27 de março de 2011

FALTA ÉTICA E SOBRA PRECONCEITO

Aprendi na literatura, que quando se quer conhecer um fenômeno, faça a historicidade dele, isto é, um levantamento histórico. Quando se tem o conhecimento, temos um sujeito ético. A ética nasce com o conhecimento e o preconceito cresce com a ignorância.  

Qual a diferença entre o sujeito ético e o mais comum dos mortais? Nós os mortais, vamos seguindo o nosso caminho olhando as coisas como nos ensinaram a ver. Enxergamos os fatos com a ótica do outro.  Observamos o que as palavras nos fazem ver. Empregamos mal a palavra, falamos o tempo todo sem pensar no que estamos falando. A palavra é ambígua, porque limita o pensamento.  Segundo Paul Ricoeur, através da palavra, torna-se presente o que está ausente.  

Entretanto, falta sobriedade, clareza e espírito crítico para muitos dos mortais. Temos uma tendência a dar muitas respostas para poucas perguntas. E com isso estamos a todo o momento destilando os nossos preconceitos contra o outro.

Para ilustrar vamos usar a palavra prostituta. Já que prostituta é somente uma palavra, um conceito e tem uma função social abominável, só podemos olhar para a prostituta com desprezo e horror, talvez encontre alguém que tenha compaixão, como no caso de Jesus e Maria Madalena, com raras exceções. Jamais admitiremos que ela possa se sentir bem fazendo o que faz. Jamais descobriremos que a prostituta é uma pessoa, isto é, que ela tem muitos outros aspectos além de ser prostituta.

Se um belo dia a prostituta viesse a nos olhar com muita ternura, certamente ficaríamos perturbadíssimos com seu olhar, e mais ainda com o que ela despertaria em nós homens.

O sujeito ético, quando vê a prostituta, sabe que, fora da sua atividade profissional, ela é como qualquer outra mulher. Pode ser alegre ou triste, inteligente ou burra, sensível ou tosca, ignorante ou bem informada. A pessoa livre de preconceito vê tudo o que há para ver e não apenas o que é certo ver. Pauta sua vivência no conhecimento. Quanto mais eu sei, mais eu sei que menos eu sei.

Em sentido oposto teríamos o Papa e a dificuldade de qualquer cristão em imaginá-lo hesitante, com medo, sem saber o que fazer com seus fiéis seguidores. Um Papa ambicioso e disposto a acumular riqueza, ou vaidoso, querendo parecer bem e sonhando com uma mulher sensual. No entanto, é claro que o Papa pode ser isso tudo e muito mais.         

Mas quem se atreve a imaginar isso do Papa? Portanto, toda a nossa vida, desde a infância foi e continua sendo modelada pelo que os outros dizem ser certo ou errado, pelas fórmulas tradicionais dos preconceitos. Sempre tem alguém dizendo o que você devia fazer. A vida é muito curta para viver o que os outros querem. Quem sabe o que é certo e errado? Contudo, estamos matando o sujeito ético que existe em cada um de nós e promovendo o preconceito.   


Um comentário:

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...