18 de abril de 2011

INDEPENDÊNCIA EMOCIONAL

          Walt Disney produziu um filme que foi lançado em 1953, com duração de 33 minutos. Escrito e dirigido por James Algar, chamado “Bear Country”. Para compor uma série de documentários sobre a natureza. O filme mostra uma ursa mãe que acompanhava os seus dois filhotes, através dos primeiros meses da vida das crias. A mamãe ursa ensinou os filhotes como caçar, pescar e subir nas árvores. Ensinou-lhes a se protegerem quando se vissem diante de perigo. Depois, um dia, a mamãe ursa, por suas próprias razões instintivas, decidiu que era hora de ir embora. Obrigou os filhotes a subirem numa árvore e, sem mesmo olhar para trás, partiu. Para sempre!
          Em sua mente de ursa, ela achava que sua responsabilidade materna havia cessado. Não tentou manipulá-los, forçando-os a visitá-la aos domingos alternados. Não os acusou de serem ingratos, nem ameaçou ter um colapso nervoso se eles a desapontassem. Simplesmente deixou que eles se fossem. Por todo o reino animal, a função dos pais é de ensinar aos rebentos as habilidades necessárias à vida independente e depois afastar-se. Conosco, os seres humanos, o instinto da independência continua a ser o mesmo, mas a necessidade neurótica de possuir e de viver a própria vida através dos filhos parece dominar os pais. Com isso a meta de criar um filho para ser independente é subvertida na idéia de criá-lo para apegar-se a ele.
          Para ilustrar: aos quatro anos, a pequena Maria Eduarda vai sempre procurar papai e mamãe quando se machuca, ou quando precisa de qualquer espécie de apoio emocional. Ela mostra sua alma aos nove anos e, embora queira ser considerada uma menina grande, também quer ter o apoio dos pais carinhosos. Seu conceito pessoal está sendo desenvolvido através das impressões de seus pais e de outras pessoas importantes na sua vida. De repente Maria Eduarda tem quatorze anos. Volta para casa chorando por causa de uma briga de namorado e corre para o quarto batendo a porta. O pai vai atrás e pede-lhe que diga o que houve, na sua maneira habitual de pessoa interessada. Mas agora ele ouve de Maria Eduarda, em termos muito claros: “Não quero falar sobre isso. Deixe-me só”.
          Em vez de o pai compreender que essa pequena cena é prova de que ele tem sido um pai atento e que a pequena Maria Eduarda, que sempre contou todos os seus problemas, está agora lidando com eles sozinha. O pai fica desesperado. Ele não está preparado para a desvinculação, para deixar Maria Eduarda resolver as coisas a seu modo, com independência. Ainda vê na sua filha aquela mesma criança que era há tão pouco tempo.
          O desejo da filha de sair do ninho é forte. Mas, quando o sentimento de posse e de sacrifício é o lubrificante da máquina familiar, o ato natural de partir transforma-se numa crise. Abandonar o ninho numa atmosfera psicologicamente sadia não envolve nem crise, nem agitação; é a conseqüência natural de viver adequadamente.
          Mas quando a culpa e o medo do desapontamento colorem o abandono do ninho, eles permanecem a vida inteira, algumas vezes a ponto de tornarem o casamento uma relação que dois indivíduos partilham em igualdade de condições.
          Dorothy Canfield Fisher resumiu isso perfeitamente em seu ensaio “pai não é uma pessoa em quem se apoiar, mas uma pessoa que torna o apoio desnecessário”.

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