22 de setembro de 2012

MEDO OU CORAGEM DE SER FELIZ?

Em determinada circunstância o medo pode inibir a nossa coragem de ser feliz, de arriscar a viver um grande amor, pelo simples fato da nossa educação apontar para a sexualidade como algo pernicioso. De certo modo, o fenômeno amoroso está relacionado ao sexo. Segundo nossos costumes, isso não pode porque é indecoroso. Proibimos demais e de repente essa energia vital explode, gerando uma neurose de angústia.

No entanto, a maioria das relações amorosas e sexuais praticada hoje no mundo é basicamente falsificada ou fingida, justamente por esse principio moral. Toda relação amorosa que implica sexo antes do casamento não pode. Contudo, vivemos uma relação de amor e sexo muito contida. Com medo de tocar o corpo do outro e ser tocado na mesma intensidade. Pois a falta de coragem inibe a minha intimidade com a pessoa que amo, aquele momento prazeroso de um brincar com o corpo do outro. O medo de acariciar esse corpo, como se fosse o playground das minhas fantasias no momento do encontro. Esse brinquedo gostoso e tão prazenteiro que é o nosso corpo, a nossa pele. 

Podemos comparar esse momento como uma revelação divina, da qual não sabemos muito bem o que fazer, e ao mesmo tempo ficamos com medo e perplexo com tamanha felicidade que experimentamos. Parece-me ser o nosso papel como seres humanos buscarmos sempre aprender a amorosa gentileza, principalmente quando estamos encantados por alguém. Aprender a amar e a ser gentil está intimamente relacionado ao sentido do toque, que seria muito benéfico para a nossa humanização. Dar mais atenção a necessidade de experiências táteis, sentida por todos nós.  No entanto, a nossa sexualidade de certo modo é colocada de lado, ignorada como se ela não fosse importante para a manutenção da nossa existência.

Entretanto, o amor e a humanidade começam onde começa o toque, o contato físico, naquele intervalo de poucos minutos que se seguem ao nascimento. Ao chegarmos a esse plano físico, somos prontamente amparados pelo aconchego do toque epidérmico. A comunicação que nos é transmitida no momento do nascimento através do toque constitui o mais poderoso meio de criar relacionamentos humanos, como fundamento da nossa experiência. Capaz de ampliar nossa valorização do outro e do mundo em que vivemos e acima de tudo, de aprofundar nossa compreensão em ralação a eles.

Todavia, essa experiência do nascimento parece que teve um efeito colateral. Com o crescimento da indiferença ou o medo que sentimos do outro, vem surgindo uma nova raça de intocáveis. Tornamo-nos estranhos uns aos outros, não só evitamos todas as formas de contato físico ou carícias, como ainda vivemos precavidos contra essas pessoas. Somos mais um no meio dessa multidão sem rosto, entre esse amontoado de figuras anônimas, solitárias e temerosas de intimidade. Estamos todos diminuídos na mesma extensão. Devido o fato de sermos todos intocáveis, não conseguimos criar uma sociedade em que as pessoas se abracem e se toquem com admiração e respeito.

Portanto, quanto mais civilizado, mais distante e frio o ser humano permanece. Sobretudo, porque estamos cercados o tempo todo daquilo que mais desejamos e ninguém ousa se apropriar. Parece que ninguém tem a coragem de viver esse encontro com a divindade, através do outro. Estamos todos doentes por falta de proximidade, de abraços e trocas de carícia, extremamente fundamental para a nossa felicidade tântrica. Caminhamos a passos largos em direção destrutiva da espécie humana. Não nos juntamos em ação comum em defesa da vida de todos nós, tão ameaçada por tantos perigos. A pergunta é: por que nos afastamos tanto assim uns dos outros? De que doença sofremos? Por que negamos esse amor? Quanto mais educados, mais distantes e separados estamos. Contudo, amor não é o que faz a gente feliz. Amor é o que faz a gente se sentir vivo. Porque, o amor é o símbolo da nossa própria existência.  

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