2 de agosto de 2020

É ATRAVÉS DO MITO QUE EXPERIMENTAMOS O SAGRADO

O conceito de mito é baseado na ideia de que os antigos gregos criavam narrativas para explicar acontecimentos e fenômenos da natureza que não podiam entender. Nesta reflexão, oferecemos um entendimento da força do mito e do símbolo da “Árvore Cósmica” (Árvore Sagrada) como perspectiva de centralidade universal. Sabemos que diversas culturas apresentam a árvore como signo e percepção religiosa para entender o mundo. A Árvore Cósmica aparece como manifestação do sagrado, que revela ao homem o sentido da vida.

Entretanto, percebendo que várias civilizações oferecem um sentido singular para o mito, aproximando-se uns dos outros. Partindo da mitologia genesiana e da Epopeia de Gilgamesh – um antigo poema épico mesopotâmico, escrito pelos sumérios – com esse pressuposto, caminharemos por diversas reflexões, entendendo como a árvore sagrada pode oferecer ao homem uma interpretação do universo por via de seu significado. Não sabemos ao certo, aonde começa a natureza e onde termina a arte da sua beleza. Isto para mim foi uma tremenda descoberta e uma experiência ímpar. 

Ao ler trechos do texto sobre as lendas do povo Bassari da Africa Ocidental, o mito de Unumbotte, que é considerado o deus criador do povo Bassari no Senegal e Guiné-Bissau, nos conta a história da criação, com variações muito próxima da história contada em Gênese sobre o Jardim do Éden. Diz a narrativa, que o deus Unumbotte, fez um ser humano e seu nome era Homem. Em seguida, ele fez um antílope e o chamou de Antílope. Também fez uma serpente e a chamou de Serpente e por ultimo criou a mulher. E no final da sua criação, disse ele às criaturas: “a terra ainda não foi trabalhada e vocês precisam amaciar a terra onde estão sentadas”. E Unumbotte deu-lhes sementes de todos os tipos e lhes disse: “plantem todas essas sementes”.

Todos cultivaram árvores e outras plantas, incluindo uma que produzia frutos vermelhos. Unumbotte comeria da árvore a cada sete dias, mas os humanos não. Consequentemente, a cobra convenceu os humanos a comer da árvore, explicando a Unumbotte que eles estavam com fome. Unumbotte deu a cada uma das criaturas alimentos para comer. De modo que, os humanos cultivaram plantas, o antílope tinha capim, mas a cobra recebeu veneno e o desejo de atacar os humanos. Quando Unumbotte desceu do céu, ele perguntou quem comeu a fruta, e os humanos disseram: nós comemos. E Unumbotte perguntou a eles quem ordenou, que podiam comer daquela fruta, e eles disseram: foi a cobra, e que deram ouvidos a ela porque estavam com fome. Foi aí que Unumbotte deu sorgo a eles, juntamente com inhame e milho. Desde então, os humanos passaram a governar a terra.

Para entender melhor essa história da criação, cito os Upanishads. Que são textos sagrados que fazem parte das escrituras Shruti hindus, que discutem religião e que são consideradas pela maioria das escolas do hinduísmo, como instruções religiosas. Quando o criador fala à sua criatura, ele percebe que na verdade, está falando dele: “eu sou essa criação, pois, eu a expeli de mim mesmo”. De modo que, ele se tornou essa criação e aquele que sabe disso se torna um criador nesta criação. Este é o ponto principal da criação. Quando sabemos disso, identificamos com o principio criativo, que é o poder divino no mundo, ou seja, o poder em você mesmo.

Portanto, é através do mito que vivenciamos e experimentamos o sagrado. Mas, afinal: “o que estamos procurando neste mundo?” Penso que estamos procurando, uma forma diferente de experimentar o mundo. Que nos abra para a transcendência e que nos inspira, dentro desse mundo, pois, é isso que as pessoas querem. É isso que a alma pede. Contudo, procuramos uma harmonia com o mistério que anima as coisas deste mundo. Assim como a mulher representa a vida e, é através dela que os humanos entram na vida. É a mulher que nos traz para este mundo de polaridade, de pares, de opostos e de sofrimento. Arthur Schopenhauer (1788-1860), foi um filósofo alemão do século XIX, num dos seus maravilhosos textos; “O Mundo como Vontade e Representação”, diz ele: “a vida é algo que não deveria ter acontecido. Ela é na sua própria essência e caráter, uma coisa terrível, pois, precisamos matar e comer para viver”. Ou seja, estamos sempre no pecado, segundo os critérios éticos seguido pelos humanos.     


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