5 de março de 2011

O CIÚMES ENFRAQUECE O AMOR

Estar junto de alguém é uma arte por demais de difícil em nosso mundo, com nossa grosseria psicológica e total falta de apoio cultural para as atitudes de convívio e interação. Penso que a pessoa amada é, entre outras coisas, um símbolo do outro ou de todos os outros. Quem está amando, sabidamente trata bem os demais; e quem está mal amado envenena todos os ambientes para onde vai. Na verdade o amor é o sentimento concreto da solidariedade humana.
Mas o que espera de nós o mundo? No mínimo que sejamos solidários e amorosos com nossos semelhantes. É interessante perguntar quanta energia psicológica está sendo consumida por homens e mulheres que tentam viver em seus casamentos atrás de uma máscara, recheada de crueldades e ciúmes. Uma das coisas que a psicologia nos ensina é que o indivíduo muito ciumento, geralmente é aquela pessoa muito reprimida, pouco espontânea, pouco confiante em seu próprio valor. Não raro apresenta-se como pessoa cheia de culpa e muito rígida em seus valores e por  conseguinte, torna-se muito controladora.  
Pode-se dizer que o ciúme é uma animada aventura policial, na qual o bandido, o cafajeste, é a pessoa amada. Se não fosse trágico seria cômico. Quem se declara juridicamente vítima, na verdade comporta-se como detetive e promotor, não raro com interrogatório sob tortura psicológica ou física, ameaças claras, desconfianças de uma pessoa com a qual vai continuar vivendo até não sei quando.
O ciúme é o pior sentimento da humanidade, porque ele impede a generalização do amor. Uma das raízes do ciúme é a possessividade, o pensar, sentir e comportar-se como se o outro fosse minha propriedade, um objeto possuído. O que nem sempre se esclarece é que esta posse quase sempre é recíproca. O “policial” manda e o “bandido” obedece. Fica implícito que um é propriedade do outro. Não sei como dizer de modo decente estas coisas. Não é o ciumento um verdadeiro senhor de escravo frente àquele de quem tem ciúmes? É seu dono, pois determina seu comportamento. O outro tem sobre mim o poder que eu permito ou desejo que ele tenha. Como dizia o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre: “Só existe senhor onde existem escravos”.
Aceitar que meu amor possa não estar me amando neste momento é um alto índice de maturidade afetiva. Afirmam alguns psicanalistas que o ciúmes é uma manifestação cultural de nossa inibição de agressão. O ciumento tortura a quem diz amar. Dos crimes passionais, nove em dez são por ciúmes. O ciúmes tem tudo a ver com o ódio. O ciumento com o seu controle, consegue afastar cada vez mais a quem diz amar. É um torturador do outro e de si próprio. Se alguém disser que seu ciúmes é sinal de amor fuja desse amor como se fosse o demônio.
Desejar a companhia de uma pessoa querida, pedir por essa companhia, tentar prolongar a companhia fazendo-me o mais simpático possível, tudo isso parece bom. São tentativas legítimas de conservar ou conseguir o que desejo, preciso ou quero. É uma tentativa de conquistar o que me importa do jeito que for desde que esse jeito não afaste a pessoa de mim.
Portanto, no momento em que começa a restrição, começa a agressão e o distanciamento. Quanto mais o ciumento fecha a vigilância, mais cresce no seu companheiro o desejo de se livrar desse vigilante. Quanto mais cresce na vítima o desejo de livrar-se, mais cresce no ciumento a necessidade de controlar. Permitir que o comportamento do outro seja a causa do meu desconforto emocional é de uma infantilidade sem tamanho.

6 comentários:

  1. Professor Eduardo Morais, parabens por suas publicações.

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  2. Concordo plenamente com vc em tudo o que disse,
    jamais permitirei uma relação desse tipo novamente em minha vida.
    As vezes em momentos de loucura entramos em relacionamentos que não tem nada com a gente, mais o mais importante é estar consciênte disso
    e tentar sair nos primeiros sinais de cíumes.
    beijos

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  3. Olá Mauricio e Ruth, obrigado pelo apoio. É muito bom tê-los como meus leitores, analistas e criticos. Fico feliz de encontrar pessoas que cultivam o habito da boa leitura, assim como vocês. Meus parabéns quero sempre vê-los por aqui, analisando e dando sugestões. Abraços!

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  4. Depois do que conversamos hoje, e diante do que li, tenho que rever meus conceitos...adorei, gostei tb do comentario da Ruth, e faço delas minhas palavras...bjkas Lucia

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  5. Eduardo, se tratando do ciúme de uma mente conturbada, não resta dúvida o poder da crueldade humana, porém mesmo na maturidade quando de um relacionamento isso vem ocorrer não é o outro o problema, penso EU, mas sim o fato da falta de uma analise mais profunda do nosso próprio EU, afinal se estamos bem resolvidos em nós, nada nem ninguém pode tornar-nos inseguro, e qualquer desconforto é um sinal de alerta para uma imediata introspecção.
    Você é o problema, não o outro, afinal por que permanecer numa relação de desconforto?
    Parabéns pelo seu blog, adorei.

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  6. Anônimo23:40

    lindo,verdadeiro pois o ciumes realmente,ja me afatou de quem dizia me amar.parabens...

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