26 de abril de 2011

O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

A filosofia nasceu no dia em que o homem tornou-se um ser consciente. O homem é verdade, foi sempre um ser intelectual, mas, em tempos remotíssimos, a sua inteligência se achava ainda em estado potencial, dormente, assim como a futura planta existe, em estado embrionário, ainda enquanto semente.

O homem tornou-se o “filósofo atual” quando nele despertou a inteligência adormecida, embrionariamente – fenômeno esse que não se deu ao que sabemos, com nenhum outro ser deste planeta.

Este dotado apenas de sentido orgânico, não percebe senão coisas individuais, concretas, geralmente classificadas como físicas ou materiais. Os sentidos só percebem a multiplicidade das coisas, mas não percebem nenhuma unidade no mundo. O homem, embora perceba também essa mesma pluralidade, objeto em seus sentidos, a concebe através da pluralidade periférica e da unidade central do cosmos.

Perceber essa unidade do universo através da sua pluralidade é que é ser filósofo, isto é, philos = amigo, amante – da sophia = sabedoria. Quem experimenta essa realidade através das aparências, o centro do mundo através das suas camadas periféricas, é um filósofo, um amigo da sabedoria, portanto, um bandeirante da realidade, um pesquisador, ou mesmo um perseguidor da verdade.

Conhecereis a verdade – e a verdade nos libertará. Palavras ditas por Jesus Cristo. Para o filósofo e educador Humberto Rohden, somente através da posse da verdade é que o homem adquire a verdadeira liberdade. Quem vive na ignorância ou no erro é escravo. De maneira que a verdade em filosofia torna o homem essencialmente livre.
      
Os sentidos percebem a inteligência “concebe” – esse prefixo “com” indica uma ação em conjunto, supõe as coisas, entre as quais existe um vínculo que as une.

Segundo Humberto Rohden, argumenta no livro: ”O Pensamento Filosófico da Antiguidade”, os sentidos, por exemplo, percebem a existência de uma semente e de uma árvore, e nada mais. Estas duas coisas afiguram-se aos sentidos como dois ser inteiramente separados, desconexos, sem nenhuma relação ou nexo um com outro. Por vezes, os sentidos percebem que uma dessas duas coisas vêem uma depois da outra, como a árvore vem depois da semente, igualmente a ave vem depois do ovo; isto quer dizer que percebem uma sucessão cronológica de fenômenos.

A inteligência, porém, verifica não apenas essas duas coisas interligadas pela percepção sensitiva, mas verifica-se, além disto, uma terceira realidade, um nexo lógico entre os dois primeiros; percebem-se, então, não a existência de ambos independentes entre si, mas também devido à existência do anterior. Em outras palavras, a inteligência possui a faculdade de descobrir que um ser é devido ao outro, de modos que o segundo deve sua existência ao primeiro. A sucessão cronológica é algo pessoalmente externo – o nexo lógico é algo interno.

Mais tarde, verificaremos que a sucessão cronológica é baseada na categoria de tempo e espaço, embora o tempo e espaço não se tornem um simples atributo ou modo de agir de nossos sentidos. Essa sucessão cronológica é meramente aparente - ao passo que o nexo lógico é profundamente real. Isto significa dizer que a inteligência descobre algo incomparavelmente mais real e verdadeiro do que os sentidos possam perceber. Desta forma, a percepção sensitiva e é meramente evidenciada, de modo que a concepção intelectiva é real. Então, a metafísica é mais real que a física. 

Para o homem simples, sem cultura filosófica, real é sinônimo, ou até homônimo, concreto, individual, material e físico – ao passo que o abstrato, torna-se o imaterial, o metafísico equivalendo para ele, o irreal, o fictício, o quimérico. Existe mesmo uma inteira orientação na filosofia empirista que defende a tese de que real é aquilo que é verificável pelos sentidos, e que tudo que não é sensitivamente verificável não é real. Será isto filosofia – ou apenas jardim de infância da filosofia?

Para o empirista, a ligação de casualidade entre dois seres concreto não é real, mas puramente fictícia, irreal, não passa de uma criação arbitrária da mente humana. David Hume, nega terminantemente a realidade objetiva da chamada relação causal. Real é para ele, e para todos os empiristas, aquilo que os sentidos podem perceber, isto é, coisas e fenômenos concretos, individuais. Não há realidade abstrata, dizem, só existe realidade concreta. Abstrato é para eles, sinônimo de irreal, como concreto é idêntico a real.

Entretanto, é um fato que todas as atividades tipicamente humanas – ciência, arte, religião, filosofia, cultura, civilização e etc. – têm por base a percepção da relação causa e efeito existente entre a ligação concreta em relação à natureza. Sem essa percepção, não haveria cultura e civilização humana. Supondo que o nexo de causa e o efeito sejam mera ficção ao nosso cérebro, sem base alguma no plano objetivo, teríamos de admitir que todas as atividades tipicamente humanas, seriam simplesmente ficção. Se assim fosse, qual seria a razão dos seres irracionais por não possuírem a mesma cultura e civilização que o gênero humano arquitetou sobre a face da terra?

Para Aristóteles, o que faz a diferença entre os seres do universo não é aquilo que representam atualmente, mas, sim, o que podem vir a ser, isto é, já são em potencial. Não o ato, mas a força é que cria enorme diferença entre os seres do mundo.

Portanto, a filosofia nasceu com o despontar da inteligência individual, mas atingirá a maturidade e plena evolução com a vitória final da razão, isto é, o da consciência cósmica. 

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