26 de dezembro de 2016

O UNIVERSO VIRARA PÓ

Vivemos todos como se estivéssemos diante de um porta retrato, olhando para a fotografia de um ente querido e ali experimentando uma felicidade vivida e ao mesmo tempo a dor da saudade, que ficou entre a presença e ausência. No triunfo da morte ou de como as razões e desrazões arbitrárias do nosso desejo, fazem com que seja difícil aceitarmos, que não temos mais a presença daquela pessoa que tanto amamos. Como diz a música de Chico Buarque de Holanda (1944): “Ó pedaço de mim! Ó metade adorada de mim! Leva os olhos meus, que a saudade é o pior castigo e eu não quero levar comigo a martalha do amor, adeus”. É comum para muitas pessoas, viver esta experiência da saudade, principalmente, nas comemorações de final de ano, quando as famílias se reúnem. Pois a cada ano que se passa, sempre vai faltar alguém naquela mesa e a saudade deste faz doer na alma.   

Entretanto, na mitologia hindu, a “mãe-terra” queixa-se a Bhama da sobre carga que tem que suportar com o aumento crescente da população no mundo. Bhama então diminui a sua energia criadora e como resultado surge uma mulher de vermelho a que chamou de “morte”. Bhama ordena a morte que retire há seu tempo, todas as pessoas do mundo. A morte se retrai e sofre solitária porque não será compreendida quando tiver que separar os seres que se amam. Bhama transforma as lágrimas da morte em doenças e determina que através delas os seres sejam eliminados. Voltando a parafrasear Chico Buarque sobre o sofrimento com a presença da morte, ele nos mostra que: “a saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”.

Na “Parábola do Grão de Mostarda” da doutrina budista conta que uma mulher, tendo aos braços o filho morto, recorre a Buda e suplica que o faça reviver. Buda na sua imensa sabedoria pede para essa mãe, que consiga em qualquer casa de família, alguns grãos de mostarda que esse devolverá a vida ao seu filho. No entanto, esses grãos terão que ser obtidos numa casa onde nunca morreu ninguém da família. Esta casa não é encontrada pela mãe e ela compreende uma das lições fundamental do budismo: “a de ter que contar sempre com a morte”.

Portanto. é entre o símbolo e o mito, a negação da morte e sua compreensão e aceitação que o homem se equilibra. Mas, vale lembrar, que o homem se equilibra na corda do tempo. E se é da análise deste tempo que se delineia a morte, determinada que está irremovível entre permanência e transitoriedade, o próprio momento contém esta grande tensão humana, pois se existe morte e se existe momento não é natural pensar também na morte do momento? Logo, todo o milagre da vida, todo deslumbrante drama humano em que naturalmente a morte se inclui, seria recriado sempre em todo, em qualquer momento. Um dia vamos virar pó e seremos apenas uma lembrança na memória de alguém.      

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