11 de março de 2011

EVOLUIR PARA AUTO ESTIMA

O homem da pré-história vivia nos bosques, provavelmente nas árvores, a maior parte do tempo, devido à presença de animais selvagens. A alimentação básica consistia apenas em algumas caças, raízes e frutos. Com a descoberta do fogo o homem tornou-se independente do lugar e do clima.   Já cozinhavam, afugentavam animais, iluminavam as suas cavernas, pois davam-se ao luxo de ter um lugar fixo.

Um belo dia, o homem por acaso plantou e descobriu que obteria resultados na colheita do que plantasse.  Essa descoberta facilitou ainda mais sua vida. Porém, aumentou a chance de sobrevivência. Deu-se início a uma Era pioneira para a humanidade. A agricultura foi introduzida neste período. O homem gostou tanto de plantar e colher que fez disso sua atividade principal, durante oito mil anos, aproximadamente.
Na segunda metade do século XVIII, iniciou-se na Inglaterra um conjunto de transformações econômicas, sociais e tecnológicas. Surgia a era industrial. Através das máquinas para o transporte e produção em larga escala o homem sofreu uma profunda transformação interior. Houve uma grande mudança no conceito de tempo e espaço. Principalmente na revolução do cérebro humano este, não veio para enaltecê-lo, mas mostrar que a existência é um processo difícil, amargo e angustiante. Segundo Sartre “o homem está condenado a viver, a ser livre. Porque o homem nunca é algo já constituído essencialmente, mas a cada momento ele vem a ser aquilo que ele se torna. Por ser livre que o homem se sente só e desamparado”. Este e a solidão agregam uma responsabilidade total, porque não podemos dividir com ninguém a tarefa de nos tornarmos nós mesmos.              
Uma nova e profunda reestruturação no processo da sobrevivência e evolução em relação ao homem aconteceu, há mais ou menos quarenta anos ao surgir à informação. A dinâmica do tempo e espaço tornou a vida ainda mais agitada. O homem perdeu a conexão com o seu Eu interior. Segundo o filósofo, Regis de Morais num texto intitulado: “Ciência e Perspectivas Antropológicas Hoje”, da obra Construindo o Saber. “O que vemos hoje se parece a um homem imaginário como se houvesse crescido muito de uma perna, sem que a outra perna o acompanhasse também. Imagina-se este homem em equilíbrio? Impossível. A humanidade ocidental cresceu muito científica e tecnologicamente, mas em termos espirituais ela continua atrofiada. Chegaram a grandes aperfeiçoamentos os expedientes científicos e técnicos e a qualidade interior do homem não sofreu quase que aperfeiçoamento nenhum”.

É impossível entender a humanidade sem conhecer os problemas que ela enfrentou em conjunto, na história evolutiva da espécie humana, como também é impossível entender cada ser humano sem conhecer a sua história, seus problemas que enfrentou durante a vida. Uma coisa, todavia, deve ser lembrado: as características humanas são muito parecidas em essência entre todos os seres humanos, variando apenas o seu resultado prático na vida de cada um.                                                     
Conforme afirma Jean Jacques Rousseau, o ser humano é por natureza, bom, mas a sociedade o corrompe gerando desigualdade social, escravidão, violência e tirania. Ele questionava a crença no progresso contínuo da humanidade. Contudo, essas duas premissas colocam uma questão muito séria.   Somos um projeto de humanidade, isto é, em formação e não saberemos se alcançaremos algum dia, o adiantamento e totalidade nestes termos. Como disse o filósofo francês, Michel Foucault: “O homem é uma invenção recente e já fadado a desaparecer”.

Argumenta o médico e escritor, Lair Ribeiro “muitas vezes pensamos que o mundo não nos trata do modo como merecemos e culpamos a sociedade, o governo, os amigos, os pais, os parentes, o sócio, o patrão, pelas nossas falhas e desilusões. No entanto, a verdade é que o modo pelo qual o mundo nos trata é um reflexo de como nos tratamos a nós mesmos. No momento em que você passar a gostar mais de você, o mundo reagirá e lhe recompensará pela sua existência”.
O rabino Harold Kushner, conta na obra: ”Quando Coisas Ruins Acontecem Às Pessoas Boas”, a história de um sobrevivente do Gueto de Varsóvia e do Holocausto, Martin Gray que escreveu sobre sua vida em um livro intitulado: “Por Aqueles que Eu Amo”. Ele relata como, após o Holocausto, reconstruiu sua vida, teve sucesso, casou-se e criou uma família. A vida parecia boa depois dos horrores do campo de concentração. Mas certo dia, contudo, sua esposa e seus filhos foram mortos por um incêndio na floresta que destruiu sua casa no sul da França. Gray ficou arrasado, levado até os limites de sua sanidade por esta tragédia suplementar. Os conhecidos insistiam em que abrisse um inquérito para apurar as causas do fogo. Em vez disso, preferiu aplicar todos os seus recursos em um movimento para proteger a natureza de incêndios futuros. Explicou que um inquérito, uma investigação focalizaria apenas o passado, resultando em dor, aflição e censura. Ele desejava concentrar-se no futuro. Um inquérito o colocaria contra outras pessoas. “Alguém foi negligente? De quem foi à culpa?” E, ficaria contra as outras pessoas, dedicando-se apenas em encontrar um vilão, acusando outros de serem responsáveis pela sua miséria, solitário que era, acabaria mais solitário. A vida, concluiu ele, “tem que ser vivida em função de alguma coisa, não contra alguma coisa". Agora que isto me aconteceu, o que vou fazer?
O que lhe aconteceu, serve apenas para que você reaja a esse acontecimento. Esta indagação abre as portas para o futuro e melhora a auto-estima. Cada pessoa pode se lamentar por algo que lhe tenha acontecido pelo resto da sua vida, fará dele um verdadeiro aprendizado, um trampolim para vôos mais altos na sua existência ou estará fadado à infelicidade crônica. Como dizia Sócrates: “A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida”.
Na Europa realizou-se uma entrevista com milhares de pessoas com 65 anos em média e só 25% dessas pessoas disseram que estavam “felizes”. As outras se consideravam “vítimas”. É esse o sentido da vida? Continuar a viver até o ponto em que acabaremos vítima?
Há muita gente que anda por aí falando de morte, desespero e sofrimento. Se quiserem isso, pode encontrá-lo em qualquer lugar. Leiam os jornais. Liguem os aparelhos de TV. Ou podem preferir dizer que a vida é boa, a vida é bela, vamos festejá-la. “A vida é a qualidade que distingue um ser vital de um ser morto”. Há uma porção de gente morta por aí, verdadeiros cadáveres ambulantes.
O que é viver? É o espírito estar satisfeito consigo mesmo. Isto é viver. O espírito é a sua fala. Sua fala deve estar se verbalizando e se expondo publicamente, mas não confusa e sim convicta, conforme os valores que você reconhece como corretos, justos igualitários e prazerosos.
O problema é que, enquanto vocês deixarem suas vidas nas mãos de outras pessoas, nunca hão de viver. Você tem que assumir a responsabilidade de escolher e definir a sua própria vida. Temos sentimentos maravilhosos e loucos, e não agimos de acordo.
Temos medo de viver a vida e, portanto não experimentamos. Não vemos. Não sentimos. Não arriscamos. Não nos importamos. Portanto, não vivemos, pois a vida significa estar envolvido ativamente. A vida significa sujar as mãos. A vida significa saltar no meio de tudo. A vida significa saltar de cara no chão. A vida significa ir além de si mesmo, até as estrelas.
As pessoas podem estar se perguntando, se a vida é assim tão formidável como é que temos a morte, a dor, o sofrimento, todas essas coisas negativas? Por que as crianças sofrem? Por que há assassinatos, estupros e guerras? Por que?
Eu não sei por que a morte. Eu queria que não existisse, mas não sei por que a dor. Se eu passasse a vida querendo respostas a essas coisas, eu nunca viveria. Mas digo que de fato conheço um pouco da vida. Há uma coisa chamada alegria, pois a senti. E há uma coisa chamada loucura maravilhosa, por que a vivi. E sei que há uma coisa chamada amor, pois já amei.
Uma das coisas que sei é que você pode se dar a essas coisas. Pode criar essas coisas. Durante toda sua vida você recebeu. Você se tornou você. Você aprendeu a ser você. E tudo o que se pode aprender, pode ser desaprendido e reaprendido de modo novo.
Assim, se você quiser ser qualquer coisa que desejar, poderá sê-lo, desde que esteja disposto há sofrer um pouco, há lutar um pouco e trabalhar um pouco por isso, pois não vem naturalmente. É preciso trabalhar por isso. Está tudo aí.
Gosto de pensar no dia em que nascemos e recebemos o mundo como presente. Uma caixa maravilhosa amarrada com fitas incríveis. E algumas pessoas nem se dão ao trabalho de desatar a fita, quanto mais abrir a caixa. E, quando abrem a caixa, só esperam ver a beleza, o assombro, o êxtase. Ficam surpreendidas ao verem que a vida também é dor e desespero. É solidão e confusão. Tudo faz parte da vida.
Somos uma parte importante do processo dinâmico, mas, como todas as outras coisas, estamos apenas de passagem. Nascemos provincianos, egocêntricos, limitados. Quanto mais nos tornamos, mais universal é a pessoa que somos. Afinal, compreendemos que a maioria dos conflitos humanos nasce através do nosso provincianismo, preocupação com os problemas pessoais, interesses egoístas, e nossos próprios conflitos.
A maioria de nós define um bom dia como aquele que todas as coisas aconteceram como queríamos. Consideramos a verdadeira vida como uma em que nossos sonhos pessoais se realizaram. Não nos preocupamos se milhares de pessoas vão para cama, todas as noites famintas e desesperadas, contanto que elas se mantenham longe de nossos olhos e nos deixem em paz. Não nos importa se as crianças do mundo estão sendo espancadas ou não são instruídas adequadamente. Nossos filhos estão plenamente desenvolvidos e vão indo bem e não temos responsabilidade pelos outros. É somente quando crianças famintas nos agridem para roubar, ou somos maltratados ou aterrorizados em nosso lar, que compreendemos a vinculação de todas as coisas. Não há lugar para se esconder. Ninguém é culpado, todos somos inocentes em um curso sempre mutável, pelo qual cada um de nós é responsável.

Portanto, é uma ilusão acreditar que a paz existirá sem todos se moverem juntos com a corrente, em união, alegria, admiração e amor. Cada um respeitando o seu semelhante e todos cuidando da boa convivência em sociedade. Só assim vamos melhorar Auto-Estima e crescer nesse Projeto que chamamos de Humanidade.

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto. Digo-lhe que o que mais me incomoda á justamento a primeira parte do último parágrafo. Fui, sou e creio que continuarei a ser sensível demais a ponto de permitir que o descaso da humanidade com o próximo me atinja. Você tem uma receita para isso? Se tiver,por favor me envie. Palavras, palavras você não acha que é muito mais fácil dizê-las que colocá-las em prática? Gostaria muito de aprender.......

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