11 de abril de 2021

PRECONCEITO É PRETEXTO PARA AGRESSÃO GRATUITA

A escravidão é uma das feridas mais podre da humanidade, invariavelmente legitimada. Imaginem só, com o pretexto de que os escravos eram inferiores, sendo um pouco mais do que os animais. Vejam que amontoado espantoso de loucuras agressivas cometidas inteiramente dentro da lei, da moral e dos bons costumes das pessoas que se dizem ser do bem. Costumamos dizer que se brigamos é porque temos motivos, porque o outro fez, ou disse algo de ruim sobre minha pessoa.

Por vezes é verdade, mas em muitas outras situações brigamos, condenamos ou criticamos porque somos inerentemente agressivos e por isso, inventamos razões para poder agredir o outro, salvando assim a nossa culpa. Principalmente para poder agredir com aquela sensação de que estou fazendo um bem para o outro, coitado, porque ele está errado; então é o meu dever e me cabe ensiná-lo, por bem se possível ou por mal se necessário.

A agressão está no coração, na boca e na cabeça de todo mundo o dia todo. Quase sempre temos dois comportamentos e duas opiniões: quando em presença, a maioria das pessoas consegue ser mais ou menos “bem-educada”, manifestando um mínimo de gentileza, dando alguma atenção. Parece até uma dança social ensaiada.

Mas quando você vai comentar sobre essa pessoa com outra, na ausência da “vítima”, quase sempre somos maldosos, insinuamos a atuação de motivos pouco louváveis, tendemos a interpretar modos e fatos pelos seus aspectos menos confessáveis. Não somos nós, são os outros que estão cheios de defeitos, mal-educados, sem escrúpulos, interesseiros e egoístas. Buscamos mil adjetivos para depreciar ou diminuir o outro e no mesmo ato, nos glorificamos pelas virtudes opostas a tantos defeitos apontado no outro.

Desse modo, caso não faça nada fora de mim contra o outro, na certa, acontecem coisas muito ruins comigo. A raiva contida é uma das principais causas das doenças psicossomáticas, em particular da hipertensão arterial. Até podemos continuar a culpar o outro, exatamente como sempre fizemos, mas o mundo só começará a se fazer humano quando entendermos que também não somos perfeitos e que temos nossa parcela de culpa. Pois, na teia da vida, há uma complexa interligação entre o “eu e tu”, que nos fazem humanos e responsáveis pelos nossos atos.   

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