7 de setembro de 2021

POR QUE NÃO FALAR DA MORTE?

O período é o de refletir sobre a inexistência. Se falamos do que inexiste é porque antes existiu. E, se falamos do que existiu é porque se trata de algo com história, pois, havia uma “presença” em processo de existir e que finalizou sua marcha tornando-se, portanto, uma ausência. Trata-se de um fantástico movimento que acontece num percurso: nele se avolumam criação, invenção, pensamento, ensinamento e aprendizagem, transformação, sabedoria, fé e crenças, ações de bondade e de maldade, construções, conquistas e perdas, influências múltiplas, enfim, uma extensão de vibrações vitais ocorridas em todas as direções, manifestas através de incalculáveis significados.

Mas, quando tudo isso fenece?! Quando a ausência responde pelo o que antes fora existência, através de um imensurável vazio de indecifráveis sinais?! É quando a ausência se constitui num apagamento gradativo da existência, de tempos em tempos, lentamente, tal um fenômeno que se esvai, deslocando-se em direção à profundidade do espaço invisível, dissipando-se num adeus inaudível, desbotando o que possuía de mais intenso ... até o pleno fenecer. Diante de tal força ou impossibilidade de apreensão do que antes era nítido, compreensível, cristalino e indubitável, o único caminho constitui-se no debruçar conformado ao mistério da existência.

Por que a existência não se alia à ausência, garantindo a sua sobrevivência, mesmo que de outra forma?! Por que o existente não apreende o ausente; o que há de misterioso nessa passagem? O que existe nessa passagem?! Por que o ausente abandona irreversivelmente a existência, antes iniludível? Quando, de fato, o ausente se ausenta completamente, desligando-se de vez do mundo da existência e dos existentes? Que mundo é o da ausência? Por que, então, a existência torna-se parceira semântica da ausência e vice-versa? Por que a ausência mantém a essência da existência, permitindo que o perfil que antes existira ali permaneça com o cheiro, os trejeitos, as gesticulações e os sons emanados de um eterno buraco que seduz a nossa compreensão, tentando apreendermos esses restos? Qual é o significado desse mistério que envolve, invariavelmente, todos nós?

O fantástico desse fenômeno é que TODOS nos igualamos na ausência, embora na existência insistimos em nos agrupar segundo critérios inventados por nós, até mesmo perversos de exclusão. Ah, mas quando cada um de nós entrarmos no "buraco vazio da ausência", talvez sejamos brindados com um inimaginável abraço universal a despeito da vontade que cultivamos, dos infortúnios que nos distinguiram ou das honrarias devotadas a poucos. Quem sabe, simplesmente, encontraremos a paz infinita no nada.

(Texto de autoria da Filosofa e Educadora Profa. Dra. Leoni Maria Padilha Henning da Universidade Estadual de Londrina PR – Grato minha amiga por essa pérola)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...