16 de abril de 2011

SONHO DE MENINO

          “O menino quer um burrinho para passear. Um burrinho manso, que não corra nem pule, mas que saiba conversar. O menino quer um burrinho que saiba dizer o nome dos rios, das montanhas, das flores, de tudo o que aparecer”. No poema “O Menino Azul”, de Cecília Meireles mostra o que toda criança precisa: amizade, companheirismo, acreditar no adulto. Abandoná-la é um ato de violência, tanto quanto espancá-la.
          Penso que os adultos, principalmente os pais, precisam conhecer melhor a criança e o adolescente. O conhecimento é o fundamento de toda educação verdadeira.
          Para falar dessa questão, quero começar com um dado espantoso sobre o adolescente. Metade dos crimes que são registrados nas delegacias de policia em todo país, são cometidos por pessoas com menos de vinte anos, isto é, por adolescentes. Além dos registros oficiais, existem outros tipos de violência. Nos estádios de futebol, torcidas organizadas se pegam, gangs de bairros que se procuram e jovens que saem de casa para dar pancadas, cometer delitos. Com todos esses casos, sem levar em conta os registros das delegacias, conclui-se que noventa por cento dos atos violentos são cometidos por adolescentes. A educadora Heloisa Reis escreveu um livro chamado: ”Futebol e Violência”, resultado de dez anos de pesquisa, sobre os tipos de violências relacionados a organizações de espetáculos futebolísticos. Ela relata os mais diversos episódios violentos cometidos por jovens em estádios de futebol. Esse é um dado básico para sustentar tudo que vou dizer sobre a violência cometida por adolescentes.
          Segundo os especialistas, dos quatorze aos dezesseis anos é a fase em que os hormônios atingem a taxa mais alta no sangue. Na cultura indígena, o menino aos quinze anos faz o rito de iniciação e daí para frente é considerado um homem. Passa para o grupo dos homens. A menina índia com doze ou treze anos já tem o nenê no colo.
          Vamos lembrar a história de amor “Romeu e Julieta”. Romeu tinha quatorze anos, Julieta, treze anos. Enquanto as duas famílias brigavam entre si, os adolescentes se amavam numa boa.
          Qual a conclusão disso? Exigir que o adolescente ficasse bonzinho em casa ao lado da mamãe, que vá à escola, estude direitinho, não dê preocupação é a coisa mais ilusória do mundo. O que se consegue com essa pressão, são quatro coisas, uma pior que a outra.
          Primeira: existem alguns jovens mais sensíveis, frágeis, medrosos, que fatalmente serão os trouxas da vida. Vão ser explorados sempre. Os bonzinhos, modelos para a família. Segundo: o jovem rebelde que acha tudo ruim, não faz nada do que se pede, dá trabalho para todos em casa. Inventa encrenca o tempo todo, briga com os irmãos. Está sempre de mau humor. Terceiro: aquele jovem que se mete no quarto e não quer saber da vida. Tem lá o seu som. O quarto é um chiqueiro. Ele não quer que entre ninguém, não faz nada e não quer nada. Não se sabe o que está fazendo ou pensando.       Quarto e último: o tóxico. A maconha, que é a mais comum, já que a cocaína é mais pesada e mais cara. Na verdade o uso das drogas é conseqüência direta do tédio da vida. Quem tem uma vida absolutamente sem colorido, sem graça, monótona e chata, usa o tóxico para ver se acha uma ilusão de qualquer coisa mais interessante.
          A opinião das pessoas quando se propõem ou se lembra um atrito sério entre pais e filhos é sempre a mesma coisa. Está pressuposto que os pais sofrem muito e que o sofrimento dos filhos não tem importância. Os pais têm sempre razão e os filhos são sempre os culpados. Ora, pais que esperam coisas tão absurdas dos filhos só podem ter desilusões na vida. Precisamos aprender a nivelar essa relação entre pais e filhos. Estabelecendo uma relação de troca de papeis. Um se colocando no lugar do outro. Quantas vezes deixamos de olhar nos olhos de quem nos fala! Quantas vezes, por isso mesmo, não criamos laços afetivos com nossas crianças! As crianças são os nossos melhores filósofos, por que são mais observadores do que os adultos. 

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