25 de novembro de 2014

ENTRE O BEM E O MAL

Por acaso alguém já viu nos filmes, novelas, livros de contos, ou numa peça teatral, o mal e o bem conviverem numa boa? Muito complicado, não é mesmo? Como diz a sabedoria popular: “a arte imita a vida ou a vida imita a arte?” Bom, o fato é que se torna difícil para as pessoas conviverem com estes dois atributos, suas virtudes e seus defeitos. No entanto, numa das histórias que ouvimos quando criança, sobre a origem do mundo, parece que vamos encontrar essa problemática.

No Jardim do Éden vivia um casal que só fazia e pensava coisas boas, até que uma cobra personificada, ou seja, uma persona não grata representando o mal, o lado pecaminoso (desejo sexual) e imperfeito do homem até então adormecido, que essa peçonhenta conseguiu vencer o seu lado bom, puro, assexuado, segundo alguns preceitos. Esse passo em falso do casal originou a perda da mordomia do paraíso e a expulsão para esse mundo inferior e de aparência, chamado planeta terra.  

O problema é que esse pecado teve desdobramento significativo e até hoje, como bons filhos, parece que assumimos a culpa pela má conduta dos nossos pseudo pais e muitas vezes acreditamos não sermos merecedores dos prazeres existenciais. Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), em sua obra “Além do Bem e do Mal”, ressalta que “a vontade de poder do ser humano é o que determina o que é belo, bom e verdadeiro, sendo, portanto, tais atributos, mutáveis”. O exemplo disso mostra que para os judeus, enquanto povo dominador, ao tempo de seus primeiros grandes reis, bom era tudo o que fosse vigoroso, alegre e que transmitisse confiança.

Se pensarmos que os meios de comunicação e aqui também falo das redes sociais, funcionam como veículos de transmissão de modelos sociais, podemos dizer que as nossas dificuldades serão maiores em aceitar o lado sentido como imperfeito. A grande questão do mal é que ele está presente no inconsciente coletivo das pessoas que se diz ser do bem. Como argumenta o escritor, romancista e poeta José Saramago (1922-2010), que “nossas vidas são feitas de pequenas e grandes mentiras”. E para mim o maior mal da humanidade não está somente na mentira ou na traição, mas, na humilhação que infligimos a aquele que supostamente dizemos amar. Nas redes sociais essa humilhação torna-se mais explicita. Temos uma forte tendência a formar juízo de valor sobre pessoas que mal conhecemos. E o mais grave é que continuamos insistindo e acreditando nesse personagem sem rosto que se apresenta como um "fake", no mundo virtual. Na verdade, o propósito é causar dor psicológica naquele que convive de perto conosco e, que nos conhece na intimidade e no coração. Não é elegante e nem racional humilharmos quem a gente ama. Talvez esse seja o maior veneno da humanidade, a falta de respeito pelo seu semelhante.

Nossas dificuldades e os insucessos serão vivenciados no papel da vitima, arranjamos sempre um culpado para tudo de ruim que fazemos ou que acontece conosco, para ser o "bode expiatório" – expressão usada quando alguém acaba pagando pelo que não fez. Que não deixa de ser uma ideia maquiavélica da classe dominante, que é mestre em justificar os fins sem se preocupar com os meios para alcançá-lo. Para citar Nietzsche, será que em algum momento nos questionaremos: O que é bom para nós? Para o bem de quem são proclamados esses valores relativos? Considerar o outro como a soma de suas qualidades e defeitos, como algo pronto e acabado, é enquadrá-lo como objeto e ignorar suas possibilidades. É assim que se pode rotular o outro e vê-lo como: “prostituta, homossexual, pobre, ignorante, negro, vagabundo e velho”.

Por outro lado, as pessoas não juntam ideias. Não aprenderam que a única maneira de se ter um amigo é ser um deles. Se essa moça pudesse naquele momento, enxergar na outra pessoa não aquilo que a vida e a sociedade dela o fez, e sim olhar com o coração, haveria a possibilidade de humanização permanente das relações e da própria sociedade. Isto é, dar ao outro e a si mesmo uma nova chance e apostar sempre na compaixão como um bem maior. Tendo em vista, que o poder que se proclama se perde a verdade, vulgariza o outro, apaga a felicidade que se anuncia e causa dor e sofrimento para ambos. Entre outras coisas que a verdade pede é que não a condene antes de conhecê-la. Sobretudo, porque a humildade é condição essencial ao progresso individual e proporciona felicidade aos seus possuidores e consolida no amor.

Portanto, nós humanos não somos um "ser" simples, mas composto de duas substâncias, corpo e alma. E o amor em si mesmo tem dois princípios: o ser inteligente e o ser sensitivo. O apetite dos sentimentos tende ao bem estar do corpo e o amor ordena o bem estar da alma. Se este amor for bem desenvolvido e maduro o suficiente para segurar as turbulências da vida, ele está seguramente no plano da "consciência cósmica". Compreender e entender o outro são sinônimos de humildade e compaixão. Só a plenitude (a ideia de completo e perfeito) já tem o seu lado ruim, porque ela não leva aos desafios, competições, maledicências e preconceitos absurdos. Com certeza nossos primeiros pais, Adão e Eva sacaram isso quando foram expulsos do paraíso. Contudo, estar entre o bem e o mal é gozar do livre arbítrio. "Eu sou a minha consciência".      

Um comentário:

  1. Anônimo17:30

    Parabéns pela bela postagem de texto... como ja dizia NXZero: "Entre o bem e o mal... eu fico com a PAZ !
    Beijos Edu

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