9 de março de 2011

OS COSTUMES SOCIAIS

      São os costumes sociais que determinam as relações familiares e as influenciam, a ponto de torná-las em muitos casos, insuficientes para manter uma estrutura firme e íntegra. É comum o casamento religioso ser desejado pela família por simples condicionamento social. O cerimonial costumeiro, as flores, a música, o vestido de noiva, presentes, etc. A religião por sua vez nos obriga a preservar esses costumes e padrões morais.
      Na presença do padre ou do pastor, momentos em que são feitos juramentos sérios, e atingirem o tão almejado “serão felizes para sempre”. Como posso afirmar esta ligação para sempre, se nunca convivi antes de perto com essa pessoa? Como diz o poeta Caetano Veloso, numa de suas melodias, ”que de perto ninguém é normal”. Na verdade, o mal não está no casamento e, sim nesta ligação obrigatória, que é falsa. As pessoas com o passar do tempo não sentem mais a mesma união, acostumam-se, ficam indiferentes, não percebem mais o outro, passam a viver uma vida sem graça, desagradável para ambos. Quando chega a este estágio, os indivíduos começam a procurar o que os tornam felizes. Talvez, quem sebe preencher esse vazio permanente.
      Nesses casos, ao termino do amor, a relação conjugal torna-se uma cadeia fria, uma convivência marcada de obrigações, um não percebe mais o outro. Estudos sobre o comportamento humano têm demonstrado, que uma vida sem graça, sem amor, onde não existe um sentido, produz doenças. Por que se deixar de amar, observa-se que começa a odiar? Por que tenho que persegui-lo se não ama mais? Ou então, sentir-se culpado? Ninguém poderá culpá-lo porque ama ou deixou de amar. Se tiver cuidado com o amor, talvez ele dure um tempo. Se houver descuido, certamente acabará bem depressa.
      As pessoas realmente se divertem com pouco sentimento, pois não resolvem as situações com maturidade, e de forma sentimental. Ninguém pode garantir que amará o outro a vida inteira. Quem pode fazer esta promessa? Ao acabar o interesse entre duas pessoas, nem por isso, precisam se maltratar. É o que ocorre com inúmeros casais. Quando chega a presente situação, pensam existir outra pessoa. Há casos muitas vezes em que não existe outra pessoa. Não precisa interessar-se por outra pessoa, para deixar de amar. O amor pode acabar simplesmente. Na verdade, o nosso amor é uma miséria e achamos que é um grande amor. Este sentimento serve para provocar brigas, ciúmes e magoar o outro.
      Nossos costumes sociais é uma catástrofe, um horror! Basta ligar a televisão em qualquer canal aberto ou abrir os jornais, para perceber que mundo louco é esse em que vivemos. A incapacidade humana de viver em harmonia com o seu semelhante.
      As pessoas não associam ideias. Elas vêm com opinião formada e transmitem o que aprenderam sem pensar duas vezes em seus atos. O que chamamos de homem normal é um sonâmbulo, que atua automaticamente. Inicia seu funcionamento pela manhã e assim permanece até a noite, sem se dar conta do que fez durante o dia. Parece não querer acordar para o que está acontecendo ao seu redor. Precisamos pensar ao contrário. O ser humano parece viver fora da realidade, refletir não sabe em que, agindo automaticamente, falando não sei com quem, conversando consigo mesmas.  Basta olhar para as pessoas transitando pelas ruas das metrópoles, principalmente se estiverem sozinhas. Estão muito próximas de cadáveres ambulantes, não têm nenhuma consciência de si e nem da sua circunstância.
      Os nossos costumes sociais são indivíduos bem adaptados, feitos para andarem no trilho como formigas (com todo respeito às formigas), até a morte. Se alguém descobre um atalho e sai do trajeto, todos o condenam. – Para ilustrar cito à alegoria do Mito da Caverna, descrita por Platão para explicar a evolução do conhecimento. Segundo ele, a maioria dos seres humanos se encontra como prisioneiro de uma caverna. Se escapasse e alcançasse o mundo luminoso da realidade, ficaria livre da ilusão - que é um bom exemplo para esses prisioneiros que acham que conhecem a realidade. E principalmente, para aqueles que se incomodam com quem pensa, questiona e tem a coragem de seguir seus ideais. Já imaginou se Alexander Fleming tivesse deixado de seguir seu ideal? Pessoas continuariam a morrerem infectadas por falta de antibióticos. Estariam pagando com a vida e o sofrimento pela omissão de uma pessoa que faria uma grande descoberta para a humanidade.  
      O escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, falecido em junho de 2010, argumenta no seu livro “A Caverna”, o quanto deixamos para traz uma coisa que levou centenas de milhares de anos para formar, que chama- se “pensamento”. Segundo Saramago, antigamente a mentalidade das pessoas era formada numa grande superfície chamada catedral, assim como também nas igrejas, seminários. Mas, sobretudo, nas catedrais. E hoje a mentalidade é formada em outra grande superfície chamado Shopping Center. Entretanto, é o único espaço público que podemos encontrar ainda um pouco de segurança, divertimento, restaurantes, bancos e algo para comprar. Um verdadeiro espetáculo de sombras e ilusões. Para Saramago, curiosamente estamos a voltar a viver por onde começamos a centenas de milhares anos, nas cavernas. É como ele descreve os Shoppings de hoje, semelhante a uma grande caverna. E o mais grave é que esse centro comercial chamado de Caverna por Saramago representa o capitalismo destruindo as relações humanas, tornando as pessoas prisioneiras do que consomem. O mundo no exterior tornou-se inseguro e a única saída que restou é o Shopping Center. Estamos novamente presos na caverna da globalização econômica.  
      Contudo, parecem ser os costumes sociais a ditarem as regras em nossa sociedade. As pessoas não deveriam pensar desta forma, mas são frutos e vítimas dos próprios costumes, que é interpretado erradamente como cultura.  

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