27 de julho de 2014

É POSSÍVEL AMAR INCONDICIONALMENTE?

Invariavelmente, as juras de amor são acompanhadas do desejo e da exigência de ser amado. O amor pressupõe reciprocidade. O amor exige amar e cuidar recíproco. Claro, há o amor não correspondido, mas ainda que sobreviva à ausência do ser amado, mesmo que seja chamado de amor, o nome mais propício é sofrimento. Na paixão, de fato, também há sempre um sofrer. Como afirma meu amigo o Professor Antônio Ozaí da Silva da Universidade Estadual de Maringá: posso continuar a amar, e neste sentido é incondicional. Mas a recusa do amor ou a impossibilidade de realizar-se o transforma em sofrer, angústia e dor. Pois o amor exige materializar-se reciprocamente.

Por outro lado, o amor condicional é possessivo. É típico daquele amor que quer sempre mais, aspirar a uma fusão total que lhe escapa. Esse amor caminha mergulhado no egoísmo, impulsionado pelo o ciúme, o desejo de exclusividade. O ciúme pede, como o antigo Deus de Israel: não terás outro Deus além de mim. O sentimento exacerbado de posse desconfia de tudo, é fruto da insegurança. Daí a necessidade de controle. Como argumenta Ozaí: há amores possessivos, amores angustiados, que se reduz quase que exclusivamente ao controle físico e mental do outro. Há amores-ódio, amores-poder em que o amante é o carcereiro do amado, preocupado apenas com que ele possa evadir-se da prisão. O carcereiro teme os amigos porque estes são janelas por onde o prisioneiro vê a liberdade, e por onde pode escapar. Começa, então, uma sutil luta contra a amizade. O amor-paixão é êxtase, mas também pode ser cárcere. O amor condicional requer algum tipo de troca, é finito. O amor é dado apenas com base em determinadas condições satisfeitas pelo parceiro, ao contrário do amor incondicional. Que ama simplesmente sem nada esperar em troca.

Entretanto, no relacionamento entre um casal, quem tem amor incondicional ama sem ter razões ou pré-requisitos. Dedica-se totalmente à relação, transformando o amor em uma ação praticada a todo instante, de variadas formas. O conceito é semelhante ao amor verdadeiro. Cuide para que não queiras receber mais do que tens a oferecer, por que há coisas que exigem extrema reciprocidade para que sejam possíveis. Pauta esse sentimento na confiança e no respeito.

Para que um litro de água preencha um vaso, é preciso que este vaso tenha espaço para aquele um litro de água, pois se ele não tiver espaço suficiente, ele transbordará e a água sofrerá. De modo semelhante, a água precisa estar na medida certa que o vaso comporta, ou deixará espaço vazio, e aí será o vaso que sofrerá. Com nosso próximo é preciso proceder da mesma forma; se quer viver um imenso amor, é preciso que cultives um espaço imenso em teu coração. E, se mais que isso, deseja um amor incondicional, o teu amor precisa ser incondicional primeiro – sempre, e sobre todas as coisas, ou ele deixará de ser incondicional.

Portanto, o amor verdadeiro, maduro, é livre, é incondicional, sabe ceder e perder com serenidade para o bem da pessoa amada; sabe viver quando tem o bem e também quando não tem; sabe dialogar e chegar a conclusões maduras e sensatas. O amor não nasce pronto, de uma vez, tem que haver vibração tem que ser harmônico. Amar é comprometer-se, como um amigo, companheiro, nas horas felizes e tristes, é ser honesto, sincero, confiante, verdadeiro em palavras e atitudes. O amor é como uma rosa, mas para que essa rosa exista, é preciso que existam também espinhos. Mas mesmo assim, o amor ainda é a maior força que existe em nós, é só o amor que nos transforma que nos amadurece. Se não aceitarmos de coração aberto à dinâmica transformadora do amor, estaremos definitivamente negando a crescer e permanecer sempre infantil. Hoje posso dizer: o que eu sou é o que me faz viver.

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