11 de novembro de 2014

A NATUREZA DO AMOR

As pesquisas têm revelado que o amor é um fenômeno biológico e não apenas uma questão cultural como afirmavam até então os cientistas. Mas, o que é o amor? Até pouco tempo, cientistas assumiram que o amor era apenas um conceito presente na cabeça dos homens da cultura ocidental. Hoje, no entanto, a ciência vem revendo a sua posição e, segundo novas descobertas, publicadas na penúltima edição da revista Time, levam a crer que romance é um fato biológico e não apenas uma questão cultural como se dizia. Estaria certo o poeta quando disse: “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”.

Perguntas ainda se levantam. A primeira é porque, apenas agora, pesquisadores e filósofos se enveredaram por este caminho antes percorrido apenas por poetas e novelistas. São duas hipóteses: uma é a questão da Aids que está aí em nosso meio e o sexo casual agora carrega riscos mortais. A outra é o número cada vez maior de mulheres fazendo pesquisas nesta área, provavelmente elas levam o amor mais a sério. Independentemente do porque, o mais importante são as conclusões: o romance é real, está em nosso DNA. Em nossa biologia.

Para o psicólogo e pesquisador Lawrence Casler, autor do livro: “O Casamento é Necessário?”, que diz não acreditar no amor como parte da natureza humana, fica a questão; se nós podemos procriar sem necessariamente amar, porque muitas vezes o amor desabrocha no meio do caminho? Se o amor foi plantado nas cabeças por agentes como trovadores, a custa do que persiste até hoje? A esta altura todos já deveriam estar imunes.

Para desbancar a tese da herança cultural, os antropólogos William Jankowiak e Edward Fisher, publicaram um trabalho afirmando que encontraram evidências de amor romântico em 147 das 166 culturas que estudaram. O que as diferenciavam, segundo os pesquisadores, era a forma de expressar o sentimento, não necessariamente através de chocolates e flores, como se faz no mundo ocidental.

Os antropólogos que se propuseram a estudar o amor no passado, segundo os pesquisadores atuais, se enveredaram pelo lugar errado. Buscaram respostas nos rituais de casamento e cortejo. Em muitas culturas, como ficou provado, amor e casamento não anda junto. Em muitas sociedades os casamentos podem ter todo romantismo de um negócio de interesse de família ou território. Mas, mesmo nestas sociedades, onde a união é um acordo comercial, Jankowiak afirma que não se pode dizer que o amor não existe, pois ele se manifesta de forma clandestina, como um fenômeno com o qual temos que lidar.

Se o amor existe, quando surgiu? O ponto de partida do amor acredita os cientistas, foi quando deixamos de andar de quatro e passamos a usar apenas as pernas, colocando em evidência tanto nossos órgãos sexuais, como a cor dos olhos e a própria dimensão do corpo. Foi possível, então, tentar novas maneiras de fazer sexo amoroso, que possibilitaram fazer do sexo um encontro romântico. Os casais começaram a procurar posições que os deixasse face a face e a atração física passou a ter maior importância, principalmente, para despertá-lo o amor romântico. A natureza sabe como conduzir o DNA do amor.

O lado romântico das relações permitiu aos indivíduos estabelecerem relacionamentos de longa duração, fundamentais na criação dos filhos, pois em campos selvagens, tornava-se muito mais difícil zelar pela criança tendo ainda que cuidar da própria sobrevivência. Ficava mais fácil unir-se a um parceiro e, juntos, assumirem a criação dos filhos.

Esta ideia inicial levou a antropóloga e pesquisadora do comportamento humano Helen Fisher (1945), do Museu de História Natural de Nova York a tecer outras teorias, uma delas sobre a duração do amor. Enquanto a cultura ocidental prega que ele é eterno, na natureza, Fisher diz existir provas de que o amor foi feito para durar cerca de quatro anos. Ela cita a crise dos quatros anos, mostrada nas estatísticas de divórcio de pelo menos 62 das culturas que estudou. Se o casal tem outro filho três anos depois do primeiro, como geralmente ocorre, a união tende há durar quatro anos mais.

Por essa tese, o amor não é eterno. Por outra, também defendida por Fisher, o amor não é exclusivo. Segundo a autora dos livros: “Anatomia do Amor” “A História Natural da Monogamia” “Adultério e Divórcio”, menos de 5% dos mamíferos formam pares rigorosamente fiéis e, os seres humanos, desde o começo dos tempos, mantêm o padrão de monogamia com adultério clandestino. O que pode ser rotulado de sem vergonha, cafajeste. Para alguns pesquisadores, os estudos de Fisher provam serem uma maneira de se formar novas combinações de gens para serem passados para as gerações futuras. Além disso, os homens que buscaram novas parceiras tiveram mais filhos; enquanto as mulheres, sempre agindo por debaixo do pano, garantiam melhor a sobrevivência. Até as pré-históricas tendiam a ter relação extraconjugal.

O amor é tudo que precisamos, raramente funciona. Quem realmente quer aceitar seu parceiro pelo que ele é o tempo todo? Parece que o tempo todo não é uma expectativa muito realista. O respeito mútuo e a disposição para a mudança, negociação e acomodação até um ponto são necessários para manter um equilíbrio razoável e cultivar o romance ao longo dos anos. Talvez seja melhor encontrar alguém que vá tratar você bem o tempo todo, que seja honesto e respeitoso, de modo que o amor possa ficar cada vez mais solido. 

Portanto, penso que o amor nunca morre de morte natural. Sendo assim, ele pode morrer um dia porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições que eventualmente venha ocorrer. Morre da doença do ciúme e das feridas que ele nos causa. Morre de exaustão, da devastação que a falta de respeito provoca. Morre muitas vezes por falta de brilho. Nós não somos tomados pelo amor que não recebemos no passado, mas pelo amor que não estamos dando no presente. Contudo, o amor permeia entre o corpo e a alma, ultrapassando a dimensão biológica onde tudo começa, para o plenamente espiritual onde se conclui na sua essência cósmica.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...