3 de janeiro de 2020

FILOSOFAR JUNTOS É TÃO RARO QUANTO LINDO

Lendo um ensaio da psicopedagoga e mestre em linguagem escrita, Profa. Ana Macarini onde ela diz: “as palavras que escrevo não me pertencem. Elas são resultado da minha interação com o mundo. São células de mim, que morrem no papel e renascem nos olhos de quem as lê”. Achei isso fantástico de uma percepção poética incrível. Ela também acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas através de quem as lê. De fato há momentos em que as palavras são desnecessárias, descabidas, intrometidas. Entretanto, quando estamos ao lado de uma pessoa muito especial, como é bonito ver nos olhos dela um interesse vivo e autêntico pelo que temos a dizer.

Gosto de fazer amizades fecundas e duradouras com pessoas que comungam comigo os mesmos desejos. Como é lindo encontrar alguém que veja naquilo que dizemos do fundo da alma, como algo que ilumine, inquiete, provoque, derrube certezas e o desperte. É preciso que haja amor nos silêncios e no olhar de quem vos fala. Até porque, o pensamento é ainda mais fugaz que as palavras, podem nos abandonar sem aviso, caso não recebam de nós alguma genuína atenção. O pensamento voa, como voa o tempo quando estamos nos braços de alguém que nos ame e a quem amamos de volta.

Quando temos algo a dizer, sonhamos com a companhia de alguém que nos ouça, de alguém que nos ajude a pensar em voz alta, de alguém que nos ajude a traduzir as inúmeras línguas que habitam a nossa “Torre de Babel” particular. Encontrar nesse vasto e confuso mundo, alguém que se apaixone por filosofar com a gente, é tão raro quanto lindo. Dar ao pensamento as merecidas asas e deixar que essas asas toquem de leve as asas alheias, a fim de dar vida aos devaneios e interpretações das coisas profundas e tolas, é uma magia tão poderosa, que uma vez experimentada não nos permite voltar a algo menos intenso ou mais óbvio.

Portanto, compartilhar desejos e fantasias, tanto físicas como emocionais, é tão forte quanto sagaz. Oferece ao corpo a possibilidade de partilhar o afeto que aqueceu e o prazer que arrepia, a fim de dar vida a sensações esquecidas, é da esfera das coisas místicas, loucas, belas, que tendo feito parte uma única vez de nossa existência, faz acordar na gente a alegria que nos desperta de um sono com muitos sonhos. Contudo, conversar, filosofar e fazer amor, com a mesma pessoa, pode considerar uma trilogia perfeita. É daqueles presentes embrulhados em caixas inesperadas, envoltas em papel colorido e brilhante. Todos nós temos esse direito. É preciso acreditar na possibilidade desse sonho bonito se converter em realidade. É preciso estar desperto para reconhecer de olhos fechados que, isso sim, é uma relação afetiva de verdade.

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