12 de julho de 2018

SOMOS UM SER PELO OUTRO

Em meio às sociopatias atuais vai ficando cada vez mais difícil ver, no nosso próximo, um outro ser humano que se alegra e sofre, tem direitos e deveres, busca respeito e afeto como nós próprios. Vigora um trágico utilitarismo no qual, os outros seres humanos são predominantemente vistos como “objetos” mais ou menos úteis para que sejam manipulados. De modo que, nos últimos tempos têm sido marcados por múltiplas violências sociais que evidenciam assustador desprezo pelo valor intrínseco da vida. Assim, quando mencionamos grande parte das sociedades atuais como enfermas, não há nisto nenhum exagero.

Não cometerei a ingenuidade de pensar e afirmar que encontramos apenas essas tristezas em nosso mundo, pois apesar de tudo, eu mesmo tenho testemunhado atitudes e gestos de uma grandeza quase indescritível. Manifestações de puro amor caridoso a florescerem em elevados corações e mentes. Mas, segundo venho percebendo, essas maravilhas não constituem na maioria, e muito menos se pode dizer que sejam uma “norma social”. Já se disse que o amor continua a crescer teimosamente como o capim. De todo modo, numa espécie de diagnóstico de amplitude, nossa sociedade se mostram doentes e grandemente fragilizadas, marcadamente nas relações interpessoais.

Na sua maioria são pessoas que se constituem como vitimas, quando na verdade, elas próprias são os seus algozes contra o amor. São pessoas infelizes subjetivamente e não conseguem superar seus fracassos afetivos. Estão sempre se aventurando em novos relacionamentos, e sem nenhum sucesso. Não cultivam o diálogo e são imaturas emocionalmente. No entanto, somos um ser pelo outro, isto deixando claro que, sem o convívio com os outros, nenhuma pessoa pode desenvolver a sua “humanidade”, ficando esta, em caso de isolamentos radicais, apenas “potencial”. Na verdade, até mesmo para chegarmos à nossa identidade psicológica, temos a necessidade do espelho social, complexo e composto pelos demais humanos que conosco partilhem o viver.

Portanto, as relações interpessoais são necessariamente dialógicas, isto é, sempre pressupõem um “Eu” e um “Outro” que não podem querer ser a mesma pessoa, e que não devem querê-lo, pois que são as singularidades de ambos que enriquecem o diálogo. Lembrando, que o diálogo só se pode dar entre duas pessoas diferentes, mas que se enxergam reciprocamente e buscam falar uma à outra com densidade humana, para que a dialogia não se degrade em mero palavreado monológico. Como tantas vezes ocorre entre pessoas que falam dias e dias um ante o outro, mas nunca um para o outro como próximo. De modo que somos fortes e frágeis porque o amor vive da fragilidade, vive da ternura, da capacidade brâhmica de sairmos ao encontro do outro na expectativa que ele nos receba. É uma experiência única, dar um pouco da nossa vida ao outro. Contudo, só o amor nos toca profundamente, nos acaricia e se revela na gratificação sensual com o outro.

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