3 de outubro de 2014

O BANQUETE DO AMOR

O Banquete é um livro que discute o amor, através dos diálogos de Platão (427-347 a.C.) atribuído a ele mesmo e não a Sócrates, seu mestre. O pano de fundo são os sete discursos acerca do deus Eros, o deus do amor. Diz-se que depois de muitas festas, com bebidas em excesso, resolveram dar uma trégua à orgia e instituiu um encontro filosófico sobre o elogio ao deus Eros.

O Eros como um dos mais antigos deuses, que surgiram depois do caos da terra. Pelo fato de ser antigo, traz diversas fontes de bem, que é o amor de um amante. De tudo o que o ser humano pode ter, além dos vínculos de sangue, dignidade e riquezas, nada no mundo pode, como Eros, fazer nascer à beleza. É o Eros que insufla os homens a grandes brios. O amor passa a ser o amor por algo de que se carece, o que gera o desejo de se ter o que não se possui ou de permanecer possuindo o que já se tem. Isto também se aplica a outros bens.

O amor possibilita àqueles por quem é tocado a inspiração para a poesia, mesmo que antes este não seja afeito às musas. Esse jovem e feliz deus dá aos homens familiaridade com tudo quanto lhes seja próximo. É a nossa busca pela outra metade complementar o que se denomina amor e uma vez encontrada, levaria aos amantes reconstituídos em sua quase inteireza a um estado de extraordinária afeição, intimidade e felicidade. Buscamos por meio do amor a unidade perdida, a totalidade que se rompeu com a separação. O que fazemos, no momento da sedução, senão buscar no outro a nossa identidade?  

Por sua origem bela, o amor seria responsável pelo direcionamento dos homens ao que seja belo, podendo então gerar belas obras, afastar-se do que seja feio e inclinar-se à honra. O amor é um dom que emana naturalmente dos amantes, capacitando-os aos maiores sacrifícios (mesmo capitais) por seus amados. Esses sacrifícios poderiam ser recompensados até com a ressureição do reino de Hades. Que é o deus do mundo inferior e dos mortos.

O amor não é um só, mas dois, tal como há duas pessoas envolvidas. Desse modo, é belo o amor que se direciona ao belo e leva ao amante a amar belamente. Característica do amor celestial.  O amor popular é próprio aos homens vulgares, uma vez que amam mais ao corpo, que é perecível e mutável do que a alma que é eterna.

O amor celestial ama somente ao macho, por sua força (quando jovem) e por sua inteligência (quando velho); ao passo que o amor popular ama a objetos perecíveis, tais como a beleza do corpo, ou o prestígio e fortuna do amado. O amor regrado pela decência, que é o amor celestial, gera a produção de virtudes para os amantes, aliada a uma disciplina que os torna mais sábios.

O amor é algo desejado, mas este objeto do amor só pode ser desejado quando lhe falta e não quando possui, pois ninguém deseja aquilo de que não precisa mais. Segundo Platão, o que se ama é somente "aquilo" que não se tem. E se alguém ama a si mesmo, ama o que não é. O "objeto" do amor sempre está ausente, mas sempre é solicitado. A verdade é algo que está sempre mais além, sempre que pensamos tê-la atingido, ela se escapa entre os dedos.

Portanto, podemos afirmar que o amor é dos deuses o mais antigo, o mais honrado e o mais poderoso para a aquisição da virtude e da felicidade entre os homens, tanto em sua vida como após sua morte. Só os que amam sabem morrer um pelo outro.

(é uma trilogia: "O Banquete do Amor" - "Do Banquete a Cama" - "Na Cama Repousa o Amor")

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