31 de dezembro de 2023

ADEUS 2023 E BEM-VINDO 2024

Boa noite Pai já está terminando o ano de 2023 e agradeço pela vida que me confiou. Nesse momento recolho para o meu descanso merecido.

Obrigado Pai por tudo, obrigado pela esperança que nesse ano animou os meus passos, pela alegria que senti juntamente com as pessoas, que caminharam ao meu lado o ano todo. Obrigado pela alegria que vi no rosto dos idosos e das demais crianças que convivem com pessoas que sirvam de bons exemplos.

Obrigado pelo exemplo que recebi dos outros, pelo que aprendi aos meus setenta e poucos anos vividos, obrigado também por tudo que sofri e ainda sofro por ter compaixão pelas crianças e pelos idosos.

Obrigado Pai pelo dom de Amar, mesmo sem ser compreendido. Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa que sopra o meu rosto, pela comida em minha mesa, obrigado por permitir-me viver em 2023, pelo meu esforço e desejo de superação.

Pai desculpe o meu rosto carrancudo. Desculpe ter esquecido que não sou o filho único, mas irmão de muitos. Perdoa a minha falta de colaboração, a ausência do espírito de servir. Perdoa-me também por não ter evitado aquela lágrima, aquele desgosto que lhe dei.

Desculpa ter aprisionado em mim aquela mensagem de Amor. Contudo, estou pedindo força, energia para os meus propósitos, no ano que está nascendo, a nossa vida não para nunca, só a morte pode cessar. Em quanto isso, espero que neste novo ano que está surgindo, domine um novo sentimento em cada coração, desses seres que compõem a humanidade. E que a cada novo dia seja um continuo sim numa vida consciente. Porque tudo que vive, não vive sozinho, nem para si mesmo. Como disse Gandhi: “Tudo o que vive é o teu próximo”.   

22 de dezembro de 2023

QUE O NATAL SEJA UM REENCONTRO COM O CRISTO

Apesar de toda a tecnologia e o avanço científico alcançado pelo homem, dia 25 de dezembro ainda é Natal. O Homem que nasceu a mais de dois mil anos deve estar preocupado com o mundo em que viveu e apesar de toda a sua imensa sabedoria não deve estar entendendo.  Ele não deve entender, por exemplo, como é que os mesmos homens, que se cumprimentam de coração aberto, com um sorriso nos lábios, podem passar pelo encantamento do Natal para começar uma nova batalha entre si completamente desprovido de generosidade, condescendência, afeto e até mesmo bondade.

Ele o Homem que nasceu no dia 25 de dezembro do ano zero de nossa história, não pode entender porque o Natal funciona apenas como uma trégua, na imensa desigualdade social em que vivemos, sem falar das discórdias familiares, a guerra que o homem trava todos os dias contra o seu semelhante e contra si mesmo. Mas Ele que viveu entre nós e é o símbolo da esperança ainda não perdeu a própria esperança. A esperança de que o homem um dia perceba que a trégua é o certo e o normal é que a guerra é um grande equívoco.

Portanto, a mensagem que Ele nos deixou foi a seguinte: “Cumpra o projeto que Deus determinou que é de amar sempre o seu semelhante, demonstrando gestos de gentileza e respeito. Ser justo e não julgar o outro pelas suas fraquezas. Pensar muito sobre suas ações. Sentir o que realmente sente, pois você é um ser de amor. Meditar muito sobre esse sentimento, meditar sobre suas inclinações e possibilidades de ser feliz nesse amor. Procure fazer o mais que puder para esse amor permanecer entre os humanos. Para então, aperfeiçoar-se nesse projeto de vida, até que possa devolver para Deus a imagem e o dom desse amor que um dia Ele estampou em nós quando aqui chegamos.

Contudo, não compreendo os mistérios da vida e nem suas razões. Só espero estar certo no que penso e sinto. Que é continuar a cultivar esse amor pelo meu próximo que é você. Quero um mundo melhor para nós. Talvez, então nesse dia, o ser humano inverta os seus valores atuais e coloque ordem na casa. E daí possa, finalmente, todos viverem em Paz. Feliz Natal no verdadeiro sentido da palavra.

21 de dezembro de 2023

SE O CRISTO VOLTASSE HOJE COMO SERIA RECEBIDO?

É uma reflexão, mas também uma alerta. Tem gente querendo ser mais cristão do que o próprio Cristo! Por direito de herança e de conquista, Jesus Cristo reina com autoridade absoluta sobre todas as criaturas. Vamos imaginar como seria a volta do Cristo, para uma visita as vésperas do Natal. O que ele sentiria ao ver esse mundo pelo qual morreu, simplesmente para nos salvar? Um homem que só falava de amor. Todo seu gesto era de amor e paz.

Como disse sabiamente o poeta: “Eu sei que Jesus Cristo um dia vai voltar e nos mesmos campos procurar o que plantou e colher o que de bom nasceu. Chorar pela semente que morreu sem florescer. Tudo que aqui ele deixou não passou e vai sempre existir. Flores nos lugares que pisou e o caminho certo para seguir”.

Penso que Jesus Cristo vai olhar para cada um de nós, com a mesma serenidade e amor. Seu gesto continua sendo de paz e amor ao próximo. Vai nos dizer em tom de alerta: “Desse jeito você sempre vai ser só. Não seja assim. Tente não ser assim com você, numa busca vazia e agindo assim não pode ser feliz. Não é por minha causa que lhe digo. Mas por você. Pela sua felicidade, pela sua ternura e sua fé no amor maior”.

Jesus na sua imensa sabedoria continua a nos dizer: “Não tem importância se você entender que essa minha angústia é por você. Independentemente, por você. A pessoa vê as outras pessoas como elas são. Eu não acredito que elas precisam tanto de você, quanto você precisa delas. E vai ficando tarde para se arrepender. É uma questão de defesa e salvação do que você tem de melhor para oferecer”.

Para concluir Jesus Cristo nos dá o ultimo conselho: “Não saia por aí assim, pense nisso, não saia por aí assim tão seguro de si, dispondo apenas de uma saudade apaziguada, para cada grande tristeza que deveria sentir. Não seja mais assim. Quero insistir nisso ou não vão querer você. Não quero te deixar triste por chamar a sua atenção. Só quero ver um mundo melhor do qual você faz parte. É Natal e só voltei para que me visse ressuscitado e saber o quanto te amo”.

17 de dezembro de 2023

AMOR É ESTADO DE GRAÇA E COM AMOR NÃO SE PAGA

O mestre filósofo e educador Rubem Alves, escreveu numa belíssima crônica que é: “as razões do amor”. Os místicos e apaixonados concordam em que o amor não tem razões. Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa: “A rosa não tem porquês, ela floresce porque floresce”.

Drummond repetiu a mesma coisa no seu poema “as sem-razões do amor”. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento. Eu te amo porque te amo – sem razões. “Não precisas ser amante, e nem sempre saber sê-lo”.

Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra. É dessa morte que vem a tristeza e o luto.

Amor é estado de graça e com amor não se paga. Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que “amor com amor se paga”. O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa floresce, eu te amo porque te amo. Simples assim!

Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Amor não se troca. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.

10 de dezembro de 2023

O MUNDO PERTECE A QUEM SE ATREVE

Já perdoei erros quase imperdoáveis. Tentei substituir pessoas insubstituíveis. E esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso. Já me desiludi com pessoas. Que nunca imaginei que me desiludiriam. Mas também desiludi alguém. Já abracei para proteger. Já ri quando não devia. Fiz amigos eternos. E amigos que nunca mais vi.

Amei e fui amado. Mas também fui rejeitado. Fui amado e não amei. Já gritei e saltei de tanta felicidade. Já vivi de amor e fiz promessas eternas. Mas também me magoei muitas vezes. Já telefonei só para ouvir uma voz. E apaixonei-me por um sorriso. Já pensei que fosse morrer de tanta saudade. Tive medo de perder alguém especial e acabei por perder.

Mas vivi! E ainda vivo! Não pretendo só passar pela vida. E também tu não deverias passar! Bom é lutar com determinação. Abraçar a vida com paixão. Perder com classe. E vencer com ousadia. Porque o mundo pertence a quem se atreve. E a vida é muito para ser insignificante. Então viva intensamente enquanto pode!

2 de dezembro de 2023

FREUD AO OUVIR AS MULHERES CRIOU A PSICANÁLISE

Sigmund Freud (1856-1939) foi um neurologista e psiquiatra austríaco, criador da psicanálise é a personalidade mais influente da história no campo da psicologia. Ele foi o primeiro no final do século XIX que deu ouvido as mulheres. A psicanálise nasce disso, de que Freud um dia escutou as mulheres que ninguém escutava, as quais começaram a falar de sua vida e repressão sexual.

Se for para entender de onde vem a nossa cultura e vem de uma tremenda repressão do desejo sexual feminino, da própria existência da mulher e de um tremendo ódio delas. O grande psicanalista Jacques Lacan era o dono de uma obra de arte de Gustave Courbet (1819-1877), um pintor francês, um dos pioneiros da pintura realista no século XIX, que pintou em 1866 a pedido do diplomata turco otomano Khalil-Bey (1831-1879), colecionador de imagens eróticas. Um quadro que tem como título: “A Origem do Mundo”.

Esta obra A Origem do Mundo, tem uma história tumultuada e dramática. De modo que esse quadro é representado por uma “vagina”. Seu último proprietário foi o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), que a ocultou sob uma pintura de madeira do seu cunhado André Masson. Em 1994 a família doou a obra para o Estado francês. Em um indiscutível marco de avanço civilizacional, a obra foi exposta publicamente pela primeira vez em 1995 no Museu de Orsay, onde se encontra exposto em Paris.

O fato do quadro ter sido de propriedade de um grande psicanalista freudiano como Lacan. Em geral a gente pensa que para os psicanalistas a origem do mundo seria o “falo”. Porém, Lacan geralmente prefere usar o termo ”falo” em vez de ”pênis“, a fim de enfatizar o fato de que o que diz respeito a teoria psicanalítica não é o órgão genital masculino em sua realidade biológica, mas o papel que desempenha este órgão nas fantasias femininas e masculinas.

Daí Jacques Lacan reserva o termo ”pênis” para o órgão biológico, e o termo ”falo” para as funções imaginárias e simbólicas deste órgão. Lacan escolheu esse termo o falo para a representação imaginária e simbólica do pênis, a fim de distinguir melhor o papel do pênis na vida de fantasia de ambos os sexos a partir de seu papel anatômico.

26 de novembro de 2023

O HUMILDE TEM CIÊNCIA QUE SEU SABER É LIMITADO

Uma pessoa humilde de verdade tem ciência de que seu saber é limitado e que a arrogância e altivez intelectual correspondem a um grave engano. Quem é intelectualmente arrogante se acha portador de um saber inquestionável: ao ser contestado, não ouve o interlocutor com real respeito.

As pessoas que acham que sabem muito se afastam da porosidade psíquica: seus diálogos visam apenas fazer prevalecer somente o seu ponto de vista. A pessoa arrogante não se interessa pelo que o outro diz: ao ouvi-lo, só está se municiando de argumentos para desqualificar seu raciocínio.

A humildade corresponde a um estado de alma em que predomina o respeito pelas outras pessoas: pelo modo como vivem, pensam e se comportam. Uma boa definição de pessoa humilde consiste na real disposição de ouvir e de aprender sempre, inclusive com aqueles que sabem menos que ela.

Quando as pessoas falam e fazem o que querem, sem se preocupar com a repercussão sobre o outro, é porque nelas predomina o egoísmo ou o desejo de magoar. Se elas estão certas sobre suas ideias, por que vai ouvir a outra pessoa? Naturalmente, quem tem certeza em tudo que fala e faz não se pode dizer aberta a novas ideias. Todas as pessoas que tem certeza do que falam e fazem, na verdade, são intolerantes.

19 de novembro de 2023

FELICIDADE É UM INSTANTE DE VIDA QUE VALE POR SI SÓ

O que é felicidade? A felicidade para os gregos é um instante de vida que vale por si só. Se me perguntarem o que eu penso da felicidade? Eu diria que é uma fração de segundo de vida, um pequeno instante de vida que gostaríamos de repetir. Todavia, felicidade é aquele minuto que não queremos que acabe. Mas, como tudo na vida acaba, então, usamos da inteligência para repetir esse momento, e assim revivê-lo.

De modo que, a felicidade pode acontecer em qualquer lugar, pode acontecer até debaixo da sombra de uma mangueira. Quando sentimos vontade de convidar aquela pessoa especial, para repetir aquele piquenique, debaixo da sombra da mangueira. Isto é sintoma de felicidade com aquela pessoa. A mangueira está na nossa memória e traz boas recordações. Como a personificação do amor perfeito. Porque naquele momento fomos felizes ali. Felicidade é isso! Um instante de vida que nos da prazer em reviver.

Assim como também podemos estar numa padaria, tomando um café com alguém que acabamos de conhecer e essa pessoa tem um compromisso e precisa ir embora, prontamente dizemos: “deixa seu número de telefone, que vou te ligar para a gente marcar outro cafezinho”. Isso é sintoma de felicidade na padaria. Ainda tem aquele aluno que, no último dia de aula do curso, diz: “professor, será que no ano que vem, posso assistir suas aulas de filosofia como aluno ouvinte”? Só há uma razão para esse aluno querer repetir as aulas de filosofia: “é que durante as aulas de filosofia ele foi feliz”.

Porém, se alguma dessas coisas aconteceu na sua vida, é um sintoma de que naquele momento você estava feliz. Quando a vida poderia ter durado um pouco mais, quando a vida poderia se repetir novamente. Porque não há nada mais legal do que você, proporcionar a alguém que você nunca viu um mísero segundo que esse alguém gostaria de repetir com você.

Portanto, se todos nós, nos déssemos o trabalho de proporcionar a alguém do lado, um instante de vida, que esse alguém gostaria um dia de repetir conosco. Estaríamos juntos costurando uma sociedade infinitamente mais solidária, mais justa, mais coesa, mais harmoniosa e mais feliz. Se tivermos que melhorar, somos nós a melhorar. Somos todos corresponsáveis. É hora de juntos, virarmos a página e patrocinarmos, com a nossa conduta e a nossa inteligência, uma convivência melhor e mais justa.

12 de novembro de 2023

OSCILAMOS ENTRE A ÂNCIA DE TER E O TÉDIO DE POSSUIR

Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi um filósofo alemão do século XIX, considerado pessimista e sombrio. Para ele, a solidão e a capacidade de bastar-se a si mesmo, são uma das qualidades mais valiosas para a felicidade de um indivíduo. Até aí não nenhuma objeção.

A grande obra de Schopenhauer é composta de quatro volumes: o primeiro livro é dedicado à “Teoria do Conhecimento”, o segundo, à “Filosofia da Natureza”, o terceiro à “Metafísica do Belo”, e o quarto à “Ética”. Argumentava ele que: "Grandes homens são como as águias - constroem seus ninhos na solidão elevada".

Segundo Schopenhauer, viver é sofrer, e não ache que exista uma entidade superior, um Deus que ordenou tudo e que dá um sentido para a nossa vida. Para ele o que nos move é a nossa “vontade”. Ela é uma espécie de essência do ser humano, uma energia que está para além da racionalidade. É como se fosse uma energia que nos move a viver e nos impulsiona, lançando-nos no mundo para que possamos fazer o que fazemos e ser o que somos.

Isso nos faz ser únicos. O mundo é a nossa representação. Ninguém vê o mundo como o outro vê, e de certa maneira, estamos presos em nossas representações. Essa vontade que nos faz viver desperta em nós desejos, e quando vamos em busca dos mesmos, e o que pode saciá-los é a satisfação e o prazer do encontro.

Porém, quando olhamos para o mundo, para nossa representação nada pode saciar, e a vida tornar-se uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir. E a vida é isso; um ciclo que se repete uma frustação? Se não tem Deus, não tem sentido, não tem satisfação, e o que nos resta então? É assim que o filósofo alemão em pleno século XIX, via o mundo.

5 de novembro de 2023

SOU UM SER DE AMOR, QUE EU VIVA SOB ESSA DOR

Que passem os minutos, dias e anos. Todas as estações do tempo. Que eu viva, qual tolo, todas as ilusões pueris de sentimento. Sou um ser de amor, em todas as épocas, em todo momento. Que passem as águas por muitas pontes e que debruce a saudade por muitas serras e montes, sou um ser de amor e sempre amarei, como se fosse a primeira vez e única, apesar das tantas aventuras!

Ainda além deste céu, nas alturas. Eternamente. É ter na mente. Ainda que outro alguém o tenha entre lençóis confidentes, mesmo que os beijos sejam molhados e quentes, à parte, nossa alma vaga enamorada, sobre qualquer prazer da carne ou qualquer entrega fugaz. Eternos, apaixonados.

Sou um ser de amor, sob qualquer dor que me pese o orgulho ferido, o despeito revolvido. Sobre qualquer punhalada em meu coração, sobre qualquer distância a nós imputada. Porque sei, amor de mim, que ainda assim. Não é pequeno o nosso comprometimento. Ah! Soubessem todos os tamanhos. Pobre carne, pequeno tempo.

4 de novembro de 2023

HUMILDADE É SABER OUVIR O OUTRO COM O CORAÇÃO

O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber, não com a cabeça, mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos diferentes, que nós não vemos. Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica reconhecer que somos meio cegos. Vemos pouco, vemos torto, vemos errado. E mesmo assim julgamos sem conhecer os fatos.

Bernardo Soares autor do “Livro do Desassossego” foi um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) que diz: “aquilo que vemos é aquilo que somos”. Assim, para sair do círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso próprio rosto refletido nas coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós mesmos. Não somos o umbigo do mundo.

E isso é muito difícil: reconhecer que não somos o umbigo do mundo! Para se ouvir de verdade, isto é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões. É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus pensamentos por outros. Mas, a Filosofia não tem as opiniões como base, somente os fatos.

Todavia, se falo é para fazer com que aquele que me ouve acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. Isto é uma tolice, querer mudar a maneira pensar do outro. Porém, é norma de boa educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é verdadeiro. É apenas um tempo de espera. Estou esperando que ele termine de falar, para então eu dizer a minha verdade.

A prova disto está no seguinte: se levo a sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que eu penso, depois de terminada a sua fala, eu ficaria em silêncio para ruminar aquilo que ele disse, que me é estranho. Mas isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e imediata. A resposta rápida quer dizer: não preciso ouvi-lo. Basta que ouça a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando o que ele disse. Aquilo que ele disse não é o que eu diria, portanto, ele está errado.

31 de outubro de 2023

A PALAVRA AMOR NÃO É LEVADA A SÉRIO NA EDUCAÇÃO

Investir numa didática afetiva é a saída para estimular o autoconhecimento dos alunos e formar seres autônomos e saudáveis. Se quisermos mudar o mundo, temos de investir em educação. Não mudaremos a economia, porque ela representa o poder que quer manter tudo como está. Também não mudaremos o mundo por meio da diplomacia, como querem as Nações Unidas – sem êxito.

Para ter um mundo melhor, temos de mudar a consciência humana. Por isso me interesso pela educação como processo de mudança. É mais fácil formar a consciência dos jovens. Podemos conceber uma educação para a consciência, para o desenvolvimento da mente. Uma educação que prepare os professores para que eles se aproximem dos alunos de forma mais afetiva e amorosa.

Precisamos de professores que sejam capazes de conduzir as crianças ao desenvolvimento do autoconhecimento, respeitando suas características pessoais. Os estudos nessa área da educação vêm demonstrando, que esse é o caminho para formar pessoas mais benévolas, solidárias e compassivas. Hoje a educação é despótica e repressiva. É como se educar fosse dizer faça isso e faça aquilo. Não há uma educação para o amor.

A palavra amor não tem muita aceitação no mundo da educação. Na poesia, talvez. Na religião, talvez. Mas não na educação. O tema inteligência emocional é um pouco mais disseminado. É usado para que os jovens tomem consciência de suas emoções. É bom que exista para começar, mas não tem um impacto transformador. A inteligência emocional é aceita porque tem o nome inteligência no meio.

Tudo o que é intelectual interessa. Não se dá importância ao emocional. Esse aspecto é tratado com preconceito. É um absurdo, porque, quando implementamos uma didática afetuosa, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo. Uma parcela significativa de professores concorda com esse ponto de vista, mas na prática não fazem nada. Pode ser que isso ocorra por causa da própria inércia do sistema.

O Ministro da Educação é como um visitante que passa pelos ministérios e consegue apenas resolver o que é urgente. Ele mesmo não estabelece prioridades. Precisamos de uma mudança de consciência e o melhor caminho é a transformação da educação, por meio de uma nova formação de educadores – orientada não só para a transmissão de informações, mas para o desenvolvimento de competências existenciais.

A verdadeira crise é uma crise das relações humanas, a crise de um mal antigo das relações humanas, uma incapacidade fraternal, de verdadeiras relações amorosas, um mal antigo que agora se tornou crise porque se tornou insustentável. É, pois uma crise de amor e o que fracassa é um modelo de sociedade atual, que ainda permeia o modelo patriarcal.

Concluo com um belíssimo poema de Rubem Alves: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de serem pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”.

22 de outubro de 2023

NÓS HUMANOS ESTAMOS PRECISANDO DE BONDADE

Bondade significa fazer o bem ao próximo, e existem pessoas dispostas a isso, por mais que a gente não tenha esse conhecimento, já que na mídia tradicional essas pautas não possuem relevância. A sociedade se acostumou a acreditar que o mundo está numa verdadeira tragédia. Claro, não é mentira. Mas existem coisas boas acontecendo por aí e são vários os exemplos. Porém, todos sabem que a humanidade em si está precisando de mais bondade.

Com esse sentimento, é possível diminuir os índices de violência, construir uma sociedade mais igualitária e que respeita ao próximo e ainda transformar os seres humanos em pessoas mais otimistas. Não há um caminho, uma regra para se tornar mais bondoso. Essa prática que é cultural e familiar não precisa de muito.

Por vezes, somos bondosos e não notamos como fazemos a diferença na vida das pessoas. Uma pesquisa publicada na revista online Greater Gold, da Universidade de Bekerley, mostrou que para aumentar a nossa felicidade, basta ajudar o próximo.

E é isso mesmo. Como você se sente quando ajuda alguém? Não se sente bem? Importante? Ativo? Aqui é necessário destacar que ajudar ao próximo precisa ser feito com o coração, e não por interesse. Neste sentido, a bondade precisa ser colocada em prática e ser treinada! Esse sentimento se reflete e é uma corrente que passa para os outros.

Quanto mais bondosos formos com o próximo, melhores relações nós criamos e mais bondade podemos acender no coração destas pessoas. As relações estão muito líquidas e artificiais. Virou rotina a violência, as mortes brutais, crianças passarem fome, crueldade. É como se estes fatos fossem incorporados em nosso cotidiano e, de fato, estão. Precisamos unir forças para lutar por um mundo mais justo. As causas envolvendo bondade estão presentes no dia a dia, mas é preciso mais.

Portanto, é preciso abrir o coração para os desafios, para aquilo que nos amedronta. É preciso pedir ajuda e, ainda, oferecer ajuda. Ao acendermos a luz em nosso coração, podemos compreender que ajudando aquela pessoa ao nosso lado, estaremos criando relações de otimismo. Não se constrói um mundo mais justo sem bondade. E, para isso, não precisamos aceitar que essa é uma tarefa impossível de ser colocada em prática.

15 de outubro de 2023

A DIFERENÇA FUNDAMENTAL ENTRE SOLIDÃO E SOLITUDE

Paul Johannes Oskar Tillich (1886-1965) foi um teólogo alemão e filósofo da religião. Dentre suas várias contribuições ao mundo da teologia e filosofia do século XX, destaca-se justamente o tema central que trataremos ao longo dessa matéria: solidão e solitude. Afinal, qual a diferença entre ambas?

Paul Tillich em seu livro: “O Eterno Agora”, ele discorre acerca das palavras “solidão” e “solitude”. Apesar da segunda ser pouco usada no português, ela possui tradução e significado próprio na nossa língua. Originária do latim, solitude pode ser descrita como: “a glória em estar sozinho”. Já a solidão é uma condição associada à dor e à tristeza. É um sentimento de vazio. Sentir-se sozinho mesmo na presença de amigos e familiares.

Solitude implica em querer estar sozinho, em aproveitar esses momentos únicos consigo mesmo. É, basicamente, escolher ser sozinho e ser feliz com essa escolha. É algo feito de forma deliberada, consentida e positiva. É, por exemplo, decidir viajar sozinho por um longo tempo, somente em companhia de si mesmo. Solitude é usada de forma poética na nossa linguagem.

Segundo o psicanalista Felipe de Souza, autor de textos para o site Fãs da Psicanálise: “a solitude permite o tempo, o espaço e o silêncio para fazer o útil ou o belo. Também permite não fazer nada. Também permite desenvolver a espiritualidade, encontrar-se enquanto uma pessoa diferente dos demais e se aceitar como se é – independentemente da aprovação do outro”.

Portanto, ela é quase que um estado de silêncio meditativo, e nós já explicamos o quão poderoso pode ser estar quieto, tanto para seu corpo quanto para sua mente. Além disso, seguindo o raciocínio do psicanalista, a solitude pode ser um caminho poderoso para encontrar com a sua espiritualidade - que também revelamos morar dentro de si mesmo, basta querer encontrá-la.

9 de outubro de 2023

TUDO NA VIDA SE DÁ NUM ESTADO DE POESIA

Vamos examinar de perto uma das coisas mais linda da natureza humana que é o encontro amoroso. Esse contato vivo de intimidade profunda, de total embriaguez amorosa é estimulado pelas afinidades que nutre um pelo outro. O fato de vislumbrar alguém que primeiro nos prendeu pelo olhar, o sorriso, pela conversa agradável.

É nesse momento mais feliz que chegamos o mais perto possível, nos abraçamos, nos acariciamos, trocamos beijos, começamos a fazer agrados. Quantas qualidades que nos transcendem se manifestam nesse momento. Chamamos isso de contato vivo, porque nem todos os contatos são vivos.

Podemos estar junto de uma pessoa por algum tempo, e não sentir nenhuma vibração, não da química, não há comunicação. Quando há afinidade, trocas de olhares e uma boa comunicação entre ambos, começa ocorrer fatos que só podem ser compreendidos como um encontro de almas. Nossas almas entram em sintonia afetiva e espiritualmente. Aqui sim, temos um amor de boa qualidade, de trocas prazerosas.

Quando encontramos alguém com a mesma vibração que a nossa, não perca essa preciosa e bendita oportunidade, pois não é todos os dias que isso acontece. De um mundo com oito bilhões de pessoas, achar alguém que faça nosso sorriso aumentar ainda mais é uma chance de ouro que não pode ser desperdiçada.

Não existe coisa melhor do que alguém que nos dá o devido valor. Alguém que chore por nós, mas que seja um choro de felicidade por estar vivendo tantas coisas boas ao nosso lado, que se lembre de nós em vários momentos do dia, das mais aleatórias situações aos mais importantes momentos.

Seja na hora do cafezinho, seja no meio da agitação e pressa do dia a dia, seja ao ver aquele por do sol. Tomar banho de mar a noite, seja para demonstrar confiança e intimidade, seja para partilhar uma perda ou vitória. No fim, fazer parte da vida do outro por inteiro é uma grande raridade que deve ser vangloriada, isto é surreal.

Portanto, viver é poesia. Gosto de chuva, gosto do cheiro da terra quando chove, assim como também gosto de mar e praias, de montanhas e cachoeiras, de rios e lagoas, de árvores e plantas, flores e passarinhos. Ouvir música e ficar em silêncio, amo. Contemplar as estrelas na madrugada. Ver o nascer e o pôr do sol. A lua cheia brilhando intensamente. Gosto de poesia e de palavras verdadeiras que toca a alma. Mas o sorriso de quem se ama é um oásis para mim. Só comparado a um arco-íris em um céu azul. Aonde o céu azul é mais azul.

30 de setembro de 2023

O CORPO É PRÉ-HISTÓRIA DA NOSSA VIDA INTERIOR

O corpo humano é o maior patrimônio que devemos cuidar e preservar. Através dele comunicamos nossos sentimentos e emoções. Ele realmente exerce uma grande influência em nossa relação com o mundo sensível e o mundo das ideias, como argumenta Platão (427-347 a.C.), nos seus diálogos sobre o conhecimento.

O corpo é nosso cartão de visita, coloca em evidência a nossa estadia no mundo dos vivos e, dispensa apresentação pela sua genialidade na organização dos pensamentos e ações na natureza. Contudo, essa complexa máquina humana, ainda é um mistério para muitos estudiosos da fisiologia humana. Afinal, no corpo tudo é manifestação de vida, são nossos anseios de vida por mais vida. Mas, que tipo de vida buscamos?

No entanto, se o corpo não falasse as palavras não teriam sentido. O psicanalista austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), foi o primeiro que, frente ao silêncio do paciente, começou a observa-lo e então fez a descoberta do que era evidente. O nosso corpo expressa sentimentos e emoções contidas, involuntariamente. Reich percebeu que o modo de estar em silêncio da pessoa, pode significar tanto quanto uma declaração verbal.

A diferença essencial entre Freud e Reich. É que Freud apenas limitava-se a ouvir e interpretar a comunicação verbal dos seus pacientes, ao passo que Reich, passou a ver e a interpretar a comunicação não verbal mostrada pelo corpo. Ouvir a voz do corpo é que nos leva para o eu profundo, portanto, para Reich esse é o caminho que nos conduz a nossa interioridade.

Todavia, as pessoas têm pouca familiaridade com seu aspecto exterior, como sua face, gestos e atitudes corporais. Estranham demais suas aparências ao se verem gravadas em vídeo. Isto é, elas não sabem o que exprimem ou manifestam facial e corporalmente, pouco percebem ou sabem de sua “Couraça Muscular do Caráter” noção central para Reich.

A couraça é todo o esforço muscular que a pessoa faz, afim de não mostrar e disfarçar o que pretende, o que deseja ou o que sente. É um paradoxo. Só consegue disfarçar eficazmente para si mesma, porque ela não se vê. Na verdade, toda pessoa sabe o que está sentindo, mais não sabe o que está mostrando para os outros, que só a vê e observa.

Portanto, o nosso corpo é um prodigioso laboratório transformador, que transmuta oxigênio, água, alimentos em vida. Sendo assim, para os que amam viver, o corpo não pode ser aquele talento que o imprudente enterra como diz nos Evangelhos. Sendo o corpo nossa forma de presença no mundo, bem como o berço, no qual nascem todos os nossos conteúdos íntimos como emoções, crenças e conhecimentos. O corpo é pré-história da nossa vida interior, este parece ser para nós como o templo de todos os sentimentos, que precisa ser respeitado.

25 de setembro de 2023

TANTO NO AMOR COMO NA VIDA HÁ UM IMPULSO DIVINO

O amor é a nossa imagem e manifestação da vida. Tanto no amor como na vida, estamos sujeitos às mesmas revoluções e mudanças. A nossa existência é resplandecente, permeada de momentos alegres e cheia de esperanças, pelo simples fato de sermos felizes por amar. Este agradabilíssimo estado leva-nos a procurar outros bens muito mais sólidos para continuar a viver.

Não nos contentamos por estar vivo, considerando a vida com o fato de subsistirmos, queremos progredir, ocupamo-nos com os meios para nos aperfeiçoarmos e para assegurar a nossa boa sorte. Se houver amor melhora ainda, aumenta a nossa esperança na vida. Amor e vida caminham juntos, nutrindo um ao outro, se por algum motivo não for assim, não há prazer nas conquistas.

Tudo está insatisfeito e sem vida, deixando a desejar. Esta incompletude é que nos vai exterminando aos poucos. Como diz a música “Morro de Saudade” do poeta e compositor Gonzaguinha (1945-1991): “ó fantasia da minha vida, meu sonho gostoso, meu gozo. Ó minha estrela, essa saudade me deixa assim tão nervoso”.

Procuramos a proteção divina, mostrando-nos solícitos aos nossos semelhantes e não aguentamos que outros queiram o mesmo que temos em vista. Será porque somos egoístas? Este estímulo de continuar a existir acumula-nos de mil trabalhos e esforços que logo se apagam quando alcançamos o desejado.

Todas as nossas paixões ficam então satisfeitas e nem por sombras podemos imaginar que a nossa felicidade tenha fim. No entanto, esta felicidade raramente dura muito e fadiga-se da graça da novidade. Para possuirmos o que desejamos não paramos de desejar mais e mais.

Habituamo-nos ao que temos, mas os mesmos haveres não conservam o seu preço, como nem sempre nos tocam do mesmo modo. Mas, há uma energia que nos impulsiona e nos toca profundamente, impedindo de nos acomodar ou desistir. Nossa força poderosa que nos mantêm vivos e atuantes está no amor e nesse impulso divino.

17 de setembro de 2023

UM PEQUENO PANORAMA DA SOCIEDADE ATUAL

Entretanto, são tantas as realidades que compõem a verdade que podemos observar no dia a dia. Pessoas explorando pessoas e as matando de todas as formas. Desde a indiferença até a morte física. Na sociedade atual o sexo é livre e o amor se tornou uma boa conta bancaria. Onde perder o celular é pior do que perder os teus valores. Onde a moda é fumar e beber, e se não fizer isso, você está obsoleto. Onde o banheiro tornou-se estúdio para fotos e a igreja, o lugar perfeito para se fazer check in com espiritualidade.

Século XXI, onde homens e mulheres temem uma gravidez muito mais que HIV. Onde o serviço de entrega de pizza chega mais rápido do que a ambulância. Onde as pessoas morrem de medo de terroristas e criminosos muito mais do que temem a Deus. Onde as roupas decidem o valor de uma pessoa e ter dinheiro é mais importante do que ter amigos ou até mesmo família. Nem de longe deslumbram que amor é fundamental para o homem e para a sociedade. Sem amor, o homem torna-se árido, incapaz de encantar-se com a vida e de envolver-se com os outros.

Século XXI, onde os filhos são capazes de desistir dos seus pais pelo seu amor virtual. Onde os pais esqueceram-se de reunir a família à mesa para um jantar harmonioso, conversando sobre o dia a dia, pois estão entretidos no seu trabalho ou no celular. Onde homens e mulheres muitas vezes, só querem relacionamentos sem obrigações e seu único "compromisso" se torna posar para fotos e postar nas redes sociais jurando amor eterno.

Vivemos em uma sociedade onde o amor se tornou público ou uma peça de teatro. Onde o mais popular ou o mais seguido com mais curtidas em fotos é aquele que aparenta esbanjar felicidade; aquele que posta fotos em lugares legais e badalados rodeados por "amizades vazias" com "amores incertos" e "famílias desunidas". Onde as pessoas se esqueceram de cuidar do espírito, da alma vazia e resolveram cuidar e cultuar os seus corpos esteticamente falando. Sem nenhuma conotação com a saúde.

Portanto, estamos vivendo numa sociedade onde vale mais uma lipoaspiração para ter o corpo desejado do "mundo artístico" do que um diploma universitário. Onde uma foto na academia tem muito mais curtida do que uma foto estudando ou praticando boas ações. Século XXI aqui você só sobrevive se jogar com a "razão", e sendo assim você é destruído se agir com o teu “coração”. Contudo, ninguém é cem por cento feliz!

8 de setembro de 2023

AMOR É UM EVENTO QUE APARECE QUANDO QUER

Quando você encontrar a outra metade da sua alma, você vai entender porque todos os outros amores deixaram você ir. Quando você encontrar a pessoa que realmente merece o seu coração, você vai entender porque as coisas não funcionaram com todas as outras pessoas.

Os místicos e apaixonados concordam que o amor não tem razões. Angelus Silésius, místico medieval, disse que o amor é como a rosa: “A rosa não tem porquês. Ela floresce porque floresce”. Drummond repetiu a mesma coisa no seu poema “as sem-razões do amor”. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento. “Eu te amo porque te amo, sem razões. Não precisas ser amante, e nem sempre saber sê-lo”.

Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fossem assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra. “Amor é estado de graça e com amor não se paga”. Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que “amor com amor se paga”. O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Como a rosa floresce, eu te amo porque te amo.

Amor é isto: “a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação”. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora. Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino. Quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca.

Portanto, o amor é um evento de graça. Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro. Amamos aquela pessoa não pela beleza que existe nela, mas pela beleza nossa que aparece refletida nos olhos dela. Não amamos aquela pessoa que fala bonito. Amamos aquela pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. Como dizia Rubem Alves: “é na escuta que o amor começa e, é na não escuta que ele termina”.

30 de agosto de 2023

É NO SILÊNCIO DA ESCUTA QUE O AMOR NASCE

Amamos uma pessoa não pela beleza que existe nela, mas pela beleza nossa que aparece refletida nos olhos dela. Não amamos uma pessoa que fala bonito. Amamos uma pessoa que nos escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. E é nesta escuta que o amor nasce. E é o não escutar o outro que amor termina.

O amor vive no sutil fio da conversação. Balançando-se entre a boca e o ouvido. Eu te amo porque no teu corpo outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes. O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “se eu fosse você”.

Cartas de amor são escritas não para dar notícias, não para contar nada, mas para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel. O amor prefere a luz das velas. Talvez seja isso, tudo que desejamos de uma pessoa amada: Que ela seja luz suave que nos ajude a suportar o terror da noite. Sob a luz do amor que ilumina modesta e pacientemente, assim sendo o escuro já não assusta tanto.

26 de agosto de 2023

O CONCEITO DE DEUS EM BARUCH SPINOZA

No “Livro 01 da Ética e no Tratado sobre a Religião e o Estado”, do filósofo holandês Baruch Spinoza (1632-1677) delineia a sua concepção de um Deus despersonalizado e geométrico, contrária a todas as formas de se conceber Deus como uma espécie de entidade, oculta e transcendente, que age conforme os seus desígnios e a sua vontade suprema.

De modo que, Spinoza parte de uma teoria que não compartilha da ideia de um Deus autocrático, que controla a tudo e a todos, e que se refugia em algum ponto distante de uma cobertura celestial. Segundo a crença comumente aceita e bastante difundida, sobretudo, entre os povos e as civilizações de origem cristãs. Motivo pelo qual, o filósofo Spinoza expôs, assim, em sua obra, a sua definição.

 É Spinoza quem diz que as massas: “supõem, mesmo que Deus esteja inativo desde que a natureza aja em sua ordem costumeira; e vice-versa, que o poder da natureza, e as causas naturais, ficam inativas desde que Deus esteja agindo; assim, elas imaginam dois poderes distintos um do outro, o poder de Deus e o poder da natureza”.

Com efeito, a crença de Spinoza era em um Deus baseado no seguinte princípio: “Deus e Natureza são a mesma coisaDeus sive Natura” (Deus e Natureza). Desse modo, Spinoza, em sua explanação, entende Deus como sendo à base de sustentação e a condição subjacente da realidade como um todo. Um Deus imbuído da mais clara evidência e certeza racional, que se auto constitui como sendo a causa de si e de todas as coisas; que se move em função de uma necessidade que lhe é intrínseca e gerada de sua própria essência, a rigor responsável pelo total funcionamento e ordenamento do mundo.

Baruch Spinoza tem uma concepção de Deus e da natureza totalmente diferente da que costumam ter os cristãos mais recentes, pois afirma que Deus é a causa imanente, e não externa, de todas as coisas. Para ele, tudo está em Deus; tudo vive e se movimenta em Deus. E acrescenta, dizendo: “Por ajuda de Deus, entendo a fixa e imutável ordem da natureza, ou a cadeia de eventos naturais. A partir da infinita natureza de Deus, todas as coisas decorrem dessa mesma necessidade, e da mesma maneira, que decorre da natureza de um triângulo, que seus três ângulos são iguais a dois ângulos retos”.

Portanto, O Deus de Spinoza é o Todo, ou seja, é tudo o que é. Dessa maneira o Deus de Spinoza não está no meio de nós. O Deus de Spinoza somos nós. Desse modo são todos os entes em relação. É o mundo em si mesmo. Parecido com os estoicos que é uma corrente de pensamento cuja característica central é o pensamento de que todo o cosmo é regido por uma harmonia que determina todos os acontecimentos. Mas é só parecido. Porque para os estoicos o divino é a relação do corpo com as suas finalidades. Para Spinoza a finalidade é uma ilusão. Contudo, o Deus de Spinoza é o real como ele é. Ou seja, é o mundo em suas relações. O real não morre o mundo não morre o que morre são as partes que o constitui o Todo. Enfim, o Todo porque é o Todo, não se relaciona com nada e, portanto, não morre, não se entristece, não fica deprimido e não causa sofrimento.

18 de agosto de 2023

SAUDADE É O MOMENTO BOM QUE FICOU

Saudade é o momento bom que ficou. Saudade é a poesia que a ausência compõe no coração. A saudade é uma emoção complexa e ambígua que muitas vezes está associada a sentimentos de nostalgia e desejo por algo ou alguém que já não está presente.

É a falta de alguém que se foi e que provoca sensações e experiências profundamente humanas, cheia de emoções complexas e confusas, que testemunha o impacto que alguém teve em nossas vidas e da conexão especial que compartilhamos com ela. Mas embora a dor da perda possa ser avassaladora.

A saudade também pode ser vista como uma forma de honrar e manter viva a memória de alguém que se fez tão importante e fez parte de nossa história. Transformar a saudade em algo bom é ressignificar os pensamentos, permitindo encontrar beleza nas memórias e nas conexões que perduram.

Sendo um eco emocional da alegria passada, e sua existência é uma evidência do impacto positivo que esses momentos tiveram em nossa vida. A saudade não apenas nos lembra do que perdemos, mas também nos conecta as experiências e alegrias vivenciadas ao lado de quem não está fisicamente ao nosso lado, mas emocionalmente nas lembranças!

A saudade só não mata porque tem o prazer da tortura. Saudade é o amor que não foi embora. É imaginar onde aquela pessoa amada possa estar ou se ainda ela gosta daquele vinho. Sentir saudade é a ausência daquela companhia. A saudade é a inconfortável expectativa de um reencontro.

Portanto, se hoje sentimos saudades é porque tivemos na vida, momentos de alegria na companhia de pessoas especiais. Enfim, a saudade que agora nos machuca, nada mais é do que uma dívida sendo paga, pelo amor que um dia usufruímos ao lado de quem amou.

14 de agosto de 2023

CALAR-SE É SÁBIO SE O QUE VOU DIZER AGRIDE ALGUÉM

Precisamos criar essa arte da escutatória e não apenas a arte da oratória. Calar é muito importante, alias num mundo que ninguém se cala quando de fato, o ouro do silêncio for melhor. Porém, calar-se quando existe uma injustiça, calar-se quando algo está acontecendo. Faz-nos lembrar da frase do Evangelho que as pedras falarão no meu lugar, se eu me calar.

Então não se trata de avaliar o silêncio ou a fala, mas sim o silêncio adequando para que eu aprenda algo, reflita e deixe o outro expor a sua característica e expor a sua vontade. Agora, falar é útil quando exatamente a algo a ser dito. Sou eu que tenho que julgar se há algo a ser dito ou não. Toda censura é abominável, mas os limites da liberdade de expressão são dados pela lei.

No entanto, não posso fazer apologia ao crime e não posso fazer da liberdade de expressão um ataque que queira destruir o outro. Para isso estão previstas calúnias, crime de injúria e difamação. Tenho que pensar que ao falar se é necessário, se vai melhorar as pessoas e se vai produzir algo mais verdadeiro. Se assim for, fale bastante, fale mais do que você está falando, sempre medindo se é necessário, se é verdadeiro e se é absolutamente positivo.

Agora ouça bastante, porque ouvir é o grande privilégio dessa arte da escutatória. O que estou fazendo aqui é uma reflexão crítica sobre um ditado. Ditado que é do senso comum e é do senso comum que estabelece um princípio universal. Todas as vezes que você se calou, estava melhor do que quando você falou? Não é porque muitos alemães se calaram sobre o nazismo que a barbárie do nazismo existiu. É porque muitos franceses não se pronunciaram sobre a deportação de judeus na França.

Em outras palavras, essa barbárie ocorreu é porque muitos cidadãos viraram os olhos, quando o homem estava agredindo sua mulher na rua, ou no apartamento de cima, que tantas mulheres vieram a falecer ou ficaram marcadas para sempre no corpo e na alma. Pela violência dessa masculinidade tóxica. Não se cale diante do mal, não se cale diante da falta de ética. Não se cale diante da verdade cristalina.

Não é o ouro ou a prata, mas o bem e a ética. É isso que determina se você deve falar ou não. Para nós cidadãos comuns, calar-se mais é uma boa medida, porque falamos demais e a palavra é ambígua. Pois ela limita o pensamento e nesse sentido calar é bom. Mas, talvez estejamos precisando falar muito mais sobre as coisas realmente grave que ocorre nesse país em que o silêncio nos torna, nesse caso cúmplices.

Calar-se é sábio quando o que vou dizer agride alguém. Calar-se é muito inteligente, quando percebo que o que vou dizer só mostra a minha dor. Não melhora nada, não é necessário e nem verdadeiro. Só para citar essa fórmula apócrifa atribuída ao filósofo grego Sócrates. Calar-se é muito importante quando de fato o ouro do silêncio for melhor.

Portanto, quando atiro uma brasa cheia de raiva em alguém, talvez eu atinja a pessoa com as minhas palavras, que é a brasa incandescente. Mas em 100% dos casos queimo a mão. O problema não está apenas em ser compreensivo com os outros, nem por uma compaixão, mas, por uma educação. Como lidar com pessoas difíceis, todas as vezes que alguém nos enfrenta e ofende? Essa pessoa está sugerindo que eu saia da minha zona de conforto. Ela está sugerindo que a minha vaidade não me domine. Está mostrando que sou limitado em relação ao universo e por fim, está me convidando a crescer. Isto é apenas um sintoma que devemos analisar e pensar, antes de devolver qualquer agressão a alguém.

31 de julho de 2023

O DESEJO É SEMPRE POR AQUILO QUE NOS FALTA

Haverá quem diga que felicidade é ter tudo o que se quer. Eis aí a primeira dificuldade: não é possível. Porque quando você quer é porque não tem ainda. E quando se tem aí você já não quer mais. O desejo é sempre por aquilo que nos falta. E a nossa energia é mobilizada para ir atrás daquilo que queremos. Sempre encontramos na falta a nossa grande motivação para alcançar o desejado.

Mas aí, é claro, um dia, como nem tudo é tão cruel e tão difícil você consegue o que tanto queria. E quando você consegue já não deseja mais, já não ama mais. Os brinquedos recebidos no Natal estão num baú de desejos assassinados pela presença, mortos pelo consumo, e as crianças querem os outros que elas ainda não têm.

A sociedade não pode nos deixar desejar de qualquer jeito. Essa força que temos para ir atrás daquilo que nos faz falta, ela não pode se manifestar no caos. Depois de algum tempo, com o advento da maturidade você não percebeu que foi enganado pela ilusão dos sonhos. Você não percebeu que, talvez, se a vida tinha alguma chance de ser feliz, não é quando acontecer algo desejado, mas é já, aqui e agora.

Ou a felicidade está aqui agora, ou não estará em nenhum outro lugar, porque a vida está aqui nesse momento. Cada instante da vida é uma oportunidade mágica, absolutamente inédita e nunca antes vivida. Porque hoje eu sou melhor do que ontem, hoje sou mais preparado e mais experiente do que ontem. Eu tenho a chance de fazer o melhor da vida.

E quando a felicidade começa antes é melhor para vida. Se precisar esperar sexta-feira às 18 horas no encontro com amigos para um “happy hour”, para a vida ser feliz, desculpa, a tua vida é muito ruim. É bem melhor quando ela começa antes. E ela terá colorido. Cada vez que você usar o instante vivido para buscar fazer o mais perfeito, a busca da excelência, o pleno desabrochar da própria essência, a busca da própria perfeição, que não vai acontecer no final de semana, mas vai acontecer já, porque agora é que a vida está acontecendo.

Porém, tenho a chance mágica de usar as melhores palavras, os melhores exemplos, tocar você no seu espírito com a máxima contundência. E aí sim, estarei fazendo da minha vida uma vida de desafios, colorida e feliz. Não é quando acabar de escrever esta reflexão, mas, é já. E lamentarei demais o momento que acabar. De modo que felicidade é um pequeno segundo da vida, um pequeno instante, que você gostaria de repetir.

Felicidade é aquele segundinho que você não gostaria que acabasse. Mas, como vai ter que acabar, você usa a inteligência para repetir. Pode acontecer em qualquer lugar, pode acontecer no cinema ou debaixo da sombra de uma mangueira. Isso é sintoma de felicidade no cinema ou na sombra da mangueira. E tem até aquele aluno que, no último dia de aula, vira pra você e diz: “professor, será que no ano que vem, eu não poderia assistir suas aulas de novo como aluno ouvinte?” E você olha para o aluno e vê que só há uma razão para ele querer assistir suas aulas outra vez. Ele vai ter que admitir: é que durante suas aulas ele foi feliz.

Quando a vida poderia ter durado um pouco mais é sinal que você estava feliz. Porque não há nada mais legal do que você, proporcionar a alguém que você nunca viu um mísero segundo, que esse alguém gostaria de repetir com você. Isto é maravilhoso! Estaríamos juntos, costurando uma sociedade infinitamente mais solidária, uma sociedade infinitamente mais justa, mais coesa, mais harmoniosa e mais feliz. E se temos que melhorar, somos nós a melhorar. Somos todos corresponsáveis.

Portanto, é hora de juntos, virarmos a página e patrocinarmos com a nossa conduta e a nossa inteligência, uma convivência melhor e mais justa. Que não seja para nós, mas que seja para aqueles que tanto amamos e que não pediram para nascer e que esperam encontrar, quando começarem a viver, um lugar bacana de convivência, porque viver bem é conviver bem. Viver bem é encontrar justiça para si e para os outros. Essa tarefa é exclusivamente nossa, de buscar felicidade através de uma convivência feliz.

24 de julho de 2023

A ATITUDE FILOSÓFICA DE UM PENSADOR

O exercício do pensamento é algo muito prazeroso, e é com essa convicção que convidamos você a viajar conosco pelas reflexões de cada um dos nossos textos Filosóficos: o prazer do pensar. Atualmente, fala-se sempre que os exercícios físicos dão muito prazer. Quando o corpo está bem treinado, ele não apenas se sente bem com os exercícios, mas tem necessidade de continuar a repeti-los sempre.

Nossa experiência é a mesma com o pensamento: uma vez habituados a refletir, nossa mente tem prazer em exercitar-se e quer expandir-se sempre mais. E com a vantagem de que o pensamento não é apenas uma atividade mental, mas envolve também o corpo. É o ser humano inteiro que reflete e tem o prazer do pensamento! Essa é a experiência que desejamos partilhar com nossos leitores.

Qual será então a atitude de quem pensa? Podemos, assim, observar que a primeira característica da atitude filosófica é negativa: é um dizer "não" ao senso comum, as crenças, opiniões e valores recebidos na experiência cotidiana; é recusar o "é assim mesmo" e o "é o que todo mundo diz e pensa”: Numa palavra, distanciar-se dos preconceitos, colocando entre parênteses nossas crenças e opiniões para indagar quais são suas causas e qual é seu sentido.

A segunda característica da atitude filosófica é positiva: é uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê e o como disso tudo e de nós próprios. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica. Se reunirmos essas duas características da atitude filosófica, deparamos com a atitude crítica.

Portanto, a Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do dia a dia para que possam ser avaliados racional e criticamente. Por isso começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber. Esse foi o principal ensinamento do patrono da Filosofia, Sócrates, quando afirmou que começamos a buscar o conhecimento verdadeiro apenas quando somos capazes de dizer: "Só sei que nada sei".  

18 de julho de 2023

COMO SE EXPLICA O RESSENTIMENTO POR UMA PESSOA?

A quem pertence a nossa paz? De quem é a nossa tranquilidade de espírito? Se for nossa, quem pode tirar? Quem pode me ofender? Como se explica o ressentimento pelo qual algumas pessoas são afetadas? Uma verdade fundamental que ilumina a nossa vida e deixar os ressentimentos para trás, é exercitar o poder espiritual sobre nossa vida. Pois, ninguém tem esse poder de ofender o outro sem que o permita. A menos que passe uma procuração para ser ofendido e julgado. O que Jesus perguntou aos seus algozes: “Querem me condenar?” Ele percebeu o clima pesado. Não respondeu nada, passou no meio do povo e foi embora. Jesus não ficou pedindo: “Por favor, me entenda, pelo amor de Deus não façam isso. Sou filho de Deus e vim para salvá-los”. Imagina que ele iria se humilhar a tanto. Tem pessoas que não adianta ficar pedindo compreensão. São portas fechadas e não estão preparadas para tamanha grandeza. São incapazes de gestos nobres, de generosidade. Gestos que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício do outro; magnanimidade. São bons para julgar e condenar, sem pensar no amanhã.

O ensinamento budista tem um argumento muito interessante sobre a ofensa. Diz a filosofia budista que: “a ofensa é uma brasa que você atira na pessoa para queimá-la, como um fogo na mão que você quer queimar a pessoa o máximo possível, e talvez você consiga. Mas, em cem por cento dos casos, você queima a mão primeiro”. Quem ofende, revela insegurança e fraqueza de espírito. A questão é que sempre vamos encontrar alguém que aponte o dedo para nos execrar em nome da honra e da verdade. Que verdade? Quem pode dizer que conhece toda a verdade? Mas, tem pessoas que são convictas porque vivem de opiniões. Não adianta querer explicar, elas estão surdas e cegas. Só escutam a elas mesmas e muito mal. O próprio Jesus disse: “Pai perdoa, eles não sabem o que dizem, são ignorantes”. Geralmente, são pessoas amargas e mal resolvidas na sua subjetividade. Como dizia o saudoso Padre Léo: “Não adianta dar banho em porcos, o lugar deles é na lama”.

Entretanto, temos que pensar comparativamente, quem pode me ofender? Unicamente a quem eu der esse poder. Sendo assim, a ofensa torna-se um fracasso pessoal. Os Estoicos ensinam que não devemos se alterar diante das coisas que sejam desimportantes. Há poucas brigas muito importantes na nossa vida. Sendo a maioria por motivos fúteis e banais. Contudo, existem pessoas rancorosas que nasceram para apontar os erros nos outros, e se esquecem dos próprios, os chamados falsos moralistas ressentidos. Alguns vivem dentro de igrejas e até praticam o ministério eucarístico cristão em suas comunidades. Não passa de uma representação social. Quando assumo o comando da minha vida, estou crescendo em Deus, de modo que a mentira é uma visão distorcida da realidade.

Portanto, todo ponto de vista é visto de um ponto. Somente vemos um pedaço da realidade e não a realidade toda. Se quer ser uma pessoa de coração bom, mergulhe no ágape da vida. Ninguém é bom o suficiente, enquanto não superar o mau que cresce dentro de si. Aquelas pessoas pequena por dentro é que se fazem fortes por fora, quando sabem que nos machucam. Quando começarmos a enxergar o nosso semelhante por outro ângulo, começamos a enxergá-lo de um jeito novo e mais humano. Nesse momento recebemos uma graça linda de Deus, começamos a enxergar o outro com os olhos da esperança. Porque amar o outro é esperar em Deus.  

5 de julho de 2023

OLHAR COM A ALMA E DIZER COM O CORAÇÃO

Gosto deste contato com a natureza, de estar entre meio essa beleza natural, das quais só podemos enxergar com os olhos da alma. Olhar para essas pessoas simples que vivem e plantam seus alimentos. A beleza dos gestos imperceptíveis; das mãos que acolhem, das que nos abraçam, consolam e amparam. A beleza da palavra amiga, consoladora, estende-se a todo instante ao nos ver por perto. É um olhar com a alma e quando diz é com o coração. É na alma que o amor se completa.

Gosto desse silêncio compartilhado, desse olhar que acalanta, do abraço caloroso, do beijo silencioso, do aceno que jura; “ficarei aqui, por ser aqui o meu lugar”. Quando observo, procuro enxergar com os olhos da alma, para não deixar que a luz ofusque a realidade, aquela escondida, por trás de uma bela estampa, ou distorcida pelas lágrimas. Há também, aquela que disfarça numa deformidade afetiva, que nada tem de real. Pois, ambos foram afetados. Tanto a alma como o amor.

O belo mesmo, este, é invisível aos olhos. Prefiro me perder na escuridão dos meus olhos solitários e viver num mundo sem culpa. Do que me encontrar na luz dos olhos traiçoeiros dos espertos desalmados e condenar a minha alma para sempre. De modo que a beleza não está nos olhos de quem vê e sim nos olhares que se trocam, aqueles que tocam a nossa alma. Assim sendo, não sentimos esquecidos e sozinhos. Somos olhados com os olhos da alma. É a alma que avisa o nosso coração sobre a chegada do amor.

No entanto, há flores pelo caminho, assim como há vida e ela chama por nós. Enxergue a vida com as lentes da sabedoria e com a certeza que ela é cíclica, vai e volta. Se puder evitar que um coração se parta, não terei vivido em vão. Se puder evitar a agonia de uma vida e acalentar uma dor, não terei vivido em vão.

Concluo com um verso do cronista e poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918): “Não me basta saber que sou amado, nem só desejo o teu amor. Desejo ter nos braços teu corpo delicado, ter na boca a doçura de teu beijo”. Olhar com a alma é dizer no silêncio do teu mais amável e sutil coração. Que está sempre transbordando de amor. Com a alma acalentada e o coração em disparada.

28 de junho de 2023

AMOR NÃO COMBINA COM DOR, EMBORA A DOR O ACOMPANHA

De onde vem à crença de que o amor tem que ser acompanhado de dor? Por que um sentimento tão nobre e desejado tem que ser sofrido? No entanto, a literatura está repleta de histórias de amor nas quais era o impedimento da vivência desse amor que fazia com que ele fosse sofrido. Atravessar todos os obstáculos para alcançar o ser amado, já desenhava uma história repleta de dor, segundo afirma a psicoterapeuta holística Celia Lima.

Trazemos assim a ideia de que um amor “verdadeiro” deve ser acompanhado por alguma ou muita dor. Muitas vezes nos perguntamos por que Joana e João continuam juntos se brigam tanto? E alguém vai dizer: “é por que se amam”, sacramentando assim a crença de que para haver amor tem de haver conflito e sofrimento. É essencialmente o medo que faz com que as pessoas não deem um tempo para si mesma: “medo de não ser amada, medo da solidão, medo de não ter a quem dirigir seu amor”.

Algumas pessoas se atiram em “qualquer” relacionamento sem respeitar seus valores e seus limites. Atiram-se antes pelo medo de não ser aceita do que propriamente por amor, porque confundem, misturam seus medos com sentimentos que elas sequer têm certeza de que sentem, mas enfim, “não estão sós”. E então se iniciam os embates porque o outro não é exatamente o que você esperava. Mas o outro insiste que você deve ser de outro jeito para que ele seja feliz. E o “amor” vai rimar com dor, fazendo perpetuar essa crença.

As pessoas só estarão realmente preparadas para relações amorosas sem dor quando os outros pilares de sustentação da vida estiverem firmes e claros dentro delas. E permanecer voluntariamente sozinho para que esse encontro consigo mesmo, possa proporcionar esse preparo. Temos que escapar da literatura do amor romântico e colocar os pés na realidade, em que o dia de hoje é que é o “para sempre”.

A liberdade para amar sem sofrimento é você quem se concede. Isso não significa a ausência de ajustes nos relacionamentos, mas quando percebemos que somos capazes de viver bem conosco mesmos, perdemos o medo da solidão afetiva. A confiança é a base de qualquer relacionamento. Confiar no amor um do outro é saber usufruir dos prazeres quando estão juntos. É como estar nos braços da divindade.  

26 de junho de 2023

NA ESPERANÇA ENCONTRAMOS CORAGEM PARA SEGUIR

Ao estudar a história da humanidade, percebemos que todos os grupos humanos em diferentes épocas cultivaram esperanças em relação ao futuro, sonhando com a liberdade, com um mundo de justiça, de respeito à vida, enfim, esperança de uma vida melhor tanto na esfera pessoal como na coletiva. Constata-se que é na esperança que encontramos coragem para lutar contra os grandes horrores e barbáries presentes na história humana.

Na mitologia grega, quando “Pandora” abriu a caixa onde Zeus havia aprisionado todos os males e as misérias deste mundo, o que restou bem no fundo da caixa foi a esperança. É este tesouro guardado no fundo da caixa que nos motiva a lutar sempre e acreditar, apesar de todos os males que escaparam da caixa de Pandora, na possibilidade de amenizar, vencer os males, os sofrimentos deste mundo.

Todavia, nosso tempo vive uma escassez de esperança. As pessoas não se entendem mais, fala-se na morte das utopias, no fim do mundo. Assistimos diariamente a intolerância da humanidade da qual fazemos parte. Paira no ar uma apatia, uma angústia constante, uma depressão nos ameaçando a todo o momento, desencanto amoroso, vazio existencial, o tédio da vida sem graça, desertos da alma e na necessidade de fuga do mundo.

As pessoas não acreditam mais no futuro e nem nelas mesmas. Até parece que os horizontes de esperança foram deletados. Quem cultiva a esperança é considerado um ingênuo frente à dureza dos fatos apresentados pela realidade cotidiana. Não confiamos mais nas pessoas e nem nas instituições. A consequência imediata é a indiferença e o esvaziamento dos projetos coletivos, segundo o filósofo e educador Sérgio Trombetta, nossa cidadania é medida pelo poder de consumo, pelo número de cartões de créditos, pelo automóvel que temos. Qual será o nosso futuro?

Essa crise de esperança acaba gerando uma cultura na qual tudo se torna normal e banal. Estamos nos acostumando com tudo. Não somos mais capazes de tremer de raiva frente a uma injustiça, estamos perdendo a capacidade de nos indignar. Até os amantes estão tratando suas relações amorosas com superficialidade total, sem a menor compreensão e tolerância um com o outro. Trocam com facilidade de parceiros como se troca de sapato. Parece não acreditarem mais no amor e são incapazes de cultivar esperança.

Paulo Freire não se cansou de lembrar o quanto a esperança é importante no processo de libertação dos seres humanos. Precisamos da esperança crítica, militante, solidária, como o peixe necessita da água despoluída. A esperança por si só não transforma o mundo. Mas sem esperança crítica não é possível lutar para transformar o mundo.

Portanto, o ser humano não é plenamente humano se não cultivar a esperança de um futuro melhor e se não agir para fazer deste mundo um lugar seguro para se viver, vamos desaparecer mais ou menos depressa. O mundo que nos espera não está por ser conquistado pela força, mas está por ser construído. Nesta tarefa de construir outro mundo possível, os sonhos, a esperança que não é espera, mas um fazer acontecer é imprescindível. Como diz o cantor Geraldo Vandré numa de suas músicas: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.     

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...