14 de agosto de 2023

CALAR-SE É SÁBIO SE O QUE VOU DIZER AGRIDE ALGUÉM

Precisamos criar essa arte da escutatória e não apenas a arte da oratória. Calar é muito importante, alias num mundo que ninguém se cala quando de fato, o ouro do silêncio for melhor. Porém, calar-se quando existe uma injustiça, calar-se quando algo está acontecendo. Faz-nos lembrar da frase do Evangelho que as pedras falarão no meu lugar, se eu me calar.

Então não se trata de avaliar o silêncio ou a fala, mas sim o silêncio adequando para que eu aprenda algo, reflita e deixe o outro expor a sua característica e expor a sua vontade. Agora, falar é útil quando exatamente a algo a ser dito. Sou eu que tenho que julgar se há algo a ser dito ou não. Toda censura é abominável, mas os limites da liberdade de expressão são dados pela lei.

No entanto, não posso fazer apologia ao crime e não posso fazer da liberdade de expressão um ataque que queira destruir o outro. Para isso estão previstas calúnias, crime de injúria e difamação. Tenho que pensar que ao falar se é necessário, se vai melhorar as pessoas e se vai produzir algo mais verdadeiro. Se assim for, fale bastante, fale mais do que você está falando, sempre medindo se é necessário, se é verdadeiro e se é absolutamente positivo.

Agora ouça bastante, porque ouvir é o grande privilégio dessa arte da escutatória. O que estou fazendo aqui é uma reflexão crítica sobre um ditado. Ditado que é do senso comum e é do senso comum que estabelece um princípio universal. Todas as vezes que você se calou, estava melhor do que quando você falou? Não é porque muitos alemães se calaram sobre o nazismo que a barbárie do nazismo existiu. É porque muitos franceses não se pronunciaram sobre a deportação de judeus na França.

Em outras palavras, essa barbárie ocorreu é porque muitos cidadãos viraram os olhos, quando o homem estava agredindo sua mulher na rua, ou no apartamento de cima, que tantas mulheres vieram a falecer ou ficaram marcadas para sempre no corpo e na alma. Pela violência dessa masculinidade tóxica. Não se cale diante do mal, não se cale diante da falta de ética. Não se cale diante da verdade cristalina.

Não é o ouro ou a prata, mas o bem e a ética. É isso que determina se você deve falar ou não. Para nós cidadãos comuns, calar-se mais é uma boa medida, porque falamos demais e a palavra é ambígua. Pois ela limita o pensamento e nesse sentido calar é bom. Mas, talvez estejamos precisando falar muito mais sobre as coisas realmente grave que ocorre nesse país em que o silêncio nos torna, nesse caso cúmplices.

Calar-se é sábio quando o que vou dizer agride alguém. Calar-se é muito inteligente, quando percebo que o que vou dizer só mostra a minha dor. Não melhora nada, não é necessário e nem verdadeiro. Só para citar essa fórmula apócrifa atribuída ao filósofo grego Sócrates. Calar-se é muito importante quando de fato o ouro do silêncio for melhor.

Portanto, quando atiro uma brasa cheia de raiva em alguém, talvez eu atinja a pessoa com as minhas palavras, que é a brasa incandescente. Mas em 100% dos casos queimo a mão. O problema não está apenas em ser compreensivo com os outros, nem por uma compaixão, mas, por uma educação. Como lidar com pessoas difíceis, todas as vezes que alguém nos enfrenta e ofende? Essa pessoa está sugerindo que eu saia da minha zona de conforto. Ela está sugerindo que a minha vaidade não me domine. Está mostrando que sou limitado em relação ao universo e por fim, está me convidando a crescer. Isto é apenas um sintoma que devemos analisar e pensar, antes de devolver qualquer agressão a alguém.

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