31 de maio de 2021

AS ESCOLHAS AMOROSAS NO MUNDO VIRTUAL E REAL

Para encontrar um bom parceiro ou parceira, o melhor é começar usando a razão. Nesse sentido, os sites e aplicativos de relacionamento podem ser um caminho interessante. Os brasileiros estão entre os que mais usam o mundo virtual para se relacionar. Nos orgulhamos disso e, paradoxalmente, quando se fala em sites e aplicativos de relacionamento amoroso (não estou falando de sites eróticos), a maioria ainda reage de forma extremamente preconceituosa.

Encontrar parceiros pela via tecnológica é visto como vergonhoso e indício de incompetência para os encontros que deveriam acontecer na vida real. A explicação para essa rejeição específica deriva, creio, da visão que a maioria tem do amor. Acham que o amor, para ser verdadeiro, tem que acontecer por acaso, como se fosse uma mágica, fruto da “flechada do Cupido”.

Até hoje as pessoas o veem como uma emoção que tem que ser livre de qualquer fundamento lógico e consideram humilhante a interferência da razão; ela rebaixa a qualidade do encontro, que passa a ser um evento de segunda categoria. O problema dos encontros que começam na rua, nos bares, baladas ou por indicação de amigos é que muitas vezes o encantamento se dá em função de traços um tanto superficiais e que não têm nada a ver com o caráter ou com a essência do outro. Isso sem falar que muitas vezes o encontro ocorre de madrugada, regado a enormes doses de álcool.

Se num primeiro momento as moças parecem mais interessadas em envolvimentos sérios, a experiência mostra que, uma vez havendo a continuidade da relação, os homens são, ao contrário da crença geral, os mais românticos e se apaixonam mais facilmente, sem levar muito em conta os elementos racionais que permeiam a mente feminina (elas avaliam melhor as características da pessoa antes de se enamorarem).

Não por acaso, são os homens, e não as mulheres, que foram os responsáveis por quase toda a literatura romântica disponível. Segundo o psiquiatra e psicanalista Flávio Gikovate (1943-2016); dizia ele que com o tempo o homem, quando conhece melhor a parceira, muitos acabam se decepcionando. Percebem que se envolveram sem levar em conta os aspectos essenciais, como o caráter e a personalidade do outro. Quando a idealização inicial se desfaz e vem o choque com a realidade, muitos relacionamentos terminam.

É bom que tudo seja bem conversado; isso evitará discussões futuras e contribuirá de uma forma decisiva para um relacionamento duradouro e de qualidade. Os bons relacionamentos são aqueles em que ambos crescem, têm sua autoestima aumentada, que se tratam de forma carinhosa; e, acima de tudo, que respeitem as inevitáveis diferenças.

Tudo isso é racional! O curioso é observar que quanto maior as afinidades, maior a tendência para que o encantamento cresça. É nesse ponto que marcam os encontros no mundo real, condição em que entram em jogo os outros fatores, especialmente os de natureza erótica. Isso irá acontecer depois que a razão já avalizou a aproximação deles. De modo que falar em racionalidade no amor continua sendo uma blasfêmia.

Segundo pai da psicanálise o austríaco Sigmund Freud (1856-1939), refletiu sobre as escolhas sentimentais na sua “Introdução ao Narcisismo” (1914). Para ele as escolhas amorosas podiam acontecer de duas formas: “por oposição ou segundo o critério narcisista”. É quando estamos encantado por alguém. Caso essa relação venha a consolidar, sendo ela respeitosa não há lugar para as brigas ditas normais de um casal. Amor é paz, aconchego e companheirismo. Do contrário, é melhor ficar sozinho.

Portanto, os sites de relacionamento invertem as prioridades nas escolhas sentimentais. Se elas eram, principalmente para os homens, de baixo para cima (erotismo, aspectos sentimentais inespecíficos do tipo: “timbre de voz, jeito de andar, sorriso, etc”.) para depois pensarem na questão do caráter e das afinidades. Hoje eles contribuem para que os critérios sejam de cima para baixo: “aval da razão, depois o sentimental e finalmente o erótico”. Os três são indispensáveis, mas a margem de erro quando se começa a avaliação pela razão é bem menor. É claro que tudo isso também pode acontecer nos encontros no mundo real e que deveriam seguir o exemplo do virtual. Aliás, acho que falta muito pouco para que deixemos de pensar nas diferenças entre esses dois mundos.

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