19 de julho de 2019

EXIBICIONISMO, UMA QUESTÃO DE VAIDADE

O assunto que trago para a nossa reflexão, tem tudo a ver com a realidade em que estamos vivendo neste momento conturbado que atravessa a nossa sociedade. A atual ânsia de visibilidade das pessoas, de ver e ser visto, tanto no mundo real como no mundo virtual, faz com que elas se anulem na sua essência. Seria uma questão de vaidade? Caso seja, será que a vaidade mudou de status? Antes condenada, hoje tornou-se um valor? Foram os meios eletrônicos que fizeram essa ânsia de visibilidade ou eles são apenas consequência? O que aconteceu com a vaidade humana, aumentou ou diminuiu? 

Acontece que a questão da vaidade é um assunto pouco discutido no meio filosófico. Este tema é levantado desde os primeiros filósofos. Por volta dos séculos IV e III antes de Cristo, existe uma reflexão filosófica que se alonga até o século XIX. Depois disso esse assunto foi renegado ao terceiro e até ao ultimo plano na filosofia. A filosofia recente discute muito pouco a vaidade, mal toca no assunto. De modo geral, a ciência humana não discute sobre a vaidade. A “vangloria”, que seria a gloria justa e verdadeira do que nós efetivamente somos. Mas, não é desta gloria que vamos tratar aqui e sim da “gloria vã”, que é a gloria de quem imagina ser muito mais do que realmente é.

Na verdade, o vaidoso é manipulável. Sobretudo, graças às redes sociais, em particular no Facebook. Por exemplo: o que há de pessoas escrevendo e postando besteiras no Facebook, além de se sentirem envaidecidas por isso. A gente vê diariamente o quanto existe de imbecilidade nestas postagens e o pior de tudo, elas ficam satisfeitas consigo mesmas. Como diz na Bíblia, mais precisamente no Velho Testamento no século III antes de Cristo, em Eclesiastes: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. Até onde estudei, na psicanálise não existe a palavra vaidade. Construiu-se uma teoria psicológica desprezando e desconsiderando a vaidade, transferindo-se a nomenclatura para narcisismo, que seria um termo que subentende amor por si mesmo. Uma expressão dúbia, porque amor não é obrigatoriamente igual à vaidade. Além de que, não existe amor por si mesmo, o que existe é esse autoerotismo, esse prazer de se destacar e chamar a atenção, de atrair olhares. É próprio da natureza humana.

No entanto, nunca teve tão exaltado esse exibicionismo, por isso que as pessoas evitam falar sobre o assunto, tudo gravita em torno disso. Um exibicionismo sem fundamento, sem o menor sentido, porque o prazer erótico de exibir e de se destacar ele, evidentemente, pode se dar de duas maneiras diferentes. No primeiro caso, o individuo buscar um destaque por um conceito legitimo cujo ele envaidece meritoriamente, pela aparência. Por exemplo: as celebridades que estão em evidência na mídia. E no segundo caso, o Facebook que pode fazer e faz um pouco isso, ajudando os vaidosos a se destacar. Esse exibicionismo que se manifesta muito intensamente, principalmente na questão erótica, a partir dos anos setenta até hoje. Atualmente exibir o físico masculino e feminino ficou muito exaltado e exagerado ao mesmo tempo, chocando um pouco e impactando os olhares. Provocando tensões, ciúmes, inveja e rivalidade perante a sociedade.

Portanto, a vaidade tem tudo a ver com a necessidade de satisfação pessoal, que depende da aprovação e da estrema admiração dos outros. É um sinal de que as pessoas gostam da sensação de ter alguma coisa que os outros não têm, e assim se sentindo mais poderosa. Nas redes sociais, o desejo de ser invejado tende a se manifestar com maior frequência. O próprio instagram, que já foi apontado como uma das redes que mais causa depressão entre os usuários. Cria a ilusão de que o outro tem uma vida incrível e que você precisa ter uma vida assim também. No meio jovem, tem essa tendência mais recorrente de forjar uma vida perfeita. Essa busca constante em transmitir uma imagem de perfeição em todos os momentos, pode frustrá-los, e pode realmente levar, até mesmo à depressão. As redes sociais são veículos de exposição seletivos, isto é, a pessoa escolhe deliberadamente o que postar e compartilhar, o que facilita a exposição de feitos e conquistas. Este é ápice do vaidoso que faz de tudo por um “curtir” dos outros em suas fotos e postagens. Efetivamente, trata-se de um narcisista decadente.  

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