia feito uma pesquisa com a família e que realmente não podia ser nenhum da sua família. Do outro lado da linha respondeu o monge para ele continuar com a pesquisa que era sim, na sua casa que Jesus Cristo vivia disfarçado. O garoto caçula como um bom observador comenta com o pai: “e se for à avó pai”?

O pai prontamente descarta esta possibilidade, ironizando a sogra para o filho. O pai explica ao filho, que sogra é igual cerveja, só é boa quando está bem geladinha em cima da mesa. Diz o pai: “meu filho você sabe por que Pedro negou o Senhor Jesus três vezes? Foi por mágoa, porque curou a sagra dele. Dizer que pode ser sua avó é uma blasfêmia”. Aí foi a vez da filha falar: “então, vai ver é o pai”. A sogra não perdeu tempo: “fico imaginando como pode um cachaceiro desse, um sem vergonha, safado ser Jesus Cristo”. Questiona os filhos: “e se for à mãe o Jesus disfarçado”? Diz o pai: “não pode ser, Jesus curava todas as doenças, e a sua mãe tem tudo quanto é doenças”. A mãe conversa com o pai: “e se for o nosso filho mais velho”? O pai questiona: “Jesus fumava maconha”? Diz a mãe: “vai ver que é a menina”. Ironiza o pai: “vai ver é mesmo, pelo tanto de roupa que usa, parece Jesus na cruz, já anda quase pelada”. Então é o Juninho diz a mãe. O pai já irritado com a família diz: “pode ser, Jesus com doze anos discutia com os doutores da lei, esta pequena anta, por discutir com os professores já foi expulso de três colégios. A mãe comenta que ouviu o padre dizer no sermão: “que os defeitos dos filhos, são filhos dos defeitos dos pais”.

No dia seguinte o homem foi trabalhar pensativo, chegou à noite em casa o seu filho caçula veio conversar com ele a pedido da mãe: “pai o senhor pensou no que o monge falou? E se for à avó pai”? Responde o pai: “a gente pede a Deus para que não seja”. E continua: “também acho que pode ser a avó mesmo, ela é católica e costuma ir à missa todos os domingos, ela reza o terço todos os dias”. Diz o pai: “mesmo não gostando dela, vou tratar melhor essa velha”. No dia seguinte, levantou cedo fez café e levou café com leite na cama para a sogra. Desconfiada, mesmo assim tomou o café com leite preparado pelo genro. Os dias foram passando. Aquela senhora começou a melhorar, sendo bem tratada, logo trata bem a todos! Mas podia ser o pai o Cristo disfarçado. Comenta a esposa: “Nossa! Quanto tempo não trato bem o pai de vocês. Ele é um homem bom, honesto, trabalhador, não deixa faltar comida em casa. Faz tempo que não faço aquele franguinho assado que ele gosta, podia ter feito no domingo. Alias, nem o cumprimentei pelo dia dos pais. Vai ver é por isso que ele fica pelos botecos. Diz o filho mais velho: “e nós que nem lembramos que domingo foi o dia dos pais! Nunca dei um beijo no pai e muito menos disse: pai, eu te amo. Acho que nós estamos em falta com o pai”.   

Todos começaram a tratar bem o pai. A pessoa sendo bem tratada no seu convívio, logo trata bem os demais! Comenta o filho caçula: “e se for à mãe o Cristo disfarçado entre nós? Nossa! Precisamos tratar melhor a mamãe. Ela trabalha feito uma condenada em casa, a gente só reclama da mãe. Talvez seja por isso que ela toma aquele tanto de remédio”. Diz a filha: “eu nunca ajudei a mãe em casa, muitas vezes respondo com agressividade a ela que faz tudo por mim”. Comenta os filhos: “a gente nunca agradeceu a mãe pela comida, obrigado pela roupa passada, tudo arrumadinho na gaveta. Saímos sem preocupar se a mãe vai ou não ficar bem. Quantas vezes chegamos em casa e a mãe estava chorando e a gente nem perguntou por quê. Tratamos mal a nossa mãe. Gesto de amor então, nunca tivemos. Está faltando dizer obrigado mãe nós te amamos. Dizer: a senhora é a melhor mãe do mundo”.

Cada um naquela casa começou a tratar o outro com respeito. Passaram a se cumprimentar dentro de casa. Bom dia! Boa tarde! Tudo bem? Quando precisava do outro pedia, por favor! A desconfiança deu lugar ao respeito! O clima de indiferença entre eles virou compaixão! O pai não passava mais no boteco depois do trabalho, vinha direto para casa, pois, sabia que agora tinha uma família lhe esperando. A sogra começou a ajudar nas despesas da casa com sua aposentadoria, não se sentia mais uma inútil. A mãe já não precisava mais daquele tanto de remédio. A menina começou a usar umas roupas mais decentes e menos extravagantes. Agora juntos, como não gastava mais com bebidas, com remédios, com drogas e outras porcarias, foram economizando e aos poucos foram pagando as dividas. Agora havia um planejamento familiar sobre o que vamos pagar primeiro.

Finalmente, quanta emoção para aquele monge, quando no domingo às dez horas da manhã, na terceira fileira do lado esquerdo da sua capela no convento, ele vê: “pai, mãe, avó, o rapaz, a moça e o menino”, participando da missa. Aquela missa foi especial para aquele monge. Quando terminou a missa ele chamou a família na sacristia e disse: “olha eu quero muito agradecer a vocês e dizer que estou muito feliz, porque vocês descobriram o segredo, o maior segredo da face da terra. Porque quando vocês tentaram descobrir quem era o Cristo disfarçado, vocês chegaram à maior graça que um ser humano pode alcançar. Ao tentarem descobrir quem era o Cristo que vivia entre vocês, passaram a ver cada um com os olhos do próprio Cristo e é esse o grande segredo. Não tem outro”! Contudo, conclui padre Léo: “Sabe por que sua família vai mal? Sabe por que as coisas não vão bem na sua casa? Sabe por que do descontrole emocional e aquele tanto de remédio que tem lá? Preste atenção! Jesus Cristo está disfarçado na sua casa. Enquanto não passar a enxergar cada um com os olhos do próprio Cristo é impossível chegar à experiência do amor.

14 de agosto de 2016

ACEITAR SEM VONTADE É A MORTE

O individuo acomodar-se ás suas fraquezas e vícios de personalidade sem qualquer discussão, isto não é o que filosoficamente chamamos de aceitação de si mesmo. Auto-aceitação não é simples cumplicidade. Por outro lado, também a atitude narcisista de alguém se encher de vaidade, em razão de algumas qualidades que não ignora ter, está um pouco distante da meditada aceitação de si. Narciso, conta à mitologia, viu sua beleza espelhada na superfície de um lago; foi então, tomado de tal paixão por seu próprio rosto que mergulhou na água em busca de tanta formosura e morreu afogado. Aceitação consciente de si mesmo não é uma autocomplacência, que desculpa todos os nossos próprios defeitos, nem a vaidade, que pode levar a delírios capazes de esterilizar uma vida. 

Filosoficamente, a auto-aceitação exige, antes de qualquer coisa, alguns esclarecimentos sobre nós e a nossa condição. Aceitar-nos implica numa procura de muita lucidez, num exercício de meditação paciente sobre a nossa forma de ser no mundo. Não se trata necessariamente de meditação ao estilo dos orientais ou dos nossos monges, que se isolam e se distanciam do mundo no desejo de compreendê-lo melhor, olhá-lo com mais sabedoria. Trata-se, isto sim, de vivermos nas ruas, nos ônibus, nas escolas ou no trabalho, no ritmo normal das nossas atividades, mas procurando sentir nossa relação com tudo e todos de forma viva e profunda.

Esta reflexão vivida (ou este viver refletido) acabará pondo diante do nosso espírito as limitações e as possibilidades que ele tem. E aí será bem natural, olhando para as precariedades bem como para as qualidades que temos, percebemos quando os nossos defeitos resultam de limitações. Isto é, quando, o que temos de carente ou insatisfatório em nossa personalidade, é assim porque temos limitações definidas e não podemos ir além dessas fronteiras. Porque quando nossos defeitos resultam de comodismo ou apenas preguiça, somos responsáveis pelo trabalho de superá-los, procurando não usar as pressões sociais e outras dificuldades do meio como um tapume que esconda uma negligência pessoal. Quanto às nossas qualidades, estas serão confrontadas, pela reflexão crítica, com as fraquezas que os limites impõem, é nesta hora que sentiremos ser tola qualquer vaidade. 

Já foi citado por muitos pensadores que “a primeira de todas as sabedorias é conhecermos os nossos limites”. Aquele que adquire noção das próprias limitações encontra o caminho do equilíbrio. Descobre como foi indispensável à meditação feita em busca de uma mais clara consciência de si e do mundo, com a ajuda sempre indispensável dos outros que com ele convivem no cotidiano. A aceitação de si mesmo terá, entre outras, os seguintes componentes: a) Que a pessoa se assuma como ser de extremos, diríamos mesmo como ser de contradições. Afinal, já dizia o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que no ser humano há um enorme gigante chamado “vontade”, que carrega em seu ombro um pequeno anãozinho chamado “razão”.

O anão vive dizendo coisas ao ouvido do gigante, sendo que entre eles há muitos desencontros e também muitos encontros. Por isto às vezes é bem difícil agir como pensamos ou, como se costuma dizer, difícil ser coerentes. Somos como somos. É nossa tarefa melhorarmos, mas não além dos nossos limites. b) Do ponto de vista natural, cada um aceita sua condição de ser entre os seres, sua situação de ser um dado da natureza entre milhões de outros. Mas, em seguida se conscientize do fato de sendo homem, estar na posição de um ser que pensa os demais, escapando a um nivelamento com toda a natureza, é a faculdade humana de transcendência. c) Ainda há componente de abrirmos nossa sensibilidade aos encantos que existem em nossa condição, há um tempo frágil e atuante. Aos encantos que há em não sermos divindades, mas só ser humano gozando a humilde graça de viver nossa natureza. 

Depois de paciente meditação, ficaremos tranquilos ante o fato de que nossas vidas sejam tecidas de crenças e dúvidas, de algumas certezas e inúmeras interrogações, lembrando das aulas de antropologia filosófica do Prof. Régis de Morais (1940), que recomendava: “Tenha as suas crenças e tenha as suas duvidas”. Este bem humorado conselho ajuda-nos a não cometermos a frivolidade de nos levarmos sempre demasiado a sério. A aceitação de si mesmo é um momento dialeticamente muito rico, pois, ao mesmo tempo em que aponta para a humildade das limitações humanas, aponta para o abismo que separa o homem do restante da natureza, isto é, sua possibilidade de refletir. 

Aquele que consegue trazer essa consciência para o dia a dia, levando a vida naturalmente e descomplicadamente, aberto à compreensão do seu semelhante, este se aceitou. Ele guarda consigo a certeza de que, como ser falível, a qualquer momento pode errar (isto será um direito seu), como também tem claro para si que pode procurar corrigir os seus equívocos (e isto será seu dever). É por este modo completamente humano de se situar na vida, que dizemos: este aceitou a si mesmo. 

Comumente se diz que nossa identidade, a descoberta de quem realmente somos, nos chega através dos outros que partilham conosco “o caminho”. E isto é muito verdadeiro. Todavia, é importante não confundir esta afirmação com outra, certamente equivocada, de que nosso semelhante é quem nos dá nossa identidade. Tudo se passa como alguém que se olha num espelho: sua imagem, uma vez refletida, lhe chega graças (através) do espelho; mas sua imagem não tem origem no espelho. Os que convivem conosco, reagindo a nossa presença no mundo, funcionam como espelhos privilegiados, espelhos dotados de afetividade que nos dão condições de descobrirmos quem somos. Mas em tudo isto é preciso haver uma combinação de humildade com senso crítico, para não corrermos o risco de aceitar ser o que não somos de fato. 


Portanto, nossa identidade é facilitada pelos outros, mas a aceitação de nós mesmos é o resultado de um trabalho paciente, através do qual nós mesmos devemos perceber-nos e nos dar uma espécie de autorização para viver. A consciência de si recria para cada um nós, esse belo espetáculo que é a "vida". Aceitar sem vontade é morrer para a vida e enterrar o entusiasmo e o desejo que nos move.

10 de agosto de 2016

ANGÚSTIA, O MAL DO SÉCULO

Dizia o mestre Buda aos seus seguidores (Sidarta Gautama – 563-483 a.C.), que o caminho mais direto para encontrar a paz interior ou a iluminação, é estar presente a própria respiração. O conselho é tão simples que é difícil de levar a sério. A respiração é o nosso automatismo mais antigo. A primeira coisa que a gente fez quando nasceu foi respirar. A respiração é a única função vegetativa que está sujeita ao controle da vontade. No tórax o processo vital ocorre de forma eminente. No reino dos símbolos, o sangue é a vida e o ar é o espírito. No peito, o espírito e a vida se confundem são os dois em movimentos e harmonia. Desde Platão costuma se dizer que o peito é o lugar das emoções e do mistério. A angústia é a oposição entre o espírito e a vida. Spiritus, do latim = que sopra. Alma, do hebraico = sopro, hálito.

O leitor deve estar se perguntando, o que a respiração tem a ver com angústia. Pois, tem tudo a ver e vamos entender qual a relação estreita que existe entre um e outro. Somos o tempo todo vigiados por uma multidão, com o advento da internet então, aí que a nossa vida escancarou-se, ficamos mais vulneráveis, a todo tipo de sorte. Qualquer lugar que você vá, sempre vai ter alguém de olho. Sempre vai ter alguém interessado no que o outro está fazendo. O quadro: “O Mês da Vindima” (1959), do pintor surrealista belga René Magritte (1898-1967), esse quadro retrata uma multidão de homens anônimos com chapéu coco, obstruindo hermeticamente a vista para fora da janela, dando uma impressão assustadora, como se todos estivessem te vigiando.

O todo poderoso é aquela pessoa que quer dominar tudo e controlar a todos, essa pessoa vive como se carregasse uma jaula duríssima de ferro no peito. O poderoso vive como se não pudesse ter sentimentos e ao mesmo tempo ele não pode ter prazer, porque teria que depender do outro. Imagina o tamanho da humilhação para o poderoso. Até parece que quem tem poder não pode ter prazer. Para o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa (1920-2010), em família a gente nega demais os maus sentimentos, é como se ninguém se odiasse em família e muito menos se desrespeitassem. No entanto, é o que a gente mais vê acontecer entre os membros de uma família.

A negação de maus sentimentos gera uma completa falta de comunicação entre as pessoas é como se cada um estivesse fechado em si mesmo. A família que não se comunica é como se estivesse encaixotada, num caixão de defunto, sem vida praticamente. Quando se desperta um desejo em nós, imediatamente se instala um violento conflito entre o mundo de dentro e o de fora. Um desejo não realizado uma vez ou em mil vezes que aparece, vai desenvolvendo e formando aquilo que os antigos chamavam de “coração empedernido”, ou seja, coração empedrado. O que na verdade, representa a opressão torácica de todos nós. A opressão é o que sentimos no lugar de todos os desejos reprimidos e negados. Em vez de gerar alegria, contato e realização, gera tristeza, angústia e depressão. E a consequência final é o pavor do século XXI que é o infarto do miocárdio. Depois de matar todos os sentimentos o coração não sente que tem mais função, ele morre também.

Portanto, qualquer agitação interior, seja raiva, medo, susto ou stress, perturba a respiração. O nosso corpo começa a se preparar para responder a essas ameaças e perigos externos. Estamos continuamente agitados, mesmo sem dar muito conta disso e a respiração fica agitada também. De forma que, se consigo harmonizar a respiração, tudo isso se atenua por uma razão muito simples. A respiração é urgentemente necessária o tempo inteiro. Se ela ficar parada ou atrapalhada, piora a agitação do coração e aumenta a perturbação mental. Contudo, não importa a forma como respiro, o importante é estar presente a respiração, saber que estou respirando. Aqui vai um conselho para os professores que trabalham com crianças principalmente. Ao percebê-los muito agitados na aula, põe todos para respirar. Durante dois minutos apenas, já é notável a calma que toma conta do ambiente. Começou a agitar respira, certamente começaremos a espalhar uma onda de mais paz no mundo.

4 de agosto de 2016

É POSSÍVEL NUNCA SER MAGOADO?

Podemos nos conhecer totalmente? Conhecer todas as nossas ansiedades, medos, sofrimentos, a dor que cada um traz no peito, as feridas psicológicas, os apegos e a esperança. Os nossos anseios e nossa fatídica solidão, o mal do século. A totalidade disso, um pouco aprendemos. A questão é: “cada um pode aprender tudo sobre si mesmo”? Ao longo dos anos, meses e dias ou até morrer? Penso que podemos aprender sobre nós completamente agora, talvez neste instante em que estamos lendo esta reflexão. Basta fazer a seguinte pergunta: “o que eu não estou procurando e reclamo por não ter”? Foi para isso que eu fui educado? Reclamamos muito daquilo que não temos e nada fazemos para ter.

Aprender com a natureza e as estruturas vivas, que é um movimento sobre nós mesmos, por isso que estamos juntos nessa teia da vida. Quem vai nos ensinar? O que há para aprender sobre mim? Nada! Não há absolutamente nada para aprender sobre mim mesmo, porque eu mesmo não sei nada! Coloquei muitos ensinamentos nesta afirmativa socrática. Só sei que nada sei! Neste nada está a educação, ciência e filosofia. Amontoe todos os ensinamentos que as religiões disseram que são as coisas mais destrutivas, o que de pior fizeram conosco. Elas colocaram tudo isso sobre nós, neste essencialmente nada. E nós estamos batalhando e lutando, sobre estas coisas. Tornou-se simples as pessoas dispensar uma boa amizade, porque a amizade parece não significar mais nada. Mudamos de amigos sem pensar muito nos beneficio que aquele nos trouxe até aqui.

Certa vez ouvi uma frase chapada da Dona Lazinha (1904-2010), minha saudosa mãe. Ela disse a uma pessoa conhecida da família as seguintes palavras: “não sou ninguém, mas sou muita coisa. O senhor tem razão, mas eu tenho muito mais se for ver”. Penso até hoje na força dessa expressão. O quanto de fé e amor próprio está contido nessa inferência. É o mesmo que dizer: “o primeiro amor da minha vida sou eu mesmo”. Como saber sobre mim se não me amo? Cada ser humano desde a infância é ferido. Ferido pelos pais psicologicamente, ferido pela escola, através da comparação, através da competição, sendo cobrado naquela matéria, para ser o primeiro da classe e assim por diante, na faculdade e na vida é um constante processo de ser ferido.

Somos todos seres humanos magoados profundamente e podemos não estar consciente disso. Uma vez feridos desenvolvemos todas as formas de ações neuróticas. Parte da nossa consciência exposta ou oculta, que está ferida. É possível não ser ferido de alguma forma? Somos feridos. As consequências para não se ferir são: “a construção de um escudo invisível em torno de si, o afastamento das relações de amizades ou afetivas uns com os outros para não se machucarem mais”. E nisto existe o medo, um gradual isolamento. É possível estar livres das feridas do passado? É possível nunca se machucar novamente? Não por insensibilidade, pelas indiferenças, ou pela total desconsideração de todas as relações, mas sim, questionar o porque e o que está sendo ferido.

Entretanto, esta ferida é parte da nossa consciência, onde varias ações contraditórias e neuróticas acontecem. Estamos examinando a mágoa, que faz parte da nossa consciência, que não é algo fora de nós. Um ser humano que é livre totalmente, nunca será ferido por qualquer coisa, psicologicamente. É comum dizer estou magoado. Quem está magoado? Desde a infância tem sido construída uma imagem de si mesmo. Temos muitas imagens de nós mesmos, não apenas as imagens que as pessoas nos dão, mas também as imagens que nós mesmos construímos como as redes virtuais que são apenas imagem. É com essa imagem que relacionamos. Assim, o “Eu” é a imagem que construí sobre mim, como um grande homem ou uma grande mulher. Que sou muito bom nisso ou naquilo. No entanto, é essa imagem que se machuca.

Portanto, essas imagens são a totalidade do “Eu”. Quando digo que estou magoado, entende-se que a imagem está ferida. Ou seja, a imagem que construí a meu respeito como não sendo um idiota. Se alguém me chama de idiota, fico magoado. Contudo, carrego essa imagem que foi ferida, para o resto da minha vida. Então, vou cuidar para não me magoar mais, afastando qualquer afirmação a respeito da minha tolice. Isto é muito sério, porque as consequências de se ferir são muito complexas. E a partir dessa ferida poderemos querer nos preencher, podendo nos tornar isso ou aquilo, para escapar dessa terrível dor. É preciso compreender isso. É possível não ter absolutamente nenhuma imagem a respeito de si próprio? Você pode ter uma aparência muito bonita, brilhante, inteligente, um rosto expressivo, e eu quero ser como você, se não sou me machuco. Sendo assim, a comparação pode ser um dos fatores que provocam as feridas, psicologicamente. Então, por que comparar? Podemos viver nesse mundo de modernidade, sem uma única imagem? Afinal, quem sou eu?      

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...