29 de outubro de 2011

MATAMOS O AMOR E PROMOVEMOS O ÓDIO

Há mais de dois mil anos nascia um homem, chamado Jesus de Nazaré, que iria revolucionar o mundo. Trazia ideias profundamente renovadoras para a Humanidade, que seriam discutidas até hoje com profundidades. Mas ele pouco conseguiu. A não ser aumentar ainda mais o ódio daqueles que comeram do pão e do peixe. Sua mensagem era de amor entre as pessoas e paz na terra as pessoas de boa vontade. Mas esse homem não foi feliz no seu gesto de apaixonado pelo seu semelhante. Na letra da música “Todos Estão Surdos” de Roberto Carlos, diz o seguinte: “Tanta gente se esqueceu que a verdade não mudou. Quando a paz foi ensinada pouca gente escutou”. A letra continua dizendo: “Meu amigo volte logo, venha ensinar o meu povo, o amor é importante vem dizer tudo de novo”. “Que o amor só traz o bem”, não se discute, todos sabem. “Que a covardia é surda e só ouve o que convém”, nós estamos cansados de saber, como muito bem diz a letra.  Agora, voltar a ensinar tudo de novo? Aqui já é um caso para se pensar. Se voltar, na certa vão te crucificar de novo e com requintes de crueldades. Não vão querer saber se sua filosofia fala de amor. Todos querem ser amados. Mas quem quer amar o seu próximo, que sou Eu? Se tivesse Jesus pregado o respeito entre as pessoas, talvez o efeito fosse outro. Respeitar é mais fácil que amar.
Será que um dia as pessoas vão criar juízo e parar de espalhar o ódio e a tirania em torno de um sentimento tão lindo como o estado amoroso, os raros momentos de êxtases que temos na vida. Ou esse ódio é intrínseco na raça humana. Para o historiador Leandro Karnal, nós somos cordiais, que significa dizer: que em primeiro lugar nós agimos com o coração, inclusive quando odiamos. Nosso ódio também é cordial, passional. Historicamente o nosso mundo foi e continua sendo cercado por um ódio espantoso, implacável quando se trata de perseguição contra alguém.
Nosso medo precisa ser reeducado, basta ligar a TV para certificar a violência em qualquer de suas formas, quanto mais brutal, melhor. Será a volta do Circo Romano? Pessoas assistindo, vendo leões famintos comendo gente, como modelo e ideal de lazer. E hoje não é diferente, estão aí para constatar as lutas de Vale Tudo. Depois que se aprisionaram uns aos outros, sentindo-se todos na cadeia invisível, esperando interminavelmente pela execução. Trazendo para o nosso mundo contemporâneo, a cadeia invisível que são os preconceitos, as exigências sociais e as condições de vida intoleráveis em que vivemos. Não é só a miséria e fome, é muito pior. São as relações humanas que precisam passar por um teste deveras crítico. Se não aprendermos algo um pouco melhor, a tratar o nosso próximo com respeito e admiração e assim atenuar um pouco esse ódio, vamos nos destruir efetiva e coletivamente mais rápido do que imaginamos.
A questão crucial da nossa história é que a violência é do outro. Sempre achamos que o desrespeito e a maldade vêm do outro. Todos aqueles que têm a certeza são intolerantes. Se eles estão certos sobre suas ideias, por que vão ouvir as concepções diferentes de outras pessoas? O indivíduo que tem a certeza, não é aberto a novas ideias. São pessoas que vão ficando cada vez mais fechadas dentro de si mesmas. Torna-se insuportável a convivência com esse tipo de gente. Ora, é fácil de entender o porquê se evita de falar do ódio, o porquê as pessoas têm horror de falar das coisas mais primitivas que existem dentro de cada um, que é essa raiva que sente um do outro. Não suportamos a ideia de saber que fazemos parte de uma categoria que é capaz de matar ou destruir, seja lá como for o seu semelhante. Assim fica difícil para entender o porque esse ódio permanece. No dizer do filósofo Thomas Hobbes, vivemos em estado de guerra, a violência de todos contra todos, somos naturalmente violentos. É muito difícil amar em comum, nós tentamos e até nos esforçamos. Mas é difícil. Agora odiar em comum é a coisa mais simples, é uma delícia execrar o outro.
Nossa habilidade infeliz de nunca dizermos o que desejamos com o outro, mas de cobrar do outro o que ele deveria fazer comigo. Somos sobretudo, covardes até para sentir prazer sexual, porque o sexo é o maior dos prazeres corporais e sempre o mais proibido e perigoso. Quando os amantes se desentendem, vem logo a frase chapada: “você só queria fazer sexo comigo”. Por que não gostou? As pessoas falam como se fazer sexo fosse um sacrifício em nome do amor. Como as pessoas sofrem por nada. Que facilidade temos para destruir algo tão rico que são as trocas prazenteiras quando estamos encantados por alguém.
Portanto, encerro essa reflexão com um provérbio chinês que retrata essa reflexão e a minha esperança num mundo melhor e mais humano: “O ontem é história, o amanhã é um mistério, mas o hoje é uma dádiva, por isso que se chama presente”.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...