7 de novembro de 2014

O EMISSOR DA HUMANIDADE

Um dos mais polêmicos críticos literário americano Harold Bloom (1930), argumenta por que ainda se deve ler num mundo dominado pelas imagens. Sem nenhum pudor em atacar seus colegas acadêmicos, ele não se cansa de chamá-los de ressentidos e os acusa de estarem matando a literatura com a mania do politicamente correto. Um ferrenho defensor dos "valores estéticos", Bloom autoproclamou-se guardião solitário da cultura clássica e exalta os grandes nomes da literatura mundial com uma energia admirável.

A informação está cada vez mais ao nosso alcance. Mas a sabedoria, que é o tipo mais precioso de conhecimento, essa só pode ser encontrada nos grandes autores da literatura. Esse é o primeiro motivo talvez porque devemos ler mais. O segundo motivo é que todo bom pensamento, como já diziam os filósofos e os psicólogos, depende da memória. Não é possível pensar sem lembrar. Na verdade, são os livros que ainda preservam a maior parte de nossa herança cultural. Finalmente, e este motivo está relacionado ao anterior, pois, sabemos que uma democracia depende de pessoas capazes de pensar por si próprias. E ninguém faz isso sem ler. Mas, uma leitura livre, sem considerações políticas, ler sem compromissos ideológicos ou preconceitos.

O escritor português José Saramago (1922-2010) Prêmio Nobel de Literatura em 1998, está entre os melhores romancistas da atualidade, não deixa nada a dever aos grandes nomes da literatura. Mas, sinceramente, acho que num mundo dominado pelas imagens e o audiovisual, livros difícil como os dele poderão deixar de serem lidos daqui alguns anos. As crianças estão crescendo cercadas por telas enormes de multimídia. A longo prazo, não sei qual pode ser o efeito disso sobre a capacidade das pessoas de ler para buscar não apenas informações, mas sabedoria e conhecimento.

Será que realmente as crianças vão ler coisas melhores depois de ler Harry Potter? Penso que não. Stephen King (1947) é um escritor americano, reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de terror e ficção da sua geração. Não consigo ler nem dois parágrafos do que escreve. Verdadeiro lixo de cultura de massa. Segundo ele, as crianças que aos 12 anos estão lendo Potter aos 16 estarão prontas para ler os seus livros. Precisa dizer algo mais? Os Estados Unidos é um país em que a televisão, o cinema, os videogames, os computadores e Stephen King destruíram a boa leitura. A defesa de livros ruins vem de todos os lados – dos pais, das crianças, da mídia – é muito inquietante e nem um pouco saudável essas informações.

Entretanto, aquilo que gostamos de chamar de nossas "emoções" surgiu pela primeira vez como pensamentos em William Shakespeare (1564-1616), nele, mais do que em qualquer outro escritor, parece que os personagens não foram inventados. É como se eles existissem desde sempre. O que era o homem antes de Shakespeare? Personagem de dimensão quase inexistente, na afirmação do crítico literário Harold Bloom, que em Shakespeare: “A Invenção do Humano”, um estudo monumental sobre esse grande gênio da literatura. Saramago, por exemplo, parece para mim, estar sempre envolvido numa complexa competição com Eça de Queiroz (1845-1900) e com Fernando Pessoa (1888-1935), os dois grandes autores portugueses que o precederam. Ainda acho que a literatura caminha por meio de um confronto direto com a produção da geração anterior. Isso não vai mudar. Arte é competição e sempre será.

Portanto, quem quiser escrever para bons leitores é necessário que a tua alma seja uma antena ultrassensível que apanhe as mais ligeiras ondas espirituais que percorrem o universo humano. É necessário saber cristalizar em ideias conscientes a inconsciente atmosfera das almas que te cercam. É necessário dizer ao leitor o que ele já sabia nas penumbras do seu "Eu interior", mas não sabia trazer a luz meridiana da consciência vigilante. Contudo, o escritor faz nascer o que já era concebido e andava em gestação. Enfim, o escritor é o intérprete consciente da "subconsciência universal". Ele é o emissor da humanidade

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