28 de novembro de 2014

ERRANDO QUE SE APRENDE

Os tropeços e os fracassos fazem parte da vida. Agora como nós lidamos com os erros é que vai acabar por nos definir. Segundo o zoólogo e compositor brasileiro, numa das suas músicas “Volta por Cima” Paulo Emílio Vanzolini (1924-2013), diz: “reconhece a queda e não desanima, levanta sacode a poeira e da volta por cima”. Por conseguinte, errar é importante e inevitável ao mesmo tempo. É errando que se aprende, sempre digo isso a minha filha caçula de nove anos: “não fique triste, é através dos erros que se aprende”. O erro nos mostra que estamos fazendo coisas novas e procurando acertar. Se não tem erros não há crescimento, não há evolução, tudo muito certinho aí vira mesmice, não tem mais nada que aprender. Estagnou, não crescemos e nem evoluímos. É graças aos erros e acertos que se deu a evolução da humanidade.

Durante a vida estamos em processo de construção. Não existe vivência sem ensaio e, o erro é necessário para orientar nossas decisões. A experiência nos convida a abandonar as visões distorcidas sobre o assunto. Julgar um erro pontual como algo ruim, nos afasta da essência, da aquisição, do conhecimento, que está em constante movimento. E isso vale para quem lida com pesquisa científica, para o bebê que está descobrindo como falar, para os jovens estudantes, para o empresário que quer ver sua empresa crescer, o bailarino que ensaia oito horas por dia. Mas quem de nós é capaz de admitir que erramos, com a mesma tranquilidade?

Para ilustrar lembrei-me da história de um empresário que estava com problemas na sua empresa. O diretor chegou para ele e disse: “vamos precisar demitir 20% dos funcionários, você tem algum critério que queira aplicar para essas demissões?” Prontamente respondeu o empresário: “sim, demita os que não erram esses não fazem falta”. Aqui temos o outro lado da moeda, nunca mostrar o erro como algo negativo, isso pode ser traumático, principalmente, para a criança. O erro da educação é focalizar no erro. Quando o professor avalia o trabalho escolar do aluno ele procura saber quantas questões acertou, segundo os seus critérios de avaliação, como se isso fosse o mais importante. Quando na verdade, o mais importante é o desempenho e o esforço do aluno, para continuar errando sem ser estigmatizado. É assim que se da o processo de ensaio e aprendizagem do conhecimento.

Evidentemente, que tudo tem a ver com a formação e valores que trazemos da infância. Quando a pessoa é punida pelo erro, ela tende a ficar mais retraída. Existem duas maneiras de ensinar alguém. Alias, os adestradores de animais dizem que geralmente o animal aprende melhor quando ele é gratificado pelo acerto do que quando é punido pelo erro. Ao ensinar alguma coisa para criança aplauda quando ela acertar, ao invés de ficar criticando o erro. Esta criança quando chegar à sua fase adulta é muito mais capaz de lidar com os seus erros do que aquele que foi reprimido quando crianças. É dever dos pais e professores evitar passar para a criança a ideia da falta de amor. Sobretudo, por fazer muito mal para a autoestima da criança. E a auto estima é fundamental para a saúde mental de todos nós. A felicidade está na capacidade da gente fazer as coisas, independente de acertar ou errar. O único modo de aprender neste mundo é errando e quanto mais erros cometermos, maior será o sucesso no futuro.

Portanto, a experiência é a soma dos erros e acertos que cometemos durante a vida. Com os erros aprendi mais sobre os acertos. Com as pessoas vivi e revivi o significado de uma bela amizade. Com o trabalho percebi o quanto amo o que faço. Com o amor me senti grande, realizado e descobri o quanto é maravilhoso ter alguém do nosso lado, para dividir nossos momentos prazenteiros. Os caminhos às vezes são confusos, dolorosos e questionáveis, porém, nunca sem saída. Os erros nos tornam mais humildes e com eles aprendemos a acertar e nos desculpar, e por que não, perdoar? Diante dos acertos ou dos erros, diante das alegrias ou tristezas, diante de qualquer coisa que seja sempre vou amar. Não tenho medo de envelhecer, só tenho medo de não ter tempo de viver esse amor. Minha racionalidade justifica que a cada dia envelhecemos mais um pouco. Sinto uma injusta contradição: envelheço quando meu espírito está mais aguçado, minha lucidez parece plena e minha ansiedade dominada. Sinto a dialética da vida, minha alma está serena e calma. Meu corpo já da sinais de sua finitude. Contudo, quanto mais eu sei, mais eu sei que nada sei. Há erros que cometemos. Verdades que não conhecemos. Mas, entre erros e verdades, encontrei o amor. Talvez esse amor fosse entre os erros que já cometi, o maior acerto. Mas hoje com certeza, posso afirmar que esse amor é a minha maior verdade.   

Um comentário:

  1. A felicidade esta na capacidade da gente fazer as coisas ,independente de acertar ou errar !Muito bom !

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