10 de abril de 2011

ÉTICA PARA QUEM?

Encontramo-nos atualmente em uma época de ambiguidades, falta de valores éticos, rapidez nas ações nos processos produtivos tanto quanto nos sentimentais, afetivos e sexuais. Parece permanecermos numa espécie de ressaca ética. Hoje o tudo é muita coisa e o sempre é muito tempo. Nada tem a obrigação de durar demais, e nada deve ser tão rígido que não possa ser moldado de acordo com novos valores, num mundo de arbitrariedade e insatisfação geral.
A palavra ética vem do grego, Éthos ou Êthos, que possui dois significados: “o caráter de alguém ou o conjunto de costumes instituídos por uma sociedade para formar, regular e controlar a conduta de seus membros”.  Nesse último sentido a ética confunde com a moral, uma palavra que vem da língua latina = Mores ou Costumes. Mas a ética não consiste apenas em seguir a moral e os costumes da sociedade. Ninguém será ético apenas obedecendo ao que está determinado pelos outros, pela moral dominante. Os costumes, os valores, o bem e o mal mudam. Estas dependem da circunstância, ou daquilo que o circunda à minha volta. Contudo, ética é atitude de colocar-se em dúvida, de questionar a moral e os valores. E neste conjunto de valores deve haver autonomia pessoal. Entretanto, a palavra autonomia vem do grego e quer dizer Autos que significa: próprio, si mesmo, nomos = a lei. Entretanto, autônomo é aquele que retira da lei para si próprio e são quem decide por si mesmo quais são seus valores. Desta em acatar uma norma, isto é fruto de uma reflexão pessoal consciente, que se chama interiorização.  A interiorização das normas que qualifica o ato como moral.
Se por exemplo, num colégio, alunos e professores chegarem à conclusão de que, durante o ano letivo, deverão relacionar-se segundo os princípios da solidariedade, cooperação, diálogo e da igualdade entre as pessoas. Então, todos estarão exercendo a ética e normas morais. Esta ação enfatiza e exterioriza o lado bom. Tais atitudes deveria haver sempre e em todos os lugares, entre pais e filhos, patrões e empregados, etc. Praticar a ética é democrático e as normas morais estabelecem o caráter democrático.
Cada pessoa é por si só um conjunto bem saturado de insatisfações, pressionados pelas normas da sociedade a que ela própria ajuda a manter, na mesma proporção em que tudo se transforma em mercadoria de importância vital. Assistimos conjuntamente o desmoronar dos valores éticos. O sujeito paradoxalmente frágil e perverso ao mesmo tempo, segue os tramites da dinâmica social na qual ser ético não oferece status.
Imagine o dilema vivido por um comerciante que contribui em todos os impostos e segue todas as normas de transporte e armazenagem dos produtos por ser estritamente ético com as leis trabalhistas. E por outro lado, vê seus concorrentes que impunemente sonegam os mesmos, burlam as normas técnicas e, contudo, tem produtos e serviços com preço menor para o consumidor, consegue, portanto, aumentar as margens de lucro. Jogam sujos, trapaceiam o tempo todo e perde quem segue as regras, que não quebra os protocolos da lei. 
O homem contemporâneo cada vez mais assume o lugar do príncipe de Maquiavel, que na defesa das suas próprias ambições e paixões materiais tudo é possível, comporta-se como se estivesse numa espécie de jogo onde o interesse central é ganhar sempre. As dinâmicas sociais deixam cada vez mais claro que ser ético é perder poder. Todos agem em prol da própria conservação e dos interesses pessoais. Usando a celebre frase de Tomaz Hobbes: “o homem é o lobo do homem”. Para Hobbes o estado natural do homem é o de guerra de todos contra todos. Logo, o sujeito não tem uma disposição natural para viver em sociedade. O que contraria a tese de Aristóteles que dizia que o homem é um animal social. Segundo Hobbes o homem não possui instinto social como as abelhas e as formigas. Elas não competem por honra e dignidade. Não distinguem bem individual de bem comum, não se julgam mais sábias que as outras, não são maledicentes, não se ofendem por escasso, etc. 

Portanto, para o homem, ética e convivência são valores conflitantes. E o que fazer quando nos vemos diante desse impasse cada vez mais freqüente nas relações interpessoais?  

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