29 de junho de 2014

AMAR É CAMINHAR SOBRE ESPINHOS

O que sentimos no fundo da alma por uma pessoa, está no desejo ou no amor? Será que desejo e amor se confundem? Para Platão (427-347), não importa, pois, esse deve ser o ponto de partida para um caminho ascendente de contemplação intelectual ou espiritual por essa pessoa. Argumenta ele que é como ir subindo vários degraus: A função do desejo e do amor na alma humana é impulsionar em direção ao alto, em direção à contemplação da beleza em si mesma, eterna e incorruptível.

No entanto, o que Platão nos mostra é que o amor é um caminhar sobre espinhos, uma loucura e um arrebatamento, mas não deve servir apenas à satisfação dos desejos inferiores da alma. Ele pode e deve envolver jogos eróticos, como carícias, beijos, toques, mas tudo isso no campo das ideias. Como muito bem ensina o Tantra Hindu. Os rituais desses encontros envolve a aproximação muito lenta do homem com a mulher, aproveitando cada passo, sentindo cada pequeno gesto, olhar, sorriso e contato físico. Uma forma sábia de prolongar estes momentos prazenteiros é viver em eterna delícia. Esta é a essência da mensagem Tântrica, que Platão afirma no mundo das ideias.

Procurar por esse amor estará sujeito quase sempre a encontrar prazer e dor como diz nos diálogos de Platão sobre o amor. É nas relações afetivas que essa combinação paradoxal surpreende e fere, acima de qualquer sensação física. Nesse envolvimento passional as impressões subjetivas sutilmente superam a racionalidade, igualando paixão e amor. Sentimentos que se confundem no coração, mas distinguem-se no cérebro. Pode-se dizer que no porque e no apesar estão as diferenças semânticas que a emotividade não explica. Só as almas conhecem e conversam telepaticamente, ultrapassando a temporalidade.

Apaixonamo-nos porque o ser amado parece ter virtudes só visíveis aos nossos olhos. Amamos quando descobrimos que, apesar de aparentes as virtudes e ostensivos os defeitos, predominam a confiança e a compreensão. Tendo em vista que na paixão, está o princípio da dor e no amor está o princípio do prazer. Confundir a natureza desses sentimentos é misturar prazer e dor. Com a paixão vem à posse, o ciúme e a cobrança. Com o amor ficam a admiração, o respeito e a lealdade, formas de amar que poucos reconhecem. Nenhum relacionamento sobrevive sem esses ingredientes que decorrem não do arrebatamento – atributo da passionalidade insensata – mas da razão, atributo da maturidade racional.

Entretanto, nos desdobramentos da paixão, o amor e o ódio encontram-se e repelem-se, para negar e consentir no trânsito entre o amor e o não amor à simpatia; entre o ódio e o não ódio, a antipatia; entre o não amor e o não ódio, a insegurança. Regidos por essas forças, os relacionamentos pessoais, familiares ou sociais, aproximam-se ou distanciam-se num oscilar contínuo, mediados pela sinceridade, pelo carinho, pela solidariedade, tanto quanto pela mentira, pelo desprezo ou pelo egoísmo.

Portanto, enquanto houver uma alma apaixonada, o cérebro e o coração dividirão a soberania das emoções, confundindo paixão e amor. Não existe outra forma de descobrir o amor e, sem ele a vida não tem significado. Contudo, desejo aos jovens que não amadureça depressa demais e sendo maduro, não insista em rejuvenescer, e que sendo velho não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança e do bem, se algum houve, as saudades.  

26 de junho de 2014

A VIDA É UMA VIAGEM DE TREM

Sou da época auge do trem e fiz muitas viagens por esse meio de transporte. Hoje guardo boas recordações do lugarejo onde vivi, Rubião Junior distrito de Botucatu SP. E curiosamente, há algum tempo atrás, li um livro indicado pelo meu filho, que comparava a vida a uma viagem de trem. Uma leitura extremamente interessante, cheia de metáforas que me reportaram ao passado sem excluir o momento presente em que vivo.

No entanto, é isso mesmo, a vida não passa de uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros. Quando nascemos, entramos nesse trem e nos deparamos com algumas pessoas que, julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco: nossos pais. Infelizmente, isso não é verdade; em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos de seu carinho, amizade e companhia insubstituível. Mas isso não impede que, durante a viagem, pessoas interessantes e que virão a ser muito importante e especial para nós, embarquem.

Chegam nossos irmãos, amigos e amores maravilhosos. Muitas pessoas tomam esse trem, apenas a passeio, outros encontrarão nessa viagem somente tristezas, ainda outros circularão pelo trem, prontos a ajudar a quem precisa. Muitos descem e deixam saudades eternas, outros tantos passam por ele de uma forma que, quando desocupam seus acentos, ninguém nem sequer percebe.

Curioso é constatar que alguns passageiros, que nos são tão caros, acomodam-se em vagões diferentes dos nossos; portanto, somos obrigados a fazer esse trajeto separados deles, o que não impede, é claro, que durante o trajeto, atravessemos com grande dificuldade nosso vagão e cheguemos até eles. Só que, infelizmente, jamais poderemos sentar ao seu lado, pois já terá alguém ocupando aquele lugar. Não importa, e assim a viagem, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas, porém, jamais podemos retornar ao ponto de partida.

Façamos essa viagem, então, da melhor maneira possível, tentando nos relacionar bem com todos os passageiros, procurando, em cada um deles, o que tiverem de melhor, lembrando sempre que em algum momento do trajeto, eles poderão fraquejar e, provavelmente, precisaremos entender isso, porque nós também fraquejaremos muitas vezes e, com certeza, haverá alguém que nos entenderá. Afinal, o grande mistério da vida, é que jamais saberemos em qual parada desceremos muito menos nossos companheiros, nem mesmo aquele que está sentado ao nosso lado.

Fico pensando se quando descer desse trem sentirei saudades de alguém, acredito que sim, separar-me de alguns amigos que fiz nessa viagem será no mínimo dolorido, deixar meus filhos continuarem a viagem sozinhos, com certeza será muito triste, mas me agarro na esperança que, em algum momento, estarei na estação principal e terei a grande emoção de vê-los chegar com uma bagagem que não tinham quando embarcaram. É o que vai me deixar feliz, que me fará pensar que colaborei para que eles tenham crescidos e se tornados valiosos.

Portanto amigos, façamos com que a nossa estadia nesse trem, seja tranquila, que tenha valido a pena e que, quando chegar a hora de desembarcarmos o nosso lugar vazio traga saudades, assim como boas recordações, para aqueles que prosseguirem a viagem. Desejo a todos que tenham amigos que mesmo maus e inconsequentes, sejam corajosos e fiéis, e que em pelo menos num deles possam confiar sem duvidar. Contudo, a minha viagem nesse trem começou em Botucatu-SP, e hoje me encontro na estação de Marília-SP.

25 de junho de 2014

A OBRA PRIMA DE UM HOMEM É A SUA VIDA

Este título foi extraído de um texto publicado pelo filósofo e educador Régis de Morais (1940), que na verdade é uma frase do escritor russo Leon Tolstói (1828-1910). Mas, muito apropriado para essa nossa reflexão. Este místico que foi um gênio da literatura, homem cheio de conflitos e contradições - como são a maioria dos escritores - no fim de seus dias estava preocupado com o que haveria feito da sua vida, e alertava a todos para que “construísse” bem o seu viver e o seu conviver com o outro. Um dilema que abate a todos.

Nascemos no interior de uma cultura, de uma sociedade; quando aprendemos a falar nossa língua, mal percebemos que ela já nos transmite uma mentalidade, pois, os limites da nossa língua são as fronteiras da nossa visão de mundo. Vamos crescendo no interior de uma família, e esta nos passa inúmeros valores da sociedade, bem como valores que são peculiarmente seus. Até que chega a época em que a convivência se estende para fora do circulo familiar, nos defrontamos com uma estrutura social que, através de pressões e condicionamentos às vezes pesados procura impor-nos seus hábitos, códigos de leis e muitas das suas expectativas em termos de moral.

A sociedade acaba usando a família, as igrejas, as escolas e os locais de trabalho para tentar modelar-nos ao seu gosto. Não podemos negar que consegue muito do seu intento e, em algumas circunstâncias, pode até inibir nossas ações. Em razão de tudo isto, é inevitável que incomodem nosso espírito algumas dessas questões. Afinal, seremos apenas táxis nos quais viajam as vontades e os valores dos outros? Seremos meros produto de uma melancólica fabricação em série? Haverá como negar que, em muito boa medida, somos construídos pelo meio?

Entretanto, no exato momento de nossa evolução em que adquirimos consciência de todas essas forças que agem sobre nós, aí estaremos começando a olhá-las com senso crítico. Principiaremos a praticar, para com as influências do meio, a arte da desconfiança – que é uma coisa muito mais sutil do que a neurótica mania de desconfiança. Afinal, arte é arte, mania é outra coisa de tom doentio.

Para o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), que depois de muita obediência sem discussão, surge um momento na vida em que sentimos necessidade de dar um passo atrás e olhar panoramicamente para o conjunto de valores que o meio nos incutiu, para que então façamos deste nosso julgamento pessoal. Um momento que exige coragem para separar o trigo do joio e, decididamente, amar o amável e rejeitar o inaceitável. Uma vida só de cobranças e obrigações ninguém aguenta. É um camelo atravessando o deserto.

Considerando isto, finalmente, somos construídos ou construímos? Parodiando o título de um poema de Cecília Meireles (1901-1964), não se trata de “ou isto ou aquilo”, neste assunto; trata-se de “isto e aquilo”. Na vida tanto somos construídos quanto construímos, sendo que o necessário seria garantir a cada individuo, a possibilidade de criticar as heranças que recebeu. Ao que parece, nem todos tem esse espírito critico, infelizmente. O que vamos fazer de nossas vidas? Em condições normais, este é o único problema verdadeiramente sério que surge para os seres humanos. Marcados por guerras intermináveis, cheios de explorações econômicas criminosas dos fortes contra os fracos; época tumultuada desse começo de século, em que parecem ter desabado de vez muitos valores da nossa civilização.

Entretanto, por a culpa no meio, algumas vezes está certo. Mas, por sempre a culpa no meio é negar que somos pessoas, e não trastes que são jogados daqui para ali. De tudo o que desabou, vamos reconstruir novamente a partir do que restou de nossas vidas. Quando Tolstói disse que “a obra-prima de um homem é a sua vida”, pôs logo as pessoas a se lembrarem de tantos seres humanos quase ou inteiramente anônimos, que nunca escreveram um livro ou realizaram feitos considerados socialmente importantes, mas que, em seu bairro ou cidade, lutou sem descanso para fazer de sua vida uma obra-prima de humanidade. Está claro para o homem, que é o viver que justifica o viver, caso contrario o condena.

Ninguém saberá ensinar o outro como se realizar. Nenhum homem tem como ensinar o outro como enriquecer sua trajetória de vida. O pouco que se pode dizer, neste terreno, resume-se em quatro grandes questões: Primeiro, cabe a cada um escolher os valores pelos quais queira viver. Segundo, cabe também a cada um ter claro que o trágico não é ter escolhido valores equivocados; se um homem se equivocar, mantendo sinceridade e fidelidade aos seus princípios, não terá mentido nem a si nem a ninguém. Terceiro, caberá a todo homem não deixar seus valores se transformarem em teimosia preconceituosa, tendo para isto que rever constantemente e criticar suas posições. E finalmente, que o caminho que uma pessoa escolheu seja caminhado de forma sensível e inteligente, tanto quanto as suas limitações o permitirem.

Agora que valores ter, como não se equivocar, que caminho escolher? Estas são coisas que só alguns fanáticos se metem a ensinar. A milenar sabedoria chinesa já disse e jamais será demasiado repetir que, cada ser humano tem um caminho que é seu: "a sua vida". Que ninguém poderá caminhar o caminho do outro por ele, da mesma forma porque nenhuma outra pessoa poderá morrer por nós a nossa morte ou, antes, sofrer por nós as nossas dores.

Portanto, como ensinava o filósofo grego Sócrates (469-399), o importante mesmo é que, ao final da vida, cada um se pareça cada vez mais consigo mesmo. Afinal, o homem autêntico é uma obra-prima. A vida humana consciente é uma tentativa de navegar no oceano dos condicionamentos do ambiente, evitando naufragar neles. Se você não descobrir qual é sua missão no mundo, ela certamente ficará incompleta, porque ninguém poderá concluí-la, cada pessoa é como uma peça de um quebra cabeça. Só ela pode ocupar o espaço vazio e, se não ocupá-lo, ficará deslocada, e sua essência incompleta. Contudo, "viver" e "amar" constitui-se para nós humanos um mistério, que muitos transformam num problema. 

18 de junho de 2014

O AMOR ENTRE O MEDO E A ESPERANÇA

A esperança é a sensação motivadora que nos mantém vivos. Ter uma vida plena, um estado maior de vivência, uma libertação da tristeza eterna, acreditar no amor que sente ao invés de especular ou maltratar esse amor. Isto não é acreditar e nem apostar no amor que sente. Quando se ama com o coração e não com palavras vazias, cria-se uma expectativa conciliadora. Na verdade, esse tipo de expectativa poderia ser a esperança que tenho no amor. O mundo que nos espera não está por ser conquistado com a força, mas está por ser construído com amor. Mas se a pessoa vive num estado de passividade e de espera, isto não é esperança e sim resignação. É deixar morrer o que existe de mais sagrado na essência humana.

Entretanto, a esperança é um elemento decisivo em qualquer tentativa para ocasionar mudanças pessoais e sociais na direção de uma consciência maior. O objetivo da esperança é um compromisso com a vida afetiva e amorosa. Conheço casais que dizem se amarem e quando se desentendem logo pensam em outro. Mal sabem que estão matando a esperança de viver plenamente um amor de boa qualidade. No fundo estão se destruindo. Infelizmente ainda existem mulheres e homens que pensam que quanto mais usa o seu corpo, mais livre se tornam. O ideal dessas pessoas é ser desejadas como um bom produto. Isso não leva a lugar nenhum a não ser, a uma profunda frustração, porque depois de saciado esse desejo só lhes resta o tédio, uma vida de miséria.

Todavia, ser aberto para o amor, acreditar no amor, ter esperança e procurar viver no amor, é necessário reunir todas as suas forças e todo o seu potencial adormecido até então. Essa é uma situação raramente experimentada pelas pessoas na vida real. Quando o amor aparece não sabem muito bem como lidar por medo de sofrer. No entanto, foi por medo que crucificaram Jesus, foi por medo que deram um tiro em Gandhi, foi por medo que decapitaram o filósofo inglês Thomas Morus e foi por medo que envenenaram o filósofo grego Sócrates. Enfim, a sociedade tem pouco espaço para a honestidade, para a ternura e, principalmente, para a bondade. Medo de que seus membros descubram a importância do amor para suas vidas.

Tanto o homem como a mulher se tiver uma relação de boa qualidade, não precisa mais do desejo um do outro. Ninguém deseja o que possui. A mulher ou o homem deixa de ser objeto do desejo mútuo para ser objeto de excitação um do outro, portanto, para se concretizar a excitação haverá as trocas gostosas de carícias, o estabelecimento da intimidade e o esquentar das relações que são estreitadas a partir da aceitação das carícias e da mútua reciprocidade. Nesta relação de reciprocidade se vai o medo e reforça as esperanças que ambos cultivam.

Há um sentimento de apatia corroendo o coração da humanidade, como muito bem assinalou o sociólogo e pesquisador polonês Zygmunt Bauman (1925), no seu texto Pós Modernidade, fazendo uma radiografia das relações humanas, onde cada vez mais está em moda o amor líquido. O sexo casual como muitas pessoas apreciam, também faz parte dessa visão aristocrática, sempre é importante entender que ele privilegia umas poucas minorias e desfavorece a grande maioria. Por exemplo, aquelas pessoas mais sinceras, aquela mais fiel, as que falam a verdade, as que não gostam de fofocas, as que não frequentam vida noturna e as que não atendem as exigências do mercado de consumo do corpo sarado, bonitinha e sexy. Quem não reúne esses pré-requisitos, sempre são marginalizadas.

Portanto, o amor que dedicamos a alguém, mesmo que não seja correspondido, é para nós um benefício, mesmo sem ser amado, viver esse amor é uma grande felicidade. O amor é como uma planta florida que perfuma tudo com a sua esperança, até as ruínas e turbulências eventuais que nos abate. Vejo o amor como um ninho, onde a felicidade de duas pessoas, atraídas por esse sentimento constrói-se pedacinho por pedacinho, através de esforços mútuos e de muita compreensão um pelo outro. Contudo, a boa relação é quando alguém aceita o seu passado, apoia o seu presente e motiva o seu futuro. Para isso é preciso que o amor seja tão íntimo que se torne eterno, para que perdure, é necessário penetrar na essência um do outro

16 de junho de 2014

AS CICATRIZES EMOCIONAIS

Com emoção não se brinca. Se olharmos atentamente para as expressões faciais de qualquer pessoa, é possível perceber os traços e marcas que denunciam o stress, de acontecimentos trágicos em sua vida. Com o passar do tempo, o corpo se transforma numa espécie de "bibliografia ambulante" revelando os fatos vivenciados, emoções e pensamentos predominantes de cada pessoa. Segundo o meu amigo pesquisador no Instituto de Zootecnia Dr. Fernando de Castro, as emoções correspondem uma somatória de acontecimentos ao longo da vida, onde estão refletidas, e podem ser avaliadas, ferimentos e cicatrizes não só do corpo, mas também da alma. A dor e o sofrimento não tem como causa o "amor", mas as dificuldades em lidar com esse sentimento. O erro maior é deixar de ouvir racionalmente o coração. Como dizia o físico, matemático e filósofo Blaise Pascal (1623-1662): “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.  

Para o meu amigo pesquisador, a pele do rosto funciona de fato como uma tela onde as experiências da vida de cada um se inscrevem com toda a intensidade das emoções que as geraram. Muitos filhos se afastam dos pais porque não conseguem encontrar uma forma de diálogo conciliador ou porque estão desesperados, querendo chamar a atenção das pessoas que amam.

Nas relações amorosas o problema é ainda mais complexo. Falo com conhecimento de causa. Ambos querem o entendimento, mas o bloqueio emocional é maior que a capacidade de conciliação. Nós somos um sistema dinâmico de energia que refletem o padrão evolutivo da alma. Sendo assim, a saúde do corpo é proporcional ao estado de equilíbrio geral da nossa consciência. A maioria das pessoas adquire mecanismo de defesa e estratégia de sobrevivência de forma imperfeita ou aleatória para escapar da dor afetiva. Usam de subterfúgio para atenuar esse sofrimento.

Portanto, a ajuda de um profissional da psicologia neste momento de conflito, pode trazer excelentes resultados na compreensão da causa. Contudo, pouco a pouco, ganhamos dignidade e respeito por nós mesmos, ao mesmo tempo vamos reconhecendo essa força interior chamada amor e cientes do quanto o outro é necessário para a manifestação desta força e o quanto ela é poderosa, a ponto de nos transformar. Porém, onde há amor há transformação. Vou morrer dizendo: "A vida é minha, mas o coração é seu. O sorriso é meu, mas o motivo é você".

15 de junho de 2014

DO TOQUE AO ÊXTASE CÓSMICO

Todos nós gostamos de abraçar e tocar nosso próximo, mas tocar com amor é uma raridade na sociedade contemporânea. Abraçar ou tocar o outro com mais amor é uma experiência de contato profundamente humano e extremamente enriquecedor que une os amantes e fortalece a relação, porque nos da chance de partilhar experiências inefáveis. E o sexo é uma das formas mais completas de toque. Segundo alguns pesquisadores, o tato é a linguagem específica do sexo.

Entretanto, tocar significa estimular certos receptores sensoriais da pele, propiciando as excitações adequadas ao orgasmo durante o intercurso sexual para homens e mulheres. Nas mulheres, por exemplo, os pelos pubianos, quando estimulados em sua base, servem para produzir certas alterações quimiocondutoras nas terminações nervosas, que inervam diretamente a pele, que induzem a uma intensificação da excitação sexual. Além de proteger o órgão genital feminino. Por outro lado, algumas mulheres buscam freneticamente no contato físico, compensação para as suas inseguranças emocionais. Esse tipo de comportamento pode enfraquecer as relações afetivas.

Para os orientais, o amor entre duas pessoas realizado através do ato sexual é uma expressão da existência de elevada qualidade, a mais completa forma de toque, que permite ao ser humano a vivência do êxtase cósmico e com ele a percepção da sua transcendência. Por isso dedicam-se a praticar gesto e movimento com a finalidade de tornar o ato sexual mais demorado. No Kama Sutra, livro sagrado dos brâmanes da Índia, publicado cinco mil anos antes Cristo, já se manifestava a preocupação de favorecer o prazer, indicando sessenta e quatro posturas favorecedoras da sexualidade com maior integração entre homem e mulher. Uma forma de prolongar o prazer sexual.

Segundo o autor do Kama Sutra, o filósofo indiano Vatzyayana, que viveu entre os séculos IV e VI antes de Cristo, compilou inúmeras sugestões a fim de que os seres humanos de seu tempo tirassem o melhor proveito das experiências sexuais através de um estado de relaxamento e gozo intenso. Tendo em vista, que o sexo não é apenas um em si mesmo, é uma energia vibrante e poderosa que nos leva ao estado de transcendência e sabedoria. É o viver um no outro. Isso reforça o velho conhecimento tântrico, prática chinesa milenar, bem como outros conhecimentos orientais, ampliando o estado de felicidade e serenidade que experimentam os amantes.  

São raríssimos os casais em que o sentimento extasiante se revela, numa atração que acontece, como entre dois polos de um imã. É evidente a necessidade de unificação, fusão. Por isso que ambos querem ficar juntos, unidos durante horas seguidas. Buscam cumprir a lei de afinidade na qual o amor tem como objetivo interligar os seres amados em todos os níveis: desde corporal, mental e espiritual. A partir daí, a transcendência, isto é, a consciência entre os amantes pode ser vivenciada intensamente.

Portanto, é uma explosão de galáxias. O êxtase cósmico. É o big-bang dos apaixonados. Eu diria: a inundação da autoconsciência. Há um alumbramento. Os amantes tornam-se iluminados. Ficam mais belos. Por isso é impossível esconder o estado amoroso quando ele acontece. Durante os relacionamentos orgásticos, as energias positivas emanadas da dupla amorosa evadem-se e beneficiam o ambiente, deixando um clima de alegria e bem estar. Não há espaço para insegurança. Contudo, experiência como essa ainda é incomum em nossa civilização. É bom que se diga que não tem nada a ver com promiscuidade ou sexo como descarga de tensão ou sofisticação. Toda a nossa vida é uma busca de amor; entretanto, poucos estão preparados para a entrega e doação que esse ato exige. Amor de verdade não se encontra fácil por aí todos os dias. Para descobrir amor demanda sensibilidade. O amor deixa a pessoa mais plena, leve e conciliada com a vida e com a Divindade Cósmica.

11 de junho de 2014

A DOR DA SEPARAÇÃO

Qualquer separação afetiva implica em sofrimento e dor. Só avaliamos a importância do amor em nossa vida, quando o perdemos. Quem são as pessoas que sabem amar? Por acaso são as que se comportam de forma autodestrutivas? Ou aquela que só enxerga o lado negativo do amor? São essas pessoas que se anulam e se escondem pelos cantos? São pessoas arbitrárias diante do amor. Aprender a dar e receber amor são tarefas que começa desde cedo. Mais precisamente na infância. O desempenho do bom relacionamento amoroso depende desse saber dar e receber, sem cobrar ou exigir do outro que se comporte de acordo com as minhas expectativas.

O psicanalista austríaco a quem se deveu a fundação do Círculo Vienense de Psicologia Profunda, Igor Caruso (1914-1981), argumenta no seu livro:Separação dos Amantes: Uma Fenomenologia da Morte”, mostrando os tipos de amor e, em que condições sociais rígidas forçam a separação em favor da harmonia estabelecida. Caruso foi o primeiro pensador que se dispôs a estudar o que acontece com os dinamismos psíquicos e as forças defensivas quando a separação forçada e repentina dos amantes se efetua mediante “esforço de vontade” e por “razões objetivas”, no momento máximo da relação amorosa.

A capacidade de entrar em sintonia com os desejos do parceiro é a marca do amor duradouro. No cérebro de quem está apaixonado, ocorre à ativação do sistema de recompensa. Esse sistema é mais primitivo: leva o ser humano a buscar alimentação, proteção e sexo. Quando o sentimento evolui, regiões mais refinadas são acionadas. São áreas menos relacionadas a emoções básicas e mais ligadas à empatia. É pelo DNA que sela esse amor. Ambos se descobrem pelo DNA. A chamada afinidade um pelo outro. Portanto, o amor é um fenômeno instintivo, não escolho quem amar.

Entretanto, a vítima do abandono amoroso não escapa de vivenciar o gosto da morte. Para Caruso, o tema da separação identifica-se com a eclosão da morte psíquica na vida dos seres humanos. Quando se perde o outro, que era tudo, o que fica é o nada, o vazio, uma ausência tão profunda que só pode ser equiparada à da morte.

O ser amado, ao ser o tudo, passa também, numa operação psíquica de transporte da identidade, a ser o próprio eu do apaixonado. A sensação é a de que há um prolongamento do eu no outro. Ora, com a perda do outro vem junto também o desabamento psíquico do eu e aí está a catástrofe em seu aspecto mais funesto: a separação amorosa é, sobretudo, mortificante porque provoca um abalo ontológico correspondente à perda de si próprio. Os que vivenciam essa crucifixão têm a percepção da auto desintegração. Por isso, a separação nos torna tão dolorosa, apresenta-se semanticamente potente porque nos remete à atomização do ser e seu desabamento na existência. Precisamos ser fortes, sem esquecer que somos humanos.

Portanto, a experiência da dor, que acabamos de descrever, é inerente à paixão amorosa: a posse, por natureza, traz o seu reverso. A história do amor vista através da literatura e da arte, aponta incessantemente para a separação dos amantes. Há sempre os intransponíveis obstáculos a separar os que se amam. Colocando o obstáculo e a transgressão como elementos constitutivos do amor. Por que agimos contra o amor? O amor pode ter acabado do ponto de vista racional, mas o cérebro continua a mandar os estímulos que causam reações físicas ainda que ele tenha as lembranças ruins do relacionamento. As impressões formadas no namoro ficam no cérebro. A dor provocada pela separação amorosa inscreve-se entre as mais difíceis de suportar, porque se trata de uma situação em que o prazer perdido é muito grande. Tendo em vista, que o amor é irracional, instintivo. Não explica, simplesmente se ama.

3 de junho de 2014

AMOR NA TERCEIRA IDADE

Ainda existem pessoas que pensam que o idoso é incapaz de amar. Desde quando amor tem idade? Amamos a vida toda, cada descoberta do amor é uma energia nova que irradia todo o nosso ser. Chegamos a pensar que finalmente encontramos o paraíso, pois tudo é carinho, tudo é paz, e tudo é feito para nós, todas as atenções são nossas. Todas as partes de mim que me são importantes, pertence ao outro.

Estou certo que encontrarei tudo o que é meu nesta vida, terei todo o amor que mereço e que posso dar. Mas o tempo passa, aprendemos a ler, a escrever a conversar, a entender a crueldade humana e todos contagiados por esta fome de poder idiota, comentemos nosso primeiro crime. Condenamos a quem amamos. Negociamos nossos sentimentos, vendemos nossa alma ao diabo por um pouco de poder, a satisfação do nosso ego.

Como perdemos tempo com coisas fúteis, como nos desgastamos com bobagens que não valem nada, só quando estamos ficando velhos é que percebemos como fomos tolos, como jogamos nosso tempo fora, tentando através do sexo doentio, curar nossas almas desesperadas por amor. Quantas vezes foi o sexo que nos trouxe a felicidade que procurávamos? O sexo pelo sexo, não traz absolutamente nada. O que o sexo traz é o êxtase, e isso se for bem feito, com a pessoa certa, senão, só nos deixa mais infeliz ainda. Encontramos a felicidade quando alguém nos ama e quando podemos amar alguém sem medo, desta troca surgirá infalivelmente o sexo e, um sexo especial, onde nossas almas tremem, nossos corpos se esvaem síncronos perplexos com tanta beleza.

Entretanto, os mais jovens não sabem disso, pois nunca ouviram falar e muito menos praticam sexo tântrico. Vivemos numa sociedade de consumo, dando a entender que jamais teremos um orgasmo se não tiver o perfil de homem poderoso. Como somos fúteis, fracos de espírito e de mente nesta época de nossas vidas; justamente quando somos mais belos, parecemos mais tolos. Ainda tem mulher procurando por homens com dinheiro e poder, transformando o amor em mercadoria.

Para o idoso o valor da vida e do amor, não começa aos 50 ou aos 60 anos, mas, quando percebemos que tudo isso aí em cima é inútil para nossa felicidade, é o momento em que podemos e devemos amar, simplesmente porque merecemos, porque já pagamos o nosso tributo.

O amor para o idoso torna-se explícito quando dividimos o almoço, com alguém que amamos enrolados num cobertor de zebrinha, fazendo cafuné um no outro. Quando percebemos que nem a idade nem coisa alguma tem força suficiente para estragar aquele momento, nem mesmo a morte, pois quando ela chega aquele momento já terá sido vivido e, portanto, será nosso e nem a morte pode nos tirar a felicidade de ter amado.

Todavia, a morte, algoz de todas as idades, só vem quando descobrimos que somos, na verdade, feitos de amor e, para que não sejamos contaminados com a mediocridade de tantos, nos leva em seus braços para outro lugar feito para amar, para ser amado, junto ou mais perto daquele que, como nosso melhor amor, é só amor. É na maturidade que descobrimos o valor do carinho, do sorriso, de um gesto limpo de caráter, que descobrimos como é fácil ser feliz, como precisamos de tão pouco. Amor, respeito e compreensão. Não é por solidão, não é por abandono, não é por carência, é pelo gesto, é pela atitude simples de alguém que nos ama, que ganhamos o dia, é por um beijo de amor. É na maturidade que sabemos o que é amar e como amar, só não sabe quanto amar, pois isso não tem medida.

Portanto, olhe para trás e pergunte qual jovem cujo espírito seja limpo, qual deles sabe o que é amar. Qual jovem hoje não ficaria com os olhos cheios de lágrima de felicidade e desejo por, um dia, ser alguém da terceira idade que, como você, ama e é amado e não tem vergonha de sentir essa felicidade. Não seja egoísta, ame, seja amado e ensine a amar. Contudo, amar só os sábios da terceira idade sabe realmente o que significa esse verbo intransitivo, que é Amar.

UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE SÓ O TEMPO ENTENDE

Vou dividir com você essa História de Amor, porque ela tem muito do que vivi nesses últimos anos e mais precisamente nos últimos meses. Até ...