23 de outubro de 2019

EM BUSCA DA PERFEIÇÃO COMO UM IDEAL DE VIDA

Estamos sempre buscando a perfeição em tudo que fazemos. Achamos que sempre há margem para o aperfeiçoamento, tendo em vista que a perfeição não é um atributo humano. Mas ela está na natureza das coisas. A perfeição caracteriza um ser ideal que reúne todas as qualidades e não tem nenhum defeito. Designa uma circunstância que não possa ser melhorada ainda mais em hipótese alguma. A perfeição seria o vazio, se a perfeição for realmente à ausência de erros e defeitos, ela é sinceramente algo desprezível, sobretudo, porque vamos fazer os nossos erros parecerem certos e, não há como julgar.

Pois, tudo é extremamente relativo, existem pessoas que dizem se empenhar na busca da perfeição, todavia, é um caminho no qual você se machuca a troco de nada, porque onde não há erros e nem possui defeitos, é algo pelo qual não vale à pena. No entanto, as pessoas são feitas de suas escolhas e, o certo e o errado são apenas uma questão de ponto de vista, se não fossem os defeitos, não existiriam as qualidades e, consequentemente, não existiria a perfeição. No entanto, nessa linha de raciocínio, a perfeição é o vazio, o que mais o ser humano teme.

Platão foi discípulo de Sócrates, e um grande venerador da perfeição. Criou o “mundo das idéias”, que ele afirmava já ter sido habitado pelas almas, antes de caírem neste mundo material, só não explicou por qual motivo. Assim, o corpo passou a ser “cárcere” da alma, algo como um estorvo, cuja única função seria a de nos purificar das imperfeições. No “mundo das idéias”, está à essência da perfeição, que manifesta sob diversos conceitos. Nessas idéias, o mundo material é visto como que réplicas imperfeitas, um mundo de aparências. Cada ser tem por modelo uma ideia, que o supera de muitos, que o torna diferente e único. Assim, a busca do melhor seria à volta aquela única realidade verdadeira e inatingível, desligar deste mundo de imperfeições e fraquezas. Todo ser humano sente saudades do que já foi um dia e não é mais. De certa forma, essa teoria vai coincidir com a história da humanidade, colocada pela religião quando faz referência ao paraíso de “Adão e Eva”. 

Vivemos criando regras e normas para tudo aquilo que fazemos a título de nos aproximarmos o mais que puder da perfeição. Seria um atrevimento sem precedente tentar estabelecer normas ou regras de comportamento nos relacionamentos afetivos. É interessante perguntar as pessoas, principalmente às casadas o quanto de energia psicológica está sendo consumida por homens e mulheres que tentam viver em seus casamentos atrás de uma máscara, quase sempre recheada de intrigas, crueldades e ciúmes.

Quantos casais se unem levados pela chama ardente do amor que nasce do fundo da alma, se adoram e até acreditam que nada e ninguém podem separá-los. Quando menos esperam são traídos pelo inimigo secreto, o ego, essa legião de agregados psicológicos que destrói a beleza do amor puro e inocente. Essa é a consequência da saída do “Jardim do Éden” espiritual, terrível sequela deixada para nós humanos por conta do mito da perfeição, tornando-se explicito a nossa imperfeição.

Temos uma tendência ao perfeccionismo, que pode se arrastar por tudo que fazemos. Substituímos o relaxamento pela ansiedade e a satisfação pelo descontentamento quando algo não sai perfeito como desejamos ou queremos. Todavia, deveríamos saber que a perfeição verdadeira não é algo que atingimos. Pois ela é um estado que floresce espontaneamente. Eu diria um senso de plenitude e de unidade que vem do coração.

No entanto, quando não conseguimos fazer as coisas perfeitamente como cobramos de nós mesmos, logo pensamos que deve haver algo errado conosco ou com o mundo em que vivemos. A ironia é que o nosso ideal de perfeição surge da necessidade do nosso ego de explicar e controlar tudo a nossa volta. Contudo, inevitavelmente nos mantém distante da experiência da perfeição e com isso sentimos medo de falhar e não ser aceito. Somos o tempo todo, julgados e controlados por todos, não porque acham que estão certos, mas por medo de não estarem certos. A perfeição está dentro de cada ser humano, naquilo que ele está buscando. Mas o medo da imperfeição e de falhar nas suas circunstâncias particulares é o que faz ser rigoroso consigo mesmo.

Portanto, a perfeição é algo que nunca vamos alcançar e que também, naturalmente, nunca vamos desistir de buscá-la. Talvez porque não aceitamos nossa condição de ser humano, com todos os defeitos e falhas, que nos é peculiar. Nossa maior imperfeição é o de criticar o outro, porque é nele que projetamos nossas fraquezas. Esquecemos das nossas qualidades, que aos olhos de muita gente boa, torna-se um modelo diferente de perfeição, baseado no que cada um tem de melhor para oferecer.     

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