22 de setembro de 2019

ENVELHECER COM SABEDORIA É SER GRATO A VIDA

Vivemos uma grande transformação de costumes neste último século. A começar pela liberdade de ser e de se exprimir. Novos paradigmas estão surgindo, como a espiritualidade, o autoconhecimento, o afeto e a alegria. Somente nos últimos quarenta anos, a sexualidade deixou de ser negado, o que significa que essa temática também está ganhando terreno na maturidade.

Segundo a psicóloga, antropóloga e educadora Ana Perwin Fraiman, homens e mulheres mais velhos aprenderam muito mais sobre sexualidade do que erotismo. A sedução fazia parte do cardápio de conquistas nos bailes da vida, no piscar dos olhos, nos toques ligeiros e discretos, no tímido sorriso insinuante, no rastro de perfume deixado no ar. Muito diferente do erotismo de hoje, com a exposição explicita do corpo, usando aquele fio dental ou uma minissaia, em muitos casos, até o nu total. Nada contra, só um comentário.

Alguns homens mais velhos dizem apreciar um corpinho lindo desnudo de uma moça jovem, mas a maioria se excita muito mais com um decote insinuante ou uma nuca exposta daquela coroa enxuta, para ser levemente roçada por seus lábios quentes. Há uma gama considerável de mulheres acima de cinquenta anos, que não conseguem sequer imaginar tendo relações sexuais com outro homem, que não os respectivos maridos ou namorados, além de algumas mulheres que nunca folhearam uma revista pornográfica por questões morais ou porque sentem vergonha e não têm coragem.

Entretanto, há mulheres dessa mesma idade cujo casamento acabou e estão namorando novamente ou tendo um caso, por ser mais atrativo e menos desgastante. São mulheres decididas, buscando um novo parceiro, fazendo sexo e sentindo prazer, coisa que não sentia no casamento. Coisa do gênero, “primeiro a gente faz sexo, se der certo e a gente gostar continua, mas casar de jeito nenhum”. Curiosamente essa era uma proposta tipicamente machista e chegava a ser ofensiva para a mulher de outra época. Hoje temos uma grande variedade de situações, até as coisas ditas sobre o sexo, estão mudando também para as mulheres maduras.

Por conseguinte, a mulher madura busca um homem gentil, protetor se solicitado, que tome iniciativas e satisfaça alguns de seus desejos. Que seja responsável, atencioso, carinhoso e aceite carícia e as saboreie. Que saiba receber e se entregar, que viva o erotismo no corpo todo, cujo encontro não seja só sexo, mas também celebração. Essa nova mulher, quer um homem sensual, que lhe de prazer pleno e difuso, com o qual nasce para saber aproveitar a vida de várias formas, o que só acaba com a própria morte. 

Por outro lado, existe o homem maduro, que busca uma mulher ativa, segura, provocante. Traduzindo melhor, uma mulher gostosa, quente, que goste de ser apreciada, que goste do contato intimo, de dar prazer, que fica excitada quando juntos estão. Entretanto, são poucas e raras as pessoas que chegam a idade madura na plenitude, sabendo se abrir para a vida, dar e receber carinho, fazendo da sexualidade uma contra dança com seu parceiro, que se apreciam e se realizem, caso venham a se separar, sentem falta e até mesmo saudades um do outro.

Quando os amantes conseguirem colocar a sexualidade num plano maior, ligado à espiritualidade, isso ajudará as pessoas a se libertarem de seus medos, culpas e vergonhas, raivas e desesperos da solidão, tudo o que traz infelicidade e impedem a nós todos de amar verdadeiramente em qualquer idade. Se nós não curarmos primeiro de todas as feridas, não se fará a revolução da sexualidade humana. E não há como curá-las a não ser por meio de informações claras, de palavras cuidadosas, de toques amorosos. Ou seja, de verdades implícitas. E mais que isto, a verdade sobre o sexo e o prazer que ele nos da, a beleza, a liberdade e a alegria que ele nos provém em qualquer idade. Diz um provérbio oriental: “se mergulhas e não encontras pérolas no mar, não pense que elas não existem”.

Portanto, ao nascer o nosso corpo ainda não foi inscrito, no dizer do filósofo inglês John Locke (1632-1704), dizia ele: “a nossa mente é como uma folha de papel em branco, uma tabua rasa, que durante a nossa experiência no mundo, ele incumbiu-se de imprimir o conhecimento”. Com o passar dos anos a nossa própria história, a cultura, os desejos e a própria vida se escreveram. Para a antropóloga e educadora Fraiman, trazemos muitas biografias de uma mesma vida. Quase tudo o que foi possível lá está firmemente registrado no corpo e na mente. De modo que tal é a arte de envelhecer, que o sexo pleno, amoroso e maduro até parece saber e dominar a própria essência do ser humano.

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