28 de março de 2011

AMOR E SEXUALIDADE

Para falar das dimensões psicológicas da sexualidade, é importante em primeiro lugar compreender o que quer dizer a palavra sexo. A palavra “sexo” vem do latim, “sectum” que traduzida etimologicamente para nossa língua quer dizer “dividido”, “parte”. O ser humano é sexo, isto é, um ser dividido, parte. Portanto, homem e mulher são metades. Uma metade mais outra metade fazem um inteiro. Daí o sentido do texto bíblico: Deixará o homem (pai e mãe) unir-se a sua esposa e serão dois numa só carne.
No entanto, toda parte tem uma função e um desejo. A função é completar a outra parte; e o desejo é ser completado pelo outro. Somente satisfaz o desejo quem cumprir primeiro a função. O sentido do amor no casal é o de amor doação. Decorre disso que a felicidade da mulher não é a preocupação dela, mas sim ocupação do homem e vice-versa. Estarão os dois cumprindo a função, conseguindo com isso satisfazer o desejo. Devido ao sentido amplo da palavra sexo, todas as relações entre um e outro sexo são obviamente, relações sexuais. Uma dessas é a relação genital. Por essa razão, se encaixará a relação genital. Entretanto, se todas as outras relações sexuais não forem satisfeitas (afeto, carinho, ternura) também não se encaixará a relação genital-sexo no sentido estrito da palavra.
O sexo, então, é complemento e consequência do afeto, entendido aqui como qualquer demonstração de amor sem contato de pele. Como disse a psicóloga Jereny Nasser: “A sexualidade é uma força vital que invade todo ser; é como um rio cujas águas poderosas energizam a personalidade. Mas, se esse rio for barrado, tiver seu curso impedido, fatalmente haverá alagamentos e surgirão desvios e bloqueios”.

A sexualidade é o coração da vida. Se seu desenvolvimento for lesado, todo desabrochar da personalidade será atingindo, e prejuízos nas diversas áreas se registrarão. Se admitirmos como premissa maior que a educação sexual é dada basicamente em casa, pelo exemplo dos pais, podemos concluir tranquilamente que sua adequação depende essencialmente do entendimento entre marido e mulher. Mas acontece que o homem brasileiro geralmente desconhece os aspectos mais elementares da psicologia feminina. E vice-versa; a maioria das mulheres não sabe como é importante que o homem se realize plenamente no campo sexual. Ele ignora, por exemplo, que deve ser também o namorado dela; e ela desconhece que deve ser também a amante do marido.
Na prática, quando ele começa a beijar a mulher é porque vai haver uma relação genital, depois, apagará a luz e dormirá roncando, enquanto ela fica esperando inutilmente uma manifestação de carinho, um gesto que traduza afeto. Dizer simplesmente que está cansado pelo o trabalho estafante daquele dia e que trabalha por causa dela é uma farsa. As pessoas trabalham porque gostam de trabalhar ou porque precisam disso para sobreviver.
Cabe perguntar agora: quantos jovens vêem em casa manifestações frequentes de amor? Pais que se beijam, se abraçam, andam de mãos dadas e demonstram fisicamente seu carinho um pelo outro? Que ideia pode ter se pai e mãe não se toca e aparece um irmão menor? Será que o sexo é algo vergonhoso, que os gestos de amor só devem ser feitos às escondidas?
Outra manifestação de ansiedade dos pais, no que diz respeito ao sexo, ocorre frequentemente diante da nudez. Há certa fase, na vida da criança, em que sua curiosidade para conhecer o corpo dos pais é incontrolável. Se os pais conseguem permitir que ela os veja com tranquilidade e naturalidade, a criança esquece que estão pelados. Mas se reagirem de maneira agressiva, dando broncas, ai sim se cria um problema: “Não devem esquecer, porém, que já estão educando sexualmente o filho". E o que estarão transmitindo à criança? Uma visão de que o corpo é algo vergonhoso, sujo e que não deve ser exposto.
Portanto, se tivermos uma vida sexual tranquila e sem ansiedade e fomos capazes de resolvê-las com naturalidade, estaremos educando sexualmente nossos filhos. O método dialético parte da compreensão de que as coisas e os seres existem em permanente transformação, entrosados uns com os outros. Só poderemos compreendê-los de modo correto se levar em conta, desde o inicio, as suas relações recíprocas.

Um comentário:

  1. Esse texto é excelente! Retrata bem a realidada da maioria das famílias brasileiras, pelo menos do início do século passado, por isso mesmo, vivemos hoje, grande dificuldades com a educação, pois os jovens querem dar aos filhos o que não tiveram, não receberam, mas não sabem como fazê-lo, pois não tiveram a experiência. De que vale a teoria sem a prática?

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