24 de novembro de 2017

DESPIR-SE PARA TRANSFORMAR A DOR EM AMOR

Vivemos com medo de tudo que é novo, o desconhecido nos assusta e às vezes até nos paralisa. No filme: “Irmão Sol, Irmã Lua”, do diretor Franco Zeffirelli, de 1972, narra à trajetória da vida de São Francisco de Assis (1182-1226), um jovem sonhador, filho de comerciante, que desfrutava de bons vinhos, lindas mulheres e canções sem ter nenhuma preocupação. Quando a guerra e as doenças assolaram a região onde viveu, ele sofre uma grande transformação. Resolveu abandonar tudo ao ver essas coisas ruins acontecendo na sua região. Foi aí que resolver transformar essa dor em amor Ao aparecer diante do Bispo local, ele se despe de suas roupas, simbolizando a renúncia a sua vida prévia para dar início a uma vida dedicada a Deus e ajudar aqueles que mais necessitavam. Mas sua pregação só iria chegar ao ápice quando ele vai a Roma, para ter uma audiência com o Papa Inocêncio III.

O filme é maravilhoso relatando a vida do nosso bondoso Francisco de Assis. Um homem que teve a coragem de abandonar a vida rica, o luxo, os prazeres do mundo, a família e viver para o seu próximo. E o desistir das satisfações efêmeras, dos bens materiais, das regalias e diversões, ele alcançou o maior triunfo de sua vida. Seguindo o exemplo de Paulo de Tarso conseguiu realizar em si mesmo, uma profunda reforma moral e social, através do tempo. Compreendeu que o seu desiderato era servir, era amar ao próximo como a si mesmo, era seguir os ensinamentos maravilhosos do mestre Jesus. Irmão Sol, Irmã Lua que é um excelente filme, uma grande demonstração de humildade e uma lição de vida para os cristãos. Seu diálogo com Deus traduz a sua essência ao dizer: “Senhor, fazer-me instrumento de vossa paz! Onde houver ódio, que eu leve o amor (...). Pois é dando, que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna”!

Puxei pelo filme, por ter muito a ver com a nossa reflexão. Principalmente, na cena em que ele se despe de suas roupas e sai rumo ao que acredita para sua vida. A atitude firme do jovem Francisco mostra que, em certos momentos de nossas vidas, a ruptura tem que ser radical. Para iniciarmos uma profunda transformação em nossa vida, devemos colocar em xeque valores, tradições, ensinamentos e posturas que são como roupas velhas em uma alma que aspira por amor e vida em abundância. Esse caminhar em direção ao nada, numa linguagem nietzschiana, só para fazer referência ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), que chamava o nada de “niilismo”.

Sem essa consciência, como vou saber se sou conservador ou progressista, se sou bom ou mal, forte ou fraco, se não chego até a linha que demarca o limite entre uma posição e outra? Chegar ao ponto zero ou ao nada requer uma reflexão profunda, íntima, dos valores que tenho que são meus por convicção, com aquele que acostumei e incorporei por osmose social. Enquanto não chegarmos a esse ponto zero, despir-se dessas roupas velhas em detrimento das novas, a tendência é encontrar desculpas para nossas fraquezas e fracassos. Onde não há transformação e nem crescimento, não podemos afirmar que o amor ali impera. Ao plantar a dúvida podemos estar decretando a morte ou a possibilidade de conhecer o infinito. Pois é através do amor que o infinito revela-se em nós e com a sua luz nos ilumina e nos guia.

Portanto, dizer que somos assim por causa da família, ou da condição social é uma forma de arranjar culpados pela nossa inércia e esconder o medo que temos da transformação. Contudo, a tarefa em buscar do nada não é fácil, precisamos de ajuda, talvez de um psicoterapeuta ou de um religioso consagrado. Mas o importante é predisposição para o encontro é para com os conflitos diante das velhas roupas que queremos arrancar do corpo. A grande sabedoria da vida é saber envelhecer. Porque a alma nunca envelhece, só nos torna cada vez mais sábio. A mensagem que fica é a seguinte: “Despir-se para transformar a dor em amor”. Tudo na vida é consciência.

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