16 de outubro de 2011

CONSPIRANDO CONTRA A FELICIDADE

As pessoas têm uma tendência a tratar com superficialidade a felicidade quando ela se propõe. Basicamente não valorizam muito as relações amorosas quando as têm. Sempre querendo ter razão em vez de ser feliz. Viram as costas e partem em busca de outros amores achando que vai ser melhor. Na verdade, não muda muito. Aquele período de luto do amor que juntos viveram não se cumpriu. Aqui fica a seguinte observação: “se o indivíduo mal encerrou essa relação e já está com o pé em outra, é porque ele não é digno de você”. Como bem afirmou o cronista Xico Sá na sua palestra no Café Filosófico.
Entre uma relação e outra existe um período de estiagem, de muita reflexão, de avaliação. Sobretudo, para não cometer os mesmos erros. Pois se tratando de seres humanos, acima de tudo temos que nos dar valor para poder valorizar o outro, caso contrário essa pessoa não te merece. É o mesmo que viver uma relação descartável, não consegue aprofundar na essência um do outro. Vive-se uma relação pautada no desrespeito.
As pessoas não sabem e não querem saber, quanto custa todo o prazer que não têm e que está aí ao alcance das mãos e do corpo. Contato, carícia, abraço, prazer, intimidade, quem não quer? Freud tem mostrado todo o penoso e ridículo contorcionismo psicológico que desenvolvemos a fim de conseguir fazer de conta que o outro só nos interessa pela sua aparência e pelas suas palavras bonitas que achamos que precisamos somente disso e mais nada.
É preciso fazer algo pela relação amorosa em vez de continuar procurando quem é que devia ou quem é o culpado. E com isso ficar justificando que tem outros amores melhores, na tentativa de agredir o outro. Essa conspiração contra a felicidade, contra esse amor que poderia ser de boa qualidade, pode acarretar outros problemas futuros. Certamente vai levar para a nova relação às mesmas dificuldades de filtragem e assim, sucessivamente. O mal não está em errar a dose. O mal está em não aprender a dosar os conflitos.
Um observador externo detecta com bastante facilidade distorções no relacionamento e na comunicação nas relações amorosas. Como os costumes de convívio se desenvolvem lentamente, as pessoas, na verdade, não percebem o que está acontecendo, a não ser pelo mal estar ou pelas brigas que não resolvem. Não é um problema de ensinar a viver, ainda que ensinar também tenha cabimento, penso que é uma questão de mostrar, apontar, fazer o outro ver o que está acontecendo. Não perdoamos quem nos vê como somos.
Portanto, tenho para mim que o maior perigo do nosso mundo não está na violência urbana, nem mesmo nos poderosos; está na falta de alegria de viver das pessoas, no seu tédio, na sua frustração e na sua indiferença. Por isso faz-se necessário desejar outros relacionamentos, superficiais tanto quantos já viveram. Contudo, a pessoa que torna superficial as relações amorosas ou que se aliena, pouco a pouco, faz com que vá crescendo nela o desejo de que esse mundo, infeliz, árido e ameaçador, termine de vez com os seus sonhos narcísicos. Enfim, a mais profunda felicidade do normopata é livra-se de sua vida infeliz, matando quem lhe ama na fantasia partindo em busca de um novo amor centrado no seu egoísmo.   

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