24 de abril de 2018

O DESEJO SE ALIMENTA DA INSATISFAÇÃO

Na nossa cultura privilegia muito o desejo, talvez por conta de uma insatisfação experimentada, de uma parcela significativa da sociedade. Valorizamos muito o desejo que sempre pressupõe um objeto externo não possuído e quando o possuo, deixo de desejá-lo. Se o individuo já satisfeito porque acha que mais um desejo foi realizado, logo passa a buscar outros desejos. Como o desejo se alimenta de certa insatisfação, que combina muito bem com toda a indústria consumista, a sexualidade torna-se o alvo maior do capitalismo selvagem. Até parece que as mulheres de hoje, não são mais para amar e, sim, para olhar e se deliciar de tão gostosas e malhadas que são. São tão olímpicas que alguns homens, em particular os machões, brocham só de olhar, não por desinteresse, mas por não achar-se tão competente assim. É como se elas falassem: “você não passa de um gordo, velho e solitário, trancado na sua medíocre vidinha sexual”.

Antigamente, as mulheres sabiam seduzir os homens. Elas praticavam a arte da sensualidade e da fantasia. De modo que diante de uma Sharon Stone, o machão se encolhia todo, virava um pobre coitado excluído. Além de rica, Sharon Stone era linda e gostosa, para o delírio dos proletariados sexuais, que jamais teriam dinheiro para conhecê-la na intimidade. No geral, essas mulheres robóticas, provocam uma excitação de classe. É como se elas dissessem: “o meu ideal é ser desejada como um bom produto”. A meu ver e de muita gente boa, isso não leva a lugar nenhum a não ser, a profunda frustração, porque depois de saciado esse desejo só nos resta o tédio, uma vida miserável, sem sentido. Todo dinheiro que antes se gastava com psicoterapia, hoje se gasta com a modelação do corpo nas academias. O que importa é cuidar do corpo sarado, a saúde mental ficou para o segundo plano, não precisa se preocupar. No entanto, infelizmente, o que assistimos é uma sociedade enferma, pobre de espirito e doente em todos os aspectos.

De modo que, o desejo tem características extremamente aristocráticas, porque privilegia, do ponto de vista, as relações interpessoais, aquelas que são mais desejadas. No caso dos homens, os mais ricos, os inteligentes e os desleais também. Para quem não sabe, os cafajestes fazem um sucesso medonho com as mulheres. No caso das mulheres, as mais belas, as mais olímpicas, as mulheres frutas da vida. Outro dado observado nas mulheres (nem todas gostam), elas adoram esse tipo de homens safados e cafajestes, esses são alvos prediletos da maioria das mulheres. Até em campanhas publicitárias, eles aparecem fazendo o tipo cafajeste. Outro dado relevante é que o sexo casual também faz parte dessa visão aristocrática, sempre é importante entender, que ele privilegia umas poucas minorias e desfavorece a grande maioria. Como aquelas pessoas mais sinceras, as mais tímidas, as que falam a verdade, as que não são tão boas de conversa fiada, as que não frequentam vida noturna e as que não atendem as exigências do mercado de consumo, essas pessoas sempre são marginalizadas.

Portanto, o elemento tátil do desejo se abastece através de trocas gostosas e prazenteiras entre duas pessoas que se atrai. Uma conversa agradável, trocas de carícias com alguém disposto e receptivo, que lhe é interessante naquele momento, sendo assim, segue-se o momento prazeroso com as carícias verbais que praticamente não dependem de novidades. Por outro lado, aquilo que mais excita a mulher ou vice-versa, se abastece através de trocas gostosas e prazenteiras, tal como uma boa conversa, trocas de carícia com algum parceiro que lhe é interessante naquele momento. Contudo, segue-se o momento prazeroso. Porém, o desejo é pura novidade e tão pouco combina com as relações afetivas. Tanto o homem como a mulher se tiver uma relação de boa qualidade, não precisa mais do desejo. Ninguém deseja o que possui. A mulher ou o homem deixa de ser objeto do desejo, para ser objeto de excitação um do outro. Portanto, para se concretizar a excitação haverá as trocas gostosas de carícias, o estabelecimento da intimidade e o esquentar das relações que são estreitadas a partir da aceitação das carícias e da mútua reciprocidade.

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