20 de novembro de 2017

O DRAMA DA NOSSA VAIDADE

Vivemos em tempos de modernidade líquida, nada é feito para durar muito, nem mesmo as amizades. Nós não consertamos mais coisas, assim como não consertamos mais relações humanas, nós trocamos. A vaidade é o preço maior que pagamos para qualquer coisa. Nós não compartilhamos mais dores e fracassos, pelo contrário, bloqueamos qualquer um que se atreva a nos contrariar no “Facebook” ou no “Whatsapp”. Julgamos o outro com facilidade, com sorriso no rosto e mostramos uma imagem falsa, de uma vida feliz. Ao trocarmos de carro, de computador ou de pessoas que amamos por outras, vamos substituindo a dor do desgaste pela vaidade da novidade. Ao trocar alguém creio, imediatamente tornamo-nos pessoas mais interessantes aos olhos do novo. E não percebemos que aquele espelho, continua sendo o drama da nossa vaidade.

Todavia, o que não toleramos na pessoa anterior é que ela nos mostrou o quanto estamos decaindo, envelhecendo e que não somos mais interessantes para ela. E na nova pessoa, exploramos o quanto queremos ser interessante. É triste constatar que o nosso mundo hoje tenha eliminado a humildade como virtude. É fascinante, por exemplo; que aceitamos todo e qualquer elogio, porque dentro de nós, segundo os místicos medievais, há um demônio da vaidade esperando por elogios. Aquele que acredita no que não pode ser acreditado. Como Lúcifer um dia, acreditou que podia ser igual a Deus. Apesar de saber que um Arcanjo criado, jamais poderia ser igual a Deus. Ou seja, repetimos e é aqui que a natureza humana entra: “O pecado de Lúcifer”.

Entretanto, brigamos permanentemente por esse “Ego” insaciável. Vale lembrar os budistas, que centraram fogo nesse ego que nos corrói por dentro. Porque nós preferimos ser perseguidos, a ser ignorados. Preferimos tudo, menos não ser visto e elogiado, porque viver hoje é ser visto. Senão fotografar onde estivemos e o que estamos fazendo, de nada valeu a nossa estadia. Ver é viver. E ser visto é ter a certeza que vivi. Se o homem escolher, poderá saber que tudo aquilo que parece fazer bem aos outros é na verdade, um engano de vaidade. De modo que, a todo instante a nossa vaidade é testada. E como não gostamos de dizer que somos vaidosos, nós a desfazemos através de recursos, fazendo-se passar por humildes e simpáticos a todos que nos rodeiam. De modo que, acabamos sustentando esse grande vicio que é o da vaidade. As pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas. Mas que vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. O que nos determina é o que a vida nos ensinou.

Portanto, temos que nos conformar que a vaidade seja uma instituição, que a vaidade esteja presente entre nós permanentemente. Temos que aprender a lidar com ela, para não ficar com falsas humildades. Temos que aprender, que sempre haverá alguém mais hábil, melhor e acima de nós. A única maneira de não ser vaidoso e pensar apena em nós, é parar de nos comparar com os outros, ou seja, devo pensar somente em mim. Isto é uma redundância. Por conseguinte, não tem saída jeitosa para nós humanos, estamos todos isolados. Nos momentos que o meu “Eu” é reconhecido e dialoga com os outros. Chamamos a isso de encontro, amizade, namoro ou casamento. E nos momentos que não dialoga, que ninguém se escuta e não se entende, chamamos a isso de encontro, amizade, namoro ou casamento. Contudo, no meio desta dialética, nós tratamos então, do pecado, do erro, do vício e da vaidade. Concluo com uma frase que gosto muito de João Guimarães Rosa (1908-1967), do seu livro: “Grande Sertão Veredas”: “Amigo para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo do outro. Amigo, é que a gente seja, mas sem precisar saber o por que é que é”.

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