27 de agosto de 2020

ACREDITO SER A NATUREZA, NOSSA MAIOR PEDAGOGA

Minha convivência com a natureza trouxe-me outra realidade, que passei a vivenciar com profundidade, ou seja, enxergar a natureza como a maior pedagogia da vida, por ser ela tão sábia. A natureza tem muito a nos ensinar. Veja neste poema o quanto de belo é o nosso contato com a natureza: “Da minha aldeia vejo o quanto da terra se pode ver no universo. Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer, porque sou do tamanho do que vejo, não do tamanho da minha altura. Nas cidades a vida é mais pequena que na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave. Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu. Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar e tornam-nos pobres, porque a única riqueza é ver.” (extraído do poema “O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro).

O Guardador de Rebanhos” é uma obra composta de 49 poemas ou partes, que começaram a ser datados em 08 de março de 1914. O livro é assinado por Alberto Caeiro, um dos “heterônimos” do poeta Fernando Pessoa (1888-1935). (heterônimo é um personagem fictício criado pelo escritor com caráter próprio). Alberto Caeiro possui a mansidão e a sabedoria que nos comove. Aproxima-se da postura do Zen Budismo. Para Caeiro, o importante é ver e ouvir: “A sensação é tudo, e o pensamento é uma doença”. No entanto, dizia Caeiro no poema O Guardador de Rebanhos: “nunca guardei rebanhos, mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor. Conhece o vento e o sol e anda pela mão das estações a seguir e a olhar. Toda a paz da natureza sem gente”.

Portanto, como apreciador da natureza que sou, faço-lhe o seguinte convite: “vem sentar-se ao meu lado nessa viagem imaginária, como nas caminhadas peripatéticas e longas conversas pelos bosques fecundos das abelhas”. “Venha ver comigo o findar do pôr do solSaiba que minha alma é seu pastor”. Olhando para o meu rebanho e ouvindo as minhas ideias, sem pestanejar aparece um turbilhão de pensamentos. Sou impulsionado imperativamente por esse sentimento que não sei explicar. Já não sei mais andar a sós por este caminho. Contudo, aprendi que o amor é aquele companheiro que gosta de conversar. Como ensinou-me o poeta: “toda a realidade olha para mim como um girassol e o meu rosto no meio”. Aqui o tempo não existe, o espaço é transformado pela nossa experiência, assim como o espaço transforma a nossa experiência. Nós não habitamos o nosso corpo, nós somos o nosso corpo. Acredito ser a natureza, nossa maior pedagoga. Com ela aprendemos e tecemos esse emaranhado, que é a teia vida.

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