21 de junho de 2018

IMPEDIMENTOS INTERNOS AO AMOR

Segundo o psiquiatra Flávio Gikovate (1943-2016), a pessoa apaixonada dorme mal, acorda no meio da noite assustada e sempre com a sensação de que o outro não a ama mais. É como se perguntássemos: “Será que o obstáculo externo já determinou o fim daquela aliançaSerá que ainda é o mesmo hoje que era antes”? Pessoas apaixonadas ficam absolutamente obcecadas por esse tipo de pensamento e sofrem muito. Tudo levando a crer que esse estado, aproxima bastante de uma doença mental. Que para os românticos pode ser uma adorável doença mental, mas é uma doença. Porque as pessoas apaixonadas ficam completamente perdidas, achando o máximo esta paixão.

Porém com todo o sofrimento, as pessoas ainda acham o máximo e procuram por esta paixão. É evidente que a duração é por tempo limitado, porque o organismo não aguenta sofrer tanto assim. Portanto, o amor é um sentimento que se tem para a pessoa, cuja presença provoca na gente uma sensação de paz, aconchego e tranquilidade. É aquela completude que nos falta quando estamos sozinhos. Isto é obvio que significa que o primeiro objeto do amor da criança é a mãe. E esta figura vai sendo substituída ao longo da vida por outros objetos, mas, sempre o objeto do amor é aquele, cuja presença nos provoca o aconchego e a paz desejada. Nos tira do desgosto da solidão.

De modo que o amor seria um prazer negativo, porque deriva do fim de um sofrimento e não de um prazer positivo como é o caso do sexo. No entanto, o sexo para ser excitante e agradável não precisa de um sofrimento anterior. No caso do amor há um desconforto pelo fato da pessoa se sentir sozinho. Há uma sensação de incompletude ou de metade que nós vivemos, demoramos a descobrir que somos um inteiro, se é que a gente descobre. Embora precisamos do outro para nos sentir completo. A gente vive como se fosse uma coisa incompleta que precisa se completar através de uma aliança com outra pessoa.

Entretanto, se não houvesse esta sensação de incompletude, provavelmente não existiria o fenômeno do amor. O primeiro inimigo ao contrario do amor que existe dentro de todos nós é o medo de que isto vá implicar na perda da individualidade. O segundo inimigo é curioso porque ele tem a ver com a experiência do trauma do nascimento, a ruptura entre a criança e a mãe, nosso primeiro objeto de amor. Se depois de adulto eu estabelecer outro vínculo amoroso de grande intensidade, eu passo a sofrer ou padecer de um enorme medo do sofrimento embutido na possibilidade de ruptura. Ou seja, todo elo constituído é um embrião de um potencial de ruptura. No entanto, é o medo do sofrimento decorrente da ruptura. Se nunca tive antes uma experiência afetiva do relacionamento, pelo menos tenho a do nascimento de ruptura, como uma coisa horrorosa e dramática.

Por conseguinte, aquelas pessoas que lidam mal com frustração, dores e contrariedades. Com frequência, essas pessoas tem muito medo de estabelecer vínculos amorosos, justamente porque eles implicam num risco de sofrimento muito grande. E quem não suporta bem sofrimento, não pode correr o risco de relacionamento amoroso intenso. Porque, todo relacionamento pode terminar ou determinar o sofrimento relacionado com a ruptura. Quem não suporta a ideia de sofrimento amoroso, acaba constituindo mais um ingrediente ao contrário ao envolvimento amoroso. São aquelas pessoas chamadas de imaturas ou narcisistas, que o Freud mesmo dizia que são pessoas que só querem ser amada e não amar. Justamente porque elas se defendem do amor, para não correrem o risco do sofrimento. As pessoas resolvem essa dualidade entre a vontade e o medo, arrumando um jeito de serem amados mais do que amando. O que faz bater o coração não é o amor. O coração bate de medo do amor.

Portanto, o que nos chama a atenção é que essas histórias de amor, mesma que intensa, mesmo a pessoa amando profundamente, sempre termina em separação. Por que será? De modo que, essa aproximação de dois inteiros ao invés da fusão de duas metades, definiria o romantismo que está para nascer. Contudo, essa fusão de duas metades não funciona mais. Funcionava quando a mulher era dependente do homem. Havia uma dominação masculina que hoje não existe mais. Hoje ninguém domina ninguém, só resolve aproximando dois inteiros aí pode se estabelecer a felicidade e quem sabe um amor de qualidade. Respeito mutuo pela individualidade de ambos. A solução é ir aos pouco desgrudando as duas metades e juntando os dois inteiros. Ai sim, quando se encontram é muito prazeroso, pela felicidade e o prazer que traz a companhia um do outro. A única maneira de combater o medo é perder o medo de amar e declarar o seu amor pelo outro. Amor de boa qualidade não é todo o dia que se encontra.

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