23 de outubro de 2011

A ARTE DE ENVELHECER COM SABEDORIA

Vivemos uma grande transformação de costumes neste último século. A começar pela liberdade de ser e de se exprimir. Novos paradigmas estão surgindo, como a espiritualidade, o autoconhecimento, o afeto e a alegria. Somente nos últimos quarenta anos, a sexualidade deixou de ser negado, o que significa que essa temática também está ganhando terreno na maturidade.
Segundo a psicóloga e antropóloga Ana Perwin Fraiman, homens e mulheres mais velhos aprenderam muito mais sobre sexo do que sobre erotismo. A sedução fazia parte do cardápio de conquistas nos bailes da vida, no piscar de olhos, nos toques ligeiros e discretos, no tímido sorriso insinuante, no rastro de perfume deixado no ar. Muito diferente do erotismo de hoje, com a exposição explicita do corpo, usando aquele fio dental ou uma minissaia, em muitos casos, até o nu total.
Alguns homens mais velhos dizem apreciar um corpinho lindo desnudo de uma moça jovem, mas a maioria se excita muito mais com um decote insinuante ou uma nuca exposta daquela coroa enxuta para ser levemente roçada por seus lábios quentes. Há uma gama considerável de mulheres acima de cinquenta anos que não conseguem sequer imaginar tendo relações sexuais com outro homem que não os respectivos maridos, além de algumas mulheres que nunca folhearam uma revista pornográfica por questões morais ou porque sentem vergonha e não têm coragem.
Entretanto, há mulheres dessa mesma idade cujo casamento acabou e estão namorando novamente ou tendo um caso, por ser mais atrativo e menos desgastante. São mulheres decididas, buscando um novo parceiro, fazendo sexo e sentindo prazer, coisa que não sentia no casamento. Coisa do gênero, “primeiro a gente faz sexo, se der certo e a gente gostar continua, mas casar de jeito nenhum”. Curiosamente essa era uma proposta tipicamente masculina e chegava a ser ofensiva para a mulher de outra época. Hoje temos uma grande variedade de situações, até as coisas ditas sexuais estão mudando também para as mulheres maduras.
Por conseguinte, a mulher madura busca um homem gentil, protetor se solicitado, que tome iniciativas e satisfaça alguns de seus desejos. Que seja responsável, atencioso, carinhoso e aceite carícia e as saboreie. Que saiba receber e se entregar, que viva o erotismo de corpo todo, cujo encontro não seja só sexo, mas também celebração. Essa nova mulher quer um homem sensual, de prazer pleno difuso, com o qual nasce para saber aproveitar a vida de várias formas, o que só acaba com a própria morte.
Por outro lado, está o homem maduro, que busca uma mulher ativa, segura, provocante. Traduzindo melhor, uma mulher gostosa, quente, que goste de ser apreciada, que goste de fazer sexo, que goste de dar prazer, que fique excitada quando está junto do seu parceiro. Entretanto, são poucas e raras as pessoas que chegam a idade madura na plenitude sabendo se abrir para a vida, dar e receber, fazendo do sexo uma contra dança de parceiros que se encontram, se apreciam, se realizem, caso venham a se separar, sentem falta depois e até mesmo saudades.
Quando os amantes conseguirem colocar o sexo num plano maior ligado à espiritualidade, isso ajudara as pessoas a se libertarem de seus medos, culpas e vergonhas, raivas e desesperos de solidão, tudo o que traz infelicidade e impedem a nós todos de amar para valer, em qualquer idade. Se nós não curarmos primeiro todas essas feridas, não se fará a revolução sexual na maturidade. E não há como curá-las a não ser por meio da informação clara, da palavra cuidadosa, do toque amoroso. Da verdade implícita. E mais que isto, a verdade sobre sexo e alegria, beleza e liberdade em qualquer idade. Diz um provérbio oriental: “se mergulhas e não encontras pérolas no mar, não penses que elas não existem”.
Portanto, ao nascer o nosso corpo ainda não foi escrito, no dizer do filósofo inglês John Locke, a nossa mente é como uma folha de papel em branco, uma tabua rasa, que durante a nossa experiência no mundo se incumbiu de imprimir. Com o passar dos anos a nossa própria história, a cultura, os desejos e a própria vida se escreveram e inscreveram. Para Fraiman, trazemos muitas biografias de uma mesma vida. Quase tudo o que foi possível lá está firmemente registrado no corpo e na mente. De modo que tal é a arte de envelhecer, que o sexo pleno, amoroso e maduro até parece saber e dominar a própria essência do ser humano.

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