15 de maio de 2021

OS SENTIDOS PERCEBEM E A INTELIGÊNCIA CONCEBE

A Filosofia nasceu no dia em que o homem tornou-se um ser consciente. O homem é verdade, foi sempre um ser intelectual, mas, em tempos remotíssimos, a sua inteligência se achava ainda em estado potencial, dormente, assim como a futura planta existe, em estado embrionário, ainda como semente.

O homem tornou-se o “filósofo atual” quando nele despertou a inteligência adormecida, embrionariamente, fenômeno esse que não se deu ao que sabemos, com nenhum outro ser deste planeta. A inteligência, como a própria palavra diz, é uma faculdade tipicamente humana. Por meio dela nós percebemos um secreto nexo ou vínculo existente entre as coisas individuais do mundo, aparentemente desconexas.

O ser dotado apenas de sentido orgânico, não percebe senão coisas individuais, concretas, geralmente classificadas como físicas ou materiais. Os sentidos só percebem a multiplicidade das coisas, mas não percebem nenhuma unidade no mundo. O homem, embora perceba também essa mesma pluralidade, objeto em seus sentidos, concebe por meio da pluralidade periférica e da unidade central do cosmos. No entanto, só conseguimos perceber a unidade dos fenômenos por meio da multiplicidade. Por conseguinte, sendo que a multiplicidade é periférica e aparente, e a unidade é central e real, só um ser que percebe a unidade pode entender a realidade do mundo. Pois o homem enxerga a realidade do mundo através das suas aparências, dos fenômenos naturais.

Perceber essa unidade do universo por meio da sua pluralidade é que é ser filósofo, isto é, philos = amigo, amante – da sophia = sabedoria. Quem experimenta essa realidade por meio das aparências, no centro do mundo por meio das suas camadas periféricas, é um filósofo, um amigo da sabedoria, portanto, um bandeirante da realidade, um pesquisador, ou mesmo um perseguidor da verdade. “Conhecereis a verdade – e a verdade nos libertará”. Palavras ditas por Jesus Cristo.

Segundo o filósofo e educador Humberto Rohden (1893-1981), somente por meio da posse da verdade é que o homem adquire a verdadeira liberdade. Quem vive na ignorância ou no erro é escravo. De maneira que a verdade, em Filosofia, torna o homem essencialmente livre. Os sentidos percebem a inteligência “concebe” – esse prefixo “com” indica uma ação em conjunto, supõe as coisas, entre as quais existe um vínculo que as une.

Humberto Rohden argumenta no livro: “O Pensamento Filosófico da Antiguidade” que os sentidos, por exemplo, percebem a existência de uma semente e de uma árvore, e nada mais. Essas duas coisas afiguram-se aos sentidos como dois seres inteiramente separados, desconexos, sem nenhuma relação ou nexo um com outro. Por vezes, os sentidos percebem que uma dessas duas coisas vem depois da outra, como a árvore vem depois da semente, igualmente a ave vem depois do ovo; isto quer dizer que percebem uma sucessão cronológica de fenômenos.

A inteligência, porém, verifica não apenas essas duas coisas interligadas pela percepção sensitiva, mas verifica, além disto, uma terceira realidade, um nexo lógico entre os dois primeiros; percebem, então, não a existência de ambos independentes entre si, mas também devido à existência do anterior. Em outras palavras, a inteligência possui a faculdade de descobrir que um ser é devido ao outro, de modo que o segundo deve sua existência ao primeiro. A sucessão cronológica é algo pessoalmente externo – o nexo lógico é algo interno.

Mais tarde, verificaremos que a sucessão cronológica é baseada na categoria de tempo e espaço, embora o tempo e espaço não se tornem um simples atributo ou modo de agir de nossos sentidos. Essa sucessão cronológica é meramente aparente, ao passo que o nexo lógico é profundamente real. Isto significa dizer que a inteligência descobre algo incomparavelmente mais real e verdadeiro do que os sentidos possam perceber. Desta forma, a percepção sensitiva é meramente evidenciada, de modo que a concepção intelectiva é real. Então, a metafísica é mais real que a física.

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