31 de agosto de 2020

SINTO QUE UMA PARTE DE NÓS É TODO MUNDO

Na luta diária somos levado a compreender, que o outro sempre tem razão. Inconscientemente surge uma sensação de tristeza, confusão e desespero, que toma conta do nosso ser, começa a crescer como um fungo irritante em nossa mente. Passamos a ser ríspidos com os outros. Perdemos a parte da cabeça que nos faz negar os fatos durante grande parte da nossa vida. É o que chamam de insanidade temporária. Aquela parte de nós que continua a se preocupar, que vive na dúvida, que é cheia de receios, que julgam os outros que tem medo de confiar, que precisa de provas, que acredita apenas quando lhe convém, que não consegue dar continuação às coisas, que se recusa a praticar o que prega e que precisa ser salvo, que quer ser vítima, que dá verdadeiras surras no “Eu interior”, que precisa estar certo o tempo todo e que insiste em se agarrar àquilo que não funciona. Esta é a outra parte de nós.

Estranho seria olhar para essa parte nossa, que se apresenta e não reconhecer que é neste coração, nesta vida, que habita a melhor parte de nós. Sendo que uma parte de nós é todo mundo; a outra parte é ninguém, pelo menos que o conhecemos. Há uma outra parte que anda por aí entre a multidão. Que se revela estranha para nós e que a chamamos de solidão. A parte nossa que se apresenta, pesa, pondera, enquanto a outra parte delira e se espanta com a nossa reação. Às vezes somos permanentes e a outra parte de nós nos surpreende de repente. Somos vertigem enquanto a outra parte é linguagem. Como diz o poeta e ensaísta brasileiro Ferreira Gullar (1930-2016): “Traduzir-se uma parte na outra parte, que é uma questão de vida ou morte, será arte?”. A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.

Portanto, com o tempo, nós percebemos que para ser feliz com outra pessoa, precisamos em primeiro lugar, não precisar dela. Percebemos também que aquele alguém que amamos pode ser definitivamente a pessoa da nossa vida. Porque só o amor faz as pessoas evoluírem espiritualmente. A capacidade de sentir amor é que faz a pessoa melhorar como ser humano. Tem coisas que atravancam a nossa vida e aquela parte de nós consegue superar aquele desencontro. Só o amor nos liberta e nos torna mais humano. O segredo é não correr atrás das borboletas e sim cuidar do jardim, para que elas venham até nós. Enfim, essa parte de nós vai achar, não quem estamos procurando, mas quem está nos procurando. Aquela parte de nós sabe onde encontrar a parte que nos completa. Abram-se, algo muito maior do que pensam está acontecendo em nós.  

29 de agosto de 2020

PROFESSOR DEIXOU DE SER O CENTRO DO SABER

Gosto de brincar com as palavras, fazer trocadilhos, ainda mais com o advento da internet. Como dizia Rubem Alves (1933-2014): “ler é fazer amor com as palavras”. De modo que, tudo  isto torna a produção literária mais atraente e divertida. Tendo em vista, que a tecnologia e a internet tem contribuído muito para que o conhecimento não fique somente guardado nas estantes das bibliotecas. Por outro lado, esse saber à nossa disposição não terá utilidade se não soubermos como acessá-lo. Desenvolver as habilidades de pesquisa nos alunos é um dos grandes desafios do professor, atualmente.

A internet tem mudado bastante a forma como nos relacionamos com o conhecimento, principalmente, no âmbito escolar. O professor deixou de ser visto como o centro do saber para ser aquele que articula os saberes, fazendo com que o aluno relacione fatos e consiga construir sua opinião através do senso crítico. O educador deve ser aquele que está disposto a ajudar o aluno a trabalhar em grupos e a construir seus próprios conhecimentos. Segundo o pesquisador, biólogo e psicólogo Jean Piaget (1896-1980), diz: "só conseguirá dizer e passar com simplicidade e clareza uma ideia, quem entendeu suficientemente bem essa ideia".

Diante dessa nova realidade, faz-se cada vez mais necessário a busca por capacitação e aperfeiçoamentos para que nos apropriemos cada vez mais do mundo digital e, consequentemente, para que o aprendizado através dessa ferramenta tecnológica de informação e comunicação seja efetivo e traga bons resultados para o âmbito escolar. A conexão com os acontecimentos contribui muito para o aprendizado, pois através de um simples clique podemos saber o que acontece no mundo, isso tudo em fração de segundos.

Portanto, a internet é um vasto mundo, tem tanto conteúdo bons como ruins. Este mundo virtual tem muito de perigoso e nefasto para os jovens. E ainda tem alguns pais irresponsáveis que largam seus filhos o dia todo na internet. Isto só acontece porque os responsáveis por essas crianças e jovens, nutri a falsa crença de que só por estar em casa, fechado no seu quarto enfrente a um computador, os filhos estão seguros e protegido. Na verdade, é uma ideia equivocada dos pais.

27 de agosto de 2020

ACREDITO SER A NATUREZA, NOSSA MAIOR PEDAGOGA

Minha convivência com a natureza trouxe-me outra realidade, que passei a vivenciar com profundidade, ou seja, enxergar a natureza como a maior pedagogia da vida, por ser ela tão sábia. A natureza tem muito a nos ensinar. Veja neste poema o quanto de belo é o nosso contato com a natureza: “Da minha aldeia vejo o quanto da terra se pode ver no universo. Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer, porque sou do tamanho do que vejo, não do tamanho da minha altura. Nas cidades a vida é mais pequena que na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave. Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu. Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar e tornam-nos pobres, porque a única riqueza é ver.” (extraído do poema “O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro).

O Guardador de Rebanhos” é uma obra composta de 49 poemas ou partes, que começaram a ser datados em 08 de março de 1914. O livro é assinado por Alberto Caeiro, um dos “heterônimos” do poeta Fernando Pessoa (1888-1935). (heterônimo é um personagem fictício criado pelo escritor com caráter próprio). Alberto Caeiro possui a mansidão e a sabedoria que nos comove. Aproxima-se da postura do Zen Budismo. Para Caeiro, o importante é ver e ouvir: “A sensação é tudo, e o pensamento é uma doença”. No entanto, dizia Caeiro no poema O Guardador de Rebanhos: “nunca guardei rebanhos, mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor. Conhece o vento e o sol e anda pela mão das estações a seguir e a olhar. Toda a paz da natureza sem gente”.

Portanto, como apreciador da natureza que sou, faço-lhe o seguinte convite: “vem sentar-se ao meu lado nessa viagem imaginária, como nas caminhadas peripatéticas e longas conversas pelos bosques fecundos das abelhas”. “Venha ver comigo o findar do pôr do solSaiba que minha alma é seu pastor”. Olhando para o meu rebanho e ouvindo as minhas ideias, sem pestanejar aparece um turbilhão de pensamentos. Sou impulsionado imperativamente por esse sentimento que não sei explicar. Já não sei mais andar a sós por este caminho. Contudo, aprendi que o amor é aquele companheiro que gosta de conversar. Como ensinou-me o poeta: “toda a realidade olha para mim como um girassol e o meu rosto no meio”. Aqui o tempo não existe, o espaço é transformado pela nossa experiência, assim como o espaço transforma a nossa experiência. Nós não habitamos o nosso corpo, nós somos o nosso corpo. Acredito ser a natureza, nossa maior pedagoga. Com ela aprendemos e tecemos esse emaranhado, que é a teia vida.

21 de agosto de 2020

QUEM APRENDE COM A DOR, ENSINA COM AMOR

O homem não necessita senão de um mínimo de conforto na vida, quando a sua vida tem uma finalidade nitidamente consciente, isto é, quando ele sabe por que vive, trabalha e sofre. Uma causa grande e digna, claramente apreendida e entusiasticamente abraçada, torna-se grandiosamente fascinante e bela, a mais humilde das existências. O homem sem ideal rasteja penosamente pelas tediosas baixadas da vida. O homem empolgado por uma grande causa, cria asas e voa jubilosamente por cima de todos os obstáculos. Refiro-me aqui ao homem enquanto gênero humano, capaz de justificar sua utilidade no mundo de dor e amor. Quem aprende com a dor, ensina com amor.

Entretanto, é necessário saber sonhar! Não esses sonhos quiméricos, ocos, mas, os grandes sonhos do mundo das excelsas, realidades ainda não realizadas, porém, realizáveis pelos audaciosos aventureiros do infinito. O mais duro da vida torna-se suave quando o homem tem plena certeza, o por que vive e conhece o caminho que trilha. Vida enfadonha e intolerável é somente uma vida sem ideal e sem finalidade. Convém recordar o ditado popular, que: “o seguro morreu de velho e o desconfiado vive até hoje”. Mas, o aventureiro vive na perpétua juventude. Como argumenta o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955): “Quem, em nome da liberdade, renuncia a ser aquilo que deveria ser já se matou em vida: é um suicida de pé. A sua existência consistirá numa perpétua fuga da única realidade que era possível”.

Portanto, se eu tivesse cem por cento de segurança, mas, não tivesse a liberdade de sonhar os sonhos pelas infindas regiões do além. Do que me serviria, toda essa tediosa segurança? Basta-me, um mínimo de segurança, pois tenho necessidade de muita liberdade para sonhar. A excessiva segurança me faz envelhecer em plena juventude. A vasta liberdade me garante a mocidade em plena velhice. Prefiro ser um velho jovem, a ser um jovem velho. Sabem meus amigos leitores por que vives? Se compreender a razão profunda de sua existência, saberás viver intensamente. Só chegamos a ser uma parte mínima, do que poderíamos ser. Um dia olharás para trás, e dirá a si mesmo: “valeu a pena aprender com a dor, porque hoje ensino com amor”. Não interessa a origem da flor, o que interessa é o significado da flor.

19 de agosto de 2020

SEJA NO CORPO OU NA ALMA O SOFRIMENTO É CONCRETO

Foi para discutir questões sobre o significado mais profundo da existência humana que a filosofia nasceu. Na verdade, ela nasceu como uma coisa concreta, para enfrentar problemas reais. Seja no corpo ou na alma o sofrimento é concreto e real. Entretanto, a filosofia traz para a discussão temas como: o que é vaidade, o que é o amor, o que é o medo, o que é a justiça e por aí vai. Outra característica importante da filosofia, é que tanto Aristóteles (384-322 a.C.) como Platão (427-347 a.C.) e antes deles, já viviam na decadência de Atenas. 

De modo que se observarmos a filosofia ao longo da história, ela sempre cresce quando o mundo está em ruínas, quando a sociedade está em crise. No entanto, não há duvida que o acumulo de conforto, o acumulo de opções, o acumulo de opiniões e de técnica, isto gera esse tipo de sentimento, que algumas correntes filosóficas chamam de liquidez ou pós modernidade. Hoje somos assim, amanhã já não somos mais, mudamos rápido de opinião. Esse sentimento de desencaixe como diz os antropólogos, propicia a filosofia. É quando nos sentirmos perdido e começamos a nos perguntar e ao mesmo tempo duvidar.

Portanto, o peripatético é esse espírito de caminhar pela cidade, caminhar pela natureza ou pelo mundo, observando e conversando sobre esses acontecimentos. Passamos uma boa parte do tempo se perguntando sobre coisas concretas. Não perguntamos sobre coisas abstratas, por medo de cairmos no abismo do nosso inconsciente, estudado por Sigmund Freud (1856-1939). De modo que, beleza e inteligência sempre estão em conflitos. A beleza é o espelho da nossa imperfeição. Estar diante da beleza é como ouvir o oráculo de Delfos dizendo: “saibas que tu és mortal”. Dentro de nós está, o macro e o micro cosmos, o homem e o universo, o céu e a terra. Pois, a natureza é o grande livro da Vida, no qual devemos aprender a ler.

16 de agosto de 2020

A SOLIDÃO É BOA QUANDO ESTOU COMIGO

Além dos avanços tecnológicos do início deste milênio, as relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu mal-estar. A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade nasceu com o romantismo e está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.

Durante séculos acreditou-se que seria assim mesmo. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais as mulheres. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: “o outro tem que saber fazer o que eu não sei fazer”. Uma ideia prática de sobrevivência e pouco romântica por sinal. Certa vez li uma frase postada por uma mulher, que dizia o seguinte: “Enamore-se de um homem que se interesse por você, que conheça suas forças, suas ilusões, suas tristezas e que ajude a superá-las”. Na verdade, o que essa mulher está buscando, não tem nada a ver com o amor romântico. Nesta frase está implícito outros interesses que não o amor.

A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso me submeter, o que é muito diferente. Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo sozinho, as pessoas estão perdendo o pavor de ficarem sozinhas e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem. No entanto, o ser humano é um animal que vai mudando o mundo e depois tem de ir se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou.

Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira, moral ou afetiva. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. No mundo da modernidade, vivemos um novo comportamento, que visa à aproximação de dois inteiros e não a união de duas metades, como pensava Platão. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o individuo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva e amorosa.

A solidão é boa quando estou comigo, ficar sozinho não é mais vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.

Portanto, todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontrada dentro dele mesmo e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um. Contudo, o amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Se não houver respeito, ambos estão vivenciando um amor infantil e imaturo.  

11 de agosto de 2020

A FILOSOFIA COMO PROPOSIÇÃO DO PENSAR CRITICO

A filosofia sempre esteve ligada ao momento em que o homem começou a fazer perguntas sobre sua existência. Ela nasceu como uma atividade de esclarecimento e de autonomia de pensamento, pensar por si, conhecer a verdade do mundo, exercitar a linguagem autêntica para firmar alianças de tolerâncias e proposições de reconhecimento de igualdades. É importante que entendamos o significado da própria palavra filosofia, pois ela é utilizada de formas muito diferentes. Algumas vezes o termo é usado como “filosofia de vida”, para explicar como uma pessoa conduz sua vida. Também vemos a palavra relacionada ao trabalho, significando como a pessoa ou um grupo organiza o tempo, as decisões e o dia a dia de sua profissão. Há ainda a concepção de “filosofia religiosa”, dentre outros usos. De modo que a filosofia se relaciona à premissa de se constituir num saber, num modo de realizar alguma coisa, por assim dizer, o pensamento que organiza e da direção a essas atividades.

Temos também a filosofia que se aprende nas escolas, que faz parte do currículo escolar. Esta traz consigo um pressuposto de se reconhecer como um conhecimento que envolve a história da cultura, o que pensaram os filósofos em determinadas épocas e em que sentido tais ensinamentos podem nos auxiliar a pensar a vida de hoje, através do debate sobre a ética, a moral, os valores primordiais que trazemos na nossa matriz. De modo que o pensar crítico envolve um juízo intencional, no sentido de refletir sobre em que se deve crer ou de como reagir a um exame minucioso, a uma vivência, a uma manifestação oral ou textual, e até mesmo a proposições alheias.

Desse modo, a filosofia pode ser compreendida com um saber que tem por interesse a formação da inteligência crítica das pessoas. Na história podemos buscar informações sobre sua trajetória. Nessa época a filosofia significava um modo de entender o mundo, diferente do que até então predominava, o pensamento mítico, fantasioso. A pergunta sobre o que é e para que serve a filosofia. É uma das grandes questões que a acompanham, desde o seu surgimento até nossos dias. Houve tempos em que a filosofia apareceu como oposição à ciência, diante do entendimento de que esta sempre se ocupava de questões práticas e a primeira seria o exercício livre do pensamento.

Sabemos que a filosofia surgiu na Grécia Antiga, sua história já contém uma caminhada que vai modificando o conceito de reflexão de um pequeno grupo para o estimulo do pensamento crítico e autônomo para o maior número de pessoas, até ocupar a escola, como um conteúdo de nossa formação. Todavia, pensar filosoficamente é a grande intenção desse jeito de conhecer e saber, fazer com que a busca das verdades de cada situação nos auxilie a melhor entender o mundo, as pessoas e a realidade. A filosofia então tem o sentido de nos fazer pensar com nossas próprias ideias, buscando a autonomia, sem nos deixar conduzir por outras pessoas, outros saberes ou poderes; e nos dias de hoje, pelas agências de alienação e engodo coletivo, como a identidade dominante na mídia ou qualquer coisa que conduza o nosso pensamento, assim como as redes virtuais na internet.

Entretanto, é por isso que a filosofia nem sempre teve uma boa aceitação no país ou entre algumas pessoas mais conservadoras. Como argumenta o filósofo e educador Cesar Nunes (Unicamp): “o compromisso da filosofia em estimular o pensamento crítico e dar a oportunidade de que cada um tire suas próprias conclusões sobre as situações de sua vida, da política, da sociedade, sobre as outras pessoas, pode incomodar àqueles que não têm interesse em deixar o pensamento livre e crítico ganhar espaços em nossa sociedade”. Tendo em vista, que a ideia mais importante é que todos possam exercitar essa forma de pensamento, para descobrir o que há por trás do que nos é repassado pelos meios de comunicação, pelo conhecimento que aprendemos como o único válido e que comecemos a questionar as formas de viver e pensar, buscando, o grande interesse da filosofia: uma vida melhor, em que os seres humanos possam sonhar e usufruir da felicidade.

Portanto, uma vida feliz se constrói com a vivência da igualdade, do pensamento livre, da criatividade, do diálogo, no combate às situações de desigualdade, pelo respeito ao próximo, ao meio ambiente, em particular aos direitos conquistados por crianças, jovens, adultos, mulheres, pessoas com deficiências, idosos, negros, índios e marginalizados. Exercitar o pensar critico de cada um por si mesmo é um dos principais compromissos daqueles que têm como interesse a vida plena, a justiça e a felicidade como valores fundamentais do que chamamos de emancipação humana.  

9 de agosto de 2020

NENHUM FILHO CHEGA AO MUNDO SEM UM PAI

Meu querido pai, se não fosse você, eu não estaria aqui. Tudo isso é pouco diante do que sinto. Você me trouxe à vida. Por que não está aqui para abraça-lo fortemente? Olhar fundos nos teus olhos e dizer: “Querido pai, olho tuas mãos abençoadas, elas foram importantes na minha educação, sou teu filho e me orgulho de sê-lo. Que essas mãos souberam ser firmes na sua orientação, e serenas no seu amparar. Que elas não fugiram ao dever de punir, e não se tornaram indignas por agredir quando precisou. Por essas mãos fui abençoado. Você me trouxe ao mundo. Tuas mãos meu pai, devem ser o exemplo do teu trabalho e que não se abram apenas materialmente. Que isso é um modo de fechar a consciência, mas que, ao abri-las estejas abrindo muito mais o teu coração e a tua compreensão. Mesmo não te conhecendo hoje sinto o teu amor e o quanto é bom ser pai”.

Gostaria de ter um pai, para sentir quanta responsabilidade cabe a um pai. Ser observado por ele, que orgulhoso sorri pelas qualidades do filho. Por pequenas que sejam, é o pai que as fazem crescer na esperança. Mas que esse pai não deixe de ver os defeitos e as falhas, porque pode ser teu o dever de corrigi-las. Não te considere pai sem defeitos, mas que isso não te desobrigue da perfeição de ensinares o que sabes corretamente. Ainda que tu mesmo tenhas dificuldade em segui-lo, o mais importante do que conseguir alcança-lo, sem dúvida será lutar por ele e fazê-lo grande. Nenhum filho se faz, sem a referência desse pai amoroso. 

Portanto, querido pai, o que se quer de ti é que pai seja. No conceber por amor, no receber por amor, no renunciar por amor. No amor total dos filhos que, sem teu amor, perderão o significado da própria existência. O filho que não tem amor pelo pai, não pode dizer que tem uma história feliz. Todo pai está presente no sangue, na herança biológica, na cor dos olhos, no sobrenome, na língua falada, no DNA. Tudo isso, porém, desaparecerá senão te fizeres presente no coração. Contudo, o filho que conquista o amor deste pai, torna-se esse amor notável em suas ações no dia a dia, como no afeto pelas pessoas que o lisonjeia. Enfim, ser pai é descobrir que o amor incondicional existe e o maior e mais sincero de todos, está bem diante do nosso “Abraço”. Todo pai ama teus filhos, nem todos os filhos amam o teu pai.           

(Feliz dia dos Pais)


2 de agosto de 2020

É ATRAVÉS DO MITO QUE EXPERIMENTAMOS O SAGRADO

O conceito de mito é baseado na ideia de que os antigos gregos criavam narrativas para explicar acontecimentos e fenômenos da natureza que não podiam entender. Nesta reflexão, oferecemos um entendimento da força do mito e do símbolo da “Árvore Cósmica” (Árvore Sagrada) como perspectiva de centralidade universal. Sabemos que diversas culturas apresentam a árvore como signo e percepção religiosa para entender o mundo. A Árvore Cósmica aparece como manifestação do sagrado, que revela ao homem o sentido da vida.

Entretanto, percebendo que várias civilizações oferecem um sentido singular para o mito, aproximando-se uns dos outros. Partindo da mitologia genesiana e da Epopeia de Gilgamesh – um antigo poema épico mesopotâmico, escrito pelos sumérios – com esse pressuposto, caminharemos por diversas reflexões, entendendo como a árvore sagrada pode oferecer ao homem uma interpretação do universo por via de seu significado. Não sabemos ao certo, aonde começa a natureza e onde termina a arte da sua beleza. Isto para mim foi uma tremenda descoberta e uma experiência ímpar. 

Ao ler trechos do texto sobre as lendas do povo Bassari da Africa Ocidental, o mito de Unumbotte, que é considerado o deus criador do povo Bassari no Senegal e Guiné-Bissau, nos conta a história da criação, com variações muito próxima da história contada em Gênese sobre o Jardim do Éden. Diz a narrativa, que o deus Unumbotte, fez um ser humano e seu nome era Homem. Em seguida, ele fez um antílope e o chamou de Antílope. Também fez uma serpente e a chamou de Serpente e por ultimo criou a mulher. E no final da sua criação, disse ele às criaturas: “a terra ainda não foi trabalhada e vocês precisam amaciar a terra onde estão sentadas”. E Unumbotte deu-lhes sementes de todos os tipos e lhes disse: “plantem todas essas sementes”.

Todos cultivaram árvores e outras plantas, incluindo uma que produzia frutos vermelhos. Unumbotte comeria da árvore a cada sete dias, mas os humanos não. Consequentemente, a cobra convenceu os humanos a comer da árvore, explicando a Unumbotte que eles estavam com fome. Unumbotte deu a cada uma das criaturas alimentos para comer. De modo que, os humanos cultivaram plantas, o antílope tinha capim, mas a cobra recebeu veneno e o desejo de atacar os humanos. Quando Unumbotte desceu do céu, ele perguntou quem comeu a fruta, e os humanos disseram: nós comemos. E Unumbotte perguntou a eles quem ordenou, que podiam comer daquela fruta, e eles disseram: foi a cobra, e que deram ouvidos a ela porque estavam com fome. Foi aí que Unumbotte deu sorgo a eles, juntamente com inhame e milho. Desde então, os humanos passaram a governar a terra.

Para entender melhor essa história da criação, cito os Upanishads. Que são textos sagrados que fazem parte das escrituras Shruti hindus, que discutem religião e que são consideradas pela maioria das escolas do hinduísmo, como instruções religiosas. Quando o criador fala à sua criatura, ele percebe que na verdade, está falando dele: “eu sou essa criação, pois, eu a expeli de mim mesmo”. De modo que, ele se tornou essa criação e aquele que sabe disso se torna um criador nesta criação. Este é o ponto principal da criação. Quando sabemos disso, identificamos com o principio criativo, que é o poder divino no mundo, ou seja, o poder em você mesmo.

Portanto, é através do mito que vivenciamos e experimentamos o sagrado. Mas, afinal: “o que estamos procurando neste mundo?” Penso que estamos procurando, uma forma diferente de experimentar o mundo. Que nos abra para a transcendência e que nos inspira, dentro desse mundo, pois, é isso que as pessoas querem. É isso que a alma pede. Contudo, procuramos uma harmonia com o mistério que anima as coisas deste mundo. Assim como a mulher representa a vida e, é através dela que os humanos entram na vida. É a mulher que nos traz para este mundo de polaridade, de pares, de opostos e de sofrimento. Arthur Schopenhauer (1788-1860), foi um filósofo alemão do século XIX, num dos seus maravilhosos textos; “O Mundo como Vontade e Representação”, diz ele: “a vida é algo que não deveria ter acontecido. Ela é na sua própria essência e caráter, uma coisa terrível, pois, precisamos matar e comer para viver”. Ou seja, estamos sempre no pecado, segundo os critérios éticos seguido pelos humanos.     


1 de agosto de 2020

O DESEJO NÃO DEPENDE DA NOSSA VONTADE

Na maioria das vezes as pessoas em geral, não tem o hábito da reflexão, a não ser por necessidades comuns do cotidiano. Geralmente, não distinguimos o desejo da vontade, e isso é um dos grandes problemas. Sem pensar ou refletir, agimos por impulso e não percebemos que esse impulso – desejante ou reativo – é resultante do que sentimos e se não refletir o que sentimos, certamente agimos na maioria das vezes de maneira equivocada pela perturbação emocional. Vontade é agir de acordo com a reflexão racional e o desejo é agir apenas por impulsos.

Para dialogar sobre a vontade e o desejo trago o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), fundador da “Filosofia Crítica”, um sistema que procurou determinar os limites da razão humana. Sua obra é considerada a pedra angular da filosofia moderna. No seu livro “A Crítica da Razão Pura”, ele nos contempla com uma profunda análise moral e distintiva de desejo e vontade; e convida-nos à reflexão sobre as nossas escolhas. Ao estudarmos ética, num contexto histórico de antropologia sociológica, não é difícil entrever a influência negativa da sociedade atual que, através de padrões balizados na importância da personalidade, vêm modelando a conduta humana de maneira cada vez mais egoísta, reativa e intolerante, influenciando de modo decisivo as nossas escolhas.

De modo que, desejo é tudo o que emerge do pensamento à ação sem que se possa controlar; é o impulso instintivo, é a avidez pelo prazer das sensações. Já a vontade, é a ação regida pela razão, independentemente da corrente dos desejos, ou seja, é o uso da razão para deliberar escolhas. Muito diferente de desejo, vontade é o saber materializado em conduta; é tudo o que o pensamento produz para se sobrepor aos instintos, a fim de viver melhor. Sendo assim, a fronteira entre a vida boa e a vida ruim, está no descolamento entre a racionalidade e o impulso desejante, ou seja, entre a vontade e o desejo. De modo que, a vontade percebe que, apesar do desejo, é possível viver na contramão dos instintos. A isso chamamos liberdade, que é a soberania da competência deliberativa sobre as próprias inclinações.

Porém, sou livre quando, ao flagrar meus desejos, consigo agir racionalmente, contrariando o que sugerem meus impulsos. A moral não é uma vigilância castradora, mas, é um olhar sobre si mesmo; é um lugar na mente onde a reflexão impõe os limites que imperam a conduta. No entando, basta não conhecer as próprias fraqueza para se tornar escravo dos apetites que possui. O que difere o ser humano dos outros animais é a sua capacidade de pensar para agir, de modo que, aquele que se conduz pelos seus instintos e inclinações, aproxima-se da animalidade; mas, aquele que age pela via da razão, aproxima-se de sua destinação moral.

No entanto, ao entender a felicidade como acúmulo de desejos saciados, o ser humano tende a priorizar a busca pelos prazeres dos sentidos e das vaidades, sem perceber que quanto mais se sacia um prazer biológico ou vaidoso, mais estravagantes e intensos estes prazeres terão de ser futuramente, a fim de se obter o mesmo nível de satisfação sempre. Porém, a fase de vontade surge, frequentemente, quando os excessos decorrentes da saciação dos apetites resulta em adoecimento físico ou psicológico. Observando o comportamento humano na sociedade atual, percebemos que a maioria necessita do sofrimento para compreender que, a saciação de desejos não representa um estado real de felicidade ao longo do tempo.

Portanto, só posso concluir que é um sentimento de total insatisfação que tende a levar o homem à busca e compreensão de si mesmo. Liberto da prisão de apetites que o faz sofrer, contudo, sentindo-se livre ele vai a busca do aprendizado virtuoso balizado na razão, descrito por Kant. De modo que, a razão inclinada ao aprendizado ético-moral produz, por consequência, equilíbrio e serenidade; e, num mundo caótico, caracterizado pela competição em busca de euforia e saciação de apetites perturbadores. Por acaso, isto não seriam o equilíbrio e a serenidade a própria felicidade? Pense nisso!


POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...