12 de novembro de 2017

HISTÓRIA DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

Para fundamentar tudo que vou dizer nesta reflexão, começo citando o filósofo e teólogo Huberto Rohden (1893-1981): “quem julga ter provado Deus é ateu, e quem adora esse deus, demonstrado é idólatra”. Diante destas palavras, então, não podemos ter certeza da existência de Deus? Não é uma resposta fácil. Vale lembrar, que a filosofia tem uma coisa que a religião não tem, que é a necessidade de certo “ateísmo metodológico”. O filósofo tem que ser alguém que não pode ter crenças dentro da pesquisa filosófica, ainda que se tratasse de Deus, porque para a filosofia Deus não é “impossível” ele é “improvável”. Improvável significa que não posso provar e nem negar a existência de Deus. Porque Deus não é impossível para o filósofo afirmar a sua não existência. Para isto, teria que provar que Deus não existe. Como negar o que não posso provar?

De modo que não podemos negar aquilo que não se pode provar. Segundo porque Deus não é um ser físico, um super indivíduo, residente em alguma galáxia do universo. Terceiro porque, pessoa é necessariamente algo ou ser infinito que tem um fim, limitado. Tudo o que o homem fala sobre Deus, através da linguagem religiosa, nada mais é que uma confissão de suas aspirações e projeções. É sua consciência do mundo e de sua crença num ser metafísico. Podemos dizer que a Bíblia é, antes de tudo, a história da experiência religiosa de um povo singular. Aqui estamos falando do povo de Israel. Singular pela intensidade de sua experiência religiosa. Dentro da história das religiões, o povo judeu aparece marcado por sua inquietação religiosa, isto é, sua relação com Deus. A experiência religiosa concreta e singular desse povo não é a primeira que aparece ao ler a Bíblia. Apesar da singularidade assinalada, um historiador ou um filósofo imparcial, não verá em Israel nada de extraordinário.

Entretanto, o que se pode perceber ao assinalar o Antigo e o Novo Testamento, é que não seria mais do que um gênero literário, do qual se expressa à vivência religiosa de alguns seres humanos e através do qual só um crente poderá induzir a palavra de Deus. Portanto, a Bíblia é um livro escrito por homens, logo se conclui que a palavra de Deus não é direta e sim um desejo do autor que a escreveu. Levando em consideração que nós humanos somos a linguagem de Deus. Sendo assim, Deus é um nome religioso de Ser, enquanto este ser é experimentado em uma revelação que suscita a fé. Isto mostra que há mais sentido na palavra “Deus” que na palavra “Ser”. Parece que a primeira reúne todos os valores significantes da cultura pelo simbólico. Dirigimos diretamente ao Deus que formulamos, imaginamos e expressamos. Neste contexto, passamos a compreender a proibição do Antigo Testamento, de se fazerem imagens de Deus ou pronunciar seu nome.

Trata-se no fundo, de evitar o risco de idolatria. A ideia de Deus é sempre culturalmente condicionada. E mesmo quando um padre ou pastor transmite o que ele pensa que seja Deus, o seu deus, esse deus é transformado em função do que as pessoas então aptas a pensar sobre o que seja Deus. Não podemos definir Deus; porque no fundo toda tentativa de definir Deus encerra-se numa idolatria. Portanto, no pensamento do Antigo Testamento, Deus é revelado na história (o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó), é na história, não em uma situação que transcenda a história, que se acha a salvação do homem. Isto significa que as metas espirituais do homem são inseparavelmente ligadas a transformação da sociedade e da política. Fundamentalmente não é um domínio capaz de ser divorciado dos valores morais e da alto-realização do homem.

No entanto, o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) combateu a religião exatamente por ela estar alienada e não atender às necessidades verdadeiras do homem. A luta de Marx contra Deus era na realidade contra o ídolo a que chamam de Deus. Marx dizia: “não são ateus os que desprezam os deuses das massas, porém, aqueles que atribuem as opiniões das massas aos deuses”. O ateísmo de Marx era a forma mais adiantada de misticismo racional. Muito mais do que os defensores de Deus e da religião que o acusavam de ateu e impiedoso. De modo que a razão de Deus é uma necessidade que está no sonho, na linguagem, no discurso e na vida de cada ser humano. Quando deixamos de acreditar nestas instâncias, Deus desaparece. Gostaria de provocar o raciocínio lógico de alguns crentes fazendo a seguinte pergunta: “Qual seria a sua reação ao sentir que Deus é impotente diante do mundo?” O que me ocorre com esta indagação, é que haveria de revisar a onipotência de Deus, no sentido de mostrar que o mundo está em nossas mãos, sob a nossa exclusiva responsabilidade, e que nós, por outro lado, estamos nas mãos do mundo, nas mãos das forças da natureza e de suas leis, sem delas poder fugir.

Portanto, o verdadeiro crente não precisa recorrer à hipótese-Deus, para situar-se e atuar no mundo. O que minha fé diz: “é que Deus está presente no fundo da nossa própria atividade humana”. A experiência nos diz que é mais difícil acreditar nos humanos que a gente vê, do que em Deus que a gente não vê. Então, a pergunta que faço: “como acreditar em Deus, se não acreditamos no ser humano?” Tudo isso só para dizer, que a sombra dessa necessidade de transcendência de Deus, presente em algumas pessoas, que não esbouçam nenhuma reação critica sobre sua relação com Deus e com o seu próximo. De que adianta teoricamente, falar do meu amor a Deus, se não pratico esse amor com o meu próximo. Contudo, por conta disso, continua as eternas mentiras que criaram. Na verdade, não tem nada a ver com a fé ou crença de cada um. Mas, a fé e a crença têm que respeitar pelo menos o bom senso de cada um que pratica o bem. Talvez seja essa, a minha maior experiência com a divindade, praticar o bem sem olhar a quem. É com o meu semelhante, que compartilho a experiência do sagrado. Pensar Deus é uma questão de fé. Deus é um pensamento. Que sem o qual não existo. 

Um comentário:

  1. Anônimo18:56

    Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...