13 de abril de 2011

O EMERGIR DO PARAÍSO

O ser humano não é um evento completo. Ele é uma somatória de acontecimentos passado e presente. Como disse Erik Fromm, “o nascimento não é um ato. É um processo”. O nascimento é, portanto, apenas o começo em um sentido mais amplo. A vida inteira do ser humano nada mais é do que nascer, a cada momento para uma nova situação. Na verdade, só deveremos ter nascido completamente com o advento da morte.
Segundo Erik Fromm, o homem é o único animal que pode sentir-se aborrecido, ao sentir-se expulso do paraíso.  Ele é o único animal que considera sua existência um problema e precisa ser resolvido e do qual não pode escapar.
O problema que tanto o ser irracional quanto o homem precisam resolver é em relação ao seu nascimento. No aspecto físico, não é tão decisivo e singular como parece. A mãe e a criança na gestação é um fenômeno único. O que acontece no momento do nascimento é uma importante passagem da vida intra-uterina para a extra-uterina, no qual a criança em alguns aspectos não é após o nascimento, que ela se torna bem diferente do que era antes de nascer. Esta depende completamente da mãe. Entretanto, o processo de nascimento continua. Agora são duas pessoas, porém, uma depende completamente da outra.
Fazendo um paralelo com o mito do paraíso bíblico, o qual fala da expulsão do homem com perfeita clareza. O ser humano que vivia no Jardim do Éden, em completa harmonia com a natureza, mas sem autoconsciência, assim como, o feto no útero da mãe. A partir do momento em que ele é expulso, inicia-se a sua história pelo primeiro ato de liberdade. Aos poucos adquire a consciência de si mesmo, de sua separação, de seu desamparo. Quando o homem nasce, ele é arrancado de uma situação já definida, tão logo seus instintos são lançado numa nova situação ainda indefinida, incerta e aberto.
Contudo, se a criança pudesse pensar, no momento em que o cordão umbilical lhe é cortado, ela certamente experimentaria o medo da morte. Ela saiu da natureza, por assim dizer, mas ainda está nela, é em parte divino e animal, em parte infinito e em parte finito ao mesmo tempo. No entanto, na medida em que o ser humano também é um animal, as necessidades como: dormir, fome, sede e sexo são neles igualmente imperativos e devem ser satisfeitas. Mas enquanto ser humano, a satisfação dessas necessidades instintivas não é suficiente para torná-lo feliz, muito menos para fazê-lo mentalmente sadio.
Na natureza o sexo e a reprodução são naturais e não problemáticos para todos os animais com exceção do homem. Veja como é simples. A fêmea entra no cio, o macho é atraído por ela, acasalam-se e a espécie é preservada. Nada podia ser mais simples. Agora compare isto às tensões sexuais existentes entre os seres humanos: “a adolescente que espera a atenção do garoto, sentindo-se ignorada e pouco atraente, o garoto que não pode concentrar-se em seus estudos, acariciando a idéia do suicídio porque sua namorada rompeu com ele; a jovem solteira que engravidou e, o namorado não a quer mais mesmo assim, ela não aceita o aborto. Porém, não está certo sobre qual outra opção tomar. Da mesma forma, a esposa profundamente deprimida porque o marido a deixou por outra mulher mais jovem e bonita.
As vítimas de estupro, os produtores de filmes pornográficos, os adúlteros furtivos, a promiscuidade sexual. O sexo simples e direto para os animais torna-se tão doloroso para nós humanos - a menos que nos comportemos como os animais – pois conhecemos o mundo do bem e do mal. Ao mesmo tempo, porém, exatamente por vivermos neste mundo, possuirmos uma relação sexual que pode significar mais para nós, do que para os animais ou para alguém, que veja no sexo apenas um instinto a ser satisfeito. Ele poderá significar ternura, afeto mútuo, entrega responsável.  Já os animais apenas acasalam-se e reproduzem-se. Para os animais, dar à luz e alimentar os filhotes durante seu crescimento é um processo puramente instintivo. Existe muito menos dor física e muito menos dor psicológica no caso deles que no dos humanos. Entretanto, para os seres humanos, tal relação jamais poderá ser tão simples assim. Dar à luz a um filho, segundo as mulheres é uma das experiências mais dolorosa e sofrida que o organismo humano pode experimentar que em certo sentido, é a parte menos difícil. Criar e educar os filhos, transmitindo-lhes seus próprios valores, partilhando com eles as grandes e as pequenas mágoas, sabendo quando ser rude e quando ser condescendente. Parece ser esta a parte mais dolorosa da paternidade, porque temos que fazer escolhas difíceis. Sobretudo, por ser a única transformação que realmente nos humaniza e ocorre por força do amor. Somente o ser humano é capaz dessa consciência.   
Portanto, só aos seres humanos é dado o saber do que é o “amor”, com toda a dor que o amor às vezes envolve como dizia o poeta Vinícius de Moraes: “São demais os perigos desta vida para quem tem paixão”. Eu digo, para quem ama verdadeiramente com todo o seu ser.

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