23 de agosto de 2017

O AMOR É CEGO E A LOUCURA O ACOMPANHA

Certa vez reuniram-se todos os sentimentos e as qualidades dos homens em um lugar da terra. Quando o Aborrecimento havia reclamando pela terceira vez, a Loucura, como sempre tão louca, propôs-lhe: Vamos brincar de esconde-esconde? A Intriga levantou a sobrancelha, intrigada, e a Curiosidade, sem poder conter-se, perguntou: Esconde-Esconde? O que é isso? É um jogo, explicou a Loucura, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem e, quando estiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo.

O Entusiasmo dançou seguido pela Euforia. A Alegria deu saltos que acabou por convencer a Dúvida e até mesmo a Apatia, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos quiseram participar. A Verdade preferiu não se esconder. Por que, se no final todos a encontrariam? A Soberba opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a ideia não tinha sido dela) e a Covardia preferiu não arriscar. Então, a Loucura começou a contar. A primeira a esconder-se foi a Pressa que, como sempre, caiu atrás da primeira pedra do caminho. A Fé subiu ao céu, e a Inveja se escondeu atrás da sombra do Triunfo que, com seu próprio esforço, tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta. A Generosidade quase não conseguiu esconder-se, pois cada local que encontrava parecia-lhe maravilhoso para alguns de seus amigos: se era cristalino, ideal para a Beleza; se era a copa de uma árvore, perfeito para a Timidez; se era o voo e uma borboleta, o melhor era para a Volúpia. Se era uma rajada de vento, magnifico para a Liberdade. E assim acabou escondendo-se em um raio de sol.

O Egoísmo, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início: ventilado, cômodo, mas apenas para ele. A Mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira! Na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris). A Paixão e o Desejo esconderam-se no centro dos Vulcões. O Esquecimento, não recordou onde se escondeu, mas isso não era o mais importante. Quando a Loucura estava lá pelo 999.999, o Amor ainda não havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores. Um Milhão! Contou a Loucura e começou a busca.

A primeira a aparecer foi a Pressa, apenas a três passos de uma pedra. Depois se escutou a Fé discutindo com Deus, no céu, sobre zoologia. Vibraram a Paixão e o Desejo nos Vulcões. Num descuido, encontrou a Inveja e, claro, pôde deduzir onde estava o Triunfo. O Egoísmo não precisou ser procurado. Ele saiu sozinho disparado de seu esconderijo que, na verdade, era um ninho de vespas. De tanto caminhar, a Loucura sentiu sede e, ao aproximar-se do lago, descobriu a Beleza. A Dúvida foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado se esconder. E assim foi encontrando todos. O Talento entre a erva fresca, a Angústia em uma cova escura, A Mentira atrás do arco-íris (mentira! Ela estava no fundo do oceano) e até o Esquecimento, que já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde. Apenas o Amor não aparecia em lugar algum. A Loucura o procurou atrás de cada árvore, embaixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas.

Por conseguinte, quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos havia ferido o Amor nos olhos. A Loucura não sabia o que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia. Contudo, desde então, desde que se brincou de esconde-esconde na terra. O Amor tornou-se cego e a Loucura sempre lhe acompanha. Portanto, nunca devemos julgar as pessoas que amamos. O amor que não é cego, não é amor. 

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