21 de abril de 2013

SABER ESCUTAR É COMPREENDER O OUTRO

Saber escutar é uma das mais importantes ferramentas de comunicação para compreender a circunstância dos fatos que envolvem as relações humanas. Se na verdade o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando com o outro, de cima para baixo, manipulando as pessoas, distorcendo os fatos, que vamos entender o ponto vista de cada um. Porém, o não escutar o outro estamos prontamente fechando a questão e encerrando o assunto, é como se fossemos os portadores da verdade. Aprender escutar denota prudência e conhecimento, é escutando que aprendemos a respeitar e falar com o outro na sua totalidade, tocando e estimulando a consciência. Somente quem escuta paciente e criticamente pode entender o que se passa numa relação entre pessoas. Saindo desse contexto, tudo mais são especulações e preconceitos, ou seja, são meras opiniões. Tendo em vista, que a filosofia antiga não tem as opiniões como base, somente os fatos.

Para citar Sócrates (469-399 a.C.) que era conhecido como o homem que sabia interrogar, pois, com uma simples frase ele definiu a razão das suas indagações: “Só sei que nada sei”. Um dos pontos fundamentais da filosofia socrática era o autoconhecimento. “Conheça-te a ti mesmo”, frase inscrita no templo de Apolo, era a recomendação básica feita por Sócrates aos seus discípulos. Só é capaz de escutar e compreender o outro quem começou a entender-se a si mesmo. A aceitação do outro supõe o fato de nos ter aceitado a nós mesmos. Compreender o outro não é uma tarefa fácil, porque indica uma mudança de perspectiva; não posso compreendo realmente se não compreender a partir das circunstâncias concretas em que está inserida determinada pessoa. A troca de papeis é fundamental para uma boa compreensão. Colocar-se no lugar do outro para entender o que ele busca e sente como ser humano.

A singularidade delimita cada pessoa em sua forma peculiar de ser, marcando suas possibilidades e limites. Implica não só na distinção de cada pessoa, mas, na expressão qualitativa de uma pessoa que se constitui como um ser único, original e irrepetível. Fazemos parte da mesma essência humanística, gozando por isto do anonimato próprio da espécie. A singularidade se encarrega de matizar a essência dando-lhe relevo e contorno próprio, pelos quais nos destacamos do resto dos humanos. Pela essência pertencemos a essa categoria humana e, pela singularidade é que somos diferentes e determinados, isto é, cada um é único. Agora só nos falta aprender a conviver com as diversidades da vida, com o diferente e respeitando cada um na sua individualidade.

Buscar com objetividade o conhecimento dos fatos, ou seja, observar o que realmente aconteceu não o que creio ou acho que tivesse ter acontecido. Esta objetividade considera a consulta de outras opiniões como fundamental, pois a segurança dogmática nos mostra diariamente, o quanto equivocamos no julgamento de pessoas e dos fatos que a cercam. A visão não restrita dos fatos é aceitar que a verdade é algo demasiadamente grande para ser patrimônio de uma só pessoa.
      
É triste constatar que atualmente as pessoas não conversam mais e quando há a possibilidade de diálogos abertos e francos, as pessoas mais se acusam e se agridem do que conversam. Sentem-se detentoras da verdade. Contudo, continuam a semear o ódio, a discórdia e a crueldade por onde passam. Esquecem que quando estamos diante de alguém, desenvolvemos uma relação amistosa com essa pessoa que poderá culminar num encantamento pela grandeza interior que ela nos possibilita conhecer. Esquecemos que somos seres desamparados quando estamos sozinhos. Quando penso muito numa pessoa, é porque ela está viva no meu coração, pois salvou minha vida da solidão. Agora encontrei razões para viver. Diz um provérbio chinês, que quando estou encantado ou apaixonado por alguém, a minha vida pertence a essa pessoa. Pode fazer de mim o que quiser, meu coração está tomado pelo encanto e magia dessa pessoa. Ela tornou-se o meu Guru. No entanto, as pessoas não percebem o que estão vendo ou sentindo, o que está diante dos seus olhos, pois se preocupam demais com o que não estão vendo.

Bem sabemos que as palavras “te amo”, infinitamente repetidas em todos os tempos, no mundo inteiro, todo momento tem alguém dizendo ao outro te amo. As pessoas não dão conta da dimensão espiritual que esse sentimento alcança. Porém, na maioria dos casos são apenas expressões provisórias e vazias de qualquer sentimento humano. Esquece que o amor na verdade, é fazer da própria vida um dom para a felicidade do outro. Porém, o amor que não se traduz num dom em si, torna-se apropriação indébita da vida alheia. Afirma-se como realidade oposta, como sublimação do próprio egoísmo que vive e se alimenta com a exploração dos sentimentos das pessoas.

Portanto, a melhor descrição que encontrei para esse tipo raro de sentimento ao meu semelhante está na Epístola de São Paulo aos Coríntios: l, 13: “O amor é paciência, o amor é bondade. Não tem inveja, não se vangloria, não é orgulhoso. O amor não é rude, não é egoísta, não se irrita facilmente, não guarda ressentimentos. Não se regozija com o mal, mas rejubila-se com a verdade. O amor sempre protege. Ele sempre confia, nunca perde a esperança, sempre persevera. O amor nunca erra”. Enfim, a maior felicidade do ser humano é ser justo. É um bem tão grande que os que praticam o mal são considerados psicopatas. Mas quem pratica o amor é iluminado.  

13 de abril de 2013

DA FLOR BROTA A ESPERANÇA

A flor simboliza a vida, que traz esperança e potencializa o amor que em nós desabrocha para o milagre da vida. Por outro lado, considerando que toda a mulher pode ser comparada a uma flor e que desta flor brota o amor que transforma em frutos e que ao amadurecer ele cai e após passar por um período, vem à semente da qual vai brotar outra arvore com novas flores e frutos. Contudo, o ciclo se perpetua e a vida segue seu curso naturalmente. A natureza detesta a igualdade, cada flor no campo é diferente e única, não existem duas rosas iguais, mesmo entre as de uma mesma variedade. No amor também funciona assim, ele surge como único. Quando descobrimos o amor, aceitamos esse desafio de caminhar de mãos dadas tomados por essa paixão. Agora somos Tu e Eu, juntos sofremos e juntos existimos, pela força dessa atração vital, recriaremos um ao outro. Até que a morte nos encontre e desfaça tudo.      

Amar não consiste em sentir que se ama, mas em querer amar. Sobretudo, porque fazemos parte da mesma natureza humana, por isso alimentamo-nos do mesmo sentimento chamado amor. É o prazer de um espírito que penetra na natureza, nela adivinhando o espírito que a anima. A natureza é sábia e nela encontra-se o espírito do amor encarnado. Porém, neste universo natural surge esse sentimento como uma proposta de comunhão. É o amor brotando como a força de uma flor, tão intenso que cada qual participa da vida do outro como o espírito que anima a própria natureza. Qualquer separação dessa força que brota no interior de cada pessoa representa um dilaceramento de vidas.

Entretanto, esse amor que potencializa vem da força do espírito que move a natureza. Por ser o amor autêntico, criador e inventivo, ele vivifica além de libertar das indiferenças que nos extermina sem piedade. O amor é um projeto que se abre ao infinito do outro, que nos faz sentir-se renovados, a ponto de causar prazer íntimo ao outro e a nós mesmo no cumprimento de nossas possibilidades mutuas, na serenidade e na luta por um viver juntos. Como a flor que enfeita e embeleza a natureza, cabe a nós a preocupação ativa pela vida e crescimento daquilo que amamos. É muito difícil respeitar uma pessoa que sempre enganamos e amar alguém que não respeitamos. O amor não convive com falta de respeito e nem acusações que o desabone. Todavia, se uma pessoa nos diz que ama as flores e vemos que ela se esqueceu de regá-las, não acreditamos em seu amor pelas flores.

Segundo o pai da psicanálise Sigmund Freud (1856-1939), argumenta que uma paciente sua sonha com um arranjo de flores, misturando violeta com lírios e cravos. Na linguagem da psicanálise, os lírios representam a pureza, os cravos o desejo carnal e por ultimo, não menos importante, as violetas como a necessidade inconsciente da mulher de ser violentada pelo o homem. Seria isso mesmo? Sabemos que na relação sexual envolve certo sadomasoquismo, pois, a propósito trocaremos a violentada por estimulada pelo homem na busca do amor romântico. Tendo em vista, que o homem se prende aos estímulos físicos e a mulher aos estímulos românticos. Estabelecida essa junção a potencia amor se encarna. Agora existem duas almas em pleno êxtase.

Entretanto, o amor necessita de liberdade em todos os sentidos, porque tanto é dado quanto recebido livremente e para crescer necessita dessa liberdade. Contudo, cada pessoa crescendo no amor descobrirá seu próprio caminho, sua própria direção para amor. Como argumenta o escritor e antropólogo peruano Carlos Castañeda (1925-1998) em seu livro sobre os índios Yaquis, “A Erva do Diabo”, cita a sabedoria de Don Juan: “Você deve ter sempre em mente que um caminho é apenas um caminho; se achar que não deve segui-lo, não deve permanecer nele em nenhuma circunstância, qualquer caminho é apenas um caminho, e não existe nenhuma afronta a você mesmo ou aos outros em largá-lo, se é isso que sua cabeça lhe diz para fazer. Mas sua decisão de permanecer num caminho ou largá-lo deve ser livre de medo e ambição. Essa é uma advertência que lhe faço! Observe sempre cada caminho cuidadoso e deliberadamente. Experimente-o quantas vezes achar necessário. Então faça a si próprio, somente a você, uma pergunta: Esse caminho tem um significado? Todos os caminhos são os mesmos, conduzem ao nada. São caminhos que vão através do mato. A questão é se esse caminho tem um significado. Se o tiver, é um bom caminho; se não, não tem utilidade. Ambos os caminhos levam ao nada, mas um tem significado e o outro não. Um leva a uma caminhada alegre; enquanto estiver nele, estará bem. O outro fará com que amaldiçoe sua vida. Um o faz ficar forte, o outro o enfraquece”.

Portanto, a coisa mais humana e sincera que temos que fazer em vida é aprender a dizer nossas convicções e sentimentos honestos e a viver com as consequências. Essa é a primeira exigência do amor e nos torna vulneráveis as outras pessoas que podem nos ridicularizar. Mas nossa vulnerabilidade é a única coisa que podemos dar ao outro. Contudo, nós mesmos seremos amados por pouco tempo e depois esquecidos. Mas o amor terá sido suficiente. Existe uma terra da vida e uma terra da morte e a ponte é o amor, a única sobrevivência, o único significado.   

8 de abril de 2013

O VERDADEIRO AMOR SÓ CRIA, NUNCA DESTRÓI

Aprender a amar é estar em constante transformação. Esse processo é sem fim, até que a morte nos encontre. Porém, nesta vida tudo passa muito rápido, principalmente, para aquele que um dia se expôs na tentativa de tocar o coração de alguém, para juntos amar. No entanto, o amor tem braços aberto, se você fechar os braços ao amor está apenas abraçando a si mesmo. Se você sente alguma coisa de verdade, deixa que o outro conheça o seu sentimento, porque o amor é interpessoal, não depende só de nós. O amor é como um espelho, quando você ama uma pessoa, se transforma no espelho dela e ela no seu, juntos refletem o amor que sentem e nesta experiência ambos enxergam e experimentam a Divindade Cósmica.

O amor é um encontro íntimo e maravilhoso, é a maior experiência que um ser humano pode ter na vida. Conhecemos muito pouco do amor, por isso estamos constantemente desafiando esse sentimento tão nobre. Se desejares amar é claro que deves mover-se para o amor. É muito triste ver nascer um amor tão sublime e verdadeiro, com tamanha expectativa e esperança que traz, contudo, fracasse com tanta regularidade. Todavia, se isso acontecesse com qualquer outra atividade, todos estariam ansiosos por saber das razões do fracasso, por aprender como poderia fazer para melhorar e não deixar morrer o sonho. Para o amor viramos as costas, como se ele fosse uma coisa banal, que aparece todos os dias ao gosto do consumidor. Jogamos o amor no lixo como algo descartável. Na verdade, estamos cavando a nossa própria destruição desprezando esse sentimento.

Entretanto, o amor é à força de maior intensidade que move o nosso coração. Todas as lutas e dores humanas tiveram por origem o amor. O grande sábio hindu e libertador da Índia Mahatma Gandhi (1869-1948), fala-nos da grandeza deste sentimento como fator de remédio para terminar com as divergências entre as pessoas: “Quando o homem chega à plenitude do amor, neutraliza o ódio de milhões de pessoas”. No mesmo texto mais adiante, continua o mestre indiano: “A minha fé mais profunda é que podemos mudar o mundo pela verdade e pelo amor”. Tendo em vista, que a cultura humana somente realiza no plano material, conduzida com o espírito de orgulho e apoiada exclusivamente na forma sórdida de exploração do outro, sem piedade e amor, contudo, constituímos o maior flagelo dos tempos modernos.

Deve, portanto, toda pessoa de cultura e de nobres sentimentos irradiar fortes pensamentos de bondades, já que o pensamento é uma coisa viva e pode cair sobre uma pessoa inspirando-a no bem quando ela só pensava no mal, e assim podemos atenuar o flagelo de incompreensões que avassala a humanidade. O estado mais gostoso de experimentar na vida é o do encantamento que sentimos quando estamos amando. O primeiro efeito do amor é inspirar um grande respeito, ter veneração pela pessoa que se ama. A felicidade que sentimos do amor emana mais de nós próprios do que do ser a quem amamos. Quando machucamos o outro, somos nós que sentimos a dor, no peito e na consciência. Quando se ama verdadeiramente, irradia para a pessoa amada o que chamamos de sentimento do outro e o que mais nos agrada nesse amor é quando ele vem do que quando ele vai, porque não notamos que procede de nós mesmos. São dois corpos unidos num só sentimento pela Divindade.

O mais lindo no amor é a perfeição dessas duas almas e desses dois corações que se copulam, numa só alma e num só coração através do amor que sentem. Quando se amam são dois corações magnéticos: o que se move em um faz mover o outro, pois é um só impulso que age em ambos. O amor se configura na plenitude de todos os mortais, assim como a luz é o primeiro amor da vida. Por acaso não será o amor a luz da vida? Entendo o amor como poesia dos nossos sentidos. Ou é sublime, ou ele não existe. Quando o amor existe, existe para todo o sempre e aumenta cada vez mais, porque ele nos irradia vida. Todavia, é o amor que ilumina as nossas vidas, que torna grande tudo o que vislumbramos, é no calor desse amor que nos engrandecemos. Por isso o amor é a chama da vida.

O amor que dedicamos a alguém, mesmo que não seja correspondido, é para nós um benefício, mesmo sem ser amado, viver esse amor é uma grande felicidade. O amor é como uma planta florida que perfuma tudo com a sua esperança, até as ruínas e turbulências eventuais que nos abate. Vejo o amor como um ninho, onde a felicidade de duas pessoas atraídas pelo amor se constrói pedacinho por pedacinho, através de esforços mútuos e de muita compreensão um com o outro. É preciso que o amor seja tão íntimo que se torne eterno, para que perdure, é necessário penetrar na essência um do outro.

Portanto, não há nada no céu nem na terra, mais doce, forte, sublime, delicioso, completo e nem melhor que o amor. O amor nasce de Deus e não descansa se não na Divindade, elevando-se acima de todas as criaturas porque nos foi dado como um dom. Quem ama corre, voa, vive alegre, é livre e nada o perturba. O amor muitas vezes não sabe limitar-se, mas vai além de todos os limites. Só quem ama pode compreender as vozes do amor. Grande clamor faz nos ouvidos da pessoa amada, aquele ardente afeto de que se acha penetrada a alma, quando um diz ao outro: “Estamos tomados profundamente por esse amor, porque só enxergo através dos seus olhos, minha amada querida”. Alcançamos aquele estágio do sublime amor, onde termina o Tu e o Eu para começar o nosso amor. Contudo, o amor só constrói e nos transforma em seres felizes e abençoados por Deus.                   

6 de abril de 2013

A GRANDEZA DA HUMILDADE

Caminhamos na vida como se tivéssemos vendados os olhos do corpo e da alma. A pretensão de tudo isso leva-nos ao orgulho, que é um entrave à nossa evolução. Na verdade, o orgulho leva à desavença, além da incompreensão entre as pessoas, porque cada um julga-se superior ao outro, lutando entre si, em lugar de se darem as mãos e se compreenderem. Como disse o filósofo e padre dominicano francês Henri Dominique Lacordaire (1802-1861): “O orgulho divide as pessoas, a humildade os une”. A modéstia é uma das virtudes que enobrece a alma no conhecimento de si mesmo, no limite do pouco que se sabe e do muito que ainda resta a apreender. Quando a pessoa está mergulhada na vaidade, julga saber tudo, quando na verdade, tudo ignora.

Entretanto, esta pretensão manifesta-se mais nos jovens, no início dos seus estudos, sobretudo, na desobediência aos seus professores e familiares. A situação chega a tal ponto que os jovens ignoram a lei para demonstrar que não há nenhuma autoridade acima da sua. Neste caso a liberdade da democracia, alvo de tantos abusos, conduzirá diretamente à escravidão e à tirania. Pessoas orgulhosas de suas falsas aptidões atiram-se pela vida afora em busca de alguma coisa, como no caso de um relacionamento amoroso, de um trabalho e sonhando grandes sucessos, que muitas vezes resultam em grandes fracassos e decepções, por falta de conhecimento básico. Como disse o filósofo, matemático e pintor italiano Leonardo Da Vinci (1452-1519): “Ó miséria humana, de quantas coisas, por dinheiro és escrava”. É aqui que a reflexão, a modéstia e a humildade devem surgir como orientadoras dos passos que damos na vida e para qual direção seguir, principalmente no campo afetivo das relações amorosas.

Há pessoas que sabem ter atitudes discretas, falam pouco e ouvem mais, se conservam amáveis, escutam com paciência, aprovam ou criticam sem ressentimento, porque depois de ter aprendido e meditado muito, a pessoa tem consciência de sua pequeneza em face da imensidade no domínio das coisas desconhecidas. Nossa má conselheira é a falta de modéstia, porque nos leva a criticar o outro, a propósito de coisas insignificantes. Nosso desejo é dominar o outro com virtudes e conhecimento que muitas vezes não temos. Todos os grandes santos falaram e nos ensinaram as grandes virtudes da humildade. Com certa frequência não somos humildes, vamos a Igreja aos domingos (cujo símbolo cristão é o perdão e o amor ao próximo), nos redimimos dos pecados e comungamos no Corpo de Cristo, dias depois crucificamos o nosso semelhante sem piedade e sem dó, mostrando o quanto temos de crueldade e rancor no coração. Matamos o outro moralmente, convicto de que estamos eliminando uma erva daninha do nosso meio. Será que alguém ainda acredita totalmente inocente, a ponto de julgar o outro pelo fim de uma amizade ou de um relacionamento amoroso? Quando buscamos motivos para execrar o outro é porque não o amamos suficientemente, quando amamos verdadeiramente, buscamos razões para continuar nos braços desse amor.

Segundo o padre e teólogo espanhol Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975), foi fundador da Opus Dei na Espanha. Em 1992 foi beatificado e em 2002, João Paulo II o canonizou como São Josemaría Escrivá de Balaguer. Ele nos da um precioso conselho sobre a humildade: “Conseguirá mais com uma palavra afetuosa do que com três horas de briga. Modera a tua ira. Não discutas. Da discussão não costuma sair à luz, porque é apagada pela paixão. Procura encontrar diariamente uns minutos dessa bendita solidão, que tanta falta te faz, para teres em andamento a vida interior”. E nessa profunda reflexão, mais adiante ele continua: “Não queiras julgar, cada qual vê as coisas do seu ponto de vista e com o seu entendimento, bem limitado quase sempre, e com os olhos obscuros ou enevoados, com trevas de exaltação muitas vezes. Não julgues sem colocar o teu juízo na oração”. Pela vivência deste santo homem, poderíamos dizer que a simplicidade é irmã gêmea da humildade. A simplicidade é a que há de mais difícil no mundo, é o último resultado da experiência, a derradeira etapa do gênio, seja em qualquer área, quero acreditar que sempre vai existir um gênio da humildade entre nós.

Portanto, o sábio conhece que a posse das mais altas verdades o obriga à extrema discrição e à maior modéstia, porque o poder que se proclama se perde; a verdade que se vulgariza se apaga; a felicidade que se anuncia se esvai. Entre outras coisas que a verdade pede é que não a condene antes de conhecê-la. Sobretudo, porque a humildade é condição essencial ao progresso individual e proporciona felicidade aos seus possuidores e consolida no amor. Contudo, nós humanos não somos um ser simples, mas composto de duas substâncias e, o amor em si mesmo tem dois princípios: o ser inteligente e o ser sensitivo. O apetite dos sentimentos tende ao bem estar do corpo e o amor ordena o bem estar da alma. Se este amor for bem desenvolvido e maduro o suficiente para segurar as turbulências da vida, ele está seguramente no plano da consciência Cósmica. Compreender e entender o outro são sinônimos de humildade e compaixão. Sobretudo, por ser o amor a essência da alma.         

4 de abril de 2013

VIVER É CULTIVAR VALORES

A vida é uma evolução perpétua. Aprendemos até a morte, isto é, no momento da ultima respiração em que fechamos o ciclo de vida neste mundo. Por outro lado, nada se obtém sem trabalho. Como diz o filósofo e físico francês Blaise Pascal (1623-1662): “A natureza está sempre em movimento”. Nós somos um ser vivo de movimento em eterna transformação. Não se vive plenamente, não se progride, não se é feliz, não se chega a lugar algum, se não labutando nesta busca incessante. É fundamental acolhermos todos os acontecimentos como portadores de algo novo, tirando aproveito das lições que eles nos oferecem.

Um dos elementos fundamentais da situação humana é a necessidade que as pessoas têm de valores que as orientem nas suas ações e sentimentos. É claro que normalmente existe uma discrepância entre o que as pessoas consideram que sejam seus valores e os valores efetivos que as dirigem e dos quais não estão conscientes. Na sociedade moderna em que vivemos, porém, ainda sobrevivem os valores oficiais e conscientes que são os da tradição religiosa e humanista, aqueles como: o amor, a compaixão, o respeito, a esperança, ou seja, pensar em um mundo mais humano, mais afável, prazenteiro, tendo em vista que somos um projeto de humanidade e nem sabemos se um dia faremos jus a esse título “humanidade”. Proclamamos o ódio e condenamos o amor.

Entretanto, para a grande maioria dos seres humanos, esses valores transformaram-se em ideologia e não são eficazes na motivação do nosso comportamento. Na verdade, os valores inconscientes que a mídia prega diariamente nas cabeças vazias (especialmente a televisiva), são aqueles criados dentro do sistema social da sociedade capitalista e burocrática como: os de posse e propriedades, consumo desenfreado, posição social, o chamado status quo (uma expressão latina que designa o estado atual das coisas). Entre outras coisas, visitar Shopping Center como objeto de fetiche e diversão em busca de novas emoções, para ver se encontramos alguns dos valores reais para nossas vidas. Assim como também, esta busca pode acontecer através da exposição do corpo e da promiscuidade sexual, ou refugiando-se nas redes virtuais a procura de algo que não se sabe muito bem o que é. Todavia, é nessa mesma discrepância que nossa jovem geração percebeu e contra a qual tomou uma posição tão inflexível. Quantos jovens hoje em dia, vão às igrejas? Não aceita a autoridade de um Deus como base dos princípios e valores espirituais.

Os valores do budismo e do taoísmo não se baseiam nas revelações por parte de um ser superior. Entretanto, no budismo, especificamente, a validade dos valores deriva de um exame da condição humana básica – o sofrimento, o reconhecimento da sua origem, isto é, a cobiça que nutrimos, e o reconhecimento das maneiras de vencer essa cobiça, que segundo a tradição budista são oito caminhos a seguir, para se alcançar a purificação. Por essa razão, a hierarquia budista de valores é acessível a todo aquele que não tenha qualquer premissa materialista, a não ser a do pensamente racional e da experiência humana autêntica.

Todavia, aprendemos com os orientais, que a solidão no sentido de estar sozinho comigo mesmo, em algumas horas do dia, muitas vezes é essencial para qualquer profundidade de meditação ou de caráter. Quando ficamos a sós conosco mesmo em processo de meditação, percebemos a presença de uma beleza e de uma grandeza natural que nos leva ao êxtase espiritual. Entregamo-nos ao berço dos pensamentos e aspirações, pela qual a Divindade se revela e despertar os valores que nos faz humanos.

Vencer sua própria cobiça e preconceitos, amar o seu próximo, buscar o conhecimento da verdade, que é muito diferente do conhecimento não crítico dos fatos. São as metas comuns a todos os sistemas humanistas filosóficos e religiosos tanto no Oriente como no Ocidente. O ser humano só pode descobrir esses valores quando atingir certo desenvolvimento social e espiritual. Que lhe tenha dado o tempo e a energia suficiente para lhe permitir pensar exclusivamente para além dos propósitos da simples sobrevivência física. Não há dúvida de que, nesta fase da sociedade praticamente desumanizada desses valores, torna-se cada vez mais difícil, precisamente porque o homem materializado experimenta pouco da vida e, além disso, segue princípios que lhe foram programados pela máquina. A maioria das pessoas vacila entre vários sistemas de valores e, por isso, nunca progride plenamente em uma ou outra direção, estão sempre insatisfeitas com tudo e com todos, são infelizes na sua subjetividade. São pessoas que não tem personalidade e nem identidade própria, mas teme e não querem fazer essa descoberta.

Por conseguinte, essa nova procura de uma vida mais significativa não surgiu apenas entre os grupos pequenos e isolados do mundo oriental, mas se tornou um movimento completo em alguns países de estrutura social e política inteiramente diferente, bem como dentro das Igrejas Católicas e Protestantes. O importante numa pessoa não é o conjunto de ideias e opiniões que ela aceita porque lhe foi ensinado desde a infância ou porque são padrões convencionais de pensamento. Mas, pelo caráter, a atitude e a raiz visceral das suas ideias e convicções.

Portanto, o grande diálogo é baseado na ideia de que interesses e experiências compartilhadas são mais importantes do que conceitos compartilhados. Conceito é uma ideia que tenho e da qual não abro mão, mesmo que seja para depreciar ou destruir o outro. Se uníssemos pelo o amor compartilhado, talvez tivéssemos muito mais em comum e, força suficiente para cultivar valores que nossa essência carrega. Enfim, não se pode viver neste mundo sem ser religioso e sem se relacionar com o Universo em harmonia. A alma precisa de silêncio e prece, pois no silêncio e na prece nada tememos. Pela a experiência e o contexto em que estamos, aprendemos que o tempo converte mais que a razão.           


AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...