20 de outubro de 2011

SEXO NA MATURIDADE E NO ENVELHECIMENTO

A própria dinâmica social e os referenciais ideológicos sobre o idoso, merecem uma revisão. Tendo em vista que as nossas crianças não brincam e nem estudam direito, na idade adulta enfrentam o terror do desemprego, além da maternidade desamparada e da paternidade irresponsável, e a nossa velhice ainda está por se construir, já que, como povo, nem envelhecer com dignidade estão conseguindo. Nas palavras da pesquisadora do departamento de Psicologia Social da USP, Ecléa Bosi, ser velho em nossa sociedade é lutar para continuar a ser tratado como ser humano.
Como é então a sexualidade daquele que luta para sobreviver, levando em conta que é a mesma energia que nutre a vontade sexual, o trabalho dos músculos, a imaginação e a própria inspiração? Nos mais recentes estudos, nos dizem que não é necessário envelhecer como estamos fazendo, nos maltratando. Levando em consideração algumas doenças naturais que são inevitáveis. Mas os estudos nos chamam a atenção para uma nova visão do homem como uma somatória de déficits. No entanto, se pergunta se o sexo acaba quando começa o envelhecimento. E quando é que começamos a envelhecer? Todavia, novas tendências científicas nos mostram que além de biofísico, o indivíduo é também psíquico e espiritual. Entretanto, pode-se viver muito e praticando sexo com qualidade. Como isso é possível?  
Na abordagem comportamentalista estímulo e resposta, o sexo não acaba enquanto o homem ou a mulher forem bem estimulados. Numa abordagem existencialista, depende do que o sexo significa para cada um dos parceiros. Mas para isso é necessário integrar a experiência humana em três principais níveis: o biológico, o psíquico e o espiritual. Aqui esbarramos numa questão muito séria e polêmica. O mundo ocidental não reconhece o sexo como modo de evolução da própria espiritualidade quando se afirma que é nos braços dos amantes que se encontra no paraíso, que os beijos dos amantes conduzem a esfera celestial e que a perda da pessoa amada nos faz conhecer a condição de alma penada. Essa visão faz parte da filosofia oriental hindu, o Tantra.
É na experiência do amor que ascendemos igualmente ao sublime e ao medonho. E é no sexo amoroso, em qualquer idade que conhecemos a eternidade, a partir da própria temporalidade. A referência a sexo amoroso está na prática tântrica onde o mais importante não é o orgasmo, e sim, prolongar esse prazer, dando-se uma dimensão espiritual, que o idoso sabe muito bem como conduzir esse feliz momento de encontro com a divindade.
Diziam os mais antigos, que se você quer ser feliz, não se case. Mas se você quer fazer o outro feliz, então se case. Entretanto, quando a gente é jovem, não tem o alcance e nem a consciência da grandiosidade desse conselho. É somente com a experiência da idade, com a maturidade, que passamos do processo jovem, criativo e produtivo, para o processo maduro de introspecção e sabedoria existencial. Serenidade, paciência e bom humor, alegria e felicidade a cada encontro dos amantes passam a ser as paragens pelas quais vagueia a nossa inteligência e com ela a nossa sexualidade. Sabedoria milenar.
Portanto, nesse encontro com o outro, dispensam-se as preocupações com a ereção, penetração ou orgasmo. O sexo nesse estágio é a própria vivência da alegria e da beleza, e o encontro todo é uma grande carícia, um tocar prazeroso, o sentir o coração pulsar e acima de tudo o olhar nos olhos um do outro, vendo refletidas as almas em êxtases. Prazer intenso no corpo, na psique e na alma. A certeza de ser divino, como ser humano. Contudo, o homem maduro passa a pensar com o coração, a fazer sexo com o corpo todo e com a mente no aqui e agora, pois na plenitude do prazer de se encontrar experimenta o paradoxo e o milagre da vida, do nascimento e da morte. Cada encontro é um renascer. Cada orgasmo é um morrer. Enfim, você é o milagre da vida. Entre milhares de espermas mortos, você está vivo para cumprir esse processo do ciclo da vida. Nascer, viver, envelhecer e morrer.

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