25 de setembro de 2019

O DESPERTAR DO AMOR NA MATURIDADE

A própria dinâmica social e os referenciais ideológicos sobre o idoso, merecem uma revisão. Tendo em vista que as nossas crianças não brincam e nem estudam direito, na idade adulta enfrentam o terror do desemprego, além da maternidade desamparada e da paternidade irresponsável, e a nossa velhice ainda está por se construir, já que nem envelhecer com dignidade estamos conseguindo. Nas palavras da pesquisadora do departamento de Psicologia Social da USP, Ecléa Bosi: “ser velho em nossa sociedade é lutar para continuar a ser tratado como ser humano”.

Como é então, a sexualidade daquele que luta para sobreviver, levando em conta que é a mesma energia que nutre a vontade de prazer, a imaginação e a própria inspiração? Os mais recentes estudos, nos mostram que não é preciso envelhecer como estamos fazendo, nos maltratando. Levando em consideração algumas doenças naturais que são inevitáveis. Mas os estudos nos chamam a atenção para uma nova visão do homem, como uma somatória de déficits. No entanto, muito se pergunta se o amor e o sexo acaba com o envelhecimento. E quando é que começamos a envelhecer? Todavia, novas tendências científicas nos mostram que além do biofísico, o indivíduo é também psíquico e espiritual. Entretanto, pode-se viver muito com amor e praticando sexo com qualidade.   

Na abordagem comportamentalista, estímulo e resposta, o amor e o sexo não acabam enquanto o homem ou a mulher forem bem estimulados. Numa abordagem existencialista, depende do que o amor e o sexo significa para cada um dos parceiros. Mas para isso é necessário integrar a experiência humana em três principais níveis: o biológico, o psíquico e o espiritual. Aqui esbarramos numa questão muito séria e polêmica. O mundo ocidental não reconhece o sexo como modo de evolução da própria espiritualidade. Quando afirmamos que é nos braços da pessoa amada que encontramos o paraíso, que o beijo nos conduz a esfera celestial e que a perda desta pessoa nos faz conhecer a condição de alma penada. Essa é uma visão da filosofia oriental hindu, o Tantra.

É na experiência do amor que ascendemos igualmente ao sublime e ao medonho. E é no sexo amoroso, em qualquer idade que conhecemos a eternidade, a partir da própria temporalidade. A referência ao sexo amoroso está na prática tântrica, onde o mais importante não é o orgasmo, e sim o prolongar desse prazer, dando-lhe uma dimensão espiritual, que o idoso sabe muito bem como conduzir esse feliz momento de encontro com a divindade.

Diziam os mais antigos, que se você quer ser feliz, não se case. Mas se você quer fazer o outro feliz, então case. Entretanto, quando a gente é jovem, não tem o alcance e nem a consciência da grandiosidade desse conselho. É somente com a experiência da idade, com a maturidade, que passamos do processo jovem, criativo e produtivo, para o processo maduro de introspecção e sabedoria existencial. Serenidade, paciência e bom humor, alegria e felicidade a cada encontro passa a ser a paragem pelas quais vagueia a nossa inteligência e com ela a nossa sexualidade. Sabedoria milenar.

Portanto, nesse encontro com o outro, a própria vivência da alegria e da beleza, é uma grande carícia, um tocar prazeroso, o sentir o coração pulsar e acima de tudo o olhar nos olhos um do outro, vendo refletidas as almas em êxtases. Prazer intenso no corpo, na psique e na alma. A certeza de ser divino, como ser humano. Contudo, o homem maduro passa a pensar com o coração, a fazer sexo com o corpo todo e com a mente no aqui e agora. Pois, na plenitude do prazer do encontro, experimentamos o paradoxo e o milagre da vida, do nascimento e da morte. Cada encontro é um renascer. Cada orgasmo é um morrer. Somos o milagre da vida. Entre milhares de espermas mortos, você está vivo para cumprir esse processo que é o ciclo da vida. Nascer, viver, envelhecer e morrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...