18 de janeiro de 2020

TUDO É VAIDADE ONDE NÃO HÁ VERDADE

Muita gente vem afirmando, com maior ou menor sinceridade, que não tem a intenção de se comprometer de forma tão supostamente definitiva como propõe o casamento. Porque acostumou a viver sozinha e por isso preza muito que a sua liberdade e individualidade sejam respeitadas. Muitas pessoas não conseguem se imaginar casadas, mas também não querem se privar da prática divertida e prazerosa da paquera e da sedução. É bom lembrar que o casamento é uma invenção da sociedade patriarcal. O acasalamento é uma criação da natureza. Ambos promovem a união. Para os seres humanos, o casamento; para os animais, o acasalamento. A sensualidade e a sedução foi uma maneira que a natureza encontrou para aproximar as espécies.

Todavia, os principais apelos utilizados na sedução costumam estar sempre relacionados ao sexo. Mas por trás dessas intenções, que não são as segundas, mas sim as primeiras, quase sempre se escondem o desejo de realmente encontrar alguém especial e viver uma relação mais estável e menos superficial. E se engana quem vincula a ideia de sedução apenas à conquista. A sedução está presente em todas as etapas do relacionamento amoroso. Uma das frustrações da sedução ocorre justamente porque depois da aproximação, quando se efetiva a conquista, as pessoas passam a agir como se a outra não fizesse parte do relacionamento. E para onde vai a sedução quando o sexo acaba? Principalmente no casamento, que é o lugar onde menos se faz sexo. Há dezenas de estudos mostrando como vive a maioria dos casamentos.

Entretanto, a sedução não tem só conotação sexual, envolve também a amizade, o compromisso, companheirismo, ou seja, o relacionamento na sua totalidade. Por exemplo, na sala de relacionamento do Facebook, tem um link chamado “cutucar”. Sobretudo, porque mexe com o outro carinhosamente, estimulando a sedução. Bom para quem cutuca e bom para quem é cutucado. Temos uma sensação prazerosa de ser lembrado pelo outro. Como diz o poeta: “A lembrança é a memória do coração”. Todos sabem que a sedução está ligada a arte da criatividade. Nem todos usam dessa arte, e depois, reclamam que a relação está capenga e desinteressante.

Cultivar uma relação afetiva dentro do casamento é uma das tarefas mais delicadas e difíceis, pois não temos preparo algum para que essa situação seja melhor estabelecida  em nosso mundo. Quando a pessoa gosta, simpatiza, namora, acha que dará certo, às vezes vive vinte anos ao lado de um estranho com o qual nunca teve uma conversa clara e honesta. Eu diria que a arte de seduzir consiste em surpreender o outro eternamente, porque se você não abrir o olho, entra na rotina e desaparece. Você vira a poltrona da sala, ambos não se enxergam e não se olham na cara, quando um abre a boca, o outro já sabe tudo o que o outro vai responder. Uma monotonia infernal de ruim.

Entretanto, só acredito em amor que aparece no brilho dos olhos, no gesto e no modo de tratar o outro. Mas é bom reconhecer que a infinita maioria das pessoas não consegue isso. A situação de aprisionamento matrimonial quando vai se desfazendo cria, a meu ver, os piores sentimentos humanos, que se pode imaginar. A pessoa vai morrendo aos poucos psicologicamente. É um destino quase universal, feliz ou infelizmente.

Portanto, precisamos nos situar no mundo em que estamos, em vez de dizer que somos culpados, vamos dizer que o nosso regime de vida é uma monstruosidade. Somos todos vítimas e, ao mesmo tempo, todos cúmplices e apoiando os que nos vitimam. Na maioria das vezes, a nossa conversa sobre relacionamento é tratada superficialmente, pois uma das graves hipocrisias históricas do casamento é constatar que em quase todas as sociedades, todos são unânimes em dizer, que a felicidade no casamento é fundamental, mas é importante que se diga, que em todas elas havia relações extraconjugais em demasia. Então de que felicidade nós estamos falando? Do casamento ou das relações extraconjugais?   

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