17 de dezembro de 2016

FRAGILIDADE HUMANA NOS LAÇOS AFETIVOS

O mundo não é humano só por ser feito de seres humanos, nem se torna assim somente porque a voz humana nele ressoa, mas apenas quando nós humanizamos o que se passa no mundo e em nós mesmos. Todavia, é falando dos nossos sentimentos que aprendemos a ser humanos. Por outro lado, essa insegurança afetiva é alimentada pela instabilidade do mercado de trabalho, pelas mudanças constantes do valor atribuído às posições sociais e às competências do passado, pela inconsistência dos compromissos e das parcerias. Porém, é neste contexto, que produz as grandes dificuldades de relacionamento entre os casais, os familiares e as pessoas em geral. Na “modernidade líquida”, descrita pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925), as pessoas se sentem desligadas umas das outras e, assim, desejam conectar-se através do virtual. O que está em jogo é a fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança resultante disso e o dilema entre estreitar os laços afetivos e, ao mesmo tempo, manter uma distância considerada conveniente. O chamado relacionamento de bolso, que podem ser usado de acordo com os interesses de cada um.

No entanto, as pessoas preferem usar o termo conectar-se, em vez de relacionar-se; no lugar de compromisso real preferem falar em redes sociais. Nossa cultura consumista da preferência ao produto pronto para uso imediato, ao prazer intenso e passageiro, à satisfação instantânea. É as chamadas relações líquidas, que vai pelo o ralo. O amor, ao contrário, exige equilíbrio, doação e esforços prolongados. Amor e desejo são irmãos gêmeos, mas não idênticos. O desejo consome, devora e aniquila. O amor preserva, aprisiona e possui, mostrando que um está para o outro. Nos relacionamentos afetivos, o lucro pretendido configura-se em segurança, proximidade, companhia, consolo, ajuda mutua e apoio. Na verdade, o que amamos no outro é a possibilidade de sermos dignos de amor. Considerando que isto seja impraticável, como será possível desenvolver a solidariedade, a justiça e o convívio pacífico que consideramos a única saída para a humanidade?

Entretanto, os programas de TV como o Big Brother é um péssimo exemplo, por trazer a mensagem de que ninguém é indispensável. Os outros devem ser superados e descartados. São antes de qualquer coisa competidores a serem derrotados a qualquer custo. As forças da globalização dissolvem o mundo pessoal e os sujeitos procuram agarrar-se a si mesmo. Tudo isso produz uma luta por sentido e identidade. A produção e reprodução da ordem social e o progresso econômico são as principais causas da seleção, do descarte e da exclusão das pessoas que não se adaptam à nova ordem social. A nudez social e a imaginada comunidade global são fatores com os quais as pessoas se defrontam diariamente e o único consolo diante da realidade sombria da modernidade líquida é a constatação de que a história ainda não terminou e que escolhas ainda podem ser feitas. Precisamos estimular o diálogo e a abertura ao outro, no sentido de aproximar a história do ideal de comunidade humana. Lembrando que nossa vida está apoiada em coisas que não passam como: o amor e a esperança.

Portanto, quando encontrar alguém fazendo coisas diferentes, que você não entende, não o julgue ou comece a dizer que ele está errado, que é um estúpido, um mentiroso, um velho fracassado e vazio. Olhe bem para esse ser humano e diga a você mesmo: “não compreendo muito bem essa pessoa, mas espero que ela esteja trilhando pelo caminho do bem, assim como também, espero estar seguindo o meu caminho na direção certa”. De modo que, viver é consumir-se no “amor” e no “respeito”, dialogar é perder-se no “outro”. Porque, a vida é interpenetração total das “almas” e da nossa “inteligência”. Amar é mergulhar na divindade cósmica. Só os egoístas não dialogam por medo de expor sua fragilidade afetiva. Mal sabem que dialogar é estar um do lado do outro no amor pleno e conviver na sabedoria. Contudo, se quer conquistar um coração tem que ter garra e esperteza, não à esperteza que todos conhecem e sim a esperteza de sentimentos, aquele que temos guardado na alma. Todo coração solitário, dividido ao meio, reclama pela sua outra metade, que por vontade própria, sem que precisemos impor nossa vontade, ela retornará para completar o que nos falta. Agora somos dois numa só carne. Quando isso acontece, valtamos a viver no paraíso até que a morte nos separe.  

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