31 de outubro de 2014

LER É PENSAR COM SABEDORIA

Lendo um artigo do jornalista, cronista e cartunista Ziraldo (1932), dizia: “ler é mais importante que estudar”. Evidentemente, que se aprende muito mais lendo do que estudando, porque o estudo demanda concentração e desejo de aprender rápido, para melhor memorizar as palavras. Ao passo que a leitura para muitas pessoas, pelo simples prazer de ler, possibilita o entendimento e a clareza dos fatos, nos colocando no núcleo da realidade vigente. Para Ziraldo, quando se cria o hábito da leitura se ganha em conhecimento e enriquece o nosso vocabulário. Alguns estudos nessa direção vêm mostrando que o povo brasileiro ainda não descobriu o prazer na leitura e ocupa o tempo livre, vendo televisão, ouvindo música, descansando e raramente se propõe a ler um livro, jornal ou uma revista do seu interesse sobre um determinado assunto que o estimule.

Segundo o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014), disse num dos seus textos o seguinte: “Há um tipo de educação que tem por objetivo produzir conhecimentos para transformar o mundo, interferir no mundo, que é a educação científica e técnica. Mas há uma educação – e é isso o que chamo realmente de educação – cujo objetivo não é fazer nenhuma transformação no mundo, é transformar as pessoas”. Até porque, ler é pensar com sabedoria, pois a leitura torna nosso conhecimento mais amplo e diversificado, isto é, saber com objetividade. Portanto, o exercício da leitura é um mergulho na cultura do conhecimento.

Na dinâmica das informações no mundo globalizado, ler é uma necessidade básica. Quem não tem ou não cria este hábito fica para trás, porque a leitura leva-nos a investigação, a buscarmos cada vez mais, porque a partir dela somos sujeito e passamos a fazer nossas próprias escolhas, através do nosso livre arbítrio. Ler não é matar o tempo, e sim fecundá-lo. Sendo assim, incita-nos à curiosidade e a busca frenética pelo conhecimento. É preciso atenção para peneirar, para digerir cada palavra e todas as informações do conteúdo a assimilar. Aprender não é um instrumento passivo, pois, é uma experiência intelectual, um exercício de nossa faculdade de pensar as coisas, de aprender os seus sentidos, de buscar a significação que elas têm para nós. Mas essa experiência de ler e pensar o mundo, de buscar conhecê-lo, não pode ser uma tarefa solitária. Porque ler é estabelecer relações para compreender a realidade e enxergar mais longe.

Por outro lado, é muito difícil as pessoas comprarem livros. Além de ser um produto caro, e as escolas por sua vez não promovem o habito da leitura para seus alunos. São raras as Instituições de Educação que tem uma boa biblioteca, com vasta literatura para pesquisa e que ao mesmo tempo desperte nos alunos o prazer de ler. Chega ser alarmante o número de analfabetos funcionais em nosso país. Ou seja, aquele aluno que lê, mas, não entende o que leu. Não consegue juntar uma frase com outra, tem dificuldade de formar frases ao juntar as palavras, sem falar dos erros crassos de ortografia. Considerando, que o ambiente moral inicia com a atitude e respeito do professor pelas crianças e seus interesses, sentimentos, valores e ideias. Educação se faz através do encontro humano.  

Entretanto, o professor precisa introduzir seus alunos numa experiência divertida com a leitura e ter o cuidado de não usá-la como castigo ou tarefa por falta de atenção do aluno. Mostrar para o estudante que sem a leitura não aprende a pensar. E quando pensa, não sabe expressar o pensamento de forma lógica e organizada. Faltam vocabulário e clareza de raciocínio. Por conseguinte, as pessoas não conversam mais. Cada um conta o seu problema e não escuta o outro. Nós vivemos dos pensamentos dos outros, a começar pela política, economia, mídia e a educação que não ensina. De certo modo, vivemos presos às ideologias vigentes a certos preconceitos. Estão todos falando sozinhos de suas coisas, meio que informando o outro sobre o que fez ou vai fazer. Parecem tomados por uma cegueira crônica. Essa deficiência de leitura é que alimenta a ignorância planetária e coloca o ser humano de volta a Caverna de Platão. 

Ao ler um texto lidamos com as palavras e com ideias. As palavras são o lado visível e material da linguagem. Já as ideias são os conteúdos mentais que correspondem a cada palavra, por meio dos quais representamos um objeto, pensamos uma coisa ou uma relação entre palavras. Para o filósofo e educador Antônio Joaquim Severino (1937), é pela mediação dos conceitos que pensamos e concebemos as coisas e, consequentemente, as mensagens que, sobre elas, os textos escritos ou falados querem nos passar. O conceito representa e substitui a coisa no âmbito da consciência subjetiva e é graças a ele que podemos pensar. Porém, ler é buscar criar a compreensão do lido. Podemos entender a leitura com o coração da educação.

Todavia, a busca da palavra é uma procura dolorosa. Através da leitura que vamos melhorando e enriquecendo o nosso vocabulário e alargando o horizonte de conhecimento. Fico feliz quanto encontro crianças e adolescentes folhando ou lendo um livro. A leitura de certo modo promove mudanças em nossas vidas, na nossa percepção, no nosso pensamento e principalmente nos nossos valores. A leitura é um exercício de generosidade e crescimento intelectual. É fundamental que a criança seja incentivada a ler com prazer e diversão. Desenvolve-se de forma gradual, como um hábito a ser adquirido e deve ser fonte de prazer e não apresentada de forma obrigatória através de imposição ou cercada de castigos e ameaças. É fundamental entender que essa aprendizagem é gradativa, que devem ser respeitadas diferenças individuais e não se deve punir e criticar a criança por ela não estar lendo ou escrevendo como outras crianças da mesma idade. Isso poderia atrapalhar o seu desenvolvimento, gerando nela sentimentos de insegurança e incapacidade.

Ao contrário, deve-se compreender que, quanto mais à criança associar a leitura e a escrita como atividades úteis e que lhe deem prazer, maior será o seu desejo de aproximar-se dos textos, maior facilidade ela terá de aprendizado, porém, só se aprende a ler e escrever, lendo e escrevendo. Por outro lado, deparamos com uma enorme insegurança à própria capacidade intelectual do professor, mostrando um perfil do quanto vai mal a nossa famigerada educação. Tal insegurança associada principalmente à falta absoluta de originalidade desses profissionais, que normalmente vem junto à falta de conhecimento da maioria dos alunos que não lê.

A educação é uma realidade vital e condicionada por circunstâncias concretas e chamada a superá-la a partir da própria situação em que se encontra o sujeito da educação. Tendo em vista que educação é a apropriação da cultura, e através da história se torna a construtora do sujeito histórico. É através da educação que nos fazemos humanos e históricos, como autores no modo de refletir sobre a realidade, sobre o mundo e sobre nós mesmos. Nessa direção, a realização do indivíduo como sujeito histórico distinguiu sua conexão com a coletividade e seu acordo com a mudança social. A pergunta correta a se fazer é a seguinte: “A escola da resposta às necessidades presentes?” “Nosso sistema educativo continua sendo para o aluno um sistema educativo que o atrai?” Não! Há muito tempo deixou de ser. Hoje temos uma escola do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21.

Entretanto, o que encontramos na educação, com muita frequência é professor fracassado que ganha mal e odeia alunos. Sem falar de professores que normalmente não gostam de ler e muito menos de estudar, mas criticam os alunos por colar da internet o trabalho pronto. Talvez pela própria incompetência do professor que não sabe despertar no aluno o gosto pelo estudo ou até mesmo, por falta de conteúdo do nosso divino mestre. Sem falar da falsa modéstia de alguns professores que fingi o tempo todo que acreditam na importância da educação e no seu papel impecável de educador, que o transformou em omisso e bem adaptado pelo sistema que o acolhe. O exemplo claro que ajuda a entender uma estatística alarmante sobre o conhecimento dos professores no ensino fundamental e médio da rede pública, segundo o Ministério da Educação, apenas dez por cento tem o hábito de ler fora da sala de aula.

Portanto, ler é pensar com sabedoria. O sujeito da educação tem como pressuposto o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. Como dizia Rubem Alves: “A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver”. Contudo, estar atento significa estar disponível ao espanto. Sem espanto não há ciência, não há criação artística. O espanto é um momento do processo de pesquisa, de busca. Essa postura de abertura ao espanto é uma exigência fundamental para o professor. Paulo Freire (1921-1997) dizia: “O espanto revela a busca do saber”. Contudo, o ofício de ensinar não é para aventureiros. É para profissionais, homens e mulheres que, além dos conhecimentos na área dos conteúdos específicos e da educação, assumem a construção da liberdade e da cidadania.

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