28 de fevereiro de 2021

É NA MATURIDADE QUE COMPREENDEMOS O AMOR

Para nós que já vivemos um bom pedaço da vida, é que compreendemos o valor do amor. Essa percepção não começa aos 50 ou aos 60 anos, mas, quando percebemos que tudo passa rápido demais, e muitos valores que cultivamos, torna-se inútil para a nossa felicidade, é o momento em que podemos e devemos amar mais, simplesmente, porque merecemos esse estado de felicidade, porque já pagamos o nosso tributo, pelo tanto que vivemos.

O amor para nós (os maduros), torna-se explícito quando dividimos o almoço, com alguém especial, quando estamos enrolados num lençol, fazendo cafuné um no outro. Quando percebemos que nem a idade, nem coisa alguma tem força suficiente para estragar aquele momento, nem mesmo a morte, pois quando ela chega aquele momento já terá sido vivido e, portanto, será nosso e nem a morte pode nos tirar a felicidade de ter amado.

Todavia, a morte, algoz de todas as idades, só vem quando descobrimos que somos, na verdade, feitos de amor e, para que não sejamos contaminados com a mediocridade de tantos, nos leva em seus braços para outro lugar feito para amar, para ser amado, junto ou mais perto daquele que, como nosso melhor amor. É na maturidade que descobrimos o valor do carinho, do sorriso, de um gesto limpo de caráter, que descobrimos como é fácil ser feliz, como precisamos de tão pouco.

Amor, respeito e compreensão. Não é por solidão, não é por abandono, não é por carência, é pelo gesto, é pela atitude simples de alguém que nos ama, que ganhamos o dia, é por um beijo de amor. É na maturidade que sabemos o que é amar e como amar, só não sabe quanto amar, pois isso não tem medida.

Portanto, olhe para trás e pergunte qual jovem cujo espírito seja limpo, qual deles sabe o que é amar. Qual jovem hoje não ficaria com os olhos cheios de lágrima de felicidade e desejo por, um dia, ser alguém da terceira idade que, como você, ama e é amado e não tem vergonha de sentir essa felicidade. Não seja egoísta, ame, seja amado e ensine a amar. Contudo, amar só os sábios da terceira idade sabe realmente o que significa esse verbo intransitivo, que é amar.

19 de fevereiro de 2021

FAMÍLIA, A CÉLULA MATER DA SOCIEDADE

Vivemos em uma sociedade em que os valores morais e éticos estão se diluindo aos poucos. Uma sociedade marcada pelas injustiças, as indiferenças e uma violência descabida, sem o menor fundamento. Na verdade, é na família que se dá a nossa primeira educação, onde os valores são formados sem nenhum questionamento. Então, como explicar tanta injustiça social se todo o cidadão vem de uma família? Sobretudo, por ser a família a célula mater da sociedade. Se toda família é perfeita, amorosa e justa, por que há tanta injustiça? A família deixou de cumprir o seu papel que é formar filhos honestos e bem educados?

O primitivismo da família tradicional alimenta, em cada um dos seus membros, o primitivismo de cada um, que pouco a pouco vai  deformando essa família anacrônica, incapaz de viver na sociedade em que vivemos, e orientar-se diante dela, mas fazendo-se acima de tudo, incapaz de governá-la e de modificá-la.

Quando digo que a família alimenta e cultiva o primitivismo antissocial ao seus membros. Há aqui uma inversão radical da famosa tese freudiana, tese muito próxima do pensamento popular. Pois, o pai da psicanálise Sigmund Freud (1856-1939) apontou como fator importante de neurose nos seres humanos, como gerador de sintomas, a indevida fixação das pessoas na própria família, descrevendo o filho que jamais se liberta da própria mãe, a filha que ama eternamente o próprio pai ou os irmãos que brigam eternamente entre si.

Freud atribuía esses desmandos ao indivíduo, defendendo a estrutura familiar. Freud acreditou piamente, ser o “complexo de Édipo” algo inerente ao homem de qualquer tempo e de qualquer lugar. Pensa bem, o complexo de Édipo é, na conceituação freudiana, o próprio nó essencial da família. Eu diria que o nó, o entrave está na tal natureza humana.

Freud não percebeu a profundidade de seu símbolo: o complexo de Édipo, esse apego indestrutível dos filhos aos pais, isto sim é a essência da família, de seu primitivismo, insolvência e tragédia e não do neurótico como pensava o pai da psicanálise. O culpado é o neurótico, mas a família está certa. Será? Eu defendo a ideia de que a família está errada.

Vou explicar porque. Considerando que geralmente os filhos aguentam dos pais sermões, reprovações, xingo e ordens que não aceitariam de nenhum estranho, por outro lado, os pais aceitam dos filhos, eventualmente, maus tratos, desprezos, ingratidão ou, em sentido oposto, fazem pelos filhos o que não fariam por mais ninguém. Assim como marido e esposa fazem e falam coisas horríveis um contra o outro, e aguentam um do outro aquilo que jamais ousariam fazer com um amigo ou uma amiga.

No entanto, esse modo de proceder da família é inteiramente abençoado pela tradição e pelos costumes sociais. Se os familiares se tratassem como estranhos, a família seria uma coisa mais decente do que é. Se a família a fim de justificar a própria falta de educação, grosseria e incapacidade, não apelasse para seus títulos oficiais de pai, de mãe ou de filho, achando que tem o direito de explorar um ao outro, os membros dessa família procederiam um diante do outro com mais decência, com maior senso de justiça, cultivando um com outro uma preciosa reciprocidade responsável.

Portanto, somos todos treinados a aguentar e a exigir absurdos no ambiente familiar. Continuamos a vida inteira exigindo e aguentando absurdos. Se a família não é origem de todos os males, ela é com certeza a transmissora dos males adquiridos, a fiel guardiã das deformações tradicionais e a principal responsável pela continuação da inconsciência e da irresponsabilidade de todos em relação a todos. Assim como o casamento é antiafrodisíaco, a família é antissocial. É na família que forma o machão e a mulher submissa.      

17 de fevereiro de 2021

QUANDO A MULHER TORNA-SE SUBMISSA

A mulher foi durante muito tempo, bem treinada pelos pais para ficar boazinha. Principalmente os pais autoritários frente uma filha mais tímida ou uma mais dócil, marca profundamente essa autoridade. Quando a mulher torna-se submissa, contida e que pouco aparece não se manifesta, ela encontrará na sua vida amorosa, fatalmente alguém que irá dominá-la.

Com a segunda Guerra Mundial, quando foi atingido o parque industrial, a mulher entrou definitivamente no mercado de trabalho. Teve acesso a esta fonte de poder. Poder ao qual me refiro, não é fonte de mando, é fonte de possibilidade. A mulher se emancipou, tornou-se ela mesma em todos sentidos.

Certa vez ouvi de uma menina de quatorze anos, que por conta de fofocas de vizinho, falaram que ela estava sozinha com o namorando em casa, e parece que não havia nada de concreto na história. Ela só estava na mesma casa, possivelmente com outras amigas e com o moço que ela gostava em visita. Por causa dessa fofoca a menina levou a surra da vida dela, ficou com equimose por todo o corpo.

Outra moça com quase trinta anos, apanhou até os dezoito anos, cada vez que chegava tarde em casa, mesmo que só estivesse com amigas. Um bom pai, preservando a honra da filha, o nome da família a custa de pancada. Ainda hoje existem pais assim, geradores de violência, convictos de que estão fazendo certo. Espanca a filha e prepara para todas as desgraças que vem depois. Esse tipo de comportamento delinquente ninguém aguenta.

Só posso concluir, que a nossa educação é realmente feita para quebrar qualquer personalidade. São as pessoas que perseguem pessoas. É na família que se forma o opressor e oprimido, o machão e a submissa, a mulher objeto. Isso sem falar que o macho padrão é muito precário, tem pouco interesse no lar, se entende mal com criança, não trata muito bem a mulher. Tudo isto formado dentro da família, mais precisamente na infância.

A educação que garotos e rapazes recebem é mesmo para agir segundo um modelo machista, certas tarefas são especificamente femininas e outras tantas masculinas. Se uma mãe percebe um garoto brincando com bonecas e se interessando por afazeres domésticos, fica preocupada. Acha que deve haver alguma coisa errada com ele, isso quando não expõe o garoto a vexames perante seus coleguinhas.

O mesmo acontece com meninas que se metem a jogar futebol com os meninos e a participar de suas brincadeiras mais violentas. Logo alguém lhe chama atenção. Sempre o pai garantindo a boa educação do filho. Depois que casa a esposa garante a história infeliz. Uma senhora de cinqüenta anos me contou a sua história, que era uma catástrofe do começo ao fim. O melhor exemplo que encontrei naquele momento, era de uma relação de sadomasoquismo.

Um homem rico, porém pobre de espírito, que achava que pagando podia oprimir as pessoas. Era ele quem pagava as despesas da casa. Minha pergunta é: ”por que uma mulher de cinquenta anos, fica dentro de um casamento infeliz, aguentando todos esses anos?” Uma mulher que tem posses. Como ainda hoje, tem pessoas que terminam nessas situações infernais e ruins?

No entanto, a cada dia me convenço, de que os atritos familiares são as principais causas que enchem hospitais de doentes. Porque persiste por muitos anos, o caso desta senhora ilustra bem, trinta e poucos anos de casada, desde o começo era saco de pancada do marido. Que o marido seja estúpido, não é de se estranhar, conheço muitos assim, que ela aguente já é um dado preocupante. Ela já estava preparada, a filha bem educada pelo pai severo, que passou direto para o marido, convidando aos abusos.

Contudo, aprendi que o tempo nunca volta atrás e o futuro inventa novas emoções. É melhor fazer alguma coisa, ao invés de não fazer nada. A primeira obrigação de qualquer pessoa é reconquistar a sua vida, isto é, seguir os interesses vivos que estão a sua frente. E agradecer a todos os deuses dizendo: “que maravilha estar aqui, como é bom viver, como é bom ser Eu mesmo”.

16 de fevereiro de 2021

PARA TUDO TEM UM SIGNIFICADO E UM PROPÓSITO

Vamos ressaltar a distinção entre significado e propósito, para nos ajudar a reivindica-las. O significado tem relação com a maneira como você entende a sua vida em uma base contínua. O significado está no modo como as coisas acontecem, não necessariamente no resultado final.

Já o propósito é um objeto ou fim último a ser alcançado. É uma meta por assim dizer. A compreensão depende da experiência, e o significado como a experiência é muito pessoal. Digamos que você esteja sentado em um restaurante, olhando para o cardápio. Qual é o propósito do cardápio? Ajudá-lo a escolher alguma coisa para comer. Qual é o significado do cardápio? Dar-lhe informação sobre as suas opções.

Se estiver na Alemanha e não entender nem uma palavra de alemão, então o cardápio não terá o menor significado para você, embora conheça o seu propósito. Portanto, você pode encontrar o propósito sem o significado. Agora, imagine alguém que nunca esteve em um restaurante antes e, além disso, não sabe ler. O cardápio não terá nenhum significado e não servirá a nenhum propósito.

Portanto, somos muito mais felizes se acreditarmos que temos um propósito, para tudo que fazemos ou pensamos em fazer. Mas, somos ainda mais felizes quando sabemos qual é o propósito, porque isso nos ajuda a encontrar o significado. De modo que, várias coisas com significado não fazem parte de nosso propósito. Pois, o propósito não é nenhum tipo de garantia para perceber, quando alguém lhe despreza e desfaz dos seus valores. Dê a cada um clareza e significado, revele a cada um o peso da consciência. Não despreze o teu próximo, porque lá na frente poderá ser você o próximo.    

12 de fevereiro de 2021

SOMOS GUIADOS POR UMA INTELIGÊNCIA INFINITA

Vivemos em um mundo de bebidas instantâneas, alimentos instantâneos, cidades instantâneas, quase tudo instantâneo. Lamento não poder oferecer uma confiança ou cresça instantânea. A confiança ou a fé é algo que deve ser aprendido e alimentado por todos nós. Mas, espero já ter plantado algumas sementes de fé e confiança em pessoas que me conhecem e gostam do que escrevo, certamente irão cultivá-las.

Três sementes de fé e confiança que considero de vital importância para formarmos o triângulo do sucesso em nossas vidas. A fé na nossa espantosa riqueza interior com a qual podemos criar qualquer modalidade de sucesso que se deseja. A fé e confiança em nós como mentes conscientes que somos, pois é essa consciência que nos torna senhor do presente e do futuro. E por ultimo a fé na existência de uma “inteligência infinita que da ordem ao “Universo” e que nos proporciona ajuda e orientação em todos os empreendimentos, desde que lutemos tenazmente, com entusiasmo e decisão inabalável, removendo as barreiras que o condicionamento passado, colocou entre nós.

Entretanto, nós temos o poder de atrair ou repelir toda e qualquer coisa. Temos o poder de subir grandes alturas na escada da realização pessoal e prosseguir em ascensão. Porque temos esse poder dentro de nós, está sempre trabalhando a nosso favor como também contra nós. Infelizmente, muitas vezes damos aos outros os nossos poderes, por exemplo: Quando alguém nos diz que não somos inteligentes para isso ou aquilo, passamos a considerar como tal. Quando dizem que somos indecisos, aceitamos este fato como verdadeiro e passamos a agir com insegurança. Quando alguém nos diz que não merecemos a sua confiança, passamos a duvidar de nós mesmos. Assim, como também de quem nos aproxima.

Portanto, quando conseguirmos modificar a nossa maneira de pensar, começaremos a experimentar novos sentimentos. Sofro não pelo o que os outros pensam de mim, mas, sim por aquilo que imagino que eles estejam pensando ao meu respeito. Contudo, a fé é a certeza das coisas que se esperam e a convicção de fatos que a gente não vê, mais confia. Firme na fé e na confiança, como quem vê aquilo que é invisível. É um olhar da alma com o coração. Confiança inabalável e sem o menor vestígio de duvida. É nessa atmosfera que o amor surge e se cristaliza.    

10 de fevereiro de 2021

A LÓGICA DO MACHÃO É INFERIORIZAR A MULHER

A lógica do machão é domesticar a mulher, como se ela fosse um animal. É a lógica da posse, do domínio. Sua meta é conseguir o máximo possível de objetos que possa lhe dar status, na esperança de suprir o vazio de um corpo sem energia vital. Tudo torna-se evidente, quando se consulta os sites de relacionamentos. No entanto, esses sites vêm pondo em relevo o quanto os homens machões estão deixando a desejar. Além de medrosos, é precária e primitiva sua relação com a mulher. A grande maioria evita o contato direto com o feminino. Age violentamente contra a mulher, fazendo propostas na sua maioria indecente.

O seu ego é narcisista e para inflar seu corpo de vida, ele agride com suas grosserias, machucando a sua natureza e supostamente aquela que poderá ser sua companheira. Todavia, a história da sexualidade humana desde os primórdios, privilegia os homens criando-se um arquétipo de herói, guerreiro ou samurai. Com isto ele quer impressionar suas fêmeas.

Se a mulher percebesse a força que tem, sentiria mais protegida, mais competente e muito mais senhora da situação. Não ficaria com aquela cara, o que é que eu faço? O problema é que desde o começo a mulher sempre foi inferiorizada, mantida na posição de oprimida, explorada e humilhada. Na verdade o que o homem tem mais que a mulher é a força física, a brutalidade e a grosseria. Se ela não faz como ele gosta, ela apanha ou é humilhada perante seus amigos.

Na Grécia Antiga, que é tida como o berço da civilização, da liberdade e da democracia, a mulher já não era respeitada. Imagine se a mulher podia opinar ou pelo menos votar! Por definição, a mulher era burra, incompetente. Isto mudou? Não mudou quase nada! Todos os dias surgem na mídia casos de espancamentos e outros tipos de violência contra a mulher. Inclusive o aumento do feminicídio,  classificado como um crime hediondo no Brasil (crime de ódio contra a mulher, definido também por agressões verbais, físicas e psicológicas).

A mulher precisou desenvolver habilidade especial para perceber e compreender o seu senhor pelos gestos, caras e tons de voz. É como um cão que entende o seu dono pelo tom de voz, gesto e modos – que me desculpem as mulheres – ainda hoje conheço mulher que na frente do marido é uma coisa, longe dele é completamente outra, até seu semblante muda para melhor. Mas infelizmente é assim mesmo que elas se comportam.

Isto acontece só aqui no Brasil? Não! Antes fosse. Outro dia visitando um site de pesquisa, li um anúncio de uma Associação para Mulheres. Dizia o texto que nos EUA a cada dez segundo uma mulher é espancada pelo marido ou namorado. A pesquisa não diz, mas garanto que elas apanham muitas vezes também do pai.

A pergunta que se faz é: “quantos homens são capazes de ouvir uma mulher dizer fulano é melhor que você?” Será que o machão padrão aceita numa boa? Pelo o que conheço dos homens, posso dizer que não. O machão não suporta saber que o outro é melhor. Mesmo porque, ele nunca perguntou para a mulher o que ela pensa dele. Talvez por medo da sinceridade!

Os homens na sua maioria têm uma péssima maneira de olhar e tratar a mulher. Ainda nos dias de hoje uma conversa de homens sobre mulheres é um horror. Até parece que mulher é um negócio para você usar e contar para os amigos que as usou. Contudo, nos piores termos possíveis, com as piores caras. Sem falar de homens estúpidos, que espancam mulheres com certa facilidade. Talvez aqui seja o começo de todas as loucuras humanas. As pessoas se anulam para viver a vida do outro. Triste fim.

Portanto, ninguém pode dizer que é feliz num mundo infeliz. O mundo só começará a se fazer humano, quando tivermos consciência e passarmos a agir com amor, gentileza e respeito. Assim, teremos um mundo mais feliz. Que me perdoe os machões, mas se continuarem assim, certamente estarão fadados ao fracasso e a ausência do amor. Todo machão é um corno potencial.  

7 de fevereiro de 2021

CONFIAR PARA SE TER UM AMOR MADURO

Poucos são os casais que vivem em concórdia, num relacionamento que crie condições para que ambos cresçam emocional e intelectualmente. Mas, porque existem alguns casais que vivem em harmonia, devemos nos empenhar para também fazermos parte dessa minoria privilegiada.

Um aspecto essencial das boas relações amorosas que é o desenvolvimento da confiança recíproca. Amar implica depender, estar na mão de outra pessoa. Ela tem, mais do que ninguém, o poder de nos fazer sofrer. Basta querer nos magoar que conseguirá isso, com uma simples palavra ou gesto. Fica mais do que evidente que, quando uma pessoa ama alguém que não se empenha em despertar a sensação de confiança e de lealdade, ela irá padecer muito.

Amar alguém que não nos passa confiança é, pois, uma irresponsabilidade para consigo mesmo. É uma ousadia, uma ingenuidade e uma grande demonstração de imaturidade emocional – ou sinal de que se tem satisfação com o sofrimento. Em geral as pessoas se colocam nessa condição em virtude de terem se encantado com alguém que, de fato, não dá sinais de confiabilidade.

No entanto, aceitam essa atitude egoísta do amado imaginando que seja uma fase, um período doloroso que irá passar com o tempo. Fazem tudo para demonstrar o seu amor, para cativar o outro e esperam que isso faça com que, finalmente, ele se renda, e também se entregue de corpo e alma à relação afetiva. Acaba se compondo uma espécie de desafio, em que aquele que não é confiável percebe que recebe mais atenções e carinho exatamente por agir dessa forma.

Quando a “mágica” do encantamento amoroso não vem acompanhada da “mágica” da confiança a pessoa está posta numa situação muito difícil, na qual o sofrimento e a insegurança serão as emoções mais constantes. E essa “mágica” da confiança de onde ela vem? De vários fatores, sendo que o primeiro deles depende do comportamento da pessoa amada. Não é possível confiarmos em pessoas cujo comportamento não está de acordo com suas palavras e suas afirmações.

Aliás, quando o discurso não combina com as atitudes, penso que devemos tomar essas últimas como expressão da verdadeira natureza da pessoa. Não é possível confiarmos em pessoas que mudam de opinião com a mesma velocidade com que mudamos de roupa. É evidente que todos nós, ao longo dos anos, atualizamos nossos pontos de vista. Porém, acreditar em certos conceitos num dia – na frente de certas pessoas – e defender conceitos opostos no outro – diante de outras pessoas – significa que não se tem opinião firme sobre nada e que se quer apenas estar de bem com todo mundo.

A capacidade de confiar depende também de como funciona o mundo interior daquele que ama e não apenas da forma de ser e de agir do amado. Não são raras as pessoas que não conseguem desenvolver a sensação de confiança em virtude de uma auto-estima muito baixa. Desconfiam da capacidade que têm de despertar e conservar o amor da outra pessoa; se sentem inseguras, acham que a qualquer momento podem ser trocadas por criaturas mais atraentes e ricas de encantos. E, o que é mais grave, se sentem assim mesmo quando recebem, sinais constantes, coerentes e persistentes de lealdade por parte da pessoa amada.

Portanto, para uma pessoa desenvolver a capacidade de confiar é necessário que ela seja uma criatura confiável. Costumamos avaliar as outras pessoas tomando por base nossa própria maneira de ser. Se nos sabemos capazes de deslealdade e de desrespeito ao outro, como ter certeza de que a outra pessoa não fará o mesmo conosco? Só aquele que tem firmeza interior, que tem confiança em si mesmo no sentido de respeitar as regras de conduta nas quais acredita, pode imaginar que existam pessoas em condições de agir da mesma forma. Se a felicidade sentimental depende do estabelecimento da confiança recíproca, ela será, pois, um privilégio das pessoas íntegras e de caráter.

6 de fevereiro de 2021

A COMPLACÊNCIA EM TORNO DA INFIDELIDADE

Apesar da complacência em torno da infidelidade masculina, ainda permanece a condenação da concretização das fantasias eróticas. Penso que é oportuno trazer essa discussão no momento em que o fundamentalismo está ganhando força e espaço no Congresso, nas cidades, países e, principalmente, nas religiões, comumente uma parcela considerável de Parlamentares são pastores. Homens e mulheres estão confinados num pensamento obtuso. Para muitas mulheres, a questão da fidelidade ainda é um tabu. Se o tabu da virgindade já foi superado nas civilizações ocidentais, a problemática que envolve a fidelidade ainda não foi superada.

O ponto de partida para esse ensaio é a relação de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, casal revolucionário que escandalizou a sociedade parisiense, ao estabelecer o casamento aberto, sem contrato, sem amarras e cada um morando em sua casa, tendo como único fundamento a “fidelidade de espírito na total transparência e liberdade de corpos”. No entanto, o livro de Beauvoir, “O Segundo Sexo” é considerado o fundador do feminismo, que sustenta até hoje qualquer discussão mais séria sobre a condição feminina. Na verdade, o livro é uma homenagem a todas as mulheres. Tendo em vista, que elas representam metade da humanidade, mesmo assim é triste confirmar que milhões delas não têm direito a voto, não podem decidir com quem se casar e passam da tutela do pai para a do marido.

Existem hoje no mundo 135 milhões de mulheres que tiveram seus órgãos sexuais mutilados numa cirurgia chamada excisão, também conhecida como circuncisão feminina. O objetivo dessa pequena cirurgia é claro: controlar o desejo e o prazer da mulher. A mutilação desse órgão, disfarçada de rito religioso em muitos países, é feita muitas vezes com instrumentos não esterilizados e sem anestesia. A Organização Mundial da Saúde confirma a morte de milhares de meninas, todos os anos, vítimas de hemorragias e gangrenas nas suas partes íntimas. No mundo moderno, toda a nossa vida está submetida ao crivo da razão, mesmo a afetiva e amorosa. Tentamos viver no controle absoluto sobre sentimentos como ciúme e posse.

Foi em 1937, que Simone de Beauvoir escreveu uma carta para Jean-Paul Sartre, contando sobre um romance que manteve por três anos. Ela tinha 29 anos, e era uma desconhecida professora de filosofia. O seu par romântico Jacques-Laurent Bost, tinha 21 anos e era ex-aluno e amigo de Sartre. Ambos viajaram para passar dez dias caminhando nas montanhas da Savoie, no leste da França. Numa dessas noites em que estavam juntos, viveram seus primeiros momentos de excitação e fizeram sexo. Era o início de um importante caso de amor e amizade que por muitos anos permaneceu em segredo para proteger Olga, mulher de Bost, a única personagem dos dois casais que não tomou conhecimento dessa história.

Na carta a Sartre, publicada no livro “Lettres à Sartre”, Simone conta ao companheiro sua primeira noite com Bost. Entretanto, alguns anos mais tarde, mais precisamente em 1949, Simone de Beauvoir dedicou o seu livro “O Segundo Sexo”, a Jacques-Laurent Bost. Dada a relação aberta que tinha com a filha adotiva, Sylvie Le Bon de Beauvoir, confessou seu romance e ainda disse que Bost fora o homem menos machista que conheceu. Isso deve explicar o fato de Simone ter dedicado a ele esse ensaio, que tornou-se referência para o feminismo.

A liberdade total de duas individualidades era a premissa da relação de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, lealdade e amizade, a condição para que ambos fossem livres e concretamente iguais. As pessoas buscam a felicidade quando se casam. A maioria das mulheres são Julietas à procura de um Romeu, como argumenta a jornalista e pesquisadora Leneide Duarte-Plon. Românticas, ainda idealizam o casamento e nele, quase sempre, a fidelidade está implícita. Já a absoluta liberdade dos cônjuges é um pacto que precisa ser firmado, porque nem mesmo nas sociedades ocidentais mais avançadas homens e mulheres se percebem como iguais, com os mesmos direitos.

Portanto, por tratar-se de um tema extenso, não vai ser possível esgotar numa única reflexão o problema aqui levantado, vou precisar de mais algumas reflexões em torno desse tema. O que aumenta o meu desejo de continuar pesquisando esse assunto indefinidamente.       

5 de fevereiro de 2021

QUEM VIVE DESEJA, QUEM DESEJA SOFRE

A partir do momento em que não se sente livre para sentir o que se sente, ficamos vulneráveis e à mercê de doenças psicossomáticas. Significa a negação das emoções, que é um querer concreto do ser humano. O não aceitarmos na nossa totalidade. O fato de negarmos o que sentimos culmina numa insatisfação, pois a energia emocional continua procurando uma forma de ser liberada. O fato de não estarmos familiarizado com nosso mundo interior e de mantermos nosso foco no mundo exterior, faz com que tenhamos pouca liberdade em permitir sentir ou não nossos sentimentos.

Por outro lado, quando o mundo externo não permite que nos expressemos, acabamos por nos bloquear internamente também. Se formos proibidos de expressar a raiva, podemos acumular mágoas, ressentimentos e até mesmo desenvolver outros sintomas físicos ou psíquicos. Porém, sentir e não poder expressar, contém um grau de frustração diante da liberdade. A pessoa tem permissão para sentir, mas não para deixar claro esse sentimento. O que os outros vão pensar se eu mostrar meus sentimentos? Seja ele positivo ou negativo. Entretanto, temos permissão para sentir, falar, mas não para agir em função do que sentimos. Nosso sentimento fica dissociado da nossa conduta, muitas vezes por não ter aprendido a tomar decisões baseadas nas emoções.

Agir no impulso da emoção, sem controle é típico de quem coleciona determinadas emoções segundo a psicóloga e educadora Ana Maria Cohen, que acrescenta. “Pode-se trocá-las por explosões, brigas, vingança ou mesmo homicídio e suicídio”. A ação baseada no impulso, embora caracterize uma liberdade maior, não é isenta de problemas. Se tiver raiva contida, explode, não importando onde ou com quem. Se tiver medo, paralisa ou foge, agindo impulsivamente. Isso já é um indicador que a pessoa tem um problema emocional de fato.

Portanto, apesar de parecer natural sabermos avaliar nossas sensações e sentimentos, não é bem assim que ocorre. Para tanto, é preciso, em primeiro lugar, saber sentir nosso próprio corpo. Prestar atenção nas sensações, uma habilidade da mente de nos conectarmos com a realidade, pois por meio dela percebemos o que está ocorrendo, tanto em nosso corpo como em nossa mente. Contudo, visualizar, sentir e agir quando conveniente, respeitando o outro e a si mesmo, é o próximo passo na direção da liberdade emocional. Isso acontece quando, ao sentir e poder verbalizar, a pessoa resolve se é conveniente ou não manifestar a emoção e qual a melhor forma de expressá-la. Como diz  o filósofo alemão Arthur Schopenharuer (1788-1870): “quem vive deseja, quem deseja sofre, a vida é dor”.  

4 de fevereiro de 2021

O CORPO COMO UM VEÍCULO DA CONSCIÊNCIA

Descobri que leva-se um certo tempo para construir a confiança e apenas segundos para destruí-las, e que posso fazer coisas em um instante, das quais me arrependo pelo resto da vida. Aprendi que a verdadeira amizade continua a crescer mesmo a longa distância. E o que importa não é o que se tem na vida, mas o que tenho da vida. E que os bons amigos são como a família que posso escolher. Aprendi que não tenho que mudar de amigos se compreender que os amigos mudam.

Perceber que meu melhor amigo quando juntos posso fazer qualquer coisa, ou nada, mas, sobretudo terei bons momentos juntos. Aprendi que essas pessoas queridas, são iluminadas e que prontamente sou tomado pelo seu brilho. Elas entram na vida da gente e deixam sinais, são como músicas. Como a sonoridade do vento no final de uma tarde. Amigos são como música, que foram compostas para serem ouvidas, sentidas, compreendidas e interpretadas, como uma melodia.

Descobri algumas vezes que a pessoa que você espera que o chute quando cai, é uma das pessoas que vai ajudá-lo a levantar-se. Aprendi que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que tive e o que aprendi com esse conhecimento empírico, do que os aniversários celebrados. Aprendi que nunca se deve dizer à uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes quanto essa fala, já que ela poderia tornar-se uma tragédia, caso elas acreditassem nisso.

Quando fui perseguido por uma diretora de escola pública, em seguida dispensado do magistério em 2009, eu sabia que precisava criar uma nova forma de vida. Mudei minha maneira de pensar sobre o que é viver. Deixei para trás a esfera das realizações e entrei para o mundo do prazer da escrita, do relaxamento no meio de tantas maravilhas que vim a descobrir com a literatura.

Senti o corpo atingir o auge da minha força, que agora começa a perdê-la. É nesse momento que se identifica, não com o corpo que está começando a decair, mas, com a consciência da qual ele é um veículo. Contemplo esse corpo como um veículo. O corpo é como a lâmpada que leva a luz. Sou a luz da qual o meu corpo é a lâmpada. Com ele transporto minha consciência.   

Por conseguinte, a metáfora do corpo como um veículo da consciência, quando identifico-me com essa consciência, posso observar o meu corpo decair, como um carro velho. Contudo, é algo que todos nós esperamos, e aos poucos vamos nos desintegrando. É nesse momento que a consciência reencontra a consciência cósmica. Portanto, devemos sempre tratar com atenção e gentileza, as pessoas queridas que realmente amamos, proferindo palavras amorosas, pois pode ser que seja a última vez que a veremos.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...